Importação de remédio por pessoa física ficará isenta de impostos.
A partir de 13/07/2015 a Receita Federal passou a isentar de cobrança de impostos medicamentos importados por pessoas físicas no Brasil e que não têm registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.
A medida facilita o tratamento com drogas não comercializadas no país e que são prescritas por médicos para doenças crônicas. Entre os remédios que devem ser beneficiados está o canabidiol (CBD), substância derivada da maconha.
A Receita Federal alterou a portaria 156, de 1999, mudança publicada no Diário Oficial desta segunda. A nova regra se estende a encomendas aéreas internacionais, transportadas por empresa de entrega expressa. Na prática, o medicamento será entregue no domicílio do importador sem o recolhimento de tributos federais.
Apenas quem cadastrar o laudo médico e a prescrição do medicamento na Anvisa é que se beneficiará com a medida.
Segundo o órgão, ligado ao Ministério da Saúde, para importar medicamentos sem registro no país é preciso realizar um cadastro na agência, apresentando laudo médico, documento que explica a necessidade do remédio pelo paciente, e a prescrição, a famosa "receita", contendo a posologia e a quantidade de medicamentos a ser importada.
Para saber mais detalhes, a Anvisa pede que um e-mail seja enviado para o endereço med.controlados@anvisa.gov.br. No caso do canabidiol, uma página especial foi criada para facilitar a importação. A aprovação do cadastro pode levar até quatro dias.
Novas regras do Canabidiol
Desde o dia 7 deste mês começaram a valer as novas regras e procedimentos específicos para importação de produtos à base do CBD. O regulamento complementa as ações já tomadas pela agência para que os pacientes tenham acesso ao produto.
Em janeiro, a Diretoria Colegiada da Anvisa decidiu retirar o canabidiol da lista de substâncias de uso proibido (proscrito), abrindo o caminho para que a comercialização de medicamentos com a substância seja facilitada no país. Antes, a venda era vetada.
Agora, empresas interessadas poderão produzir e vender derivados de CBD após a obtenção de um registro da Anvisa. No fim de 2014, uma empresa europeia entrou com um pedido para comercializar medicamentos com a substância.
A aquisição do produto deverá ocorrer de forma controlada, com a exigência de receita médica de duas vias. (Fonte: G1)
Benefícios para pacientes que não responderam aos medicamentos comercializados no Brasil
Alguns medicamentos que já são comercializados nos EUA e na Europa e que ainda não chegaram ao Brasil ou não têm previsão de serem comercializados por aqui podem ser adquiridos a um custo menor do que antes, graças à redução de impostos.
Na psiquiatria, além do Canabidiol (leia a resolução do CFM que regulamenta a prescrição médica de Canabidiol), citado na reportagem, existem medicamentos para o tratamento da depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, TDAH e alcoolismo que não têm previsão de chegada ao Brasil. Eis alguns exemplos:
Para Depressão
Brintellix (vortioxetina) - trata-se de um antidepressivo diferenciado, com mecanismo de ação multimodal, que atua como antagonista, agonista parcial e agonista total de diferentes receptores de serotonina, aumentando os níveis de serotonina, mas também de noradrenalina e dopamina, outros neurotransmissores envolvidos na depressão. Já está sendo comercializado nos EUA e alguns países da Europa desde 2014.
Para Esquizofrenia
Abilify Maintena (aripiprazol) - versão injetável de longa ação do Abilify, antipsicótico indicado para o tratamento da esquizofrenia (marca mais comercializada no Brasil é o Aristab), permite o tratamento da doença com uma injeção mensal. Hoje no Brasil, o único antipsicótico de ação semelhante a ele é o Invega Sustenna (palmito de paliperidona). Foi aprovado para comercialização nos EUA e Europa em 2013, desde então está presente nos EUA, em alguns países da Europa, na Austrália e no Japão. Não sabe-se ao certo o motivo pelo qual o laboratório Otsuka/Lundbeck não trouxe ainda a medicação para o Brasil. Acredita-se que possa ser por razões econômicas, uma vez que o mercado brasileiro não parece ser muito receptivo aos medicamentos injetáveis para esquizofrenia.
Para Esquizofrenia e Depressão Bipolar
Latuda (lurasidona) - medicamento antipsicóticos com ação antagonista de receptores dopaminérgicos D1 e D2, de receptores de serotonina e agonista parcial de receptores 5HT1A, a lurasidona têm ação também nos quadros depressivos do TBH. Foi aprovada e comercializada nos EUA em 2011, no Canadá em 2012 e em seis países da Europa em 2013.
Para TDAH
Strattera (atomoxetina) - medicamento para tratamento do transtorno de deficit de atenção/hiperatividade aprovado desde 2006 nos EUA, utilizado em vários países. É um medicamento diferente dos demais utilizados no tratamento do TDAH no Brasil por não ser derivado de anfetamina, portanto, não é um psicoestimulante. Seu mecanismo de ação é pela via noradrenérgica (noradrenalina). Não se sabe o motivo pelo qual o medicamento não veio para o Brasil, mas pode ter a ver com questões de patente, pois uma ação na Justiça Federal julgou improcedente o pedido do laboratório Eli Lilly, quem desenvolveu o produto, de manter a patente por 10 anos.
Para Alcoolismo
Vivitrol (naltrexona injetável) - versão injetável de longa ação do Revia (nome comercializado no Brasil). Trata-se de um medicamento que trata a dependência de álcool e opióides na forma injetável, de uso mensal, através do bloqueio de receptores opióides, aumentando o tempo de abstinência e reduzindo as recaídas. Acredita-se que a ação farmacológica seja responsável pela redução dos efeitos prazerosos do álcool que provocam o reforço da dependência. Foi aprovado em 2010 pelos EUA, sendo utilizado também na Europa.
Selincro (nalmefene) - antagonista opióide de uso oral para o tratamento do alcoolismo, dependência de opióides e jogo patológico. Foi aprovado em 2013 pela agência européia de medicamentos, sendo comercializada em alguns países da Europa, mas não é comercializada nos EUA.
Órgão americano aprova Invega Trinza, novo tratamento para esquizofrenia com quatro injeções anuais.
Uma nova opção para o tratamento da esquizofrenia acaba de ganhar aprovação pelo órgão máximo de regulação norte-americano, o FDA, devendo estar em meados deste mês nas farmácias dos EUA. É o primeiro antipsicótico de longa ação que promete tratar a esquizofrenia com apenas quatro injeções anuais, sendo o injetável com o maior intervalo entre doses, 3 meses, em comparação com outros já existentes no mercado, que precisam ser administrados quinzenal ou mensalmente.
O Invega Trinza é uma evolução do Invega Sustenna, último lançamento da Janssen-Cilag, pertencente ao grupo Johnson & Johnson, e poderá ser utilizado nos pacientes que estejam sendo tratados com o Invega Sustenna por pelo menos 4 meses. Trata-se do mesmo princípio ativo (palmitato de paliperidona), porém com duração superior (o Invega Sustenna requer que a administraçãoo seja feita mensalmente).
Num estudo de longo prazo, conduzido entre abril de 2012 e abril de 2014, 93% dos pacientes tratados com Invega Trinza não tiveram recaídas ou piora dos sintomas positivos da esquizofrenia. “Com um tratamento mais duradouro, pacientes, familiares e terapeutas podem focar melhor nas questões pertinentes à recuperação da pessoa para além do controle dos sintomas a curto prazo”, afirma o investigador do estudo, Dr. Joseph Kwentus. “Com o controle dos sintomas a longo prazo, pacientes podem se dedicar melhor ao desenvolvimento de seus objetivos pessoais”.
O estudo de longo prazo mostrou também que o Invega Trinza foi tão seguro e bem tolerado quanto o Invega Sustenna, que já é utilizado no Brasil desde 2012. A companhia espera que o Invega Trinza possa chegar ao Brasil a partir de 2016.
Fonte: Drugs.com
Novos grupos de auto-ajuda para familiares e pacientes são criados no Rio de Janeiro.
Dois novos grupos de auto-ajuda para familiares e pacientes com transtorno mental severo, como esquizofrenia, transtorno bipolar e transtorno esquizoafetivo, inauguraram suas salas este mês. Os grupos foram formados pelo Programa de Psicoeducação de Família do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, sob coordenação dos psiquiatras Alexandre Keusen e Leonardo Palmeira. O objetivo deste trabalho é empoderar as famílias para que possam comandar grupos de ajuda na comunidade e, assim, ampliar o número de famílias atendidas por essa metodologia de tratamento.
Os grupos “É Possível!”, que passa a se reunir na Zona Sul, e o “Mentes em Ação”, que acontece no Centro da Cidade, juntam-se ao grupo ”Abra Sua Mente”, que já funciona há mais de um ano na Tijuca.
Este é um trabalho pioneiro no Brasil que visa construir uma rede de apoio para familiares e pacientes na comunidade, através de iniciativas administradas pelos próprios, como parte de um processo mais abrangente de recuperação pessoal, onde a psicoeducação e os grupos de família passam a ter um papel de protagonismo no tratamento desses transtornos, juntamente com o tratamento médico e psicossocial.
“É Possível!”
Reune-se mensalmente, no sábado, no bairro do Catete.
Endereço: Rua do Catete n. 311, sala cobertura 01, Largo do Machado, Catete.
Para mais informações entre em contato com os coordenadores:
Clarice Nunes - tel.: 2245-5568; 99923-3429
Pedro Nin Ferreira - tel.: 2210-1256
E-mail: familiaresepossivel@gmail.com
Grupo “Mentes em Ação”
Reune-se quinzenalmente, aos sábados, no Centro do Rio.
Endereço: Rua Sete de Setembro 151/153, acesso por dentro da loja Casa da Criança, Centro do Rio.
Para mais informações entre em contato com os coordenadores:
Luiza Lins – tel.: 99236-1268
E-mail: luizalins@bol.com.br
Gustavo Meano
E-mail: gustavomeano@gmail.com
Para informações sobre todos os grupos de auto-ajuda, CLIQUE AQUI!
TDAH dificulta resposta ao tratamento da depressão e do transtorno bipolar.
Já escrevi aqui no site artigos sobre depressão que não melhora com antidepressivos, que é uma situação comum do dia-a-dia do psiquiatra. Existem muitos pacientes que já usaram diversos antidepressivos ou estão em tratamento medicamentoso há anos sem uma resposta satisfatória. O último artigo a esse respeito falava dos estados mistos e da relação entre depressão e bipolaridade (clique aqui para ler). Hoje resolvi dar maior ênfase à comorbidade da depressão e do transtorno bipolar com o Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Vamos começar por um relato de caso de um paciente.
Caso clínico
Paulo tem 35 anos e faz tratamento para depressão desde 22 anos de idade. Já passou por diversos psiquiatras e já usou vários antidepressivos. Relata que sempre que ocorre mudança de remédio ele responde satisfatoriamente, porém, após alguns meses, volta a se sentir deprimido e desanimado. Um sintoma que chamou mais atenção na consulta de Paulo foi que, apesar da medicação antidepressiva, ele continuava sentindo, pela manhã, logo que se levantava, uma angústia intensa que melhorava com o passar de algumas horas. Depois do almoço, seu humor voltava a oscilar para baixo, dando uma sensação de desânimo e cansaço, muitas vezes levando-o a tirar uma soneca no trabalho. Procurando explorar com mais detalhes a dinâmica desse sintoma, foi possível perceber que um dos gatilhos para a sensação de mal-estar provinha de seus próprios pensamentos. Pela manhã, Paulo acordava já com seus pensamentos a mil, sempre com problemas ou compromissos de trabalho. Ele tendia a avaliar tudo de forma mais pessimista e com um sentimento de que fracassaria e não conseguiria resolver tudo o que tinha para aquele dia. Isso gerava a sensação de angústia e cansaço. Depois no trabalho, após o almoço, ele olhava os papéis sobre a mesa e tinha dificuldade de se organizar por onde começar. Faltava a Paulo a capacidade de fazer um planejamento, traçar a melhor estratégia para suas tarefas. Muitas vezes começava resolvendo uma coisa e interrompia, passando para outra, sem que a primeira tivesse sido concluída. Com o passar das horas, começava a se sentir mais confuso ainda, perdido no meio de tantas obrigações e, ao final de um dia de trabalho, tinha a sensação de que nada havia sido resolvido e que seu dia tinha sido improdutivo, gerando mais cansaço e angústia. Para Paulo era este o sintoma que não melhorava com a troca de antidepressivos.
Uma escala para triagem de déficit de atenção e hiperatividade/impulsividade levantou a suspeita de que Paulo poderia ter algo mais além do quadro depressivo. A escala ASRS é a principal escala usada em adultos para este fim e é validada para o português desde 2006. As respostas de Paulo demonstravam sintomas de déficit de atenção e hiperatividade em níveis bastante elevados.
Conversando sobre sua infância e adolescência, Paulo relatou que, desde que se entende por gente, tem dificuldade de organizar e planejar suas tarefas. Sempre teve uma tendência de se “desligar” com facilidade, de passar de uma atividade para outra sem concluí-la ou mesmo fazer várias atividades ao mesmo tempo. Sempre que ocorrem barulhos ou pessoas conversando no ambiente, distrai-se muito facilmente a ponto de precisar interromper o que está fazendo para buscar um lugar mais sossegado. Apesar disso, nunca teve um prejuízo maior na vida acadêmica ou no trabalho, mas reconhece que tem um grande dispêndio de energia com esses sintomas, não raro sentindo um cansaço precoce.
Para explorarmos melhor esta queixa cognitiva, solicitei a Paulo uma testagem neuropsicológica, que é uma bateria de testes para avaliar a atenção, a memória, a inteligência, o raciocínio e a capacidade executiva e de planejamento. A testagem revelou um rebaixamento da concentração frente às demais funções psíquicas. Paulo também apresentou maior lentidão cognitiva global, dificuldade para alternar o foco da atenção, para inibir estímulos irrelevantes e leve impulsividade cognitiva. Embora esses achados também pudessem ocorrer no quadro depressivo, a percepção clínica de que esses sintomas antecediam o diagnóstico de depressão nos fez suspeitar de uma comorbidade com o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH).
Paulo começou a usar um medicamento específico para o tratamento para o TDAH juntamente com sua medicação antidepressiva e notou, desde a primeira dosagem, que sua ansiedade e os pensamentos embaralhados melhoraram significativamente, a angústia pela manhã e o cansaço à tarde não ocorriam mais e seu desempenho no trabalho também melhorou, a ponto dos colegas de trabalho notarem diferença. Paulo passou a não deixar as tarefas acumularem. Mesmo após um ano de uso contínuo do medicamento, os sintomas permanecem sob controle. Outra vantagem foi que, com a estabilização do quadro, Paulo não precisou mais trocar as medicações que utilizava para o tratamento da depressão.
TDAH no adulto
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade no adulto (TDAH) é uma das comorbidades mais frequentes e menos diagnosticadas em pessoas com transtornos de humor, segundo o Canadian Network for Mood and Anxiety Treatments (2012). Ele está presente em até 22% dos adultos com depressão e em quase 13% das pessoas com Transtorno Bipolar (TBH).
Um dos desafios para o diagnóstico dos dois transtornos é que TBH e TDAH compartilham sintomas, fatores de risco e de vulnerabilidade. Um exemplo é que a hiperatividade, impulsividade, distraibilidade e necessidade reduzida de sono podem estar presentes tanto em pessoas com TDAH como em bipolares. Existe também um maior índice de TDAH em crianças que desencadeiam um TBH antes da puberdade em comparação com as que adoecem na adolescência.
Portanto, existem evidências clínicas substanciais da coexistência desses dois transtornos, o que traz um desafio para a prática clínica, uma vez que o TDAH não melhora com o tratamento empregado para depressão ou TBH.
A comorbidade com TDAH traz riscos adicionais para os transtornos de humor, como o aumento do risco de suicídio em comparação com os pacientes deprimidos e bipolares que não possuem TDAH. O TDAH na infância está relacionado também a episódios afetivos (depressivos ou bipolares) mais precoces, maior ansiedade, pior funcionamento social, mais sintomas bipolares ao longo da vida e é mais comum quando há histórico familiar de TBH, depressão ou psicose.
Um estudo publicado em 2004 na Revista Clinical Psychopharmacology, por Simon e colaboradores, constatou que somente 9% dos pacientes com comorbidade entre TBH e TDAH tinha o TDAH diagnosticado e tratado. Os autores sugerem que se pesquise TDAH nos pacientes sempre que houver prejuízo funcional significativo (p.ex. estudo, trabalho) e que se considere o tratamento específico para o TDAH mesmo que o humor esteja estabilizado.
Pacientes com diagnóstico de TDAH na infância e depressão têm um risco maior de ter TBH ao longo da vida. Quando a criança tem TDAH e um dos pais tem TBH, o risco dessa criança desenvolver TBH é da ordem de 40%. Esses achados alertam para a necessidade de se pesquisar TBH em pacientes com TDAH e distúrbios de humor. Nestes casos, o tratamento combinado com psicoestimulante (medicação para TDAH) e estabilizador do humor (medicação para bipolaridade) pode apresentar resultados clínicos melhores do que os tratamentos isolados.
Um aspecto central no diagnóstico do TDAH é o que se convencionou chamar de labilidade emocional (LE). LE corresponde a reações emocionais exageradas com mudanças frequentes de humor, p.ex. irritabilidade, temperamento forte, volatilidade (hiperreatividade de humor). Van Beijsterveldt (2004) verificou que 60 a 70% da LE era hereditária, ou seja, a maioria tinha características emocionais semelhantes na família e que passavam de geração em geração.
A LE no TDAH pode ser observada das seguintes formas:
- flutuações de humor de um dia para o outro ou num mesmo dia, com reações repentinas e persistentes às frustrações do dia-a-dia;
- sentimento de irritabilidade e explosões de raiva frequentes de curta duração, que podem ser sentidas como mudança rápida do humor normal para depressão ou excitação leve;
- o humor é muito volátil, pode mudar quatro ou cinco vezes num mesmo dia, em questão de horas.
Juntamente com a desatenção e os sintomas de hiperatividade/impulsividade, a LE é um fator hereditário comum nas famílias. Os autores do estudo sugerem que todos os pacientes com labilidade emocional crônica sejam investigados quanto à presença ou ausência de TDAH.
Diagnóstico Diferencial entre TDAH e TBH
O diagnóstico diferencial dos dois transtornos é difícil e muitas vezes o TDAH não está aparente, pois os sintomas do humor são mais chamativos e normalmente a queixa do paciente tem a ver com o humor. Por isso a necessidade dos médicos investigarem melhor a comorbidade. Existem características clínicas que podem auxiliar.
Pacientes com TDAH+TBH têm com maior frequência comportamentos disruptivos, transtorno opositivo-desafiador, transtorno de conduta e depressão do que pacientes com apenas o diagnóstico de TDAH. Uma forma de diferenciar os sintomas dos dois transtornos na prática clínica é:
- se o déficit de concentração ocorre somente durante os episódios de humor, provavelmente são secundários ao TBH
- se o déficit de concentração é crônico, ou seja, ocorrem mesmo quando o paciente está com seu humor estabilizado, é necessário considerar se ocorre ou não comorbidade com TDAH.
- se o déficit de concentração ocorre antes do diagnóstico ou dos primeiros sintomas do TBH e piora com os episódios de humor, também se deve considerar a possibilidade de comorbidade.
