Programa Sem Censura - 19 de Abril de 2016.

Dr. Leonardo Palmeira fala da importância dos tratamentos psicossociais e das possibilidades de cada paciente dentro de um novo paradigma, a recuperação pessoal, em que o paciente se torna mais consciente, desenvolve a sua auto-crítica, sua resiliência e se empodera para ser capaz de planejar sua vida e tomar as decisões necessárias para se recuperar. Ele cita a psicoeducação de família, através de seminários e grupos de auto-ajuda, a psicoterapia individual e o apoio ao trabalho e ao estudo como terapias chaves nesse processo. O psiquiatra fala também do trabalho que desenvolve no Instituto de Psiquiatria da UFRJ e dos grupos comunitários que foram criados a partir do Programa de Psicoeducação e que hoje oferecem uma rede de suporte gratuita em bairros do Rio de Janeiro de forma autônoma e independente. O trabalho foi apresentado neste mês no congresso mundial sobre esquizofrenia em Florença.

O cineasta, diretor do filme a ser lançado nesta semana sobre a vida da Nise da Silveira, Roberto Berliner conta a história da psiquiatra e como foi passar dois meses no hospital do Engenho de Dentro convivendo com os pacientes e filmando o longa-metragem.

Programa Sem Censura
TV Brasil, 19/04/16
Apresentação: Leda Nagle


Curso de capacitação para cuidadores em saúde mental.

Estão abertas inscrições para um curso de capacitação de cuidadores em saúde mental organizado pela colega Fortunée Nigri, profissional séria e bastante qualificada. É uma oportunidade para aqueles que possuem cuidadores prestando serviços a algum familiar de encaminhá-los para se aperfeiçoarem e adquirirem mais conhecimento na área. A profissão de cuidador em saúde mental requer, além de sensibilidade e aptidão, noções básicas de saúde mental, psicologia, terapia ocupacional e capacidade de escuta e reflexão de suas práticas. A atitude de um cuidador tem reflexos diretos na saúde mental e física do paciente. Portanto, não percam essa oportunidade!

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Chega ao Brasil a Vortioxetina, primeiro antidepressivo multimodal para o tratamento da depressão.

Comercializado nos EUA e Europa desde 2014, a Vortioxetina chega ao Brasil esta semana com o nome de fantasia Brintellix, comercializado pelo laboratório dinamarquês Lundbeck.

Todos sabemos que os estados depressivos cursam com uma redução da serotonina cerebral e que antidepressivos ajudam a regular os níveis de serotonina. Mas o que nem todos sabem é que outros neurotransmissores podem ser igualmente importantes na depressão e que somente aumentar os níveis de serotonina no cérebro pode não ser suficiente para a remissão de todos os sintomas depressivos.

Entre os antidepressivos mais modernos estão aqueles que agem sobre dois sistemas de neurotransmissão ao mesmo tempo, a serotonina e a noradrenalina. São conhecidos como duais e costumam ser mais eficazes do que os que agem somente no sistema da serotonina.

Desde setembro de 2013 o FDA, órgão máximo nos EUA para a regulação de medicamentos, aprovou a Vortioxetina, medicamento com um mecanismo de ação totalmente inovador, para o tratamento da depressão. Essa substância possui ação diferenciada em receptores de serotonina, agindo como inibidor, antagonista, agonista ou agonista parcial em diferentes subtipos de receptores (veja a figura). Essa ação diferenciada permite que ele tenha ação modulatória indireta em diversos sistemas de neurotransmissão, como serotonina, noradrenalina, dopamina, GABA, histamina e acetilcolina, agindo em diferentes sistemas de neurotransmissão.

Os estudos com a Vortioxetina mostram eficácia em diferentes sintomas depressivos e ansiosos, melhorando a função cognitiva, como memória, aprendizado e função executiva, sendo melhor tolerado do que os seus antecessores, sem efeitos indesejáveis sobre o peso e a função sexual e mais fácil de interromper, por não causar sintomas de descontinuação.

Um estudo duplo-cego realizado com pacientes deprimidos na Ásia no ano passado comparou a Vortioxetina com a Venlafaxina (antidepressivo dual) e verificou que a Vortioxetina foi tão eficaz quanto à Venlafaxina no tratamento da depressão, sendo que os pacientes interromperam menos o tratamento com a Vortioxetina, devido à menor incidência de efeitos colaterais (Fonte: http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1185/03007995.2015.1014028). Porém são necessários mais estudos comparativos com outros antidepressivos para comprovação da superioridade quanto à eficácia clínica.

Comercializado nos EUA e Europa desde 2014, a Vortioxetina chega ao Brasil esta semana com o nome de fantasia Berintellix, comercializado pelo laboratório dinamarquês Lundbeck.


Falha imunológica pode ser uma das causas da esquizofrenia.

Cientistas americanos descobriram que o risco de esquizofrenia nos jovens está ligado a um determinado gene do sistema imunológico que controla o processo conhecido como "poda sináptica", a redução de células de conexão cerebral que não são mais necessárias ao corpo. Publicada na última quarta-feira (27) no periódico Nature, o estudo foi recebido como um importante marco no desenvolvimento de métodos para o diagnóstico precoce da doença e novos tratamentos.

