Estimulação magnética transcraniana: estudo brasileiro mostra eficácia semelhante entre métodos.

A Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva é um método seguro e eficaz no tratamento de diferentes transtornos psiquiátricos. É uma forma complementar à medicação de estimular o cérebro a responder melhor aos tratamentos, não invasiva e indolor. Este estudo mostra que não existe uma diferença ainda clara entre os diferentes métodos de estimulação, porém os casos pesquisados são muito heterogêneos clinicamente, fazendo-se necessários novos estudos, preferencialmente randomizados e controlados. É um campo em ascensão na psiquiatria e neurologia, cujo acesso ainda precisa ser ampliado (leia mais sobre EMTr).

Diversos estudos já apontaram a estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr) como uma opção viável de tratamento não medicamentoso para depressão, mas pouco se sabe sobre a eficácia comparativa e a tolerabilidade das diversas modalidades de EMTr utilizadas hoje na psiquiatria.

Agora, uma revisão sistemática e meta-análise em rede conduzida por um grupo de pesquisadores brasileiros reuniu 81 estudos clínicos randomizados comparando a eficácia e a tolerabilidade de diferentes modalidades de EMTr no tratamento agudo de episódios de depressão maior, e mostrou que não há um método significativamente mais eficaz, mas apenas uma discreta superioridade da EMTr bilateral e da EMTr de baixa-frequência precedida por priming – uma estimulação de baixa-frequência precedida por um breve período de estimulação em alta-frequência.

O estudo, que teve como autor principal o psiquiatra Andre Brunoni, do Laboratório de Neurociências da Universidade de São Paulo (USP), foi publicado on-line no final de dezembro no periódico JAMA Psychiatry.

Os efeitos da estimulação magnética transcraniana repetitiva vêm sendo estudados em diversas doenças e condições como Parkinson, dor, autismo, dependência química, compulsão alimentar e até mesmo na reabilitação após acidente vascular encefálico. Mas é nos casos de depressão maior resistente a medicamentos que os resultados vêm se mostrando mais robustos.

A EMTr é usada para induzir mudanças na atividade cerebral por meio de indução eletromagnética aplicada em diferentes frequências e de forma não invasiva. Embora o mecanismo exato de ação da EMTr na depressão ainda seja objeto de estudo, a hipótese mais aceita é de que técnica ajudaria a restabelecer a atividade normal do córtex pré-fontal dorsolateral – que se altera durante a depressão.

O estudo

Com o objetivo de obter uma hierarquia de tratamento que fosse clinicamente significativa, Brunoni e colaboradores decidiram comparar diferentes tipos de estimulação magnética transcraniana utilizando a revisão sistemática e a meta-análise em rede para sintetizar os dados dos estudos analisados.

"Enquanto a meta-análise tradicional permite a comparação de uma intervenção versus outra, ou mesmo uma intervenção versus placebo, a meta-análise de rede permite que várias intervenções sejam comparadas simultaneamente, o que garante mais força ao estudo", disse o Dr. Brunoni em entrevista ao Medscape.

Os 81 estudos clínicos randomizados que fizeram parte da análise foram reunidos a partir de buscas nas bases PubMed/MEDLINE, EMBASE, PsycInfo e Web of Science. Foram incluídos apenas estudos que envolveram pacientes com diagnóstico primário de episódio depressivo agudo unipolar ou bipolar, e que compararam ao menos dois tipos de estimulação magnética transcraniana repetitiva. A maioria dos estudos recrutou apenas pacientes com depressão resistente a medicamentos (74,1%), realizou de 10 a 15 sessões de EMTr (69,1%) e usou a técnica como uma terapia complementar (69,1%), em geral com conjunto com o uso de antidepressivos. A maioria dos pacientes era do sexo feminino (59,1%) com uma idade média de 46 anos.

Como desfecho primário Dr. Brunoni e colegas estabeleceram as taxas de resposta –definidas como melhora de 50% ou mais em relação ao início do estudo. As taxas de remissão foram o desfecho secundário, definido como um escore de 7 ou menos na Hamilton Depression Rating Scale (HDSR)-17, de 8 ou menos na HDSR-21, ou de 10 ou menos na Montgomery-Asberg Depression Rating Scale.

Resultados

A meta-análise em rede mostrou que as intervenções mais efetivas do que o placebo foram priming de baixa-frequência (odds ratio, OR, de 4,66; IC de 95%, 1,70 - 12,77), bilateral (OR de 3,96; IC de 95%, 2,37 - 6,60), alta-frequência (OR de 3,07; IC de 95%, 2,24 - 4,21), estimulação θ-burst (OR de 2,54; IC de 95%, 1,07 - 6,05), e baixa-frequência (OR de 2,37; IC de 95%, 1,52 - 3,68). Modalidades mais recentes de EMTr (acelerada, sincronizada e profunda) não foram mais efetivas do que placebo. Com exceção da estimulação θ-burst versus placebo, resultados similares foram obtidos para remissão.

A hierarquização relativa estimada para os tratamentos sugeriu que as modalidades bilateral e de baixa-frequência precedida por priming possam ser as intervenções mais eficazes e aceitáveis entre todas as estratégias de EMTr, observam os autores, acrescentando que os resultados de muitos dos estudos analisados eram imprecisos e que haviam relativamente poucos abordando intervenções distintas de baixa-frequência, alta-frequência e bilateral.

O achados, apontou o Dr. Brunoni, vão ao encontro de resultados que já vêm sendo vistos na literatura, e podem influenciar a prática clínica atual apontando, a partir de características específicas de cada modalidade, qual delas se adapta melhor às necessidades e preferências individuais de cada paciente.

"Um bom exemplo é o caso da estimulação θ-burst: uma sessão dela demora cerca de seis minutos, em vez dos 30 minutos necessários para as estimulações de alta e vaixa frequência tradicionais", explicou o pesquisador ao Medscape.

"Grande heterogeneidade"

Convidado pelo Medscape a comentar o estudo, o psiquiatra brasileiro Dr. Marcelo Berlim, professor associado do Departamento de Psiquiatria da McGill University, em Québec (Canadá), disse que o trabalho "ressaltou a grande heterogeneidade entre os estudos clínicos incluídos na análise".

"A meta-análise de rede é mais uma forma de análise dos dados. Em termos de desfecho clínico, não há nada que já não tenha sido demonstrado: todos são melhores do que placebo e nenhum deles é significativamente melhor do que os outros. O que precisamos agora e de pesquisas comparando as mesmas coisas, para ver o que se confirma como melhor", disse o Dr. Berlim, que é diretor da Clínica de Pesquisa em Neuromodulação do Douglas Institute, em Québec, onde também pesquisa a EMTr na depressão maior.

Baixo acesso

Partindo de uma premissa de medicina baseada em evidências, o tratamento não medicamentoso da depressão hoje no Brasil e no mundo é limitado a basicamente terapia cognitivo-comportamental, eletroconvulsoterapia e estimulação magnética transcraniana. No Brasil a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já aprovou o uso de EMTr superficial e profunda para o tratamento da depressão, mas a disponibilidade apenas na rede privada e o alto preço das sessões (são feitas pelo menos 10) limitam o acesso.

"Os aparelhos são importados, a legislação brasileira exige que um médico opere essas máquinas e isso tudo faz com que o custo médio por sessão seja por volta de R$ 400. Isso faz com que menos de 1% das pessoas que poderiam se beneficiar desse tratamento não farmacológico de fato tenham acesso a ele", disse o Dr. Brunoni.

Fonte: Medscape


Mais de 75 mil afastados do trabalho por depressão em 2016.