Outro ponto de encontro e diferenciação é relacionado a alguns sintomas que podem causar confusão entre mania e TDAH, p.ex., idéias ou planos grandiosos, agitação psicomotora ou comportamento inquieto podem ocorrer em ambas as condições, porém se forem excessivos e episódicos, deve-se considerar o distúrbio de humor.
Irritabilidade também é um ponto em comum, sendo difícil diferenciar as duas condições. Porém, se a irritabilidade ocorre de forma crônica e não-episódica, ela é mais preditiva de ansiedade e depressão em pacientes com TDAH do que de TBH.
Veja a tabela a seguir com as principais diferenças entre TDAH e TBH:
Diferenças | TDAH | TBH | TDAH + TBH |
---|---|---|---|
Déficit de atenção | Crônico | Episódico, associado ao estado de humor | Crônico com piora nos episódios de humor |
Hiperatividade | Crônica | Episódica, associada ao estado de humor, e geralmente mais excessiva | Crônica com piora nos episódios de humor |
Impulsividade | Crônica | Episódica, associada ao estado de humor | Crônica com piora nos episódios de humor |
Labilidade emocional e mudanças de humor | Rápida, as vezes várias vezes ao dia | Mais episódica, embora possa ser mais rápida em cicladores rápidos | Rápida, varias vezes ao dia |
Tratamento médico | Psicoestimulante | Estabilizador de humor | Primeiro estabilizador de humor, depois associação com psicoestimulante |
Comorbidades | DQ T de Conduta T Desafiador-Opositivo T dos impulsos/compulsões T de Ansiedade Depressão Maior | DQ T de Ansiedade T dos impulsos/compulsões T Personalidade Borderline | Todas as anteriores |
https://www.youtube.com/watch?v=XfAp8_706OU
Como ajudar seu parente com esquizofrenia (serve para qualquer transtorno mental).
O amor e o apoio da família são ingredientes importantes para o tratamento e a recuperação da pessoa que sofre de esquizofrenia. Se alguém próximo a você sofre desta doença, você pode fazer uma grande diferença na vida desta pessoa, ajudando-a a encontrar o tratamento certo, a lidar melhor com os sintomas e a pavimentar seu longo caminho da recuperação.
Por outro lado, ajudar alguém com esquizofrenia pode ser uma tarefa árdua e você pode não conseguir fazer isso sozinho, precisando recorrer a profissionais e serviços capacitados. Mas, sobretudo, você precisará cuidar de você mesmo para conseguir ajudar mais seu ente querido.
Se alguém próximo a você tem esquizofrenia, provavelmente você tem se pegado com sentimentos como medo, culpa, raiva, frustração e desesperança. A doença pode ser difícil de aceitar. Você pode achar que não conseguirá ajudar seu parente diante dos sintomas que ele apresenta ou pode estar preocupado com o estigma que ele vai sofrer ou ainda se sentir confuso e envergonhado com os comportamentos que você não consegue compreender. Você pode ficar tentado a esconder a doença das outras pessoas.
Para início de conversa e para que você consiga lidar melhor com a doença é importante que você tenha em mente o seguinte:
- Aceite a doença e suas dificuldades.
- Seja realista em relação ao que você espera da pessoa que tem esquizofrenia e de você próprio.
- Tenha senso de humor.
- Procure fazer o melhor para ajudar seu parente a se sentir bem e aproveitar a vida, preste a mesma atenção às suas necessidades e mantenha a esperança.
Informe-se
Ler sobre a doença e seu tratamento vai lhe permitir a tomar melhores decisões, a manejar melhor os conflitos, a trabalhar em conjunto com o paciente pela sua recuperação e a lidar melhor com obstáculos e retrocessos.
Reduza o estresse
O estresse pode fazer com que os sintomas da esquizofrenia se acentuem, portanto, é importante criar um ambiente que ofereça estrutura e suporte para o paciente. Evite pressioná-lo ou criticá-lo por eventuais falhas que ele cometa.
Estabeleça expectativas realistas
É preciso ser realista sobre os desafios e limitações que a esquizofrenia impõe. Ajude seu parente a estabelecer e alcançar objetivos que ele possa manejar nesse momento e tenha paciência com o ritmo lento da recuperação.
Empodere seu parente
Tenha cuidado para não ultrapassá-lo e fazer por ele as coisas que ele seja capaz de fazer. Procure ajuda-lo e ao mesmo tempo encorajá-lo a ter mais independência possível.
Cuide mais de você
Para conseguir ajudar melhor seu parente, você precisa primeiramente cuidar de suas próprias necessidades.
Assim como o paciente, você também precisa de ajuda, encorajamento e inteligência/compreensão para lidar com as situações. Quanto mais você sentir que tem um suporte e alguém que se importa com você, melhor você será capaz de ajudar seu ente querido.
Fazendo uma alusão ao que ocorre num avião em caso de despressurização da cabine, você precisa colocar a máscara de oxigênio primeiro em você para depois poder ajudar quem não tem condições de fazê-lo sozinho.
Junte-se a um grupo de auto-ajuda
Essa é uma das melhores formas de apoio na esquizofrenia. Grupos de ajuda formados por familiares que passam por situações muito semelhantes a sua podem ajuda-lo a se empoderar e a ter esperança de que a mudança e a recuperação são possíveis. Reduz também o sentimento de solidão, isolamento e impotência. É também uma fonte importante de aconselhamento, para compartilhar experiências e informações.
Tenha um tempo livre para você
Reserve um tempo do seu dia para fazer coisas que você gosta, seja relaxar contemplando uma paisagem ou a natureza, seja encontrando com amigos e se divertindo. É importante você criar um intervalo no cuidado com a pessoa adoecida para evitar o burnout.
Cuide de sua saúde
Mantenha os cuidados com sua saúde física, mantendo um bom sono, exercitando-se com regularidade, cuidando de sua alimentação, indo regularmente ao médico. Negligenciar sua saúde só faz aumentar o estresse.
Cultive amizades
É importante você manter outros relacionamentos. Não se sinta culpado por se preocupar com suas necessidades sociais! Você também precisa de ajuda e relacionamentos positivos podem ajuda-lo em momentos difíceis.
A importância de administrar o estresse
A esquizofrenia traz estresse para o paciente e para o ambiente familiar. Se você não tomar cuidado, ficará esgotado e, consequentemente, estressará ainda mais a pessoa que sofre com a doença. Manter o estresse sob controle é uma das coisas mais importantes que você pode fazer por seu familiar.
Pratique sua aceitação
Uma das piores coisas é você empacar no dilema “por que comigo?”. Ao invés de ficar pensando o tempo todo como a vida foi injusta contigo, aceite seus sentimentos, mesmos os negativos, e procure lidar com eles de forma a não deixa-los se tornar uma obsessão.
Procure ter prazer
Ter momentos de diversão e alegria não é supérfluo ou leviano, mas necessário. As pessoas não são felizes porque não tem problemas, mas porque aprendem a ter prazer na vida apesar de suas adversidades.
Reconheça seus próprios limites
Seja realista em relação ao nível de suporte e cuidado que você é capaz de prover. Você não pode dar conta de tudo e não vai conseguir fazer aquilo que se propõe se estiver emocionalmente esgotado.
Evite culpar-se
Você precisa compreender que, apesar de você ser capaz de fazer uma grande diferença, você não deve se culpar pela doença ou se sentir responsável pela recuperação de seu parente. Você pode ajuda-lo, mas não tem como fazer por ele!
Encorajando e apoiando o tratamento
A melhor forma de ajudar na recuperação de uma pessoa com esquizofrenia é leva-la a um tratamento e ajuda-la a se manter nele. O maior desafio inicial é convencer o paciente em surto de ir ao médico. Se ele se mostrar relutante, algumas estratégias podem ser úteis.
Ofereça opções
O seu parente pode ficar mais aberto a procurar um médico se ele perceber que isso pode ajuda-lo a controlar melhor a situação. Se ele estiver desconfiado de você, pense em outra pessoa que possa acompanha-lo na consulta.
Foque num sintoma particular
A pessoa com esquizofrenia pode ter temores de ser tachada como “louca”, de ser internada ou de tomar remédios fortes. Ela também pode não aceitar ir ao médico para tratar de um problema que ela não percebe como doença (p.ex. por causa de seus delírios e alucinações que ela acredita serem reais). Porém, ela pode aceitar uma ajuda para lidar com a insônia ou com a falta de energia, por exemplo. Tentativas de normalizar a experiência (todo mundo pode precisar um dia de um psiquiatra para lidar com o estresse a ansiedade) e de reduzir a ameaça e o estigma que esse tipo de atendimento normalmente tem para as pessoas podem ajudar.
Procure ajuda logo
A intervenção precoce faz uma grande diferença para a recuperação da esquizofrenia, portanto, não perca tempo. Seu parente precisa de ajuda para encontrar um tratamento, dificilmente ele fará isso sozinho.
Encoraja a independência
Ao invés de fazer tudo por ele, estimule o auto-cuidado e a auto-confiança. Ajude-o a reaprender ou desenvolver as habilidades que o ajudarão a ter mais independência.
Seja colaborativo
É importante que a pessoa com esquizofrenia tenha voz no seu tratamento e possa compartilhar com os terapeutas as suas decisões. Quando ela se sente respeitada e reconhecida, ela se motiva mais a seguir o tratamento e a trabalhar pela sua recuperação.
Monitorando a medicação
Uma vez iniciado o tratamento, o monitoramento dos remédios pode assegurar que o paciente permaneça no seu caminho da recuperação, além de poder tirar o melhor proveito do medicamento. Você pode ajudar de diferentes formas.