Realizada por neurocientistas e geneticistas de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), a pesquisa analisou 29.000 casos de esquizofrenia, 36.000 pessoas sem a doença e 700 cérebros de pacientes que morreram em decorrência da esquizofrenia. Eles colheram informações de cerca de 22 países do globo e identificaram, durante a pesquisa, o papel decisivo do gene C4 (ou componente complementar 4).
Localizado no cromossomo 6, o gene C4 sinaliza quais sinapses - conexões cerebrais que transmitem dados de um neurônio a outro - devem ser eliminadas durante o processo normal de "poda sináptica". O que os pesquisadores perceberam foi que, em pacientes com esquizofrenia, uma única variação do C4 na sequência do DNA pode levar à eliminação de células que deveriam continuar em funcionamento, resultando em perda de massa cinzenta. "O gene está marcando sinapses demais, e elas estão sendo devoradas" explicou Beth Stevens, neurocientista do Children's Hospital and Broad e co-autora da pesquisa.

"Pela primeira vez a origem da esquizofrenia não é mais uma completa 'caixa preta'. Estudos recentes sobre o mecanismo biológico do câncer têm levado a muitos novos tratamentos", disse Eric Lander, diretor do Board Institute, instituto do MIT que liderou as pesquisas. A esquizofrenia, que tem como principal sintoma a psicose, afeta mais de 25 milhões de pessoas no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). O estudo publicado na Nature não indica que a cura da doença esteja próxima - seus mecanismos patogênicos ainda intrigam médicos e cientistas -, mas traz informações importantes para outras pesquisas nos campos da neurociência e genética.

Fonte: Veja.com


Os efeitos 13 anos depois da mudança de nome da esquizofrenia no Japão.

Em 2002 a Associação Nacional de Famílias de Doentes Mentais do Japão solicitou à Sociedade Japonesa de Psiquiatria e Neurologia a mudança de nome da esquizofrenia, por considerar que o termo era estigmatizante e ligado a uma visão negativa e pessimista da doença, interferindo com a recuperação daqueles que dela padeciam. O nome foi, então, alterado para Distúrbio da Integração.

Treze anos depois a mudança de nome fez com que o estigma no Japão fosse reduzido, que mais diagnósticos fossem feitos e que pacientes e famílias aceitassem melhor a doença. As pessoas mais jovens, mais da metade, chegam a reconhecer que os dois termos retratam doenças distintas.

Porém, este efeito de longo prazo está seriamente ameaçado, pois a mídia japonesa continua publicando conteúdos negativos relacionados ao novo nome da mesma forma como antes faziam com a esquizofrenia. Um estudo japonês mostrou que embora menos estigmatizante que outrora, a “nova” esquizofrenia está associada a maior estigma do que doenças como depressão e diabetes.

O estudo avaliou 51 789 artigos de jornais e 1106 textos de telejornais japoneses entre 1985 e 2013 que trataram das doenças esquizofrenia, depressão e diabetes. Depois de 2002, 97% dos artigos só usavam o novo termo, Distúrbio da Integração, para retratar a esquizofrenia.

Os autores constataram que a quantidade de artigos sobre esquizofrenia e depressão aumentou mais do que sobre diabetes, inclusive depois de 2003, sendo que houve mais artigos sobre esquizofrenia do que sobre depressão entre 2000 e 2005, época em que o nome da doença mudou.

Ao analisarem as 20 palavras mais utilizadas nos artigos, os autores constataram que aqueles relacionados à esquizofrenia continham mais palavras associadas à violência, crime, suicídio e auto-flagelo do que nos artigos sobre depressão e diabetes (31,5% vs 16% vs 8,2%, respectivamente).

Os autores concluem que, apesar da mudança de nome, houve pouca diferença na forma como a mídia aborda a doença, com conteúdo focado mais em casos de violência e crime do que, p.ex., nos impactos positivos da mudança de nome. O estudo japonês traz resultados semelhantes aos estudos na Inglaterra e nos EUA, que também encontraram uma associação forte dos artigos de jornais e outras mídias ao atribuírem à esquizofrenia crimes e violência, desconsiderando outros fatores associados, como situação econômico-financeira, adversidades familiares e abuso de drogas e álcool.

Os autores temem que, como a mídia possui grande influência sobre o estigma dos transtornos mentais, isso possa comprometer a redução do estigma que fora alcançado com a mudança do nome da esquizofrenia para Distúrbio da Integração. Artigos sobre esquizofrenia deveriam focar mais nos aspectos positivos, como informação médica sobre a doença, casos que se recuperaram e voltaram a trabalhar e a ter uma vida normal, e os aspectos negativos deveriam ser analisados à luz de outros fatores do ambiente capazes de gerar violência, não os atribuindo exclusivamente à doença.

Artigo: Shinsuke Koike, Sosei Yamaguchi, Yasutaka Ojio, Kazusa Ohta, and Shuntaro Ando. Effect of Name Change of Schizophrenia on Mass Media Between 1985 and 2013 in Japan: A Text Data Mining Analysis. Schizophr Bull first published online November 26, 2015 doi:10.1093/schbul/sbv159


Grupos comunitários de Auto-Ajuda do Rio de Janeiro participam de debate na UFRJ. Assista!

No dia 5 de dezembro ocorreu no Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB) um debate com familiares e pacientes que participam dos 3 grupos comunitários de auto-ajuda da cidade do Rio de Janeiro. Os grupos são resultado do trabalho do Programa de Psicoeducação de Família do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, desde 2011, realizado pelos psiquiatras Alexandre Keusen, Leonardo Palmeira e Elias Carim e a psicóloga Olga Leão.