OMS alerta que, até 2020, mal será a doença mais incapacitante do mundo

Tachada de mal do século, a depressão é responsável por retirar do mercado de trabalho milhares de profissionais todos os anos. No ano passado, 75,3 mil trabalhadores foram afastados em razão do mal, com direito a recebimento de auxílio-doença em casos episódicos ou recorrentes. Eles representaram 37,8% de todas as licenças em 2016 motivadas por transtornos mentais e comportamentais, que incluem não só a depressão, como estresse, ansiedade, transtornos bipolares, esquizofrenia e transtornos mentais relacionados ao consumo de álcool e cocaína. No ano passado, mais de 199 mil pessoas se ausentaram do mercado e receberam benefícios relacionados a estas enfermidades, o que supera o total registrado em 2015, de 170,8 mil.

Entre 2009 e 2015 (únicos dados disponíveis), quase 97 mil pessoas foram aposentadas por invalidez em razão de transtornos mentais e comportamentais, com destaque para depressão, distúrbios de ansiedade e estresse pós-traumático. Ao todo, esses novos benefícios representam, hoje, uma conta de R$ 113,3 milhões anuais aos cofres públicos.

Para os especialistas, a situação evidencia a necessidade de colocar esse tipo de transtorno no topo da lista de preocupações para políticas públicas e de empresas. A própria Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que, até 2020, a depressão será a doença mais incapacitante do mundo. A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) estima que entre 20% e 25% da população tiveram, têm ou terão um quadro de depressão em algum momento da vida.

Para Leonardo Rolim, especialista em Previdência, as políticas públicas falham pois não se preocupam em reintegrar os profissionais no ambiente de trabalho. Segundo ele, apenas 5% dos trabalhadores afastados são reabilitados no emprego:

— Os números são muito grandes, e há uma falha na reabilitação. Mesmo quando volta, o trabalhador demora muito. O Estado gastaria menos reintegrando esse trabalhador do que pagando benefícios por muitos anos.

Ao longo dos seus 32 anos, Manoela Serra já conviveu com episódios depressivos várias vezes. Ela foi diagnosticada com transtorno bipolar em 2009, aos 25 anos. Isso faz com que tenha de conviver com ciclos de euforia e outros em que mergulha em depressão profunda. O primeiro episódio depressivo ocorreu quando ela tinha 15 anos.

No mercado de trabalho, pulou de emprego em emprego, sem se firmar em razão das consequências do transtorno. Além de apatia e insegurança, ela sofria fortes enxaquecas e esofagite. Em alguns dos vários empregos pelos quais passou, chegou a desenvolver síndrome do pânico.

— No início, ficava animada, inspirada, acumulava turnos. É a euforia bipolar. Até um dia em que, de uma hora para a outra, vinha a depressão. Ficava incomodada, com mania de perseguição, achava que não era boa o suficiente, chorava, tinha enxaqueca. O coração disparava e eu entrava num estado de nervos em que achava que ia morrer. A depressão é isso: uma sensação de morte — conta.

Quando a depressão começava, ela era obrigada a levar atestados para se manter afastada. Embora avalie que foi compreendida pelos patrões, quando os atestados se tornavam mais frequentes, não restava outra opção a não ser recorrer ao INSS ou pedir demissão. Nesse ciclo, ela se demitiu de empregos de garçonete, caixa, vendedora, atendente de casa de câmbio e companhia aérea. Diante da falta de uma estrutura de apoio, a alta rotatividade do profissional no mercado de trabalho é um dos efeitos da doença.

Segundo Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, a capacidade de trabalho e todas as outras funções do corpo ficam abaixo do normal em uma pessoa deprimida:

— Todas as funções da pessoa com depressão estão para baixo: a capacidade de trabalho, insegurança, falta de vaidade, a pessoa se sente feia, se sente péssima, sem condições de trabalho, perde as forças, a vontade. Fica sem concentração por causa das alterações do sono. Como trabalhar oito horas após noites seguidas de insônia? Como trabalhar com sonolência excessiva?

Profissões com maior incidência

Depois do diagnóstico, Manoela passou a se tratar corretamente e consegue ter um controle maior das crises, com a ajuda de medicação. Hoje, é escritora e transformou sua história em livro, “O Diário Bipolar”, e dá palestras sobre o tema.

Parte dos problemas que chegam ao INSS foram desencadeados por fatores relacionados ao próprio ambiente de trabalho. De todo o pessoal afastado no ano passado por transtornos de comportamento em geral, ao menos 10,6 mil foram considerados acidentes de trabalho, ou seja, tiveram o ambiente profissional como um dos agentes desencadeadores da doença.

Para casos específicos de depressão, episódicos ou recorrentes, foram 3,4 mil auxílios por acidente de trabalho. Os números, porém, podem ser bem maiores. Parte dos especialistas destaca que há risco de subnotificação, diante da dificuldade em comprovar o papel do ambiente de trabalho na ocorrência de episódios depressivos. Mesmo assim, há profissões que são conhecidas por terem mais afastamentos e aposentadorias ligadas a transtornos dessa natureza. É o caso do mercado financeiro, dos controladores de voo, dos profissionais da área de segurança, juízes, jornalistas e médicos.

Na avaliação de Rolim, em casos de acidente de trabalho, deveria haver algum tipo de ação para que o empregador compense o INSS, já que o ambiente foi considerado um fator que desencadeou a doença.

Por transtornos em decorrência de uso de psicoativos, sobretudo álcool e cocaína, foram 240 afastamentos considerados acidente de trabalho em 2016. Outros 34,2 mil receberam o auxílio previdenciário, quando não há conexão com o ambiente de trabalho. Procurado para falar sobre o assunto, o Ministério da Previdência não comentou.

Carga exaustiva de trabalho

Uma das diretoras da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), Rosylane Rocha explica que a depressão é uma doença, com um componente genético, que pode ser desencadeada por uma série de fatores, como o contexto social ou um determinado evento de vida da pessoa. Uma vez que exista a predisposição para a doença, uma carga exaustiva e recorrente de trabalho, um ambiente muito estressante ou uma situação de estresse pós traumático, por exemplo, podem fazer com que o trabalho seja o fator responsável por desencadear o problema. É nesses casos em que os benefícios são considerados acidente de trabalho.

— Esses casos ocorrem quando o médico entende que há uma contribuição relevante do ambiente de emprego para o quadro, a ponto de que, sem isso, a depressão não eclodiria — explica.

Para o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, o trabalho pode, de fato, ter impacto sobre a saúde do trabalhador:

— O termo “estresse” vem da física, para você medir o estresse de uma ponte, por exemplo. Se passar mais peso do que o previsto, a ponte estressa e rompe. Com o ser humano é a mesma coisa. Se ele passa a trabalhar 12h por dia, por exemplo, vai se estressar e romper, quebrar.

Médicos e policiais estão entre profissões que mais sofrem com depressão

Apesar de ser uma doença universal, a depressão e os transtornos mentais e comportamentais afetam de maneira diferente as mais diversas carreiras. No Brasil, as profissões que mais são impactadas pelo mal são seis, sendo elas: controladores de voo, profissionais da área de segurança, juízes, jornalistas, médicos e as profissões relacionadas ao mercado financeiro.

Os números, porém, podem ser bem maiores. Segundo especialistas, há risco de subnotificação, diante da dificuldade em comprovar o papel do ambiente de trabalho na ocorrência de episódios depressivos.

Fonte: O Globo


Depressão faz tão mal ao coração quanto obesidade e colesterol.

Pensar que 15% das mortes do coração pode ser causada por depressão é alarmante! Diagnosticar e tratar depressão deixa de ser uma medida apenas terapêutica e passa a ser uma medida de prevenção de saúde pública necessária, visto o número elevado de mortes cardiovasculares no mundo. Estamos preparados para dar conta do recado? A depressão pode atingir até 25% da população ao longo da vida!

