As pessoas com esquizofrenia correm algum risco maior pela COVID-19?

Apesar de pessoas com esquizofrenia terem com frequência um menor interesse social, é reconhecido o papel que a vida em sociedade tem na recuperação dessas pessoas. Mesmo que mais escassos, os contatos sociais de pessoas com esquizofrenia possuem uma importância crucial em suas vidas. Contatos casuais em farmácias, mercearias, cafés e restaurantes contribuem para a integração da pessoa em sua comunidade e estão associados a melhorias na sua recuperação. Da mesma forma, contato com os serviços de saúde, centros comunitários e grupos de suporte são chaves. O isolamento social imposto pela quarentena da COVID-19 interrompe todas essas atividades.

Estudos mostram também que pessoas com esquizofrenia podem reagir pior a situações de desastre do que a população em geral, com menor capacidade de enfrentamento emocional, menor auto-estima e reduzida rede de apoio social. Essa dificuldade pode resultar em aumento do estresse posteriormente, com níveis mais elevados de ansiedade e depressão, contribuindo para um maior isolamento. Por outro lado, o isolamento social pode aumentar o risco de suicídio nessa população.

Sintomas como delírios, alucinações, comportamento desorganizado e prejuízos cognitivos, característicos da esquizofrenia, podem colocar essas pessoas em risco mais elevado para contrair a COVID-19. Pacientes podem ter maior dificuldade para compreender e aderir às medidas de proteção, inclusive à quarentena. Pessoas que em função de sua condição de saúde apresentam problemas de moradia, como p.ex. pessoas que vivem nas ruas, possuem um risco ainda maior.

Sabe-se das altas taxas de comorbidades em pessoas com esquizofrenia, particularmente tabagismo, doenças cardiovasculares, diabetes, doenças respiratórias crônicas, obesidade, dentre outras, que podem agravar o quadro clínico da COVID-19, aumentando o risco de internações. Ademais são conhecidas as dificuldades que essa população tem em conseguir atendimento em hospitais gerais, seja pela maior dificuldade em expressar suas queixas físicas, seja pelo preconceito de só enxergarem sua problemática psiquiátrica. Pessoas com esquizofrenia são mais propensas a sofrer subdiagnóstico de doenças físicas, com menor probabilidade de receber triagem e intervenções definitivas, e geralmente recebem cuidados de menor qualidade. Essa realidade é preocupante e pode aumentar a mortalidade dessas pessoas pela COVID-19.

Além disso, a própria infecção por COVID-19 pode agravar os sintomas em pessoas com esquizofrenia, pois os coronavírus podem estar associados a sintomas psicóticos por meio de um mecanismo relacionado à imunidade. Além disso, os sintomas associados aos coronavírus e seu tratamento têm sido associados a um maior sofrimento emocional, como a psicose secundária a esteróides e outras intervenções.

Outro aspecto que acende um alerta é a comorbidade com dependência química. Maiores taxas de recaídas do uso de drogas vem sendo reportadas ao longo da pandemia da COVID-19. Aliado à indisponibilidade de serviços assistenciais em função da quarentena, essa população fica mais vulnerável a crises e hospitalizações. O uso de drogas pode afetar também a tomada de decisão e gerar comportamentos de risco para infecção pelo coronavirus.

Existem evidências de que grupos de suporte de pares para pessoas em quarentena podem ajudar, fazendo com que elas se sintam conectadas a outras pessoas que passam por situações semelhantes, transformando-se em uma experiência de empoderamento e provendo um suporte que neste momento não é possível obter de outra maneira.

Uma grande preocupação na quarentena tem sido a adesão ao tratamento psiquiátrico. Sabe-se da dificuldade de adesão ao tratamento médico na esquizofrenia e a importância que os serviços e os profissionais de saúde têm em garantir o acesso e a tomada regular dos remédios. A indisponibilidade temporária dos serviços em função da quarentena representa um risco maior para adesão dos tratamentos. O uso da telemedicina pode ajudar a suprir a falta dos serviços, embora a sua disponibilidade ainda seja muito reduzida e represente novas oportunidades e desafios para o campo da saúde mental.

O que pode ser feito?

1) Veja se seu serviço de saúde ou médico/psicoterapeuta oferecem a telemedicina como forma de manter o tratamento no período de quarentena.
2) Certifique-se da qualidade da informação disponível sobre a epidemia, se ela é compreensível a todos, se ela não é geradora de maior ansiedade ou estresse. Modere a quantidade de informação de acordo com a necessidade e capacidade de absorção.
3) Converse sobre as medidas de proteção (higiene, máscaras, distanciamento social) e certifique-se de que elas foram compreendidas adequadamente.
4) Monitore se as medidas de proteção estão sendo cumpridas adequadamente.
5) Busque manter sua rede de apoio através de encontros virtuais ou grupos de pares online.
6) Procure manter uma rotina no seu dia-a-dia, incluindo atividades físicas, lúdicas, leituras, relaxamento e meditação.
7) Mantenha acesso aos medicamentos de uso contínuo e tome-os regularmente, inclusive os medicamentos para as doenças físicas.
8) Não utilize drogas e busque apoio médico em casos de recaída.
9) Ao procurar um atendimento de emergência por questões de saúde física, vá acompanhado de algum familiar e certifique-se de que suas queixas estão sendo compreendidas pela equipe de saúde.
10) Siga as recomendações dos órgãos de saúde e, em caso de dúvida, contacte seu profissional de saúde.

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