Os efeitos 13 anos depois da mudança de nome da esquizofrenia no Japão.

Em 2002 a Associação Nacional de Famílias de Doentes Mentais do Japão solicitou à Sociedade Japonesa de Psiquiatria e Neurologia a mudança de nome da esquizofrenia, por considerar que o termo era estigmatizante e ligado a uma visão negativa e pessimista da doença, interferindo com a recuperação daqueles que dela padeciam. O nome foi, então, alterado para Distúrbio da Integração.

Treze anos depois a mudança de nome fez com que o estigma no Japão fosse reduzido, que mais diagnósticos fossem feitos e que pacientes e famílias aceitassem melhor a doença. As pessoas mais jovens, mais da metade, chegam a reconhecer que os dois termos retratam doenças distintas.

Porém, este efeito de longo prazo está seriamente ameaçado, pois a mídia japonesa continua publicando conteúdos negativos relacionados ao novo nome da mesma forma como antes faziam com a esquizofrenia. Um estudo japonês mostrou que embora menos estigmatizante que outrora, a “nova” esquizofrenia está associada a maior estigma do que doenças como depressão e diabetes.

O estudo avaliou 51 789 artigos de jornais e 1106 textos de telejornais japoneses entre 1985 e 2013 que trataram das doenças esquizofrenia, depressão e diabetes. Depois de 2002, 97% dos artigos só usavam o novo termo, Distúrbio da Integração, para retratar a esquizofrenia.

Os autores constataram que a quantidade de artigos sobre esquizofrenia e depressão aumentou mais do que sobre diabetes, inclusive depois de 2003, sendo que houve mais artigos sobre esquizofrenia do que sobre depressão entre 2000 e 2005, época em que o nome da doença mudou.

Ao analisarem as 20 palavras mais utilizadas nos artigos, os autores constataram que aqueles relacionados à esquizofrenia continham mais palavras associadas à violência, crime, suicídio e auto-flagelo do que nos artigos sobre depressão e diabetes (31,5% vs 16% vs 8,2%, respectivamente).

Os autores concluem que, apesar da mudança de nome, houve pouca diferença na forma como a mídia aborda a doença, com conteúdo focado mais em casos de violência e crime do que, p.ex., nos impactos positivos da mudança de nome. O estudo japonês traz resultados semelhantes aos estudos na Inglaterra e nos EUA, que também encontraram uma associação forte dos artigos de jornais e outras mídias ao atribuírem à esquizofrenia crimes e violência, desconsiderando outros fatores associados, como situação econômico-financeira, adversidades familiares e abuso de drogas e álcool.

Os autores temem que, como a mídia possui grande influência sobre o estigma dos transtornos mentais, isso possa comprometer a redução do estigma que fora alcançado com a mudança do nome da esquizofrenia para Distúrbio da Integração. Artigos sobre esquizofrenia deveriam focar mais nos aspectos positivos, como informação médica sobre a doença, casos que se recuperaram e voltaram a trabalhar e a ter uma vida normal, e os aspectos negativos deveriam ser analisados à luz de outros fatores do ambiente capazes de gerar violência, não os atribuindo exclusivamente à doença.

Artigo: Shinsuke Koike, Sosei Yamaguchi, Yasutaka Ojio, Kazusa Ohta, and Shuntaro Ando. Effect of Name Change of Schizophrenia on Mass Media Between 1985 and 2013 in Japan: A Text Data Mining Analysis. Schizophr Bull first published online November 26, 2015 doi:10.1093/schbul/sbv159

Compartilhe: