XXV Congresso Brasileiro de Psiquiatria

Foi realizado em Porto Alegre, de 10 a 13 de Outubro de 2007, o XXV Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Com mais de 5 mil psiquiatras participantes, o evento se consagrou como o terceiro maior do mundo na especialidade, recebendo não somente médicos brasileiros, como psiquiatras de 17 países, principalmente dos países da América Latina, Portugal, Holanda, Dinamarca, Itália e Reino Unido. Foram mais de 160 atividades paralelas, entre mesas-redondas, conferências internacionais e simpósios da indústria farmacêutica. Abaixo, relaciono em tópicos alguns dos temas debatidos ao longo do congresso.
1- Depressão: discutiu-se muito a respeito da importância em se atingir a remissão completa dos episódios depressivos, ou seja, a cura. Estudos têm apontado que a depressão e o estresse crônicos são lesivos ao cérebro, provocando a morte de neurônios. A longo prazo, se não tratados, esses pacientes podem chegar à terceira idade com um grau maior de envelhecimento cerebral, sob um risco maior do que a população saudável de desenvolver doenças degenerativas, como o Mal de Alzheimer.
2- Dependência química: várias mesas-redondas abordaram o tema, com ênfase nas comorbidades, ou seja, doenças mentais associadas ao uso de drogas, que dificultam o tratamento e a interrupção do uso de substâncias a longo prazo. O alcoolismo tem uma ligação forte com os Transtornos de Ansiedade, como Fobia Social e Ansiedade Generalizada, e com o Transtorno Bipolar; a maconha está associada, na adolescência, ao risco de psicose, como a Esquizofrenia e o Transtorno Esquizoafetivo; todas as drogas estão relacionadas ao risco de depressão ao longo da vida, sendo mais grave no caso da cocaína, crack, ecstasy e LSD. O ecstasy, diga-se de passagem, tem sido a droga ilícita que mais cresce entre os adolescentes, sendo a segunda em consumo (à frente da cocaína, perdendo apenas para a maconha). O diagnóstico correto e o tratamento das doenças psiquiátricas associadas ao abuso de drogas é condição fundamental para alcançar a abstinência das drogas.
3- Transtorno Bipolar: é, no momento, a doença mais discutida entre os psiquiatras e foi tema de dezenas de mesas-redondas e conferências. É necessário reformular os critérios diagnósticos e os tipos de bipolaridade. Os autores que mais estudam o assunto estimam que ela pode chegar a atingir 10% da população geral e que a maioria dos casos seria mais leve do que os tipos clássicos da doença, dificultando o diagnóstico. Os pacientes com transtorno bipolar chegam a passar 60% do tempo em fase depressiva e muitos são diagnosticados como depressivos puros, quando, na realidade, são bipolares. Um estudo apresentado no congresso avaliou mais de 200 pacientes com diagnóstico de depressão e encontrou mais de 40% de bipolares, confirmando essa suspeita. Outro subtema muito debatido foi o do tratamento do transtorno bipolar. Os especialistas têm chegado a um consenso de que é igualmente necessário tratar das fases depressivas e maníacas (eufóricas), buscando sempre a estabilização completa do humor. Para isso, muitas vezes são necessárias combinações de medicamentos. As classes que mais demonstraram eficácia são a dos estabilizadores de humor e a dos antipsicóticos, principalmente os de segunda geração. Os antidepressivos devem ser utilizados com cuidado, pelo período estritamente necessário, pois podem aumentar o risco de ciclagem rápida, i.é., o paciente pode mudar de uma polaridade para outra mais rapidamente, tornando o quadro mais instável.
4. Esquizofrenia: um novo fármaco (paliperidona) deve estar disponível no Brasil no próximo ano, aumentando a farmacopéia para o tratamento dessa doença. Os antipsicóticos de segunda-geração têm permitido avanços no tratamento da esquizofrenia, com menos efeitos colaterais, maior tolerabilidade e melhores resultados, tanto nos sintomas positivos (associados às crises, como delírios e alucinações) como nos sintomas negativos e cognitivos (mais crônicos, como o desânimo e as dificuldades de atenção e memória). Discutiu-se também a importância dos tratamentos de reabilitação psicossocial para melhorar a socialização e a qualidade de vida dos pacientes.
5. Transtornos Alimentares: o Brasil é o segundo país em consumo de anfetaminas no mundo, perde apenas para os EUA. A frequência de pacientes que querem emagrecer rapidamente e que, para isso, usam fórmulas contendo anfetaminas (femproporex, anfepramona, entre outras) é crescente nos consultórios dos psiquiatras. Muitos pacientes chegam deprimidos ou em estados de hipomania (euforia) induzidos pela droga. A maioria está em uso de fórmulas prescritas por médicos endocrinologistas, mas acabam abusando da dosagem no intuito de um resultado rápido. Alguns desenvolvem dependência química pela anfetamina e usam os comprimidos para melhorar a performance e o humor. O alerta é geral: anfetaminas podem predispor pessoas a crises de mania, de depressão ou mesmo à psicose. O uso prolongado dessas substâncias está associado ao desenvolvimento de quadros depressivos crônicos e de transtorno bipolar.
Esses são apenas alguns temas debatidos, há muitos outros que espero poder publicar em maior destaque futuramente.

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