Angústia x Pânico: como diferenciá-las?

O termo angústia deriva de Angst, que em alemão significa “medo”. De fato muitos pacientes definem angústia como um medo indefinido, uma apreensão, como se fosse um pressentimento de que algo ruim pudesse lhes acometer, mas a maioria dos pacientes não consegue identificar exatamente as causas para este sentimento. Isto torna a angústia diferente do pânico, uma crise de ansiedade acompanhada de sintomas físicos, como taquicardia, falta de ar, sudorese e sensação de morte, que gera um medo de passar mal ou morrer. No pânico o paciente identifica a razão do seu medo: se ele tivesse certeza de que as crises de pânico não mais ocorreriam, este medo acabaria.

No caso da angústia é diferente. As razões não são facilmente percebidas (podem até ser no decorrer do tratamento e da terapia). Ela também vem acompanhada de sintomas físicos, geralmente um aperto no peito, bem no meio do peito, atrás do esterno. É como se fosse uma dor constante, um desconforto que durasse por dias e o dia inteiro. Ela pode diminuir de intensidade, mas dificilmente desaparece por completo. É diferente do pânico, que vem em surtos ou crises, dá, fica em torno de 20 minutos, e depois desaparece como se não mais existisse, até a próxima crise. A angústia, não. Ela fica ali, como se estivesse querendo dizer algo que a pessoa não consegue entender.

Tanto o pânico como a angústia podem estar presentes em transtornos mentais como depressão, transtornos de ansiedade, transtornos de humor (como bipolaridade, ciclotimia, distimia, estados mistos), TOC, esquizofrenia, entre outros. O tratamento do transtorno de base em geral melhora este mal estar. A psicoterapia também é um tratamento importante, que permite à pessoa identificar e lidar melhor com os motivos que a levaram a este estado.

Leia abaixo a reportagem de Adriana Toledo, publicada na Revista Saúde é Vital deste mês.

Angústia é doença e tem cura

Ela gera um desconforto físico, psíquico e requer tratamento diferenciado. Saiba mais.

Chego pela manhã ao complexo do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e me dirijo ao primeiro andar do prédio do Instituto de Psiquiatria, onde sou recebida pelo chefe do departamento, o psiquiatra Valentim Gentil. Nosso objetivo é definido: caracterizar, com elementos concretos, o conceito de angústia. A missão é árdua. “Diferentemente do medo ou da ansiedade, que são experimentados pela maioria das pessoas, a angústia acomete menos de 50% da população. E nunca tive essa experiência, o que dificulta a tarefa de descrevê-la com precisão”, confessa. “Em geral, meus pacientes relatam uma agonia mental sem gatilho aparente, atrelada a um sufoco semelhante ao da asma, e uma dor ou compressão no peito”, descreve.

Incentivar o diagnóstico e um tratamento personalizado é a proposta de Gentil, que assina o artigo intitulado Why Anguish? — em português, Por que angústia? —, que acaba de ser divulgado na publicação científica inglesa Journal of Psychopharmacology. Isso porque, nas discussões entre especialistas do mundo todo, o sentido dessa emoção se esvaziou ao longo do tempo. E frequentemente ela é confundida com o distúrbio de ansiedade ou de pânico.

“Mas são comportamentos mentais diferentes, com padrões de ativação cerebral distintos”, defende Gentil. “A ansiedade é uma apreensão exagerada em relação ao futuro, enquanto a angústia é um sofrimento relacionado ao presente.”

Munida dos esclarecimentos sobre as manifestações físicas do sintoma, sigo ao consultório da psicanalista paulistana Maria de Lourdes Félix, que auxilia Gentil nas pesquisas sobre a face psicológica da angústia. “Meus pacientes costumam levar as mãos ao peito e reportar um sentimento de vazio. Sentem conflitos diante das inúmeras possibilidades de escolhas no dia a dia e questionam o sentido de sua existência”, conta. “Em casos extremos, essas pessoas são dominadas pela introversão. Elas perdem a capacidade de análise, de lidar com o cotidiano, de interagir socialmente. Ficam paralisadas.”

À luz do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), a psicóloga Marília Dantas, da Universidade Estácio de Sá, em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, traduz o mal-estar: “O ser humano sente desamparo, incerteza, falta de controle diante da liberdade de decidir. Optar por um caminho significa correr riscos, abrir mão das alternativas. Isso é angustiante”.

Reconhecer um quadro de angústia é uma função que cabe a especialistas. Mas os angustiados de plantão podem contribuir, fornecendo detalhes de como se sentem. É o que constatei nas conversas durante os trajetos de consultório em consultório. A pergunta que fiz a motoristas, recepcionistas, colegas e pedestres com quem cruzei no caminho era sempre a mesma: o que é angústia para você? As respostas variaram. “É pensar como seria minha vida se eu tivesse estudado psicologia.” Ou “É um beco sem saída dentro do peito”. Ou ainda “É uma incerteza sobre as consequências das decisões que tomei”.

Infelizmente, a maioria dos angustiados só procura ajuda especializada quando a sensação ruim beira o insuportável. “Eles chegam ao pronto-socorro com dor e opressão no tórax, peso e desconforto no peito”, confirma o cardiologista César Jardim, supervisor do pronto-socorro do Hospital do Coração, em São Paulo. Os sintomas se assemelham aos de problemas cardiológicos, como infarto. “Mas os problemas cardiovasculares só se confirmam em 30% dos casos”, estima. Ele conta que, depois de realizar exames e apontar que o sujeito está em condições perfeitas de saúde, os pacientes confessam que vêm se sentindo nervosos e… angustiados.

Quando é assim, excluída a presença de doenças físicas, o passo seguinte deveria ser a visita a um psiquiatra. “Há hipóteses de que a angústia seja desencadeada por uma maior ativação de uma região chamada ínsula, no córtex cerebral, relacionada à percepção de funções viscerais, como as do coração, do diafragma e dos pulmões”, explica Valentim Gentil. “Por isso, acreditamos que suas vítimas possam responder bem a calmantes chamados benzodiazepínicos, a alguns antipsicóticos e a uma classe de antidepressivos conhecida como tricíclicos”, continua. “A imipramina é um dos principais medicamentos desse grupo e se mostra eficaz, apesar de promover eventuais efeitos colaterais, como tonturas e alterações cardíacas”, completa seu colega Jair Mari, da Universidade Federal de São Paulo. Essa droga modula neurotransmissores como a noradrenalina, substâncias que agem no cérebro e controlam as emoções.

O ideal é complementar esse tratamento com o de um psicólogo ou psicanalista. “Trabalhamos o desenvolvimento emocional, fazendo com que o paciente reflita e traduza seus pensamentos, criando condições para contornar sentimentos que julga insuportáveis”, explica Maria de Lourdes. A angústia é, portanto, um problema de saúde e necessita de acompanhamento. Se ela anda sufocando-o, chega de sofrer em silêncio: busque auxílio e afrouxe, de vez, esse nó dentro do peito.

Fonte: http://saude.abril.com.br/edicoes/0324/bem_estar/conteudo_563179.shtml

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