Leve a sério os efeitos colaterais
Muitos pacientes param o remédio por causa de efeitos colaterais, por isso procure conhecer bem os possíveis efeitos adversos dos medicamentos antipsicóticos e preste atenção às queixas que seu familiar faz em relação a eles. Leve ao conhecimento do médico qualquer efeito colateral percebido pelo paciente. O médico pode tomar decisões que reduzam o efeito desagradável, como reduzir dosagens, trocar o remédio ou prescrever outros para combater o efeito colateral.
Encoraja seu familiar a tomar a medicação regularmente
Mesmo com os efeitos colaterais sobre controle, muitos pacientes se recusam a tomar medicamentos ou os tomam de maneira irregular. Isso pode decorrer também da falta de consciência de estar doente e de não compreender a importância da medicação. Outro fator é que o paciente pode simplesmente se esquecer de tomar sua dose diariamente, pois a doença também pode trazer problemas de memória e atenção.
Calendários de medicação, caixas organizadoras de comprimidos, alarmes no celular podem ajudar aqueles pacientes mais esquecidos. Não caia no pensamento comum de que o paciente esteja esquecendo ou se recusando de tomar o remédio propositalmente. A própria doença causa isso, seja por problemas cognitivos ou pela falta de consciência, que é um sintoma da doença, chamado de anosognosia.
Diante de um problema como esse, procure não pressioná-lo, leve ao conhecimento do médico, pois existem antipsicóticos que podem ser administrados uma ou duas vezes por mês, sem a necessidade dos comprimidos orais. São medicamentos injetáveis de longa ação, dados por via intramuscular, muito eficazes no controle da doença.
Tenha cuidado para evitar interações medicamentosas
Antipsicóticos podem causar efeitos desagradáveis quando combinados com outros medicamentos de uso corriqueiro, vitaminas e fitoterápicos. O uso de substâncias como álcool e drogas ilícitas também é prejudicial. Portanto, comunique sempre ao médico sobre o uso de medicamentos e outras substâncias.
Monitore o progresso de seu familiar
Você pode ajudar o médico a acompanhar o progresso no tratamento relatando a ele sintomas importantes, como mudanças de comportamento, de humor e outros sintomas em resposta ao medicamento. Um diário é uma boa forma de registrar os detalhes do cotidiano, história dos medicamentos utilizados, efeitos colaterais apresentados que podem ficar esquecidos com o passar do tempo.
Preste atenção aos sinais de recaídas
A interrupção do medicamento é a causa mais frequente de recaída, por isso a importância de assegurar que o tratamento está sendo seguido à risca. Mesmo os pacientes estabilizados e em recuperação precisam da medicação para manter seus ganhos e afastar os sintomas.
Infelizmente, mesmo que o paciente tome seu medicamento regularmente, recaídas podem ocorrer por outros motivos. Mas se você aprender a reconhecer os sinais de alerta de uma recaída e tomar prontamente algumas medidas, você pode ajudar a prevenir uma crise aguda. Os sinais de alerta são parecidos com os sintomas e comportamentos da crise anterior.
Prepare –se para uma situação de crise
Apesar dos seus esforços para prevenir uma crise, pode haver um período em que os sintomas evoluem rapidamente e que você precise agir com rapidez para conter a crise.
Plano de emergência
Um bom plano de emergência deve incluir:
• Uma lista com os contatos de emergência, como telefone do médico, do terapeuta, da ambulância e do hospital.
• Familiares e amigos que se disponham a ajudar, como ficar com as crianças ou dependentes enquanto você toma as decisões necessárias.
É bom discutir com o paciente enquanto ele estiver estabilizado que em caso de emergência pode ser necessário acionar o plano de emergência, de forma que ele fique menos desconfiado ou aborrecido sem saber o que esperar numa situação como esta.
Os dez mandamentos em caso de uma crise
(fonte: Word Fellowship for Schizophrenia and Allied Disorders)
1) Lembre-se que você não pode discutir com a pessoa em crise
2) Lembre-se que a pessoa pode estar assustada com a própria perda de autocontrole
3) Não manifeste irritação ou raiva
4) Não grite
5) Não seja sarcástico
6) Reduza coisas que provoquem maior distração (desligue TV, rádios, luzes fluorescentes que piscam, etc)
7) Peça a qualquer visitante casual para ir embora, quanto menos gente, melhor
8) Evite o contato olho a olho de forma contínua
9) Evite tocar a pessoa
10) Sente-se e peça a pessoa para se sentar também
Texto baseado no artigo “Helping your loved one with schizophrenia” SZ Magazine, 2013, 11 (4): 15-17
Questionário ASRS de triagem para TDAH no adulto.
A escala ASRS (Adult ADHD Self Rating Scale) foi desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para o rastreio de pessoas portadoras de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Ela atende a uma necessidade de adaptação de escalas para a população adulta, já que a maioria das existentes é limitada a crianças.
Esta escala não é diagnóstica, mas elenca um grande número de sintomas que podem ser úteis ao médico na avaliação clínica e pode ajudar a aumentar a sensibilidade diagnóstica, uma vez que o TDAH é um diagnóstico comum na população e que em geral se associa a outros transtornos psiquiátricos, como Transtorno Bipolar, Depressão, Ansiedade, Psicose e Autismo. Muitas vezes a comorbidade com outros transtornos psiquiátricos dificulta o reconhecimento dos sintomas do TDAH e atrasam o tratamento específico, contribuindo para uma baixa taxa de resposta e perda de qualidade de vida quando somente um dos transtornos é tratado.
Há mais de um ano utilizo a escala ASRS na avaliação de meus pacientes e, por sua utilidade, decidi incorporá-la ao meu website, para que todos os pacientes possam respondê-la antes da consulta, da mesma forma como já ocorre com as Escalas de Depressão e Ansiedade de Beck.
Esta escala pode servir também como avaliação da gravidade dos sintomas num corte transversal, assim como as de Depressão e Ansiedade, demonstrando objetivamente a resposta ao tratamento.
→ Para responder a escala, CLIQUE AQUI.
Lares que curam.
Um aspecto central na recuperação de alguém que sofre de um transtorno mental é o seu lar e as pessoas com quem convive diretamente. Na maior parte das vezes estamos falando de pais, irmãos, cônjuges e filhos.
Quando uma pessoa adoece de um transtorno mental é comum que o seu lar também sofra mudanças. Muitas vezes essas mudanças já vinham ocorrendo antes até do adoecimento. Como uma das características fundamentais do adoecimento mental é a vulnerabilidade da pessoa ao estresse e aos eventos comuns da vida, é frequente que conflitos familiares apareçam como fatores significativos que podem agravar o quadro mental do paciente.
Não se trata de culpar a família pela doença, afinal existem razões sociais, psicológicas e biológicas que rondam o adoecimento e que nem sempre são relacionadas à dinâmica familiar. Porém, devido à maior sensibilidade da pessoa aos conflitos, às vezes pré-existentes, eles são capazes de elevar o estresse e a demanda emocional da pessoa que nem sempre consegue contorná-los.
Pessoas que se recuperaram de um transtorno mental reforçam a importância do lar em sua recuperação. A moradia do paciente é uma preocupação também dos serviços de saúde mental, principalmente depois que pesquisas demonstraram que pacientes egressos de hospitais voltavam a ser internados quando moravam com familiares com comportamentos como cobranças excessivas, críticas, expectativas incompatíveis, superproteção ou superenvolvimento afetivo.
Na maior parte das vezes esses comportamentos são automáticos e intuitivos, o familiar age com a intenção de ajudar o paciente a reagir à doença, sem muitas vezes notar o quanto prejudicial possa ser a sua atitude. Outras vezes o familiar pode estar emocionalmente esgotado e também incapaz de lidar com as mudanças que um transtorno mental traz para a convivência. E em algumas situações o familiar pode também estar doente e necessitar de tratamento.
Em todos os casos um ponto em comum é a falta de informação sobre as doenças mentais, a dificuldade de aceitar a doença como se aceita qualquer outra, como a hipertensão ou a diabetes, de compreender que os sintomas não estão sob controle do paciente e que não depende somente dele a melhora.
A dificuldade do familiar de compreender e aceitar o transtorno mental de seu ente querido também têm relação com o conceito que ele próprio tem sobre a doença mental, algumas vezes cercado pelo estigma e o preconceito que em nós é incutido pela sociedade.
Outro pensamento comum, principalmente quando o paciente inicia o tratamento, é que os remédios psiquiátricos irão curar a doença e que pouco depende dos demais atores psicossociais. É crescente a falsa ideia de que medicamentos curam os transtornos mentais, como se não dependesse também dos fatores psicológicos, sociais e familiares aos quais o paciente está constantemente exposto. Se o paciente não melhora a contento com o tratamento médico, ou a culpa é do remédio, que está errado, ou do paciente, “que também não se ajuda”.
O problema é muito mais complexo do que isso. Medicamentos têm eficácia em torno de 60% e esta eficácia é pontual, pois os estudos avaliam os pacientes ao longo de um período determinado, não existe um seguimento por anos de tratamento.
Ocorre que um paciente pode melhorar inicialmente com a medicação, mas parar de responder depois de algum tempo, porque ele não está feliz com a sua vida e com o seus relacionamentos. Ou mesmo não responder ao medicamento, simplesmente por que os estressores são tão prevalentes que a medicação nunca é suficiente.
Infelizmente, com o avanço da psicofarmacologia, inegavelmente um progresso na saúde pública, difundiu-se amplamente a ideia de que medicamentos são soluções definitivas para todo sofrimento mental. Há muito mais desestímulo à psicoterapia, terapias de família, terapias ocupacionais, dentre outros tratamentos psicossociais, do que há 20 ou 30 anos. Os próprios pacientes se mostram resistentes à ideia de fazer qualquer outro tratamento que não seja tomar os remédios.