Mente afeta o corpo

Em mais uma descoberta que desvenda os mecanismos de interação entre a mente e o corpo, acaba de ser demonstrado que, na depressão, o estado mental não é tudo o que é afetado - a depressão também compromete a fisiologia corporal.

O que se demonstrou é que a depressão representa um risco para doenças cardiovasculares tão grande quanto níveis elevados de colesterol ou obesidade.

A descoberta foi feita pela equipe do professor Karl-Heinz Ladwig, do Centro Helmholtz de Munique (Alemanha).

Depressão e risco cardíaco

Ladwig e sua equipe analisaram dados de 3.428 pacientes homens, com idades entre 45 e 74 anos, e observaram seu comportamento e sua saúde ao longo de um período de dez anos.

Eles se concentraram especificamente na comparação do impacto da depressão e dos quatro principais fatores de risco cardiovascular sobre a saúde dos voluntários.

"Nossa investigação mostrou que o risco de uma doença cardiovascular fatal devido à depressão é quase tão grande quanto o risco devido a níveis elevados de colesterol ou obesidade," resumiu Ladwig.

Os resultados mostraram que apenas a hipertensão arterial e o tabagismo estão associados com um risco cardiovascular maior do que a depressão.

Mortes por depressão

Extrapolando o resultado para os dados epidemiológicos, a equipe calcula que, na população em geral, a depressão pode estar sendo responsável por cerca de 15% das mortes cardiovasculares.

"Isto é comparável a outros fatores de risco, como hipercolesterolemia, obesidade e tabagismo", afirma Ladwig - os fatores que o pesquisador cita causam de 8 a 21% das mortes cardiovasculares.

Os resultados foram publicados na revista Atherosclerosis.

Fonte: Diário da Saúde


Depressão aumenta risco de morte por câncer.

Mais de 160 mil pessoas tiveram saúde monitorada na pesquisa no Reino Unido

Pessoas que sofrem de depressão ou ansiedade podem ter mais risco de morte causada por alguns tipos de câncer, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira. A análise da ficha clínica de mais de 160.000 adultos na Inglaterra e em Gales mostrou que os que declararam que sofriam problemas psicológicos eram mais propensos a morrer de câncer de cólon, próstata e pâncreas.

Os pesquisadores ressaltaram que se trata de uma constatação estatística e que isso não significa que exista um vínculo causa-efeito entre o estado psíquico de uma pessoa e o câncer. Mas estes resultados se somam a vários indícios que apontam a existência de interações entre a saúde física e a saúde mental, afirmou o artigo publicado na revista British Medical Journal (BMJ).

Várias pesquisas já apontaram a existência de uma relação entre os sintomas da depressão e os transtornos de ansiedade e a incidência de doenças cardiovasculares. Mas até agora as tentativas de demonstrar um possível vínculo com o câncer tiveram resultados pouco claros, explicaram os especialistas, um grupo de cientistas do University College de Londres, da Universidade de Edimburgo e de Sydney.

A equipe, dirigida por David Batty, epidemiologista da University College de Londres, analisou 16 estudos que realizaram um acompanhamento de uma determinada população no longo prazo. Do total de 163.363 pessoas acompanhadas, um grupo composto por indivíduos de mais de 16 anos e que não tinham câncer no início do estudo, 4.353 morreram por esta patologia durante as observações.

Os pesquisadores centraram seu estudo nos casos de câncer que dependem dos hormônios ou que estão ligados ao estilo de vida. Vários estudos sugerem que, efetivamente, o desequilíbrio hormonal que gera a depressão conduz a uma produção mais elevada de cortisol e inibe os mecanismos naturais de reparação do DNA, o que enfraquece as defesas diante do câncer.

Também há dados de que entre as pessoas depressivas é mais comum o tabagismo, o consumo de álcool e a obesidade, três fatores de risco para o câncer. Segundo a análise realizada, as pessoas que sofriam sintomas de depressão e ansiedade tinham uma incidência 80% mais alta de morrer de câncer de cólon, e eram duas vezes mais propensas a falecer de um câncer de próstata, de pâncreas ou de esôfago.

Os pesquisadores ajustaram estatisticamente os efeitos de distorção atribuídos ao modo de vida, sexo, idade, peso e situação socioeconômica. Os especialistas indicaram que também não é possível excluir uma causalidade inversa, ou seja, que a depressão seja provocada pelos sintomas de um câncer que ainda não foi diagnosticado. É preciso realizar outras pesquisas para entender mais sobre a relação do câncer e suas possíveis causas, disse Batty.

Fonte: O Globo


Um depoimento serve de alerta para depressão pós-parto.

“Eu me sentia fora de controle; nada estava bom para ela, nada.”

Uma mãe foi elogiada por fazer um relato sobre sua depressão pós-parto, na esperança de que isso possa ajudar outras mães que possam estar sofrendo com isso.

Suzanne Brack, na Irlanda, disse que os sentimentos que ela teve por sua filha não foram iguais ao que ela sentiu por seu filho logo depois de este nascer.

Nos dias seguintes ao parto, disse Brack, ela aparentava estar muito bem, mas, por dentro, não estava.
“A ideia de enfrentar mais um dia com minha filha, de ter que atender às necessidades dela o tempo todo, me parecia um fardo tremendo”, ela escreveu no Facebook em 6 de dezembro.

“Os dias iam passando e a rotina era a mesma: o choro constante e agudo dela na minha cabeça, e eu sem poder fazer nada sem carregá-la no colo.

“Eu a odiava, mas não podia deixar que o mundo percebesse.”

Brack disse que passava o dia chorando, mas, quando havia qualquer pessoa por perto, cercava-se de um muro invisível para ocultar o que estava sentindo realmente.

“Eu pensava comigo mesma: ‘Estou fracassando como mãe, eu a odeio, qual é o meu problema?’”, Brack contou.

“Eu me sentia fora de controle; nada estava bom para ela, nada. Era uma choradeira constante, toda hora ela queria atenção, eu mal tinha tempo para tomar banho. Eu não me conhecia mais. Estava afundando.”

A mãe contou que não recebeu muito apoio porque não teve coragem de contar à sua família ou a seu companheiro o que estava acontecendo, com medo de que pensassem que ela tinha enlouquecido.

Ela detalhou os pensamentos negativos que passaram por sua cabeça, incluindo culpar sua filha por estragar a relação que ela tinha com seu filho.

“Um dia eu gritei com ela quando ela estava no carrinho: berrei ‘cala a boca!’ a plenos pulmões e me afastei dela, indo para o sofá”, prosseguiu Brack.

Depois de quatro meses, ela decidiu procurar ajuda. Telefonou ao médico e disse que não estava mais dando conta. Ela foi levada ao hospital e recebeu o diagnóstico de depressão pós-natal.Desde então ela vem recebendo apoio profissional e percebeu que calar a respeito do que estava sofrendo não ajudou em nada.

“Quero que as pessoas entendam o sentido de saúde mental – que um transtorno pode acontecer com qualquer pessoa, e você precisa combatê-lo”, disse Brack. “Não existe nada melhor do que sair bem do outro lado.”

“A mente é a coisa mais poderosa que existe. Todo o mundo trava uma batalha, quer seja pequena ou grande, e precisamos ter mais consciência disso.

“Se alguém se identifica com aquilo pelo qual passei, saiba que é sempre melhor se abrir sobre isso. Eu ainda estou lutando, mas estou superando. Cada passo andado é um passo adiante.”

Suzanne Brack foi elogiada por abrir-se para contar sua história.

“Obrigada por compartilhar sua história, Suzanne, você é tão corajosa”, escreveu uma mulher.”

“Eu sou mãe, já tive depressão pós-parto três vezes e sei como isso pode ser terrível, mas estou melhor agora. Continue a lutar. Precisamos de mais gente como você para promover a conscientização sobre esse problema.”

