Pílulas da felicidade, elas existem?
Vale a pena assistir ao Programa Espaço Aberto Saúde, da GloboNews, veiculado no último dia 9. Traz informações esclarecedoras e diferentes pontos de vista para que o espectador possa tirar suas próprias conclusões.
A prescrição de medicações psicotrópicas, como calmantes, antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos, deve ser criteriosa. São medicamentos muito eficazes para o tratamento de transtornos mentais e que podem devolver a paz e a estabilidade para quem sofre desses males. Não se pode negar sua utilidade na medicina, quem faz o tratamento e melhora com eles, sabe do que estou falando.
O maior problema é quando se receitam medicamentos deste tipo passando por cima da clínica, ou seja, sem a justificativa terapêutica que deveria nortear o bom uso desses remédios. Exemplos de como esses medicamentos não deveriam ser prescritos incluem: antidepressivos para tristezas temporárias e reações estressantes que fazem parte da vida (não se espera a resolutividade natural de alguns episódios reativos, como luto, desemprego, traumas); calmantes para dormir (existem remédios mais modernos que possuem efeito hipnótico sem o risco de deixar a pessoa dependente o resto da vida); antidepressivos para emagrecer (acho um verdadeiro absurdo, não são medicamentos para isso!); utilização de drogas para aumentar a performance (exemplos clássicos: Ritalina antes de provas, Rivotril antes de uma entrevista de emprego, etc).
O que as pessoas precisam perceber é que o uso indevido desses medicamentos pode trazer problemas de saúde mais graves do que a finalidade para a qual está se usando o medicamento pela primeira vez. Somente o especialista sabe avaliar se aquela pessoa pode ou não utilizar determinado medicamento, se está indicado ou não, por quanto tempo e quais os riscos que ela corre tratando ou não. Em medicina tudo envolve risco/benefício. É preciso colocar na balança e ver o que será mais interessante para a pessoa naquele momento e deixá-la o mais consciente possível desta escolha.
Agora, chamar esses medicamentos de pílulas da felicidade é forçar a barra. Em mais de 10 anos de profissão nunca vi esses medicamentos trazerem felicidade. Medicamentos tratam doenças e, a partir de uma estabilidade, cabe a cada um correr atrás de sua felicidade. Neste sentido, um tratamento pode viabilizar a busca pela felicidade, mas não a trará de bandeja para ninguém.