O que é? – Obsessão.
A proposta da coluna “O que é?” é trazer, numa linguagem objetiva e rápida, informações sobre os principais transtornos mentais, para que o leitor possa ter em poucas palavras o que de fato é importante saber.
Obsessões ou pensamentos obsessivos são idéias recorrentes/repetitivas, intrusivas/invasivas, geralmente de conteúdo aversivo/repugnante/negativo, que invadem a consciência da pessoa e produzem ansiedade, angústia, sentimento de culpa, medo e desespero.
A pessoa fica muito incomodada com os pensamentos, pois não consegue se desligar deles naturalmente, eles interferem nas suas atividades cotidianas, na capacidade de concentração e de planejamento. A pessoa fica remoendo aquelas idéias sem parar, podendo levar ao esgotamento ou estafa mental, causar insônia, tristeza, sensação de enlouquecimento e até ideação suicida.
Os tipos mais comuns de pensamentos obsessivos são:
– idéias de algo de ruim ou catastrófico poderá ocorrer a alguém da família ou a pessoa próxima (acidente, assalto, sequestro, morte, etc) – essas idéias podem ter explicações baseadas na realidade em que se vive, como morar em local violento ou perigoso, mas a preocupação é nitidamente exagerada e domina a consciência e o comportamento da pessoa num dado momento.
– idéias de ciúmes e de posse (achar que está sendo traído, que o companheiro ou companheira pode ter outra pessoa) – esses pensamentos podem levar a comportamentos compulsivos, como ligar repetidamente para a pessoa, seguí-la, controlá-la à distância, monitorá-la excessivamente, etc.
– idéias de contaminação e sujeira, podendo gerar rituais compulsivos de limpeza.
– idéias de dúvida, gerando a necessidade de verificação ou confirmação (será que fechei a porta? Será que deliguei o gás? Será que a pessoa me deu a informação correta? Será que li certo?)
– idéias sexuais aversivas (incesto, pedofilia, pornografia), que geram muito sentimento de culpa e a necessidade de pedir perdão, se purificar, rezar.
– vários outros tipos: a classificação como idéia obsessiva está mais na forma do que no conteúdo, portanto, o que existe em comum é o fato de serem idéias repetitivas, invasivas, que incomodam a pessoa, mas que ela não consegue parar de pensar. Existem alguns tipos em que a pessoa fantasia uma história, como se viajasse por um mundo próprio, geralmente mágico, com riquezas, posses, poderes, passa horas pensando nisso, mas não perde a conexão com a realidade, se indagada sabe não se tratar de um fato verídico.
Aliás, muitas vezes os pacientes não comentam sobre essas idéias. É diferente do delírio, em que a pessoa realmente acredita naquilo.
As idéias obsessivas podem também vir ainda na forma de ruminações sobre acontecimentos do presente, em que a pessoa fica pensando naquilo repetidamente, sem conseguir desviar-se, a ponto de lhe causar estresse ou angústia, interferir em outras atividades cotidianas.
Uma característica importante é que as obsessões tendem a piorar muito com o estado de ansiedade, ou seja, se a pessoa estiver sob estresse, ela pode ter mais pensamentos obsessivos do que em períodos mais amenos. Como a própria obsessão gera estresse, isto provoca uma reação em casacata que culmina num ciclo vicioso em que obsessões são capazes de gerar mais obsessões.
O pensamento obsessivo é erroneamente confundido com TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo, transtorno em que pensamentos obsessivos são uma característica central.
Na verdade, pensamentos obsessivos ocorrem em vários outros transtornos mentais, podendo se afirmar que a maioria dos pacientes com pensamentos obsessivos não tem TOC, mas um outro transtorno, cuja obsessão faz parte. Portanto, somente a avaliação médica adequada poderá chegar ao diagnóstico.
Listamos as doenças que mais comumente apresentam pensamentos obsessivos como um dos sintomas importantes:
– Transtornos de humor, principalmente do espectro bipolar (TBH, ciclotimia), mas também depressão.
– Psicoses, como Esquizofrenia, Transtorno Esquizoafetivo, dentre outros (atenção, pois pensamentos obsessivos são comuns no início dos quadros, antes mesmo do primeiro surto).
– Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)
– Alcoolismo – principalmente após muitos anos de doença, sendo mais comuns as obsessões de ciúme e posse.
– Fobia Social – pensamentos obsessivos de dúvida, sobre o que os outros estão pensando dele, em função da ansiedade social.
– Transtorno do Pânico – pensamentos obsessivos acerca de passar mal e ter uma nova crise, de que algo ruim irá acontecer.
– Ciúme patológico
– Transtornos de Tiques e Sindrome de Gilles de la Tourette, comumente estão associados a obsessões e compulsões.
– Transtornos de Personalidade
– Transtornos Alimentares, como anorexia e bulimia, principalmente na forma de pensamentos repetitivos acerca da imagem corporal.
– Dependência química
– Várias outras
É importante compreender, portanto, que as obsessões são sintomas que podem ocorrer em quase todos os transtornos mentais e que a maneira de tratar depende de cada transtorno de base. Em geral, melhorando do transtorno de base, as obsessões também melhoram. A psicoterapia mais indicada para o tratamento dos sintomas obsessivos é a Cognitivo-comportamental.
Manter o pensamento na própria respiração, que de automática passa a ser algo “vigiado”, causando ansiedade e desânimo, pode ser considerado pensamento obsessivo? Ter visto uma pessoa com falta de ar em virtude de problema cardíaco, associado a ansiedade pré-adquirida, pode ter desencadeado a obsessão? Qual profissional procurar? É um sintoma conhecido? Há tratamento eficaz?
André, normalmente as pessoas com muita ansiedade ou que já tiveram ataques de panico fazem isso como forma de se auto-monitorarem e isso faz parte de um ciclo vicioso que gera mais ansiedade e predispõe a pessoa a novas crises. Procure um psiquiatra para fazer um tratamento, que você vai melhorar desses sintomas. Um abraço!
Obrigado pela gentileza.
Como os amigos e parente pode ajudar uma pessoa com estado de obsessão
Solange, essa é uma questão bastante ampla. Uma pessoa com sintomas obsessivos é uma pessoa em sofrimento agudo e precisa de cuidados, tanto do ponto de vista médico como psicológico. Então acredito que a primeira ajuda é conversar com a pessoa para que ela aceite um atendimento. Procure conversar de uma maneira que atenue o estigma e que possibilite a escuta e o apoio. Em geral uma escuta empática, sem querer impor sua visão ou opinião, mas ouvindo a pessoa com interesse pela sua história e se certificando de que ela esteja sendo bem compreendida, pode quebrar essa resistência inicial ao tratamento. Caso não consiga sucesso, sugiro que o próprio familiar busque uma ajuda profissional, para um acompanhamento familiar do caso, pois dependendo de como a família aborde o problema a situação pode ter um desfecho positivo. Ofereça sempre suporte e proteção, verifique se a pessoa não corre nenhum risco quanto à sua integridade física. As pessoas com obsessões podem ter comportamentos de auto-flagelação ou suicídio, então é importante sempre manter o canal de diálogo com ela.