10 de Outubro – Dia Mundial da Saúde Mental.

Neste dia 10 de outubro comemoramos o Dia Mundial da Saúde Mental e a mensagem é que para recuperarmos a saúde é necessário maior protagonismo na vida e no tratamento daqueles que sofrem de algum transtorno mental.

Para se recuperar de um transtorno mental o paciente precisa passar por um processo de mudança que vai além do tratamento. Ele precisa melhorar sua saúde e bem estar no seu dia-a-dia, mudando o estilo de vida e incorporando hábitos mais saudáveis, como atividades físicas, abstinência de álcool e drogas, higiene do sono, dieta, entre outros. O objetivo inicial é viver uma vida em que ele reassuma as responsabilidades, empodere-se e se capacite para gerir sua própria vida e se esforce para alcançar seu melhor potencial.

Este processo depende de um maior protagonismo do paciente e de sua família não só em suas vidas, mas como também nos serviços que frequentam. Pesquisas recentes realizadas nos EUA e Inglaterra mostraram que a maioria dos pacientes e familiares não se sente representada pelos serviços que frequentam. Entre as críticas, existe a percepção de que os serviços não priorizam os desejos e anseios das pessoas das quais cuidam, não conhecem suficientemente bem seus objetivos e não oferecem tratamentos centrados no indivíduo. Existe uma preocupação excessiva com sintomas e doença e menos com questões sociais e familiares. Outro aspecto também citado é o pessimismo e a baixa expectativa dos profissionais de saúde mental em relação aos pacientes, o que reduz o investimento em tratamentos mais eficazes que possam ajudar o paciente a se recuperar (Fonte: Nice, 2014).

Por esta constatação e na busca de maior protagonismo e representatividade, pacientes e familiares têm se unido em torno de iniciativas par-a-par, que aos poucos têm se transformado em uma ferramenta terapêutica importante. Essas iniciativas, que em alguns casos chegam a constituir serviços alternativos às tradicionais instituições psiquiátricas, são dirigidas por pessoas que já sofreram de transtornos mentais e hoje são um modelo de recuperação, que serve de inspiração para outras pessoas (por isso o nome par-a-par, do inglês peer to peer).

Eles partem da premissa de que pacientes recuperados são experts dos transtornos mentais dos quais sofreram e podem passar adiante estratégias de enfrentamento que utilizaram para se recuperar. Servem de modelo para outros pacientes e familiares, transmitindo valores como esperança, otimismo, empoderamento e auto-eficácia, no sentido de que a recuperação é um processo de superação pessoal que parte de dentro de cada um.

Não existe uma negação da importância dos serviços e do tratamento, muito pelo contrário, a cobrança por melhores serviços e tratamentos é tida como central e fundamental para que a recuperação seja alcançada. Porém, existe o sentimento de que a recuperação pessoal vai muito além dos serviços e dos tratamentos tradicionais oferecidos hoje pela psiquiatria.

Algumas iniciativas vêm crescendo e se tornando populares no mundo todo, inclusive no Brasil, através de grupos de apoio comunitários liderados por pacientes e familiares, como os que acontecem no Rio de Janeiro (clique aqui e saiba mais). Veja algumas iniciativas pelo mundo:

  • NAMI – National Alliance on Mental Illness (http://www.nami.org): reúne 300 mil famílias só nos EUA. Estão presentes nos EUA, México, Porto Rico, Canadá e Itália.
  • WRAP – Wellness and Recovery Action Plan (http://mentalhealthrecovery.com): alcança milhões de pacientes em todos estados americanos e outros países anglo-saxões.
  • B.R.I.D.G.E.S. – Building Recovery of Individual Dreams and Goals through Education and Support (http://www.recoverywithinreach.org/learningaboutrecovery/bridges): presentes em 12 estados americanos e no Canadá.
  • BRIDGE Mental Health (http://www.bridgementalhealth.org): Há 30 anos em Londres, possuem uma universidade que ensina recuperação pessoal a pacientes e oferecem grupos de suporte par-a-par.
  • Living Room (http://www.gjcpp.org/en/article.php?issue=15&article=74): criado no Arizona, EUA, é um serviço alternativo à internação psiquiátrica para lidar com a crise.
  • PRCR – Peer Run Crisis Respites (http://www.power2u.org/crisis-alternatives.html): presente nos EUA, Inglaterra, Alemanha e Nova Zelândia, oferece alternativas à internação psiquiátrica para lidar com situações de crise.
  • HARP – Health anda Recovery Peer (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2856811/): manual para intervenção através de 6 sessões administradas por pares ajuda participantes a manejar de forma efetiva sua doença.
  • Tantas outras: possivelmente existem tantas outras iniciativas de apoio par-a-par espalhadas pelo mundo e que não conseguimos levantar somente pela internet. Os países que mais empregam essas iniciativas são EUA, Canadá, países da Europa (Inglaterra, Dinamarca, Suécia, Irlanda, Alemanha, Itália, etc), Austrália e Nova Zelândia.

Essas iniciativas têm em comum tratar o sujeito que sofre com algum transtorno mental levando, principalmente, em consideração sua pessoa, sua história, seus objetivos, sua força interior e suas capacidades e, menos, a doença da qual está sofrendo. Todas elas abraçam o conceito de recuperação pessoal (do inglês: recovery – saiba mais, clicando aqui) e defendem que para uma pessoa se recuperar ela precisa se capacitar. Para isso, a informação (psicoeducação) e o apoio por pares (estratégias eficazes de enfrentamento) são elementos cruciais, que permitem o empoderamento, recuperar o otimismo e a esperança e persistir na jornada de superação que cada um irá trilhar daqui para frente (leia o depoimento de quem se recuperou desta forma, clicando aqui).

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