O grupo Abra Sua Mente, primeiro a ser formado em 2013, na Tijuca, e os grupos Mentes em Ação, no Centro, e É Possível, no Catete, ambos a partir de fevereiro de 2015, debateram com a plateia temas como recuperação, empoderamento, resiliência, o papel da família, a importância da informação e do apoio par a par, dentre outros temas que cercam os transtornos mentais severos, particularmente a esquizofrenia. Pacientes puderam dar seu depoimento, de como esse trabalho em grupo os ajudou a melhorar.

Esse encontro é um convite à reflexão de todos, de como é possível viver com mais otimismo e esperança, apesar das adversidades, e que é possível sim ser feliz e buscar cada vez mais a harmonia da convivência e uma melhor qualidade de vida. Para tornar tudo isso realidade, o apoio mútuo através desta rede de suporte é fundamental.

Vida longa para os grupos de auto-ajuda da cidade do Rio de Janeiro!


https://www.youtube.com/watch?v=5NFivgprQR8


Conheça os grupos:

• GRUPO "ABRA A SUA MENTE": Igreja Batista Itacuruça - Praça Barão de Corumbá, 49, Tijuca.

→ Descrição: o grupo é composto de familiares e pacientes e se reúne uma vez por mês em datas específicas, aos sábados pela manhã. Para maiores informações contactar um dos coordenadores do grupo - Amaury (tel: 7235-2882 / e-mail: amaurycavalcanti@outlook.com) e Wilson (tel: 98907-3347 / e-mail: wrfraga@ig.com.br)


• GRUPO "É POSSIVEL!": Rua do Catete n. 311, sala cobertura 01, Largo do Machado, Catete.

→ Descrição: o grupo é composto de familiares e se reúne uma vez por mês em datas específicas, aos sábados pela manhã. Para maiores informações contactar um dos coordenadores do grupo - Clarice Nunes (tels: 2245-5568; 99923-3429) e Pedro Nin Ferreira (tel.: 2210-1256) ou pelo e-mail: familiaresepossivel@gmail.com


• GRUPO "MENTES EM AÇÃO": Rua Sete de Setembro 151/153, acesso por dentro da loja Casa da Criança, Centro do Rio.

→ Descrição: o grupo é composto de familiares e se reúne a cada quinze dias em datas específicas, aos sábados pela manhã. Para maiores informações contactar um dos coordenadores do grupo - Luiza Lins (tel.: 99236-1268 / e-mail: luizalins@bol.com.br) e Gustavo Meano (e-mail: gustavomeano@gmail.com).
Facebook: https://www.facebook.com/mentesemacao
Website: http://www.mentesemacao.org



Matéria da BBC com participação do Dr. Leonardo Palmeira.

Equipe da BBC veio ao Rio observar o trabalho do psiquiatra Vitor Pordeus, que acredita seja capaz de curar a esquizofrenia através do teatro. Ele trabalha no Hospital Municipal Nise da Silveira com pacientes com esquizofrenia e outros transtornos mentais e diz constatar a melhora de seus pacientes a medida em que eles participam da companhia teatral criada por ele. Eles se apresentam com regularidade no calçadão do Arpoador, na Praia de Ipanema. Vitor diz inclusive que consegue reduzir os remédios de seus pacientes com o teatro.

Dr Leonardo Palmeira foi consultado pela reportagem da BBC e afirmou que, embora o teatro e as artes sejam benéficos no tratamento de transtornos mentais, isoladamente eles não podem ser considerados curativos. "A esquizofrenia requer um tratamento mais abrangente, em que medicamentos, psicoterapia e outras estratégias de recuperação, incluindo o teatro e outras expressões artísticas, agem em conjunto. Falar em cura seria exagerado", diz.

→ Clique aqui para assistir ao vídeo (em inglês).


Tratamentos coordenados para recuperação da esquizofrenia foram superiores aos tratamentos centrados na medicação, afirma estudo.

Um estudo norte-americano publicado hoje no periódico American Journal os Psychiatry confirma que o tratamento com medicamentos, terapia de família, psicoterapia individual e suporte para trabalho e estudo é superior em vários aspectos ao tratamento usual, centrado na medicação. Os pacientes tiveram melhora da qualidade de vida, dos sintomas, engajaram-se mais em atividades como trabalho e estudo do que aqueles que só tomaram medicamentos.

O Portal Entendendo a Esquizofrenia teve acesso ao estudo e divulga, em primeira mão, os detalhes sobre a metodologia e os resultados.

Este estudo é uma parte de um programa maior do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA (foto), chamado RAISE, que se preocupa fundamentalmente com a recuperação de pessoas que estejam sofrendo um primeiro episódio esquizofrênico. O objetivo é encurtar a demora com que pessoas com essa doença esperam para receber tratamento, em média de um a um ano e meio de atraso, e possibilitar que elas se recuperem o mais rapidamente possível, sem sofrer com as complicações e os sintomas crônicos que ocorrem quando o tratamento não é dispensado adequadamente.

A ideia do projeto é desenvolver em todo EUA um tratamento integrado, centrado nas pessoas e na família, de forma a não só promover a melhoria dos sintomas, mas, mais do que isso, possibilitar que essas pessoas possam se recuperar funcionalmente da doença, voltar às suas atividades, estudar, trabalhar, se socializar e viver sua vida de forma independente e autônoma.