Outra mulher comentou: “Obrigada Suzanne, você é uma inspiração. Era exatamente isso que eu precisava ouvir hoje para finalmente me convencer a buscar ajuda.”

Fonte: Huffpost Brasil

Leia Mais sobre Depressão Pós-parto no Blog do Dr. Leonardo Palmeira


Projeto Entrelaços e a força da família e do paciente na sua recuperação.

Em 17 de dezembro de 2016 foi realizado no Instituto de Psiquiatria da UFRJ – IPUB um evento de comemoração dos 7 anos do Projeto Entrelaços, projeto que já criou no Rio de Janeiro quatro grupos comunitários de apoio a famílias com membros com algum transtorno mental severo, como esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo e transtorno bipolar. Os grupos são formados a partir de um programa de psicoeducação realizado no IPUB, que consiste de uma etapa de acolhimento e entrevistas, uma segunda etapa de seminários sobre os transtornos mentais e uma terceira etapa de encontros em grupos para debater soluções para os problemas cotidianos. Os familiares e pacientes que concluem essas etapas reúnem condições de manter os encontros na comunidade, recebendo novas famílias e desenvolvendo um trabalho conhecido como par-a-par (do inglês “peer to peer”), a quarta etapa deste projeto. O objetivo é ampliar uma rede de apoio emocional e social para essas pessoas, fora dos serviços assistenciais tradicionais.

A segunda atividade foi uma mesa redonda em comemoração aos 7 anos do Projeto Entrelaços, coordenada pelo psiquiatra e coordenador do Projeto Entrelaços, Alexandre Keusen, com objetivo de discutir o papel da família e dos grupos de apoio a familiares e pacientes no cenário atual da saúde mental no Brasil. Três iniciativas foram debatidas, o Projeto Entrelaços, pelo psiquiatra Leonardo Palmeira, o Projeto Familiares Parceiros do Cuidado, pelo psiquiatra Pedro Gabriel Delgado, e o Projeto Transversões, pela psicóloga Marcela Weck. A enfermeira Silvana Barreto, do Grupo Construindo Horizontes, recém-formado pelo Projeto Entrelaços, deu seu testemunho sobre a transformação que o projeto trouxe para sua vida e para o relacionamento com sua mãe, que sofre de esquizofrenia.

Assista à primeira atividade do encontro!


Comunidade de Fala dá voz a pacientes que se recuperaram.

Em 17 de dezembro de 2016 foi realizado no Instituto de Psiquiatria da UFRJ - IPUB um evento de comemoração dos 7 anos do Projeto Entrelaços, projeto que já criou no Rio de Janeiro quatro grupos comunitários de apoio a famílias com membros com algum transtorno mental severo, como esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo e transtorno bipolar. Os grupos são formados a partir de um programa de psicoeducação realizado no IPUB, que consiste de uma etapa de acolhimento e entrevistas, uma segunda etapa de seminários sobre os transtornos mentais e uma terceira etapa de encontros em grupos para debater soluções para os problemas cotidianos. Os familiares e pacientes que concluem essas etapas reúnem condições de manter os encontros na comunidade, recebendo novas famílias e desenvolvendo um trabalho conhecido como par-a-par (do inglês "peer to peer"), a quarta etapa deste projeto. O objetivo é ampliar uma rede de apoio emocional e social para essas pessoas, fora dos serviços assistenciais tradicionais.

Na primeira atividade, o Evento Entrelaços recebeu como convidado a Comunidade de Fala, idealizada pelo jornalista e ativista americano no campo da saúde mental Richard Weingarten, que esteve pessoalmente no Brasil coordenando o projeto. A Comunidade de Fala tem como objetivo dar voz a pacientes que se recuperaram de um transtorno mental grave, transmitindo conhecimento, otimismo e esperança para outras pessoas que adoeceram. Os pacientes Madalena e Luis Eduardo, chamados por eles de usuários de saúde mental, falaram de suas experiências e de como conseguiram superar os obstáculos da doença e dar a volta por cima.

Assista à segunda atividade do encontro!


Entrelaços - Evento no IPUB para as famílias.

Famílias que convivem com membros com algum transtorno mental severo se uniram através do Programa de Atenção do Instituto de Psiquiatria da UFRJ/IPUB e hoje constituem uma rede de apoio comunitária apoiando outras famílias, entrelaçando experiências, conhecimentos e, sobretudo, otimismo e esperança.

Evento Comemorativo de Fim de Ano

Sábado, 17/12/16

8:30 - 10:00h - Apresentação do filme Vida em Família (dir. Ken Loach, 1971)

10:00-10:20h - Coffee break

10:20 - 11:20h - Apresentação da Comunidade da Fala

11:20 - 12:50h - Mesa redonda: Projeto de atenção às famílias com membros com transtornos mentais severos - 7 anos de experiência no IPUB.
Silvana Barreto - Grupo Construindo Horizontes
Leonardo Palmeira - IPUB/UFRJ
Marcela Weck - Sec. Municipal de Saúde do RJ
Pedro Gabriel Delgado - IPUB/UFRJ

12:50-13:00h - Encerramento
Alexandre Keusen - IPUB/UFRJ

Após o evento ocorrerá a entrega dos banners ao novo grupo "Construindo Horizontes"

Local: Auditório Leme Lopes - Instituto de Psiquiatria da UFRJ
Av. Venceslau Braz 71 - fundos, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ

Público-alvo: familiares, pacientes e profissionais de saúde
Entrada Gratuita


Estudo associa o uso da pílula anticoncepcional à depressão.

Entrevistamos autor de pesquisa dinamarquesa que acompanhou mulheres usuárias de pílula por mais de uma década. Ginecologista brasileira elogia evidências.

A depressão é um fenômeno multifatorial e complexo – que envolve a interação entre nosso corpo, hormônios, a genética, fases e acontecimentos da vida, meio social, cultural, uso de álcool e drogas… Não à toa que dificilmente uma única área do conhecimento vai dar conta do entendimento do fenômeno, mas um estudo publicado recentemente no prestigiado JAMA Psychiatry, publicação científica da Associação Médica Americana, testou uma associação há muito comentada, mas pouco testada: aquela entre contraceptivos hormonais e depressão.

Afinal, se algumas mulheres se queixam de oscilações de humor após uso do anticoncepcional no consultório, se a tensão pré-menstrual é caracterizada por oscilações de humor (e têm hormônios como gatilho), por que não estudar o impacto de contraceptivos hormonais na depressão, fenômeno que atinge duas vezes mais mulheres que homens? Cerca de 350 milhões de pessoas vivem com depressão no mundo e mulheres figuram entre as principais acometidas, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. Apesar disso, poucos são os estudos que tentam entender o porquê dessa maior prevalência entre elas.

“Apesar de evidências da influência da contracepção hormonal no humor de algumas mulheres, a associação entre o uso da pílula e distúrbios do humor permanece pouco estudada”, pontuaram os autores da pesquisa do JAMA.

A pesquisa mostrou que há um risco aumentado para a depressão com o uso de hormônios para a prevenção da gravidez, mesmo entre os métodos mais modernos. O risco varia de 23% a 100%, a depender do método. O levantamento, no entanto, mostra uma relação – e não uma associação causal direta. E o que isso significa?

O estudo não prova que pílulas e métodos hormonais causam a depressão, mas verifica que o medicamento pode figurar como um fator de risco – mais ou menos quando dizemos que o consumo de gordura está associado à maior prevalência de doenças cardiovasculares, mas não que ela é única e exclusivamente o responsável por ela – e nem que essa é uma relação igual para a todo mundo.
No fim das contas, o que o estudo traz é uma relação relevante que precisa ser avaliada caso a caso – a depender do desejo de cada mulher e dos potenciais custos e benefícios da escolha.