Recuperar-se de um transtorno mental é algo complexo e que exige investimento em diferentes frentes, da mesma forma que sua causa é multifatorial. Envolver no tratamento todos os aspectos da vida da pessoa é, portanto, necessário para quem quer verdadeiramente se recuperar. Trabalho, família, moradia, aspectos psicológicos, ocupar-se com atividades prazerosas e que deem sentido à sua vida é tão ou mais importante do que o remédio. A busca pelo bem-estar deve ser do cotidiano da pessoa que sofre de um transtorno mental e daquelas que convivem mais intimamente com ela.
Por isso selecionamos algumas dicas importantes para aqueles que convivem com alguém que esteja em sofrimento:
1) Procure se informar sobre a doença mental
Existem livros de psicoeducação e auto-ajuda que podem ser úteis, sites na internet sobre os diversos transtornos psiquiátricos, fóruns de pacientes que podem servir de troca de experiência e informações.
Outra dica importante é solicitar um horário com o médico que assiste o paciente para obter informações sobre a doença e dicas de como é possível ajudar em cada caso.
Procure sempre tirar todas as suas dúvidas. Quanto melhor informado estiver, mais capacitado estará para ajudar seu ente querido.
Busque também ter uma visão menos fatalista e mais esperançosa em relação ao futuro. Não se deixe levar por estigmas e estereótipos. Por isso assista a depoimentos de outras pessoas que se recuperaram de transtornos mentais.
O que você pensa sobre doenças mentais influencia demais sua atitude com o paciente, portanto, é necessário olhar para seus próprios preconceitos. Se você está ainda numa fase de negação ou revolta, precisa buscar ajuda para passar desta fase e seguir adiante.
2) Tenha mais disponibilidade para ouvir
O paciente precisa ser ouvido e acolhido em seu sofrimento. Normalmente transtornos mentais trazem um sentimento de fracasso e frustração, é comum que pacientes se culpem por terem adoecido e se menosprezem, acreditando que não possuem valores ou crédito com outras pessoas. Naturalmente buscam o isolamento. Portanto, uma atitude acolhedora e a disponibilidade para ouvi-lo pode ajudar muito.
Procure ouvi-lo sem julgá-lo ou emitir sua opinião. Existe uma tendência natural de querermos emitir nossa opinião, contra-argumentar, tentar convencer o outro do nosso ponto de vista. O paciente precisa de uma escuta reflexiva, interessada em compreender suas vivencias, por mais estranhas que inicialmente possam parecer. É preciso entrar aos poucos no mundo dele, entender seu ponto de vista e ter empatia com o seu sofrimento: como você se sentiria no lugar dele?
Essa é uma mudança de postura que lhe permitirá olhar para o sofrimento de uma outra perspectiva, de onde você será mais capaz de ajudá-lo.
3) Seja mais tolerante e preserve sempre o seu lar
O paciente que adoeceu é vulnerável ao estresse, a barulhos, a tumultos, a muito estímulo. Cabe a cada familiar fazer inicialmente um diagnóstico do que mais incomoda o paciente e procurar preservar o ambiente da melhor forma possível. Isso será benéfico inclusive para a resposta ao tratamento médico. Pacientes que contam com um ambiente mais favorável irão responder a doses menores de medicação e terão maiores chances de recuperação.
Evite os comportamentos como críticas, cobranças, discussões, abordar temas polêmicos ou discutir diferenças antigas. Um comportamento demasiadamente afetivo, como preocupações exageradas, necessidade de estar constantemente em contato ou controlando os passos do paciente, também pode ser prejudicial. A forma de perceber isso é se sua atitude desperta algum tipo de reação de reprovação ou repulsa. Caso isso ocorra, procure respeitar o limite que o paciente estabelece e solicite o auxílio de outra pessoa da família com quem ele tenha uma melhor relação, do seu psicoterapeuta ou do médico.
4) Procure estabelecer uma relação de parceria
O que se almeja e o que consideramos necessário para que o familiar seja um facilitador no processo de recuperação é o estabelecimento de uma parceria em que sejam respeitadas as crenças, os desejos e os projetos do paciente como ele sendo o maior interessado e responsável por sua recuperação.
Mesmo que isso possa parecer num primeiro momento improvável, seja devido à doença ou a questões pessoais, esta atitude deveria ser default, ou seja, padrão para todos os casos, pois é através desta parceria entre familiar e paciente que a recuperação pessoal têm mais chances de acontecer.
Nessa parceria o familiar não impõe seu pensamento como uma verdade absoluta ou algo que precisa ser seguido, mas como uma opinião que possa servir de reflexão ao paciente para que ele possa considerar outras alternativas e experimentar por ele mesmo sua utilidade.
Portanto, numa parceria a forma como você emite sua opinião é muito importante. Humildemente você pode considerar emitir uma opinião contrária a dele, concordando inicialmente que pessoas podem ter opiniões divergentes, sem a necessidade de rompimento ou desavença, e que sua opinião é apenas uma opinião, que você não é o senhor da verdade e que pode estar errado, mas que gostaria de discordar em alguns pontos como forma de ajudá-lo a considerar outras alternativas.
Mesmo que isso seja complicado e signifique num primeiro momento fazer concessões que possam ser difíceis, o que se almeja é estabelecer um canal livre para o diálogo e um relacionamento positivo em que a troca seja possível e que sua opinião não seja rechaçada meramente por ser a sua opinião.
Para os pacientes a emoção que permeia um relacionamento, como, p.ex., na forma como as coisas são faladas, é muitas vezes mais forte do que o seu conteúdo, impossibilitando que ele ouça o que o familiar tem a dizer, por melhor que seja a sua intenção.
Outro ponto fundamental nesta comunicação é que se conheça os assuntos que o paciente julga serem importantes na sua vida e os enfatize em relação àqueles que o familiar prioriza. O foco não deve ser naquilo que o paciente não seja capaz de fazer, mas naquilo que ele tenha condições de realizar hoje.
Trabalhar com expectativas menos complexas e um dia de cada vez, ao invés de projetar muito para o futuro, pode ajudar na evolução gradativa para tarefas ou atividades mais trabalhosas. Este processo de transição deve ser liderado pelo paciente, sendo importante que ele se sinta agente ativo, que ele formule seus próximos passos e objetivos de curto e longo prazo. Ele pode contar com ajuda terapêutica e familiar, mas sem que os outros se coloquem à frente de seus interesses ou de suas ações.
Esta prática da parceria precisa ser um exercício constante e o familiar normalmente encontra muita dificuldade, até por ser parte emocionalmente envolvida. A sugestão é buscar ajuda através do psiquiatra que assiste o paciente, de um psicoterapeuta ou terapeuta de família ou de grupos de auto-ajuda, compostos por familiares e pacientes que partilham de experiências semelhantes.
A experiência da Suécia
Na Suécia existe uma iniciativa que tem prosperado e ajudado muitos pacientes a se recuperarem desde 1987.
Famílias voluntárias recebem pessoas com transtornos mentais diversos para morarem com elas por 1 ou 2 anos. Normalmente essas pessoas não conseguem viver em suas casas, têm recaídas ou precisam aumentar seus medicamentos para conseguirem um nível razoável de estabilidade emocional. Enquanto isso, a família original participa de grupos terapêuticos e o paciente de uma psicoterapia, além de manter seu tratamento médico.
Depois de serem acolhidos pelas famílias voluntárias, os pacientes conseguem melhorar dos sintomas, atingir um nível de amadurecimento, empoderando-se e retomando suas atividades e, até mesmo, reduzir ou suspender os medicamentos. Embora este não seja o objetivo maior dessa iniciativa, o fato de pacientes reduzirem ou suspenderem os remédios demonstra o quanto o lar é importante na recuperação.
Após o período estipulado, pacientes retornam às suas famílias ou seguem os passos que acreditam ser os melhores para sua vida.
Assista ao documentário Healing Home, de Daniel Meckler, e conheça a experiência do Family Care Foundation, da Suécia, e compreenda melhor como a transformação do lar para quem sofre de um transtorno mental é crucial para a recuperação.
https://www.youtube.com/watch?v=JntGtwLRhdA
OMS alerta para o diagnóstico e tratamento precoce dos transtornos mentais na adolescência.
A depressão é a principal doença e motivo de inaptidão entre os adolescentes, segundo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que cita acidentes de trânsito, Aids e suicídio como as principais causas de morte entre 10 e 19 anos. "A depressão é a causa predominante de doença entre os adolescentes", afirma a OMS no primeiro relatório completo sobre os problemas de saúde dos adolescentes, elaborado com os dados fornecidos por 109 países.
Os demais problemas nesta faixa etária estão relacionados ao cigarro, consumo de drogas e bebidas alcoólicas, Aids, transtornos mentais, nutrição, sexualidade e violência. "O mundo não presta atenção suficiente na saúde dos adolescentes", declarou a médica Flavia Bustreo, subdiretora geral para a saúde das mulheres e das crianças na OMS. "Esperamos que este documento consiga dar mais atenção à saúde dos 10-19 anos e que sirva para desencadear uma ação acelerada sobre seus problemas", completou.
Globalmente, a depressão é a principal causa de enfermidade entre os adolescentes. Alguns estudos demonstram que todas as pessoas que sofrem de problemas mentais apresentam os primeiros sintomas a partir dos 14 anos. Segundo a OMS, se os adolescentes fossem tratados a tempo, "mortes e sofrimentos durante toda uma vida poderiam ser evitados".
Os homens sofrem mais acidentes de trânsito que as mulheres, com uma taxa de mortalidade três vezes superior. A morte durante o parto é a segunda maior causa de mortalidade entre as jovens com idades entre 15 e 19 anos, depois do suicídio, segundo a OMS. Segundo os números da OMS, há na média 49 partos a cada 1.000 adolescentes de entre 15 e 19 anos. Mas as diferenças por países são enormes e vão de 1 a 229 a cada 1.000.