Este estudo, conhecido por RAISE-ETP (Early Treatment Program), recrutou 404 pessoas entre 15 e 40 anos de idade, em 34 centros de tratamento comunitário de 21 estados, que tivessem experimentado um único episódio psicótico e não tivessem tomado medicamento antipsicótico por mais de 6 meses.

As clínicas de tratamento foram divididas em dois grupos: o primeiro grupo ofereceu um tratamento experimental chamado NAVIGATE, que incluía 4 intervenções principais: medicação, psicoeducação de família, psicoterapia individual focada na resiliência e ajuda/suporte no emprego e nos estudo. Todos os tratamentos foram ofertados considerando um modelo de decisão compartilhada e a preferência do paciente e os profissionais receberam um treinamento para aplica-lo. O segundo grupo, chamado de “atenção comunitária”, ofereceu o tratamento usual, com medicamentos e outros tratamentos de acordo com a disponibilidade dos serviços, como já era de praxe. Todos os grupos foram tratados ao longo de dois anos.

Para avaliar os pacientes foram utilizadas escalas de qualidade de vida, escala de sintomas positivos e negativos da esquizofrenia, dentre outras. 223 pacientes participaram do tratamento NAVIGATE, enquanto 181 do tratamento usual.

Resultados

Os pacientes que receberam o tratamento NAVIGATE ficaram em média seis meses mais tempo no tratamento do que o grupo que recebeu o tratamento usual, tiveram maior ganho em atividades como trabalho e escola, melhoraram mais dos sintomas positivos e negativos e tiveram melhor qualidade de vida.

Um achado interessante é que pacientes com menor tempo de doença (menos do que 74 semanas) aceitaram melhor o tratamento NAVIGATE, como também tiveram maiores benefícios, com melhor qualidade de vida e maior redução de sintomas positivos e negativos da esquizofrenia quando comparados ao grupo com mais tempo de doença.

Este estudo é o primeiro nos EUA a coordenar diferentes modalidades de tratamento em diferentes centros de saúde mental e o primeiro no mundo com essa abrangência de avaliação clínica e social. Os pacientes que permaneceram no estudo serão acompanhados até concluírem 5 anos de tratamento para averiguar se os benefícios se mantém a longo prazo.

Os autores acreditam que os benefícios do tratamento NAVIGATE tenham relação com o modelo de cuidado centrado na pessoa, através de decisões compartilhadas, onde são levadas em conta as preferências do paciente, além da cobertura do aspecto familiar (através da psicoeducação), do pessoal (trabalhando a resiliência de cada um) e do auxílio nas atividades como trabalho e estudo.

Entenda melhor os conceitos que envolvem a Recuperação pessoal de quem sofre esquizofrenia, CLIQUE AQUI

Estudo: http://ajp.psychiatryonline.org/doi/full/10.1176/appi.ajp.2015.15050632


Cariprazina é aprovada pelo FDA como o mais novo tratamento para Esquizofrenia e Transtorno Bipolar.

Um novo antipsicótico para tratar sintomas negativos persistentes da esquizofrenia e melhorar o funcionamento global dos pacientes acaba de ser aprovado pelo FDA, órgão máximo de regulação dos EUA. O medicamento Vraylar (cariprazina) já foi testado em 1754 pacientes com esquizofrenia em três estudos e mostrou ser eficaz em reduzir os sintomas da esquizofrenia. O medicamento também recebeu a aprovação para o tratamento do Transtorno Bipolar.

No estudo de fase 3, anterior à aprovação, a cariprazina foi comparada com a risperidona em 461 pacientes, mostrando ser mais eficaz do que ela no tratamento dos sintomas negativos, como apatia, isolamento social e embotamento afetivo, tendo eficácia semelhante no combate aos sintomas positivos, por atuar também em receptores de dopamina.

“O importante é que a cariprazina foi significativamente mais eficaz do que a risperidona não somente melhorando os sintomas, mas também o funcionamento social dos pacientes”, afirmou György Németh, director medico do laboratório Gedeon Richter, que desenvolveu o medicamento.

Isso pode ter um grande impacto na qualidade de vida dos pacientes. O estudo foi apresentado durante o 28º Congresso da Sociedade Européia de Neuropsicofarmacologia, em agosto passado.

A cariprazina é um antipsicótico diferente dos de segunda geração, por apresentar uma atividade agonista parcial dos receptores D2 e D3, ao invés da tradicional ação antagonista em receptores D2. Neste sentido ele se assemelha ao aripirazol, já comercializado, inclusive no Brasil, embora este não tenha a ação nos receptores D3. Acredita-se que por isso a cariprazina possa ter melhor atuação nos sintomas negativos e cognitivos.

O medicamento deve estar disponível nas farmácias norte-americanas nos próximos meses, mas não existe ainda uma previsão de chegada ao mercado brasileiro.


Nova droga é testada contra Alzheimer

Um novo tipo de droga para combater o Alzheimer tem se mostrado promissor quando administrado em pessoas nos estágios iniciais da doença, anunciou o laboratório farmacêutico Eli Lilly nesta quarta-feira (22).

Conhecida como Solanezumab, o medicamento é um anticorpo monoclonal que potencialmente tem capacidade de impedir o desenvolvimento das placas de proteínas beta-amilóide que se formam no cérebro e provocam a doença.