Para analisarmos o levantamento, Saúde!Brasileiros entrevistou um dos autores do estudo, o dinamarquês Øjvind Lidegaard, professor da Universidade de Copenhague e chefe de Ginecologia e Obstetrícia de hospital vinculado à universidade.

Também entrevistamos Halana Faria, ginecologista em São Paulo e em Florianópolis e mestra pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Halana atua no Coletivo Feminista Sexualidade em Saúde, ONG que tem a atenção médica humanizada a mulheres como foco desde 1981.

Halana classificou a evidência como ótima e mencionou a idoneidade e o tempo de análise da pesquisa como um fator importante para a relevância dos achados. “O artigo é excelente. Uma coorte com mais de um milhão de mulheres com seguimento de 13 anos, e sem conflitos de interesse na sua condução”, diz. “A evidência é de ótima qualidade. Além disso, é muito difícil vermos estudos sobre contracepção não sendo financiado por laboratórios farmacêuticos”, conclui.

De fato, o estudo é sério e significativo. Mais de 1.000.000 de mulheres foram acompanhadas por mais de uma década: de janeiro de 2000 a dezembro de 2013. Elas eram excluídas do estudo se tinham diagnóstico prévio de depressão ou de outro distúrbio psiquiátrico significativo, se já tomavam ou estavam tomando antidepressivos, se tiveram câncer, se passaram por tratamento para fertilidade ou se sofreram trombose.

O estudo também tinha um grupo-controle de mulheres que não faziam uso de pílulas anticoncepcionais. Resultado: aquelas que faziam uso de contraceptivos hormonais têm de 1.23 (23%) a 2 (100%) vezes mais chance de ter depressão que as não usuárias, a depender do método adotado.

O estudo fez o cálculo por meio do risco relativo. Ele é calculado tendo como base o grupo-controle (não usuárias de métodos hormonais). É uma medida que extrai o risco de uma “população normal” da população estudada, com o objetivo de isolar o fator de risco. Por exemplo, suponhamos que estamos estudando o risco de infarto entre fumantes. Queremos saber o quanto o “cigarro” adiciona de risco para os indivíduos. Calculamos, então, primeiro o risco entre fumantes; depois, entre não fumantes e, por fim, dividimos um pelo outro. Se a chance de um fumante sofrer um infarto é de 20% e a de um não fumante é de 10%; então, o risco relativo de infarto associado ao cigarro é igual a 2. Fumantes têm duas vezes mais chance de infarto que não fumantes.

Assim, com o “cigarro” aqui sendo a pílula, o risco relativo encontrado foi:

Pílulas orais – risco relativo aumentado de 23% (RR 1.23)

Pílulas de progesterona – 34% (RR 1.34)

Adesivo de norelgestromina – 100% (RR 2.0)

Anel vaginal (etonogestrel) – 60% (RR 1.6)

DIU hormonal de Levonogestrel – 40% (RR 1.4)

Os achados vão na direção do que já se sabe sobre a influência dos hormônios no humor. É senso comum tanto para a ciência, quanto para a população, que eles têm um papel importante nas oscilações que ocorrem na tensão pré-menstrual, por exemplo.

“O estrógeno melhora o humor da mulher, enquanto a progesterona faz exatamente o oposto. Essa é a razão pela qual algumas mulheres ficam de mau humor antes da menstruação. Nesse período, os níveis de progesterona estão altos”, explica Øjvind Lidegaard, ao Saúde!Brasileiros.

A ginecologista Halana Faria diz que os resultados são consistentes com o que se percebe na prática clínica e no consultório. “Essas evidências corroboram, inclusive, a sensação de muitas mulheres que descrevem ficarem ‘fora de si’, chorosas, apáticas, sem energia, com perda de libido.”

Ela diz que muitas mulheres têm se queixado de perda de libido e alterações emocionais. Mais atualmente, relata a médica, um grande número delas andam preocupadas com os relatos de efeitos colaterais graves que tem vindo à tona através de reportagens e de redes sociais, como a trombose.

Um outro achado a pesquisa é o fato de mulheres mais jovens serem mais sensíveis à pílula que mulheres mais velhas. Lidegaard explica que, embora o risco aumentado tenha sido encontrado em todas as faixas etárias, a sensibilidade à pílula cai depois dos 20 anos.

Fonte: Saúde!Brasileiros

Nota do Dr. Leonardo Palmeira: este estudo não deve desencorajar mulheres de utilizarem métodos contraceptivos. Ele serve de alerta para que mulheres observem melhor seu humor e suas emoções antes e durante o uso dos contraceptivos orais e busquem avaliação especializada, seja com seu ginecologista ou com um psiquiatra. Mulheres mais suscetíveis podem apresentar sintomas de humor com a própria variação hormonal característica dos ciclos menstruais e não ser algo restrito ao uso de pílulas anticoncepcionais.


Livro procura desmistificar a esquizofrenia entre os psiquiatras.

O livro "Casos de Superação em Esquizofrenia", organizado pelos psiquiatras Rodrigo Bressan, Ary Gadelha e Géder Grohs, reune casos reais de boa evolução escritos por psiquiatras de diferentes estados brasileiros com o objetivo de mudar a percepção dos demais psiquiatras sobre a esquizofrenia. O livro foi lançado durante o Congresso Brasileiro de Psiquiatria no último final de semana.

Uma doença que carrega o estigma de doença mais grave da psiquiatria, conceituada na maioria das vezes como uma doença crônica e incurável, da qual a maioria dos pacientes jamais se recupera, sofre preconceito não só da sociedade, mas da própria classe médica e dos profissionais de saúde mental. Em admitindo isso como verdade absoluta, profissionais podem deixar de investir tudo que precisam no cuidado com os pacientes, perder a esperança na recuperação e reforçar um pessimismo que é contraproducente para quem precisa superar a doença.

Os casos publicados no livro contam histórias de pacientes que se recuperaram com o tratamento, apesar da doença e de anos enfrentando dificuldades, mas que conseguiram afinal superá-la e retomar suas vidas, voltando a trabalhar, estudar, a se relacionar e a viver com dignidade em suas comunidades.

O livro traz a mensagem da recuperação pessoal como algo tangível e provável para aqueles pacientes que se tratam adequadamente.

Apesar de ser um livro para psiquiatras e profissionais de saúde que tratam a esquizofrenia, ele possui uma linguagem acessível e pode servir a pacientes e familiares como exemplo de casos que deram certo, ajudando a inspirar novos tratamentos.

A esperança é um ingrediente primordial para quem deseja se recuperar, semear este sentimento entre profissionais e pacientes parece ser o caminho para se buscar melhores tratamentos e oportunidades para aqueles que sofrem com a doença.

Informações técnicas
Formato: 14X21
Peso: 0,18 kg
Páginas: 104
ISBN: 9788582713686
Ano: 2017

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Sumário
Introdução
Capítulo 1. Com minhas próprias mãos
Capítulo 2. Sou mais forte que meus sintomas
Capítulo 3. Retomando a profissão
Capítulo 4. O papel do afeto no diagnóstico e no tratamento
Capítulo 5. Jackson, cinco anos bem
Capítulo 6. Diminuindo o risco de suicídio
Capítulo 7. Doutor
Capítulo 8. Erik e sua volta ao brasil
Capítulo 9. Antipsicótico de longa ação e empoderamento
Capítulo 10. Ex-bad boy
Capítulo 11. O ponta direito tímido
Capítulo 12. Um reencontro consigo e com a família
Capítulo 13. A história da senhora sia
Capítulo 14. Medo de enlouquecer
Capítulo 15. O sonho de ser professora
Capítulo 16. Alto funcionamento com baixo insight
Capítulo 17. O homem dos signos: um cara muito legal!
Capítulo 18. Da cronicidade ao inusitado da normalidade
Capítulo 19. Agora ouvindo as melodias e lendo as partituras
Capítulo 20. O aspirante a pastor
Capítulo 21. Ajudando o próximo
Capítulo 22. Superando as limitações
Capítulo 23. A árvore que floresceu
Capítulo 24. Olhos azuis
Capítulo 25. Uma mente persistente
Conclusão


Nova droga em teste contra o Mal de Alzheimer.

