Autora lança livro sobre sua experiência com a bipolaridade.

Helena Gayer é funcionária pública na prefeitura de Pelotas. Depois de cursar um ano de oceanografia, mudou de área e se formou em jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. “Sou bipolar. Fui diagnosticada quando tinha 21 anos. Ou seja, vivo entre dois mundos. Nunca sei para que lado estou indo até mergulhar num dos extremos.”

De maneira sincera e sem poupar detalhes, Helena depõe sobre sua vida com o transtorno de bipolaridade. Em uma narrativa não linear, a autora percorre da infância até a vida adulta retratando as crises de mania e depressão com crueza, minúcia e fervor. Na quarta-feira, 19 de abril, às 19hs ela lança na Livraria Cultura/Bourbon Country, o livro onde dividiu a doença em fases.

Crises e diagnóstico

Quando adolescente, Helena sofria uma oscilação radical de humor e passou por intensos episódios de depressão, especialmente depois da separação de corpos dos pais. Aos 21 anos, depois do primeiro surto de mania, foi diagnosticada com o transtorno de bipolaridade. Em algumas dessas crises, Helena correu risco de morte e abusos.

“Voltei a frequentar o Submarino Amarelo, agora de forma mais intensa. Passava dias inteiros gravitando ao redor do bar como um satélite insano e obcecado. Minha trajetória só foi interrompida na noite em que comecei a esbravejar com uma cliente. Ela era mais uma entidade maligna. Dessa vez o dono se irritou e me expulsou do bar com um golpe de alguma arte marcial que até hoje não identifiquei. Só sei que me pegou pelos braços e me fez voar como uma pena.”

Internações

Cada uma dessas crises foi seguida de uma internação. Foram dez ao longo da vida da autora, que as relata com intensidade:

“As internações me vêm à mente como um pesadelo vívido. Através da pequena janela gradeada chegava a esperança em forma de raios de sol. A cela era fria, só havia uma cama de ferro e um colchão. Nada transmitia aconchego, conforto. Tudo era punição, castigo, violência.”

Medicação

Helena também descreve os efeitos colaterais da forte medicação em seu organismo, especialmente os do lítio:

“O efeito colateral do uso de lítio se manifesta inicialmente no tremor das mãos. (…) Me lembro dos almoços no restaurante universitário em que eu tinha de controlar a mão para que o garfo não fosse parar fora da boca.”

Superação

A autora apresenta um relato íntimo sobre como é viver, sobreviver e constantemente se rearranjar nessa realidade tão dura e tantas vezes negligenciada. Ao se abrir e descrever com detalhes as inúmeras tentativas de ter uma vida normal, ela deixa escapar um pedido para que se tenha um olhar mais apurado em direção à pessoa com transtorno psiquiátrico, não só à doença.

Antes de esse livro ser publicado, ela estava há dez anos sem passar por internações, o que foi possível graças a um longo processo de autoconhecimento e a incrível capacidade de renascer após cada crise.

“Apesar de não ter uma imagem imaculada, aprendi que a capacidade de se reerguer é o grande trunfo de um bipolar e, no meu caso, essa foi a maior prova de amor por mim mesma.”

Fonte: Felipe Vieira, jornalista.

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