O Alzheimer afeta 44 milhões de pessoas em todo o mundo e que não tem nenhum tratamento eficaz. Numa primeira fase, em 2012, o Solanezumab não teve resultados positivos, se mostrando tão eficaz quando os placebos de açúcar nos testes clínicos.

Um editorial no "New England Journal of Medicine" de 2014 indicou que, um quarto dos pacientes estudados nos primeiros ensaios podiam ter demência, mas não o Alzheimer, e que os ensaios científicos deveriam continuar em pessoas com Alzheimer confirmado.

Resultados

Desta vez, os pesquisadores realizaram ensaios randomizados controlados, duplo cego, envolvendo 1.322 pessoas com doença de Alzheimer em estágio inicial.

Alguns receberam o medicamento imediatamente, outros depois de um período de dois anos. Médicos e pacientes não sabiam quem recebia pílula de açúcar ou da droga real.

Quando os pesquisadores compararam a função cognitiva dos dois grupos, após dois anos do estudo, a diferença foi "estatisticamente significativa", segundo Eli Lilly em um comunicado.

Se comprovado, será o primeiro tratamento a ser capaz de impedir o avanço desta doença neurológica degenerativa, desde que detectada precocemente.

O estudo foi publicado na revista "Alzheimer's and Dementia: Translational Research and Clinical Interventions", e foi discutido na Conferência Anual da Associação de Alzheimer na capital dos Estados Unidos.

Fonte: G1


Importação de remédio por pessoa física ficará isenta de impostos.

A partir de 13/07/2015 a Receita Federal passou a isentar de cobrança de impostos medicamentos importados por pessoas físicas no Brasil e que não têm registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.

A medida facilita o tratamento com drogas não comercializadas no país e que são prescritas por médicos para doenças crônicas. Entre os remédios que devem ser beneficiados está o canabidiol (CBD), substância derivada da maconha.

A Receita Federal alterou a portaria 156, de 1999, mudança publicada no Diário Oficial desta segunda. A nova regra se estende a encomendas aéreas internacionais, transportadas por empresa de entrega expressa. Na prática, o medicamento será entregue no domicílio do importador sem o recolhimento de tributos federais.

Apenas quem cadastrar o laudo médico e a prescrição do medicamento na Anvisa é que se beneficiará com a medida.

Segundo o órgão, ligado ao Ministério da Saúde, para importar medicamentos sem registro no país é preciso realizar um cadastro na agência, apresentando laudo médico, documento que explica a necessidade do remédio pelo paciente, e a prescrição, a famosa "receita", contendo a posologia e a quantidade de medicamentos a ser importada.

Para saber mais detalhes, a Anvisa pede que um e-mail seja enviado para o endereço med.controlados@anvisa.gov.br. No caso do canabidiol, uma página especial foi criada para facilitar a importação. A aprovação do cadastro pode levar até quatro dias.

Novas regras do Canabidiol

Desde o dia 7 deste mês começaram a valer as novas regras e procedimentos específicos para importação de produtos à base do CBD. O regulamento complementa as ações já tomadas pela agência para que os pacientes tenham acesso ao produto.

Em janeiro, a Diretoria Colegiada da Anvisa decidiu retirar o canabidiol da lista de substâncias de uso proibido (proscrito), abrindo o caminho para que a comercialização de medicamentos com a substância seja facilitada no país. Antes, a venda era vetada.

Agora, empresas interessadas poderão produzir e vender derivados de CBD após a obtenção de um registro da Anvisa. No fim de 2014, uma empresa europeia entrou com um pedido para comercializar medicamentos com a substância.

A aquisição do produto deverá ocorrer de forma controlada, com a exigência de receita médica de duas vias. (Fonte: G1)

Benefícios para pacientes que não responderam aos medicamentos comercializados no Brasil

Alguns medicamentos que já são comercializados nos EUA e na Europa e que ainda não chegaram ao Brasil ou não têm previsão de serem comercializados por aqui podem ser adquiridos a um custo menor do que antes, graças à redução de impostos.

Na psiquiatria, além do Canabidiol (leia a resolução do CFM que regulamenta a prescrição médica de Canabidiol), citado na reportagem, existem medicamentos para o tratamento da depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, TDAH e alcoolismo que não têm previsão de chegada ao Brasil. Eis alguns exemplos:

Para Depressão

Brintellix (vortioxetina) - trata-se de um antidepressivo diferenciado, com mecanismo de ação multimodal, que atua como antagonista, agonista parcial e agonista total de diferentes receptores de serotonina, aumentando os níveis de serotonina, mas também de noradrenalina e dopamina, outros neurotransmissores envolvidos na depressão. Já está sendo comercializado nos EUA e alguns países da Europa desde 2014.

Para Esquizofrenia

Abilify Maintena (aripiprazol) - versão injetável de longa ação do Abilify, antipsicótico indicado para o tratamento da esquizofrenia (marca mais comercializada no Brasil é o Aristab), permite o tratamento da doença com uma injeção mensal. Hoje no Brasil, o único antipsicótico de ação semelhante a ele é o Invega Sustenna (palmito de paliperidona). Foi aprovado para comercialização nos EUA e Europa em 2013, desde então está presente nos EUA, em alguns países da Europa, na Austrália e no Japão. Não sabe-se ao certo o motivo pelo qual o laboratório Otsuka/Lundbeck não trouxe ainda a medicação para o Brasil. Acredita-se que possa ser por razões econômicas, uma vez que o mercado brasileiro não parece ser muito receptivo aos medicamentos injetáveis para esquizofrenia.