Um tratamento experimental contra o mal de Alzheimer se mostrou promissor e livre de efeitos colaterais, anunciaram pesquisadores americanos nesta quarta-feira.

A pesquisa, publicada na revista Science Translational Medicine, se baseou em uma pequena amostra de 32 pessoas e deu origem a dois ensaios clínicos mais amplos que estão agora em andamento, com mais de 3.000 indivíduos.

O tratamento utiliza um composto chamado verubecestat, desenvolvido pela gigante farmacêutica Merck, que reduz os níveis das proteínas chamadas beta-amiloides ao bloquear uma enzima conhecida como BACE1.

Nas pessoas que têm Alzheimer, as proteínas se agrupam em placas que danificam o cérebro, afetando habilidades cognitivas, especialmente a memória. A enzima desempenha um papel fundamental na produção dessas proteínas.

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As 32 pessoas que participaram do primeiro ensaio clínico tinham sido diagnosticadas com Alzheimer leve ou moderado.

Laboratórios farmacêuticos estão trabalhando para desenvolver compostos que podem parar ou mesmo reverter a formação destas placas.

Até agora, os produtos desenvolvidos para neutralizar a enzima BACEI tinham efeitos colaterais muito tóxicos, como danos no fígado ou neurodegeneração grave.

Mas o verubecestat não apresentou efeitos adversos, disse Matthew Kennedy, do laboratório de pesquisa da Merck, no estado de Nova Jersey.

Os pesquisadores descobriram que uma ou duas doses do composto foram suficientes para baixar os níveis de proteína sem causar efeitos colaterais.

Os dois ensaios clínicos de Fase III em andamento, que vão avaliar a eficácia do verubecestat, serão concluídos em julho de 2017.

Se os resultados forem bons, o composto poderia ser comercializado como uma pílula em dois ou três anos.

O número de pessoas nos Estados Unidos que sofrem de Alzheimer pode ultrapassar 28 milhões em 2050, depois de toda a geração dos ‘baby boomers’ ter completado mais de 80 anos, de acordo com projeções.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que 36 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem alguma forma de demência, sendo a maioria delas o mal de Alzheimer.

A previsão é que esse número dobre até 2030, ultrapassando 65,7 milhões, e triplique em 2050, para 115,4 milhões, se nenhum tratamento efetivo for encontrado nos próximos anos.

Fonte: Isto É


Pesquisa com estimulação transcraniana para pacientes com esquizofrenia.

O estudo tem por objetivo avaliar a cognição social antes e depois do tratamento com estimulação por corrente elétrica contínua, método não-invasivo e de estimulação superficial. Para conhecer melhor sobre Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC), clique aqui.

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10 de Outubro - Dia Mundial da Saúde Mental.

Neste dia 10 de outubro comemoramos o Dia Mundial da Saúde Mental e a mensagem é que para recuperarmos a saúde é necessário maior protagonismo na vida e no tratamento daqueles que sofrem de algum transtorno mental.

Para se recuperar de um transtorno mental o paciente precisa passar por um processo de mudança que vai além do tratamento. Ele precisa melhorar sua saúde e bem estar no seu dia-a-dia, mudando o estilo de vida e incorporando hábitos mais saudáveis, como atividades físicas, abstinência de álcool e drogas, higiene do sono, dieta, entre outros. O objetivo inicial é viver uma vida em que ele reassuma as responsabilidades, empodere-se e se capacite para gerir sua própria vida e se esforce para alcançar seu melhor potencial.

Este processo depende de um maior protagonismo do paciente e de sua família não só em suas vidas, mas como também nos serviços que frequentam. Pesquisas recentes realizadas nos EUA e Inglaterra mostraram que a maioria dos pacientes e familiares não se sente representada pelos serviços que frequentam. Entre as críticas, existe a percepção de que os serviços não priorizam os desejos e anseios das pessoas das quais cuidam, não conhecem suficientemente bem seus objetivos e não oferecem tratamentos centrados no indivíduo. Existe uma preocupação excessiva com sintomas e doença e menos com questões sociais e familiares. Outro aspecto também citado é o pessimismo e a baixa expectativa dos profissionais de saúde mental em relação aos pacientes, o que reduz o investimento em tratamentos mais eficazes que possam ajudar o paciente a se recuperar (Fonte: Nice, 2014).

Por esta constatação e na busca de maior protagonismo e representatividade, pacientes e familiares têm se unido em torno de iniciativas par-a-par, que aos poucos têm se transformado em uma ferramenta terapêutica importante. Essas iniciativas, que em alguns casos chegam a constituir serviços alternativos às tradicionais instituições psiquiátricas, são dirigidas por pessoas que já sofreram de transtornos mentais e hoje são um modelo de recuperação, que serve de inspiração para outras pessoas (por isso o nome par-a-par, do inglês peer to peer).

Eles partem da premissa de que pacientes recuperados são experts dos transtornos mentais dos quais sofreram e podem passar adiante estratégias de enfrentamento que utilizaram para se recuperar. Servem de modelo para outros pacientes e familiares, transmitindo valores como esperança, otimismo, empoderamento e auto-eficácia, no sentido de que a recuperação é um processo de superação pessoal que parte de dentro de cada um.

Não existe uma negação da importância dos serviços e do tratamento, muito pelo contrário, a cobrança por melhores serviços e tratamentos é tida como central e fundamental para que a recuperação seja alcançada. Porém, existe o sentimento de que a recuperação pessoal vai muito além dos serviços e dos tratamentos tradicionais oferecidos hoje pela psiquiatria.

Algumas iniciativas vêm crescendo e se tornando populares no mundo todo, inclusive no Brasil, através de grupos de apoio comunitários liderados por pacientes e familiares, como os que acontecem no Rio de Janeiro (clique aqui e saiba mais). Veja algumas iniciativas pelo mundo:

  • NAMI – National Alliance on Mental Illness (http://www.nami.org): reúne 300 mil famílias só nos EUA. Estão presentes nos EUA, México, Porto Rico, Canadá e Itália.
  • WRAP – Wellness and Recovery Action Plan (http://mentalhealthrecovery.com): alcança milhões de pacientes em todos estados americanos e outros países anglo-saxões.
  • B.R.I.D.G.E.S. – Building Recovery of Individual Dreams and Goals through Education and Support (http://www.recoverywithinreach.org/learningaboutrecovery/bridges): presentes em 12 estados americanos e no Canadá.
  • BRIDGE Mental Health (http://www.bridgementalhealth.org): Há 30 anos em Londres, possuem uma universidade que ensina recuperação pessoal a pacientes e oferecem grupos de suporte par-a-par.
  • Living Room (http://www.gjcpp.org/en/article.php?issue=15&article=74): criado no Arizona, EUA, é um serviço alternativo à internação psiquiátrica para lidar com a crise.
  • PRCR – Peer Run Crisis Respites (http://www.power2u.org/crisis-alternatives.html): presente nos EUA, Inglaterra, Alemanha e Nova Zelândia, oferece alternativas à internação psiquiátrica para lidar com situações de crise.
  • HARP – Health anda Recovery Peer (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2856811/): manual para intervenção através de 6 sessões administradas por pares ajuda participantes a manejar de forma efetiva sua doença.
  • Tantas outras: possivelmente existem tantas outras iniciativas de apoio par-a-par espalhadas pelo mundo e que não conseguimos levantar somente pela internet. Os países que mais empregam essas iniciativas são EUA, Canadá, países da Europa (Inglaterra, Dinamarca, Suécia, Irlanda, Alemanha, Itália, etc), Austrália e Nova Zelândia.