A OMS estabeleceu como meta facilitar o acesso a métodos anticoncepcionais para todas as adolescentes com idades entre 15 e 19 anos. O objetivo é reduzir a taxa de nascimentos e de mortes durante o parto. Na primeira faixa de idade, entre 10 e 14 anos, a diarreia e as infecções pulmonares representam a segunda e quarta causas de falecimento.
O documento alerta ainda que pelo menos um adolescente em cada quatro não realizam exercícios físicos suficientes - pelo menos uma hora por dia - e que em alguns países um em cada três é obeso. Para os especialistas da OMS, a adolescência é um momento importante da vida, durante o qual é necessário estabelecer as bases de uma boa saúde.
Fonte: Correio Braziliense
Visite a página da OMS sobre a saúde dos adolescentes e leia o relatório da OMS na íntegra.
Geodon (ziprasidona)
Geodon (princípio ativo: ziprasidona) é um antipsicótico de segunda geração (também conhecido como atípico) desenvolvido pelo laboratório Pfizer e aprovado pelo órgão regulador norte-americano FDA em 2001 para o tratamento da esquizofrenia e, posteriormente, para o tratamento dos transtornos do espectro bipolar, como episódios maníacos/hipomaníacos, estados mistos e depressão.
Ele age no SNC bloqueando receptores de dopamina (D2) e de serotonina (5-HT2a e 2c) e ativando receptores 5-HT1a, o que lhe confere, além dos efeitos antipsicóticos, também efeitos antidepressivos e ansiolíticos.
Outras indicações do Geodon que não constam em bula (uso off-label) são: depressão unipolar, ansiedade, agressividade, TDAH, TOC, autismo e transtorno de estresse pós-traumático.
O Geodon deve ser ingerido nas refeições, preferencialmente almoço e/ou jantar, pois sua absorção é melhor com uma refeição de ao menos 500 calorias.
Os efeitos colaterais mais comuns são sonolência, que depende da dose (raramente ocorre com 40mg), e dor de cabeça. Esses efeitos costumam ser transitórios, mais nas primeiras duas semanas de tratamento, à medida que organismo for se acostumando à medicação. Podem ocorrer náuseas, boca seca, alteração do funcionamento intestinal, hipotensão, embora estes não sejam sintomas muito comuns.
Efeitos colaterais tradicionalmente associados aos antipsicóticos, como tremores, rigidez muscular, parkinsonismo, hipersalivação e inquietação são raros.
O Geodon destaca-se entre os medicamentos de sua classe por oferecer menor risco de ganho de peso e de síndrome metabólica (obesidade e diabetes) e possuir uma ação terapêutica já em baixa dose.
As doses usuais para cada transtorno são:
- Esquizofrenia: 160mg/d
- Espectro bipolar: 80-160mg/d
- Depressão: 40-120mg/d
- Irritabilidade e ansiedade associadas: 40-120mg/d
Depoimento ajuda a desmistificar a esquizofrenia e reafirma que a recuperação é possível.
Wilson Fraga tem mais de 10 anos de convívio com a esquizofrenia, já passou por várias crises e internações e hoje considera-se recuperado. Ele precisou conhecer a doença para alcançar um nível de maturidade que o permitisse mudar sua vida, fazendo escolhas mais saudáveis e que contribuíssem para seu bem estar. Mesmo medicado e considerando agora estar bem equilibrado, ele reconhece que a esquizofrenia possui gatilhos ambientais que podem resultar em recaídas e que, como se faz com um exército inimigo, é necessário conhecer bem os "fronts" em que ele ataca para saber as melhores estratégias para prevenir futuros problemas. Mas mesmo com a doença, Wilson diz não se envergonhar, que o preconceito que as pessoas têm não é justificável e que ele leva uma vida feliz ao lado de sua esposa e de sua família, procurando extrair da vida o que há de melhor. Esse depoimento vale a pena ser assistido e que possa servir como uma injeção de ânimo para aqueles que ainda não encontraram a esperança de se recuperar e de levar uma vida normal. Obrigado Wilson pela coragem de vir a público dividir conosco sua experiência.
Leia também o depoimento por escrito do Wilson, contando toda a sua trajetória.
Debate na TV Futura sobre a esquizofrenia.
O programa Sala de Debate, da TV Futura, debateu com os psiquiatras Leonardo Palmeira e Helio Rocha e com o aposentado Wilson Fraga, que se recupera da esquizofrenia, temas como preconceito, trabalho, tratamento e família.
A participação de Wilson foi fundamental para mostrar que a esquizofrenia é uma doença como outra qualquer, que, se tratado, o paciente pode levar uma vida normal. Wilson sente-se feliz, leva uma vida ativa, compreende sua doença e sabe identificar os gatilhos que o levaram a recaídas. Afirma que gostaria muito de trabalhar, mas que o sistema não favorece quem é portador de um transtorno mental e que, para trabalhar, teria que abrir mão de sua aposentadoria para possivelmente ganhar menos, mas ele tem outros projetos, como viajar com sua esposa. Aliás, Wilson dividiu conosco sua história num depoimento envolvente que deu ao Portal Entendendo a Esquizofrenia em novembro de 2011, leia mais.
Parte 1
https://www.youtube.com/watch?v=Vd92h1pACcE
Parte 2
https://www.youtube.com/watch?v=rumdUKFfqqo
Morte de Eduardo Coutinho provoca reflexões sobre a esquizofrenia.
Mais uma vez assistimos a esquizofrenia no centro das páginas policiais sendo responsabilizada por mais uma tragédia, desta vez envolvendo a família de Eduardo Coutinho, cineasta, que foi morto a facadas pelo seu filho, Daniel Coutinho, presumidamente portador de esquizofrenia, e que também esfaqueou sua mãe e tentou depois se matar.
Informações inicialmente divulgadas pela imprensa diziam que o filho do cineasta, visivelmente perturbado, teria dito a um vizinho que “queria salvar o pai e toda a família”. Depois de ser interrogado pela polícia, Daniel teria confessado o crime e houve declarações do delegado responsável de que não seria possível atestar se as motivações para o crime teriam realmente relação com a doença mental e que seria necessário aguardar o exame pericial do acusado.
Mesmo que a investigação policial demonstre que não foi a doença mental a principal responsável pelo assassinato de Eduardo Coutinho e que Daniel possuía, no momento do crime, consciência e capacidade de discernimento de seu ato, os efeitos devastadores que uma notícia como esta tem, vinculada a uma doença já muito estigmatizada, não poderão ser mais reparados.
Crimes como este, que sejam cometidos por pessoas com esquizofrenia ou que prematuramente são atribuídos a doença, grudam no imaginário das pessoas e reforça o preconceito de que a doença mental, principalmente a esquizofrenia, oferece riscos a sociedade e que pessoas que dela sofrem precisam ser afastadas, institucionalizadas ou encarceradas.
Um estudo norte-americano comparou a percepção das pessoas sobre a esquizofrenia nos anos 50 e atualmente e verificou que, apesar da sociedade estar melhor informada, o preconceito contra os doentes mentais aumentou nas últimas décadas e o grande responsável por isso é a associação com a violência e o receio que as pessoas em geral têm de serem vitimadas por algum paciente.
Existem inúmeros estudos que comparam as taxas de violência e de crimes cometidos por pessoas com esquizofrenia com a população geral e eles são unânimes em afirmar que pessoas com esquizofrenia cometem menos crimes do que a população geral e que eles são muito mais vítimas de alguma violência do que algozes dela.
Em todas as campanhas contra o estigma e o preconceito escuta-se que pessoas com esquizofrenia não são violentas, de que é uma doença como outra qualquer e que com o tratamento as pessoas podem se recuperar e levar uma vida normal. Porém, reportagens de jornais relacionando crimes a doentes mentais têm aumentado muito nas ultimas décadas e isto contribui para alimentar esta sensação na sociedade. Notícias como esta do assassinato de Eduardo Coutinho, jogam por terra qualquer esforço de combate ao estigma e são capazes de destruir anos de trabalho.
Após a deputada Gabrielle Gifford ser baleada em Tucson, Arizona, por um homem que saiu atirando a esmo, uma mulher esquizofrênica escreveu para o presidente Obama: “Eu estou muito preocupada com o problema das pessoas com doença mental grave que não são tratadas neste país. Quando violentas, elas mancham a nossa reputação. Eu sinto isto na pele… Por favor, cuide para que tragédias como esta não se repitam.”
Um estudo com 802 pacientes mostrou que os violentos tinham quase duas vezes mais chance de não terem aderido ao tratamento do que os não violentos. Vários estudos confirmaram que o tratamento com antipsicóticos reduz o comportamento agressivo nos pacientes. O reconhecimento e o tratamento precoce dos pacientes podem ser, portanto, medidas úteis tanto para reduzir os casos de violência associados à doença mental como para combater o estigma na sociedade.
O problema parece ser ainda mais complexo quando serviços de assistência e muitos profissionais de saúde e familiares de pacientes parecem não compreender ou não trabalhar o suficiente para que pacientes com esquizofrenia sejam logo conduzidos a um tratamento. Essa não é uma realidade somente no Brasil, mas países em desenvolvimento vêm se preocupando em acelerar o atendimento a essas pessoas com programas de governo para o atendimento às pessoas com o primeiro episódio psicótico.
Pesquisas demonstram que o atraso médio para um primeiro atendimento chega a 1 ano após o início dos primeiros sintomas psicóticos. Sabemos das dificuldades muitas vezes de reconhecer os sintomas, de convencer o paciente a aceitar ajuda, pois a negação de estar doente no começo é quase unânime entre os pacientes, de encontrar serviços capacitados para este primeiro atendimento, porém é preciso difundir a informação de que o atraso no tratamento pode acarretar sérios riscos à saúde dessas pessoas, inclusive com o risco de suicídio.