Para Esquizofrenia e Depressão Bipolar

Latuda (lurasidona) - medicamento antipsicóticos com ação antagonista de receptores dopaminérgicos D1 e D2, de receptores de serotonina e agonista parcial de receptores 5HT1A, a lurasidona têm ação também nos quadros depressivos do TBH. Foi aprovada e comercializada nos EUA em 2011, no Canadá em 2012 e em seis países da Europa em 2013.

Para TDAH

Strattera (atomoxetina) - medicamento para tratamento do transtorno de deficit de atenção/hiperatividade aprovado desde 2006 nos EUA, utilizado em vários países. É um medicamento diferente dos demais utilizados no tratamento do TDAH no Brasil por não ser derivado de anfetamina, portanto, não é um psicoestimulante. Seu mecanismo de ação é pela via noradrenérgica (noradrenalina). Não se sabe o motivo pelo qual o medicamento não veio para o Brasil, mas pode ter a ver com questões de patente, pois uma ação na Justiça Federal julgou improcedente o pedido do laboratório Eli Lilly, quem desenvolveu o produto, de manter a patente por 10 anos.

Para Alcoolismo

Vivitrol (naltrexona injetável) - versão injetável de longa ação do Revia (nome comercializado no Brasil). Trata-se de um medicamento que trata a dependência de álcool e opióides na forma injetável, de uso mensal, através do bloqueio de receptores opióides, aumentando o tempo de abstinência e reduzindo as recaídas. Acredita-se que a ação farmacológica seja responsável pela redução dos efeitos prazerosos do álcool que provocam o reforço da dependência. Foi aprovado em 2010 pelos EUA, sendo utilizado também na Europa.

Selincro (nalmefene) - antagonista opióide de uso oral para o tratamento do alcoolismo, dependência de opióides e jogo patológico. Foi aprovado em 2013 pela agência européia de medicamentos, sendo comercializada em alguns países da Europa, mas não é comercializada nos EUA.


Órgão americano aprova Invega Trinza, novo tratamento para esquizofrenia com quatro injeções anuais.

Uma nova opção para o tratamento da esquizofrenia acaba de ganhar aprovação pelo órgão máximo de regulação norte-americano, o FDA, devendo estar em meados deste mês nas farmácias dos EUA. É o primeiro antipsicótico de longa ação que promete tratar a esquizofrenia com apenas quatro injeções anuais, sendo o injetável com o maior intervalo entre doses, 3 meses, em comparação com outros já existentes no mercado, que precisam ser administrados quinzenal ou mensalmente.

O Invega Trinza é uma evolução do Invega Sustenna, último lançamento da Janssen-Cilag, pertencente ao grupo Johnson & Johnson, e poderá ser utilizado nos pacientes que estejam sendo tratados com o Invega Sustenna por pelo menos 4 meses. Trata-se do mesmo princípio ativo (palmitato de paliperidona), porém com duração superior (o Invega Sustenna requer que a administraçãoo seja feita mensalmente).

Num estudo de longo prazo, conduzido entre abril de 2012 e abril de 2014, 93% dos pacientes tratados com Invega Trinza não tiveram recaídas ou piora dos sintomas positivos da esquizofrenia. “Com um tratamento mais duradouro, pacientes, familiares e terapeutas podem focar melhor nas questões pertinentes à recuperação da pessoa para além do controle dos sintomas a curto prazo”, afirma o investigador do estudo, Dr. Joseph Kwentus. “Com o controle dos sintomas a longo prazo, pacientes podem se dedicar melhor ao desenvolvimento de seus objetivos pessoais”.

O estudo de longo prazo mostrou também que o Invega Trinza foi tão seguro e bem tolerado quanto o Invega Sustenna, que já é utilizado no Brasil desde 2012. A companhia espera que o Invega Trinza possa chegar ao Brasil a partir de 2016.

Fonte: Drugs.com


Novos grupos de auto-ajuda para familiares e pacientes são criados no Rio de Janeiro.

Dois novos grupos de auto-ajuda para familiares e pacientes com transtorno mental severo, como esquizofrenia, transtorno bipolar e transtorno esquizoafetivo, inauguraram suas salas este mês. Os grupos foram formados pelo Programa de Psicoeducação de Família do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, sob coordenação dos psiquiatras Alexandre Keusen e Leonardo Palmeira. O objetivo deste trabalho é empoderar as famílias para que possam comandar grupos de ajuda na comunidade e, assim, ampliar o número de famílias atendidas por essa metodologia de tratamento.

Os grupos “É Possível!”, que passa a se reunir na Zona Sul, e o “Mentes em Ação”, que acontece no Centro da Cidade, juntam-se ao grupo ”Abra Sua Mente”, que já funciona há mais de um ano na Tijuca.

Este é um trabalho pioneiro no Brasil que visa construir uma rede de apoio para familiares e pacientes na comunidade, através de iniciativas administradas pelos próprios, como parte de um processo mais abrangente de recuperação pessoal, onde a psicoeducação e os grupos de família passam a ter um papel de protagonismo no tratamento desses transtornos, juntamente com o tratamento médico e psicossocial.


“É Possível!”

Reune-se mensalmente, no sábado, no bairro do Catete.

Endereço: Rua do Catete n. 311, sala cobertura 01, Largo do Machado, Catete.