Essas iniciativas têm em comum tratar o sujeito que sofre com algum transtorno mental levando, principalmente, em consideração sua pessoa, sua história, seus objetivos, sua força interior e suas capacidades e, menos, a doença da qual está sofrendo. Todas elas abraçam o conceito de recuperação pessoal (do inglês: recovery – saiba mais, clicando aqui) e defendem que para uma pessoa se recuperar ela precisa se capacitar. Para isso, a informação (psicoeducação) e o apoio por pares (estratégias eficazes de enfrentamento) são elementos cruciais, que permitem o empoderamento, recuperar o otimismo e a esperança e persistir na jornada de superação que cada um irá trilhar daqui para frente (leia o depoimento de quem se recuperou desta forma, clicando aqui).


Setembro amarelo chama atenção sobre o suicídio e sua prevenção.

"Às vezes tem um suicida na sua frente e você não vê".

Foi o que escreveu num pedaço de papel o motoboy que se atirou dias atrás do 17º andar do Fórum Trabalhista de São Paulo. Ele levou junto o filho de 4 anos, para perplexidade da família e dos amigos. O trágico bilhete resume uma questão incômoda. Quem experimenta um sofrimento profundo, daqueles difíceis de suportar, não sabe por vezes como lidar com tanta dor. Em boa parte dos casos se recolhe, omite a opressão que vai no peito e inicia uma jornada solitária que parece sem volta. Essa situação é mais frequente do que se imagina. E por falta de informação, muitos não conseguem imaginar que haja uma saída.

A Organização Mundial da Saúde afirma que em pelo menos 90% dos casos o suicídio é prevenível, porque está associado a psicopatologias diagnosticáveis e tratáveis, principalmente a depressão. A tristeza faz parte da vida, e nos ajuda crescer emocional e espiritualmente. A tristeza persistente inspira cuidado e atenção. Pessoas deprimidas tendem a se isolar, não interagem socialmente, parecem desmotivadas, anestesiadas, sem iniciativa. Por vezes chegam a verbalizar o quanto a vida lhes parece um fardo. Quem passa por essa experiência difícil - e principalmente parentes, amigos e pessoas próximas - devem prestar atenção aos sinais e, se for o caso, procurar ajuda.

Há opções de assistência gratuita nos Caps (Centros de Atenção Psicossocial), postos de saúde e clínica da família, além de serviços oferecidos por universidades ou entidades classistas ligadas a psiquiatras e psicólogos. Mesmo quando se trata de um outro problema qualquer (angústia, ansiedade, solidão, etc) os próprios profissionais de saúde costumam recomendar (com o aval do Ministério da Saúde) que se recorra ao CVV, o Centro de Valorização da Vida, organização voluntária sem ligações políticas ou religiosas, que desde 1962 realiza de forma gratuita, um serviço de apoio emocional e prevenção do suicídio por telefone (141) ou por um chat (CVV.com.br). Os voluntários do CVV não são terapeutas, mas oferecem algo precioso num mundo onde é anda vez mais difícil encontrar alguém que se disponha a ouvir um desabafo sem julgamentos, sem receitas prontas sobre como se sentir melhor, e guardando-se absoluto sigilo em relação ao que é conversado. São aproximadamente 800 mil ligações por ano sem grandes apoios ou divulgação nas mídias, o que confirma a importância desse serviço.

Neste mês celebra-se em todo o mundo mais uma edição do Setembro Amarelo, uma campanha que pretende quebrar o tabu em torno do assunto e levar à população informação relevante em favor da vida. Seminários, palestras, jornadas científicas e artísticas, monumentos iluminados de amarelo em várias cidades, entre outras ações, pretendem despertar no grande público o senso de urgência em relação a estes que tanto sofrem.

A prevenção do suicídio não é apenas assunto de profissionais de saúde ou ONGs humanitárias. Todos estamos sendo chamados a fazer algo pelos que estão em situação de risco e, por vezes, nem sabem disso. Se a vida é o bem mais precioso que existe, protegê-la é o que empresta sentido à palavra "Humanidade". Aproximadamente 32 pessoas se matam todos os dias no Brasil. Em todo mundo esse número chega a 2.200. Onde a mobilização em favor da vida cria redes de cuidado e atenção, esses números caem drasticamente. Vamos virar esse jogo? Depende de nós!

Fonte: G1

Acesse a cartela sobre suicídio da campanha Setembro Amarelo! - CLIQUE AQUI


Afastamento do trabalho por estresse cresce com a crise econômica brasileira.

Os números da Previdência Social advertem: a crise econômica já faz mal à saúde do brasileiro.

A participação das doenças mentais nos afastamentos associados ao trabalho subiu de 4% para quase 5% das licenças nos últimos três anos.

Algumas delas, como transtornos ansiosos e reação grave ao estresse, cresceram ainda mais -com taxas de expansão na casa dos 30% nesse mesmo período.

São sintomas de uma relação já observada e medida em países desenvolvidos: recessões prolongadas, como a que o Brasil atravessa agora, afetam a saúde mental da população, com fortes prejuízos sociais e econômicos.

Veja o gráfico

Pesquisas recentes mostram que a crise financeira global, que estourou em 2008, provocou aumento da incidência de doenças como depressão e da taxa de suicídio em vários países.

Os dados mais recentes de saúde no Brasil ainda não foram computados, mas o relato de especialistas e as estatísticas da Previdência já indicam efeitos da atual contração econômica brasileira, que já dura dois anos.

DEMANDA

Há uma procura crescente por auxílios-doença, principalmente psiquiátricos, desde o fim do ano passado, disse o presidente da Associação Nacional dos Médicos Peritos, Francisco Cardoso.

"Os pedidos de auxílio-doença costumam aumentar em períodos de crise. Vimos isso, por exemplo, no período de crises que ocorreu entre 1999 e 2001", afirmou.

Para Marco Pérez, diretor do departamento de saúde ocupacional da Secretaria de Políticas de Previdência Social, ainda é cedo para verificar o efetivo impacto da recessão nas estatísticas de afastamento do trabalho.

Mas ele disse esperar que esse efeito possa aparecer. "Não há a menor dúvida de que uma crise econômica gera impactos sobre os aspectos emocionais e afetivos de uma pessoa", afirmou.

Veja o gráfico

Em 2009, ano em que o Brasil sentiu os efeitos da crise global com mais intensidade, também houve um salto nesses afastamentos -cujo nome técnico é auxílio-doença acidentário.

A causa mais visível do estresse provocado por uma crise econômica é a ameaça do desemprego. Entre o início de 2014 e o primeiro trimestre deste ano, o número de desocupados, de acordo com as estatísticas do IBGE, aumentou de 7 milhões para mais de 11 milhões de pessoas.

"Além da perda do emprego, o risco de ficar desempregado também tem impacto na vida emocional", disse Pérez.

Esse efeito da sobrecarga de trabalho e da perspectiva de ser atingido por cortes na saúde mental de quem continua empregado foi verificado pelo professor Jörg Huber, do Centro de Pesquisa em Saúde na Universidade de Brighton (Inglaterra), em estudo após a crise de 2008/2009 no Reino Unido.

Segundo ele, crescem os sintomas de estresse, ansiedade e depressão.

"Nossas pesquisas indicam que até 40% dos adultos apresentaram sintomas de saúde mental debilitada após a crise global de 2008/2009 no Reino Unido. Quanto maior o impacto no ambiente de trabalho, mais fortes os efeitos na saúde", afirmou Pérez à Folha.

O estresse prolongado pode causar ainda problemas como diabetes e doenças cardíacas. Mas nem todo o mundo é afetado, ressalta Huber. "Alguns grupos têm graus mais altos de resiliência, se adaptam melhor à adversidade."