Existem quatro fatores que impactam negativamente o prognóstico da esquizofrenia e que podem dificultar a recuperação do paciente, ou seja, a forma como ele vai sair do estado psicótico, se conseguirá retomar suas atividade e relacionamentos, como será sua qualidade de vida: (1) tempo de demora para iniciar o tratamento médico; (2) falta de adesão ao tratamento médico – 3 em cada 4 pacientes interrompem o medicamento por conta própria nos primeiros dois anos de tratamento e tem recaídas; (3) abuso de drogas – mais de 50% dos pacientes tem histórico de abuso de maconha; (4) famílias com alto nível de sobrecarga emocional, como expectativas e cobranças excessivas, muita crítica ou hostilidade com o paciente.
Hoje um tratamento abrangente para a esquizofrenia deve contemplar necessariamente as estratégias de enfrentamento desses quatro fatores: (1) serviços e profissionais treinados para o reconhecimento precoce da esquizofrenia e demais transtornos psicóticos, com educação de pais e professores, que são os mais capazes de fazer acender a luz amarela e buscar logo uma avaliação nos primeiros sinais; (2) médicos capazes de reconhecer precocemente a não adesão do paciente ao tratamento (pesquisas mostram que muitas vezes a família não consegue identificar que o paciente não está tomando a medicação regularmente) e prescrição de antipsicóticos de longa ação (injeções mensais) para garantir o tratamento farmacológico que o paciente necessita para não ter recaídas; criação de serviços de medicação de longa ação nos hospitais, ambulatórios e CAPS, para permitir o fluxo de pacientes que necessitam deste recurso; (3) atendimento das comorbidades, principalmente dependência química, através de grupos de ajuda e oficinas para dependentes; (4) fazer com que a informação sobre a esquizofrenia chegue a todas as famílias que estejam envolvidas, estimular a criação de grupos de auto-ajuda na comunidade com famílias e pacientes com esquizofrenia para que possam buscar em conjunto as soluções para os principais conflitos; ampliação da rede social dessas famílias através de associações de familiares.
O Estado precisa cuidar dessas pessoas que estão em risco, oferecer apoio e tratamento, antecipando-se a possíveis tragédias. Seria uma maneira de prevenir que crimes cometidos por pessoas mentalmente doentes ocorram e ganhem a mídia. Dificilmente campanhas antiestigma terão sucesso diante do efeito que notícias como estas têm sobre as pessoas.
Risco de suicídio induzido por antidepressivos.
Há algum tempo alguns médicos e cientistas vêm alertando que os antidepressivos fazem mais mal do que bem aos pacientes.
Na verdade, em alguns casos esses males podem ser alarmantes, envolvendo o suicídio.
Nada menos do que 8,1% dos pacientes que começam um tratamento com antidepressivos ou recebem um aumento de dosagem vão apresentar tendências ao suicídio nas duas semanas imediatas.
Seguindo uma lógica razoável, isso seria mais do que suficiente para que se suspendesse o uso de medicamentos que geram um efeito contrário ao que propõem e, mais do que tudo, colocam em risco a vida do paciente.
A lógica do mercado, contudo, parece ser outra, e agora uma empresa norte-americana está tentando colocar no mercado um exame para testar quais pacientes terão maior risco ao suicídio em vista da ingestão dos antidepressivos.
A Sundance Diagnostics patenteou alguns genes que ela afirma que pode ajudar os psiquiatras a não receitarem os antidepressivos para alguns pacientes.
O exame se baseia em estudos realizados pelo Instituto de Psiquiatria de Munique (Alemanha), que identificaram 79 biomarcadores genéticos que classificam os pacientes com alto risco de "suicidalidade".
Segundo os estudos, esses biomarcadores classificam os pacientes com risco de suicídio induzido pelos antidepressivos com 91% de precisão.
Por outro lado, os pesquisadores alemães também descobriram que o aumento do risco de suicídio não se limita a indivíduos com idade inferior a 25 anos, conforme descrito nos rótulos dos medicamentos por exigência da agência reguladora norte-americana FDA.
Em vez disso, o risco de suicidalidade induzida pelos antidepressivos está presente em todas as idades, de 18 a 75 anos.
Fonte: Diário da saúde
Desvenlafaxina (Pristiq)
Desvenlafaxina (Pristiq) é um antidepressivo que atua ao mesmo tempo em dois sistemas de neurotransmissão: serotonina e noradrenalina. Por este motivo a desvenlafaxina pertence à nova geração de antidepressivos conhecidos como duais, ou seja, que atuam em dois neurotransmissores envolvidos na depressão. A desvenlafaxina inibe os receptores de recaptação de serotonina e noradrenalina na membrana dos neurônios, desta forma aumentando a concentração desses dois neurotransmissores na fenda sinóptica. Esse duplo mecanismo de atuação faz com que o medicamento tenha um efeito mais rápido e que sua eficácia a longo prazo também seja maior, pois a depressão está associada com a queda na concentração tanto de serotonina como de noradrenalina.
A desvenlafaxina possui outras indicações, como no tratamento de quadros de ansiedade, como ansiedade generalizada.
A desvenlafaxina costuma ter boa tolerabilidade, porém alguns sintomas podem ocorrer em 10 a 20% dos pacientes no inicio do tratamento, como náuseas, boca seca, dores de cabeça, tonteira, diarreia, perda do apetite, redução da libido, inquietação e irritabilidade. Esses efeitos podem reduzir ou até mesmo desaparecer com a continuação do tratamento, à medida que o organismo vai se acostumando à medicação.
A síndrome de descontinuação é uma característica dos antidepressivos que atuam na serotonina, que quando retirados abruptamente podem causar um mal estar geral, ansiedade, taquicardia, tonteiras, enjoos. Portanto, não se recomenda a parada abrupta da desvenlafaxina. Ela deve ser reduzida gradativamente de acordo com a orientação médica. A redução lenta também previne recaídas do quadro depressivo ou ansioso.
A dose de desvenlafaxina varia entre 50 e 200mg/d. Doses maiores que 150mg/d requerem monitoramento da pressão arterial (pode aumentar a pressão).
A dose usual para o tratamento da depressão varia entre 100 e 200mg/d.
No Brasil a desvenlafaxina é comercializada pelo laboratório Pfizer sob o nome de Pristiq nas apresentações de 50mg e 100 mg.
Invega Sustenna
Invega Sustenna é um medicamento injetável da classe dos antipsicóticos de segunda geração para uso mensal, inicialmente desenvolvido para o tratamento das psicoses, como esquizofrenia e transtorno esquizoafetivo. É um recurso útil no tratamento de pacientes que não aderem ao tratamento com medicação oral, que apresentam formas mais graves de psicose ou que abusam de substâncias psicoativas, como álcool e/ou drogas ilícitas.
Pesquisas demonstram que a falta de adesão ao tratamento ocorre em 75% dos casos de psicose nos primeiros dois anos após o diagnóstico inicial e isso está diretamente relacionado a maior gravidade do quadro, maiores taxas de internação e de resistência farmacológica (ausência de resposta à medicação).
Invega Sustenna é a paliperidona (Invega) associada ao ácido palmítico (palmitato) através de uma técnica de fusão de moléculas denominada nanocristais, que permite a liberação homogênea do princípio ativo (paliperidona) na corrente sanguínea ao longo de 30 dias. Isso explica porque a medicação costuma ser mais bem tolerada do que a medicação oral (pois não possui picos e vales no sangue associados à absorção oral) e porque ela é mais eficaz nas formas graves de psicose (pois a distribuição do princípio ativo é mais homogênea e não se perde a medicação na primeira passagem pelo fígado – o que necessariamente ocorre com todos os medicamentos orais).
Existem formas de psicose que estão associadas a uma hipersensibilidade à dopamina (principal neurotransmissor afetado nesses casos) e alguns pacientes são mais sensíveis às variações neuroquímicas que os medicamentos orais provocam por sua maior instabilidade em atingir níveis constantes do princípio ativo na corrente sanguínea.
Esquema de iniciação
O Invega Sustenna deve ser iniciado, de acordo com o laboratório que o desenvolveu, Janssen-Cilag, da seguinte forma:
Primeiro dia – 1 ampola IM de 150mg no braço (músculo deltoide)
Oitavo dia – 1 ampola IM de 100mg no braço (músculo deltoide)
Trinta dias depois da segunda dose – 1 ampola IM na dose de manutenção, que pode variar de 50 a 150mg de acordo com cada caso. Esta injeção pode ser aplicada no braço (deltóide) ou na nádega (glúteo).
O esquema de iniciação recomendado pelo laboratório deve ser respeitado, pois é através dele que a medicação se acumula no organismo para, ao final de 30 dias, atingir os níveis séricos adequados para o tratamento. Com a primeira injeção de 150mg, atinge-se ao final de 1 semana uma dose equivalente a 6mg/d de Invega oral, com a segunda injeção de 100mg alcança-se a dose equivalente a 12mg/d de Invega oral. Esses níveis, entretanto, vão reduzindo com o passar dos dias para receber a terceira ampola trinta dias depois da segunda e, então, estabilizar a dose sanguínea de acordo com a dosagem de manutenção pretendida:
Ampola de 150mg – equivalente a 12mg/d de Invega oral
Ampola de 100mg – equivalente a 9mg/d de Invega oral
Ampola de 75mg – equivalente a 6mg/d de Invega oral
Ampola de 50mg – equivalente a 3mg/d de Invega oral
Caso o esquema inicial proposto não seja respeitado, corre-se o risco de não atingir a estabilidade de dose na fase de manutenção, pois diferentemente dos antipsicóticos de depósito convencionais (tipo haldol decanoato), o Invega Sustenna não se acumula muito tempo no organismo. Para se ter uma ideia, mais de uma semana de atraso na injeção de manutenção já é suficiente para reduzir o medicamento a níveis preocupantes em que podem haver recaídas, portanto, atrasos máximos de 1 semana são permitidos, porém não aconselháveis. Caso este período se exceda, será necessário repetir o esquema de iniciação para novamente atingir a estabilidade na dosagem sanguínea.
