Mais da metade dos bipolares não recebe tratamento.

Estudo publicado no periódico Archives of General Psychiatry mostra aquilo que todos nós já constatamos em nossas clínicas. A dificuldade em identificar os quadros bipolares e tratá-los de acordo é hoje um dos principais desafios da psiquiatria. Convencer pacientes aparentemente deprimidos de que precisam tomar estabilizadores de humor e não antidepressivos é o desafio seguinte. É uma pena constatar isso, pois o transtorno bipolar, se tratado precocemente e de maneira adequada, pode ter um curso benigno, enquanto não tratá-lo pode condenar a pessoa a passar o resto de sua vida com depressões e péssima qualidade de vida. Espero que matérias como esta sirvam de alerta para médicos e pacientes.

Mapeamento mundial sobre transtorno bipolar mostra que menos da metade dos doentes recebe tratamento.

A pesquisa avaliou mais de 60 mil pessoas em 11 países como Brasil, EUA e China, das quais 2,4% apresentavam o transtorno. O resultado foi publicado no “Archives of General Psychiatry”.
Os pesquisadores escolheram amostras aleatórias em suas regiões e fizeram entrevistas com base em critérios da Organização Mundial da Saúde para o diagnóstico.
O transtorno bipolar é caracterizado por oscilações de humor entre euforia (ou mania) e depressão. Pode causar irritabilidade, agressividade e ideias suicidas.

BRASIL

Apesar da gravidade dos sintomas, só 42,7% das pessoas diagnosticadas no mapeamento estavam sendo tratadas por um especialista. No grupo de países que incluía o Brasil, esse índice era ainda menor: 33,9%.
“A pessoa não tem acesso ao sistema de saúde, ou acha que os sintomas são resultado do uso de drogas”, diz a psiquiatra Laura Helena de Andrade, coordenadora de epidemiologia do Instituto de Psiquiatria da USP e responsável pela coleta de dados na Grande São Paulo.

Segundo ela, é comum um bipolar receber diagnóstico de depressão, porque a manifestação de euforia pode ser mais leve. “E é muito mais comum a pessoa só ir buscar tratar a depressão, porque ela incomoda mais. Mas, se o médico ministrar antidepressivos, pode desencadear episódios de mania, com aumento da irritabilidade”, diz.

Segundo o estudo, esse transtorno é mais incapacitante do que cada um dos tipos de câncer, e mais até que Alzheimer. Bipolares sofrem por mais anos com os prejuízos do transtorno, em comparação aos outros doentes.

O dado foi extraído de um relatório da OMS segundo o qual a bipolaridade representa 0,9% das doenças incapacitantes, logo à frente do Alzheimer, com 0,8%.

“A pessoa já começa a ter problemas na adolescência ou no começo da vida adulta e, ao longo do tempo, vai perdendo habilidades como capacidade de raciocínio, memória e concentração”, diz o psiquiatra Ricardo Moreno, que coordena o programa de transtornos afetivos do Instituto de Psiquiatria.

O psiquiatra Eduardo Tischer, da Unifesp, acrescenta: “A doença é crônica, e leva meses para que o paciente consiga se restabelecer. Enquanto isso, ele sofre prejuízos no trabalho e suas relações familiares pioram”.
O não tratamento só piora os sintomas. “A pessoa tem mais chances de recorrer a drogas, álcool e de cometer suicídio”, afirma Tischer.

Portador pode ter problemas com drogas e álcool

Além de destacar a taxa de prevalência da doença, o levantamento encontrou outros problemas mentais associados à bipolaridade.

Três quartos das pessoas que tinham o distúrbio apresentavam também outra condição psiquiátrica, como ansiedade e abuso de álcool e drogas.

Para Ricardo Moreno, o consumo dessas substâncias se explica pela alta impulsividade, especialmente durante a manía.

Além disso, 16% dos bipolares já tentaram suicídio alguma vez na vida.

“O risco é maior porque a depressão bipolar costuma ser mais grave e, geralmente, associada a comportamentos impulsivos”, diz Andrade.

→ Fonte: Correio do Estado

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