PRODUTIVIDADE

A consequência da piora na saúde mental para o país, além da óbvia perda de qualidade de vida, é um aumento dos gastos públicos e privados com saúde e uma menor capacidade de crescimento no longo prazo.

Para Cardoso, da ANMP, muitos beneficiários que entram em afastamento acabam não voltando ao mercado. "Quanto mais tempo a pessoa fica recebendo o benefício, mais difícil se torna tirá-la. Muitos cultivam a doença, deixando de tomar, por exemplo, medidas que poderiam ajudá-la a superar o problema e voltar ao trabalho."

Em relatório intitulado "O impacto das crises econômicas na saúde mental", publicado em 2011, a Organização Mundial da Saúde alertou as autoridades europeias para a necessidade de agir a fim de mitigar os efeitos da recessão.

"Enquanto as crises econômicas podem ter efeitos na saúde mental, problemas de saúde mental também têm efeitos significativos sobre a economia. As consequências ocorrem, principalmente, sob a forma de perda de produtividade", diz o relatório.

"Os transtornos mentais graves muitas vezes começam na adolescência ou com jovens adultos, o que faz com que a perda de produtividade possa ter longa duração."

Segundo dados da consultoria farmacêutica IMS Health, também aumentou o consumo de medicamentos antidepressivos e estabilizadores de humor, notadamente a partir de 2015.

Desde o ano passado, o ritmo de vendas desses medicamentos é superior ao do total da indústria farmacêutica.

Cresce a procura por remédio contra depressão - Veja o gráfico

Parte desse aumento pode ser creditada à maior incidência de doenças mentais. Porém, a quebra de patentes de alguns medicamentos barateou remédios e pode ter facilitado o acesso dos consumidores a eles.

Fonte: Folha de SP


Entrevista do Dr. Leonardo Palmeira no Programa Ligado em Saúde sobre Recuperação de um Transtorno Mental.

O psiquiatra Leonardo Palmeira fala sobre o novo conceito de recuperação, o de recuperação pessoal, que parte da perspectiva do paciente e inclui uma visão mais otimista e esperançosa dos transtornos mentais, como esquizofrenia e transtorno bipolar, o que hoje é considerado essencial para a recuperação.

Ele enfatiza que é importante que pacientes e familiares compreendam melhor a doença, aceitem melhor suas vulnerabilidades e se engajem num processo que envolve a capacitação para enfrentamento do problema, aumento da resiliência através de terapias e grupos de suporte e, finalmente, o empoderamento, encarando que é fundamental que pessoas envolvidas tomem para si o desafio de se recuperarem.

Pessoas mais empoderadas têm maior chance de aderir ao tratamento, de buscar uma vida mais saudável, de fazer melhores escolhas sociais e de ter atividades sociais e ocupacionais mais significativas. Tratamentos médicos e psicossociais precisam incorporar este novo conceito para se abrirem mais para a opinião dos pacientes e dos seus familiares, compartilhando as decisões, compreendendo melhor os objetivos do paciente e trabalhando mais em pareceria para conquistar os objetivos traçados por eles.

Programa Ligado em Saúde
TV Canal Saúde, Fiocruz, 27/06/16
Apresentação: Marcela Morato


Treinamento cognitivo para pessoas com esquizofrenia.

O Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB), através do Programa Academia do Cérebro, está realizando um estudo sobre treinamento cognitivo em pacientes com esquizofrenia.

Os pesquisadores estão recrutando pacientes com diagnóstico de esquizofrenia para participarem de um treinamento cognitivo de 40 horas (sessões de uma hora cada), que pode ser realizado no IPUB ou na casa do paciente através de um computador com acesso à internet.

O paciente será avaliado antes, durante e após o treinamento para conhecer melhor sua cognição, seus sintomas e sua qualidade de vida, além de alguns parâmetros laboratoriais.

O objetivo é avaliar um método de treinamento cognitivo que ajude o paciente a melhorar problemas de memória, concentração e aprendizado, que tanto interferem nas atividades produtivas dos pacientes.

A participação é totalmente voluntária e gratuita. Maiores informações pelo telefone (21) 3938-5588 ou pelo e-mail neuroufrj@gmail.com

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Estudos abordam o significado da recuperação pessoal (“recovery”) na esquizofrenia.

Recuperação pessoal (do inglês, “recovery”) é um conceito que vem sendo difundido no mundo todo e aplicado pela maioria dos países desenvolvidos na estruturação dos seus serviços de saúde mental.

Um estudo apresentado no Congresso da Sociedade Internacional de Pesquisa em Esquizofrenia em abril deste ano, em Florença, por pesquisadores da Universidade de Dublin comparou pacientes em recuperação com pacientes não recuperados depois de 20 anos do primeiro episódio psicótico e concluiu, depois de entrevistas semi-estruturadas de 45 a 90 minutos de duração, que a recuperação pessoal pode ser definida como um processo de gradativa maturação no qual o tempo, o empoderamento e a autoria pessoal (self-agency) do paciente interagem entre si, permitindo que a pessoa aprenda sobre si mesma, sobre sua doença e sobre sua vida. A personalidade do indivíduo parece interagir com o ambiente de forma a aumentar a sua resiliência, que, finalmente, influencia positivamente todo o processo de recuperação pessoal (O’Keeffe et al: A Provisional Qualitative Analysis of the Meaning of and Influences on Recovery According to People Diagnosed with a First Episode Psychosis 20 Years Ago and Their Family members/partners, SIRS 2016).

Componentes da recuperação pessoal (recovery)

Capacitação e auto-gerenciamento

- Identificar indicadores de melhora
- Procurar ajuda/suporte
- Manejar o estresse

Motivação para engajar-se na vida

- Esperança
- Propósito e significado
- Estrutura e equilíbrio

Empoderamento e autoria pessoal (self-agency)

- Compreender a doença
- Outras auto-percepções (perceber-se a si mesmo)
- Controle da doença e da vida

Perceber os benefícios do trabalho de recuperação pessoal

- Relacionamentos recíprocos
- Recuperação clínica
- Liberdade e independência

Diferenças entre pessoas recuperadas e não recuperadas

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O mesmo grupo de pesquisadores apresentou outro trabalho, de metanálise, revisando os conceitos de recuperação pessoal de 12 estudos, chegando aos fatores que apoiam ou inibem a recuperação pessoal em diferentes esferas, como pessoal, familiar, do serviço de saúde mental e da sociedade como um todo.

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(O’Keeffe et al: A Systematic Review and Meta-Synthesis of Service Users’ Perceptions of the Meaning of and Influences on Recovery in Psychosis, SIRS 2016).

A recuperação pessoal é um processo que depende da busca ativa por parte do paciente, auxiliado pelo seu tratamento, pelas pessoas que o cercam, pelas atividades que lhe dão prazer, sabendo viver um dia de cada vez, com seus diferentes desafios, sem perder a perspectiva de longo prazo e tendo como horizonte seus objetivos que o levarão a uma vida plena e significativa.

A recuperação precisa ser construída e referendada no dia-a-dia, nas suas atitudes, crenças, nas escolhas e decisões, mesmo em relação às atividades corriqueiras da vida. O paciente precisa buscar um sentimento de poder e auto-determinação, acreditar e ter esperança na sua recuperação e num futuro melhor, esses serão os alicerces para que ele tome as decisões corretas voltadas ao seu bem estar e ao desenvolvimento das habilidades de enfrentamento da doença, que lhe serão muito úteis para superar os obstáculos que ainda estão por vir. Esse é um processo lento e gradual, porém acumulativo, de aprendizado, amadurecimento e auto-conhecimento, que podem ajudá-lo a sair definitivamente de um estado de maior vulnerabilidade para um estado de resiliência e fortalecimento.