Para mais informações entre em contato com os coordenadores:

Clarice Nunes - tel.: 2245-5568; 99923-3429
Pedro Nin Ferreira - tel.: 2210-1256
E-mail: familiaresepossivel@gmail.com


Grupo “Mentes em Ação”

Reune-se quinzenalmente, aos sábados, no Centro do Rio.

Endereço: Rua Sete de Setembro 151/153, acesso por dentro da loja Casa da Criança, Centro do Rio.

Para mais informações entre em contato com os coordenadores:

Luiza Lins – tel.: 99236-1268
E-mail: luizalins@bol.com.br
Gustavo Meano
E-mail: gustavomeano@gmail.com


Para informações sobre todos os grupos de auto-ajuda, CLIQUE AQUI!


TDAH dificulta resposta ao tratamento da depressão e do transtorno bipolar.

Já escrevi aqui no site artigos sobre depressão que não melhora com antidepressivos, que é uma situação comum do dia-a-dia do psiquiatra. Existem muitos pacientes que já usaram diversos antidepressivos ou estão em tratamento medicamentoso há anos sem uma resposta satisfatória. O último artigo a esse respeito falava dos estados mistos e da relação entre depressão e bipolaridade (clique aqui para ler). Hoje resolvi dar maior ênfase à comorbidade da depressão e do transtorno bipolar com o Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Vamos começar por um relato de caso de um paciente.

Caso clínico

Paulo tem 35 anos e faz tratamento para depressão desde 22 anos de idade. Já passou por diversos psiquiatras e já usou vários antidepressivos. Relata que sempre que ocorre mudança de remédio ele responde satisfatoriamente, porém, após alguns meses, volta a se sentir deprimido e desanimado. Um sintoma que chamou mais atenção na consulta de Paulo foi que, apesar da medicação antidepressiva, ele continuava sentindo, pela manhã, logo que se levantava, uma angústia intensa que melhorava com o passar de algumas horas. Depois do almoço, seu humor voltava a oscilar para baixo, dando uma sensação de desânimo e cansaço, muitas vezes levando-o a tirar uma soneca no trabalho. Procurando explorar com mais detalhes a dinâmica desse sintoma, foi possível perceber que um dos gatilhos para a sensação de mal-estar provinha de seus próprios pensamentos. Pela manhã, Paulo acordava já com seus pensamentos a mil, sempre com problemas ou compromissos de trabalho. Ele tendia a avaliar tudo de forma mais pessimista e com um sentimento de que fracassaria e não conseguiria resolver tudo o que tinha para aquele dia. Isso gerava a sensação de angústia e cansaço. Depois no trabalho, após o almoço, ele olhava os papéis sobre a mesa e tinha dificuldade de se organizar por onde começar. Faltava a Paulo a capacidade de fazer um planejamento, traçar a melhor estratégia para suas tarefas. Muitas vezes começava resolvendo uma coisa e interrompia, passando para outra, sem que a primeira tivesse sido concluída. Com o passar das horas, começava a se sentir mais confuso ainda, perdido no meio de tantas obrigações e, ao final de um dia de trabalho, tinha a sensação de que nada havia sido resolvido e que seu dia tinha sido improdutivo, gerando mais cansaço e angústia. Para Paulo era este o sintoma que não melhorava com a troca de antidepressivos.

Uma escala para triagem de déficit de atenção e hiperatividade/impulsividade levantou a suspeita de que Paulo poderia ter algo mais além do quadro depressivo. A escala ASRS é a principal escala usada em adultos para este fim e é validada para o português desde 2006. As respostas de Paulo demonstravam sintomas de déficit de atenção e hiperatividade em níveis bastante elevados.

Conversando sobre sua infância e adolescência, Paulo relatou que, desde que se entende por gente, tem dificuldade de organizar e planejar suas tarefas. Sempre teve uma tendência de se “desligar” com facilidade, de passar de uma atividade para outra sem concluí-la ou mesmo fazer várias atividades ao mesmo tempo. Sempre que ocorrem barulhos ou pessoas conversando no ambiente, distrai-se muito facilmente a ponto de precisar interromper o que está fazendo para buscar um lugar mais sossegado. Apesar disso, nunca teve um prejuízo maior na vida acadêmica ou no trabalho, mas reconhece que tem um grande dispêndio de energia com esses sintomas, não raro sentindo um cansaço precoce.

Para explorarmos melhor esta queixa cognitiva, solicitei a Paulo uma testagem neuropsicológica, que é uma bateria de testes para avaliar a atenção, a memória, a inteligência, o raciocínio e a capacidade executiva e de planejamento. A testagem revelou um rebaixamento da concentração frente às demais funções psíquicas. Paulo também apresentou maior lentidão cognitiva global, dificuldade para alternar o foco da atenção, para inibir estímulos irrelevantes e leve impulsividade cognitiva. Embora esses achados também pudessem ocorrer no quadro depressivo, a percepção clínica de que esses sintomas antecediam o diagnóstico de depressão nos fez suspeitar de uma comorbidade com o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH).

Paulo começou a usar um medicamento específico para o tratamento para o TDAH juntamente com sua medicação antidepressiva e notou, desde a primeira dosagem, que sua ansiedade e os pensamentos embaralhados melhoraram significativamente, a angústia pela manhã e o cansaço à tarde não ocorriam mais e seu desempenho no trabalho também melhorou, a ponto dos colegas de trabalho notarem diferença. Paulo passou a não deixar as tarefas acumularem. Mesmo após um ano de uso contínuo do medicamento, os sintomas permanecem sob controle. Outra vantagem foi que, com a estabilização do quadro, Paulo não precisou mais trocar as medicações que utilizava para o tratamento da depressão.