O esquema de iniciação serve como uma “dose de ataque” para alcançar um nível mínimo de medicação no sangue que permita, a partir da terceira dose (primeira de manutenção), que os níveis séricos sejam constantes mesmo tomando uma injeção mensal.
Uma vantagem do Invega Sustenna, e que o diferencia das demais medicações de depósito, é que por sua tecnologia de liberação ele tem efeito a partir do segundo dia da injeção, sendo indicado para as situações de crise. Geralmente é possível já observar um início de melhora uma semana após a primeira injeção e ,normalmente após 20 a 30 dias, já é possível observar uma melhora significativa dos sintomas psicóticos.
Principais efeitos colaterais
O Invega Sustenna costuma ser bem tolerado, mas alguns efeitos colaterais transitórios podem ocorrer de acordo com cada etapa do tratamento:
Após a primeira injeção de 150mg – a maioria dos pacientes não sente nenhum efeito significativo, mas pode ocorrer maior sonolência, geralmente após o segundo dia da injeção.
Após a segunda injeção de 100mg – cerca de metade dos pacientes pode se queixar de uma ansiedade, geralmente uma necessidade de andar ou de se movimentar mais, pode ter dificuldade de ficar muito tempo sentado ou de se concentrar em algo em que precise ficar parado muito tempo, como assistir a um filme ou ler um livro. Este efeito costuma desaparecer no segundo mês de tratamento, a medida que o organismo vai se acostumando com o medicamento. O médico pode prescrever algum ansiolítico para tornar este sintoma mais brando; se ocorreu sonolência na primeira fase, nesta fase a sonolência pode aumentar, mas também tende a reduzir depois do segundo mês; pode ocorrer um aumento dos níveis de prolactina (hormônio produzido pela hipófise e que aumenta devido ao bloqueio dos receptores de dopamina – efeito da medicação), efeito esse que já é esperado, alguns pacientes apresentam um aumento mais significativo, mas normalmente isso só pode ser melhor avaliado após o segundo mês.
Após a terceira injeção (início da fase de manutenção) – este será o melhor momento para avaliar os níveis de prolactina. Se ele estiver muito elevado, pode ser necessária uma avaliação com endocrinologista para prescrever um medicamento que reduza os níveis de prolactina. Níveis elevados de prolactina podem provocar, nos homens, ganho de peso e disfunção sexual, e nas mulheres, além desses podem ocorrer alterações menstruais, intumescimento das mamas e, raramente, secreção leitosa. Esta não chega a ser uma contraindicação à medicação, já que existe uma forma de detecção precoce através do exame de sangue e a prevenção através do acompanhamento endocrinológico.
Uso em outros transtornos psiquiátricos
O Invega Sustenna ainda não tem indicação em bula para outros transtornos mentais, porém os antipsicóticos de segunda geração têm sido utilizados no tratamento do transtorno bipolar (TBH), alguns com liberação pelo FDA (órgão norte-americano) e pelo Ministério da Saúde do Brasil. Essa deve ser uma consequência natural do Invega Sustenna, já que é a única opção de antipsicótico de segunda geração injetável de uso mensal. Sabe-se que o problema de adesão não afeta exclusivamente a esquizofrenia, sendo também muito comum no TBH.
A paliperidona (Invega) já vem sendo utilizada de forma off-label no tratamento do transtorno bipolar, principalmente nos quadros de mania e nos estados mistos (depressão agitada, hipomania depressiva).
O esquema de iniciação e a dose de manutenção seguem os mesmos princípios da indicação para a esquizofrenia.
Dúvidas mais comuns
É possível conseguir a injeção pelo plano de saúde?
Sim, alguns pacientes conseguiram que seu plano de saúde cobrisse a medicação. Segundo a ANS, através do Rol 211 e 262, é obrigatória a cobertura de hospital-dia e medicação injetável que se fizer necessária neste ambiente para pacientes portadores de esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo e transtorno bipolar. O médico-assistente deve fazer um laudo indicando o tratamento em hospital-dia e a medicação para que o paciente solicite a cobertura ao plano. Este procedimento tem sido, via de regra, negado pelas seguradoras, mas alguns pacientes tem conseguido a autorização após recorrer à ANS. Para isso é necessário apresentar à ANS o laudo médico junto à negativa do plano por escrito. Caso a ANS não consiga dar uma solução, o paciente pode recorrer à justiça. Para mais informações, acesse https://leonardopalmeira.com.br/?page_id=1171
As primeiras injeções precisam ser no braço?
Sim, pois a absorção é melhor no braço do que na nádega. Como no início do tratamento muitas vezes se quer um efeito rápido da medicação, a aplicação no músculo deltoide acelera o efeito.
Por que existem duas agulhas no kit da injeção, uma de cor azul e outra de cor preta?
A agulha de cor azul é para ser utilizada somente no braço de pacientes com 90 kg ou menos. Na nádega ou se o paciente tiver mais de 90kg deve-se sempre utilizar a agulha de cor preta.
Qualquer enfermeiro pode aplicar a injeção?
Muitos enfermeiros não conhecem a medicação. É preciso ter alguns cuidados: agitar a seringa com o conteúdo por 30 segundos antes de aplicar; utilizar a agulha de cor apropriada (azul se for no braço de alguém com menos de 90kg; preta se for na nádega – independente do peso do paciente - ou no braço de alguém com mais de 90kg) ; não pressionar o êmbolo para retirar o ar, pois irá desperdiçar parte da medicação (a agulha já vem pronta para aplicação, basta agitar); aplicar no músculo deltoide as duas primeiras injeções (início do tratamento), da terceira em diante (fase de manutenção) pode ser no braço ou na nádega; pressionar depois a região com algodão.
O que fazer se o paciente se recusar a tomar a injeção?
Existe um serviço de enfermagem que pode ir até a residência do paciente e aplicar a injeção.
Equipe de enfermeiros especializados:
Enf. Célio – 7869-6062/9667-5417
Enf. Maurício – 99708-3598/7869-6061
Enf. Anselmo - 99837-4836
Qual a margem de tolerância de atraso na tomada da injeção?
Até uma semana para as doses de manutenção (mensais) e até dois dias para as duas primeiras injeções.
O Invega Sustenna é comercializado pelo laboratório Janssen-Cilag, do grupo Johnson&Johnson, nas apresentações de 50, 75, 100 e 150mg, cada caixa com uma ampola.
Aripiprazol (Abilify e Aristab)
Aripiprazol foi desenvolvido pela Otsuka no Japão e nos Estados Unidos, Otsuka América comercializa-o conjuntamente com a Bristol-Myers Squibb. Ele é um medicamento da classe dos antipsicóticos de segunda geração agindo como agonista parcial da dopamina (regula os níveis do neurotransmissor dopamina no cérebro), indicado principalmente no tratamento da esquizofrenia, dos transtornos de humor (neste caso com ação estabilizadora de humor e antidepressiva), como do espectro bipolar e da depressão, sendo eficaz também em quadros de irritabilidade, como a associada aos transtornos invasivos do desenvolvimento em crianças e adolescentes, como o autismo, inclusive a Sindrome de Asperger.
O medicamento foi aprovado pelo órgão americano Food and Drug Administration (FDA) para a esquizofrenia em 15 de novembro de 2002, e pela Agência Europeia de Medicamentos em 4 de junho de 2004. Depois foi recebendo a aprovação para os outros transtornos na medida em que pesquisas demonstraram sua atuação em síndromes maníacas e depressivas, graças à sua atuação também em receptores de serotonina.
O Aripiprazol destaca-se entre os medicamentos de sua classe por ser muito pouco sedativo, oferecer menor risco de ganho de peso e de síndrome metabólica (obesidade e diabetes) e possuir uma ação terapêutica já em baixa dose.
As doses usuais para cada transtorno são:
- Esquizofrenia: 10-30mg/d
- Espectro bipolar: 2,5-10mg/d
- Depressão: 2,5-5mg/d
- Irritabilidade associada: 2,5-10mg/d
O Aripiprazol é normalmente bem tolerado, desde que o aumento de dosagens seja feito gradativamente, partindo de 2,5mg até atingir a dose pretendida.
Entre os efeitos colaterais mais comuns estão:
- ansiedade, na forma de uma inquietação (necessidade de andar ou dificuldade de permanecer muito tempo sentado ou deitado), podendo chegar a uma agitação;
- dor de cabeça;
- insônia ou leve sonolência;
O risco de efeitos extrapiramidais (tipo parkinsonismo) são pouco comuns e estão relacionados à dose.
O Aripirazol é comercializado no Brasil com o nome de Abilify (referência – laboratório Bristol) e Aristab (similar – laboratório Aché), mas apresentações de 10, 20 e 30mg por comprimido.
Documentário sobre depressão.
"Dor do coração" é um documentário de Leonardo Cerqueira e Rômulo Maciel que aborda com muita sensibilidade o tema da depressão. Com depoimentos de quatro pacientes que ilustram bem todos os desafios de quem sofre deste mal, o documentário traz informações atualizadas sobre a doença que hoje é a principal causa de perda de qualidade de vida e de afastamento do trabalho. O filme passa uma mensagem positiva e de esperança ao contar como as personagens se recuperaram a partir do tratamento e das mudanças que imprimiram em suas vidas. É um bom exemplo de como pessoas podem se recuperar de um transtorno mental.