TDAH no adulto

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade no adulto (TDAH) é uma das comorbidades mais frequentes e menos diagnosticadas em pessoas com transtornos de humor, segundo o Canadian Network for Mood and Anxiety Treatments (2012). Ele está presente em até 22% dos adultos com depressão e em quase 13% das pessoas com Transtorno Bipolar (TBH).

Um dos desafios para o diagnóstico dos dois transtornos é que TBH e TDAH compartilham sintomas, fatores de risco e de vulnerabilidade. Um exemplo é que a hiperatividade, impulsividade, distraibilidade e necessidade reduzida de sono podem estar presentes tanto em pessoas com TDAH como em bipolares. Existe também um maior índice de TDAH em crianças que desencadeiam um TBH antes da puberdade em comparação com as que adoecem na adolescência.

Portanto, existem evidências clínicas substanciais da coexistência desses dois transtornos, o que traz um desafio para a prática clínica, uma vez que o TDAH não melhora com o tratamento empregado para depressão ou TBH.

A comorbidade com TDAH traz riscos adicionais para os transtornos de humor, como o aumento do risco de suicídio em comparação com os pacientes deprimidos e bipolares que não possuem TDAH. O TDAH na infância está relacionado também a episódios afetivos (depressivos ou bipolares) mais precoces, maior ansiedade, pior funcionamento social, mais sintomas bipolares ao longo da vida e é mais comum quando há histórico familiar de TBH, depressão ou psicose.

Um estudo publicado em 2004 na Revista Clinical Psychopharmacology, por Simon e colaboradores, constatou que somente 9% dos pacientes com comorbidade entre TBH e TDAH tinha o TDAH diagnosticado e tratado. Os autores sugerem que se pesquise TDAH nos pacientes sempre que houver prejuízo funcional significativo (p.ex. estudo, trabalho) e que se considere o tratamento específico para o TDAH mesmo que o humor esteja estabilizado.

Pacientes com diagnóstico de TDAH na infância e depressão têm um risco maior de ter TBH ao longo da vida. Quando a criança tem TDAH e um dos pais tem TBH, o risco dessa criança desenvolver TBH é da ordem de 40%. Esses achados alertam para a necessidade de se pesquisar TBH em pacientes com TDAH e distúrbios de humor. Nestes casos, o tratamento combinado com psicoestimulante (medicação para TDAH) e estabilizador do humor (medicação para bipolaridade) pode apresentar resultados clínicos melhores do que os tratamentos isolados.

Um aspecto central no diagnóstico do TDAH é o que se convencionou chamar de labilidade emocional (LE). LE corresponde a reações emocionais exageradas com mudanças frequentes de humor, p.ex. irritabilidade, temperamento forte, volatilidade (hiperreatividade de humor). Van Beijsterveldt (2004) verificou que 60 a 70% da LE era hereditária, ou seja, a maioria tinha características emocionais semelhantes na família e que passavam de geração em geração.

A LE no TDAH pode ser observada das seguintes formas:

- flutuações de humor de um dia para o outro ou num mesmo dia, com reações repentinas e persistentes às frustrações do dia-a-dia;
- sentimento de irritabilidade e explosões de raiva frequentes de curta duração, que podem ser sentidas como mudança rápida do humor normal para depressão ou excitação leve;
- o humor é muito volátil, pode mudar quatro ou cinco vezes num mesmo dia, em questão de horas.
Juntamente com a desatenção e os sintomas de hiperatividade/impulsividade, a LE é um fator hereditário comum nas famílias. Os autores do estudo sugerem que todos os pacientes com labilidade emocional crônica sejam investigados quanto à presença ou ausência de TDAH.

Diagnóstico Diferencial entre TDAH e TBH

O diagnóstico diferencial dos dois transtornos é difícil e muitas vezes o TDAH não está aparente, pois os sintomas do humor são mais chamativos e normalmente a queixa do paciente tem a ver com o humor. Por isso a necessidade dos médicos investigarem melhor a comorbidade. Existem características clínicas que podem auxiliar.

Pacientes com TDAH+TBH têm com maior frequência comportamentos disruptivos, transtorno opositivo-desafiador, transtorno de conduta e depressão do que pacientes com apenas o diagnóstico de TDAH. Uma forma de diferenciar os sintomas dos dois transtornos na prática clínica é:

- se o déficit de concentração ocorre somente durante os episódios de humor, provavelmente são secundários ao TBH
- se o déficit de concentração é crônico, ou seja, ocorrem mesmo quando o paciente está com seu humor estabilizado, é necessário considerar se ocorre ou não comorbidade com TDAH.
- se o déficit de concentração ocorre antes do diagnóstico ou dos primeiros sintomas do TBH e piora com os episódios de humor, também se deve considerar a possibilidade de comorbidade.

Outro ponto de encontro e diferenciação é relacionado a alguns sintomas que podem causar confusão entre mania e TDAH, p.ex., idéias ou planos grandiosos, agitação psicomotora ou comportamento inquieto podem ocorrer em ambas as condições, porém se forem excessivos e episódicos, deve-se considerar o distúrbio de humor.

Irritabilidade também é um ponto em comum, sendo difícil diferenciar as duas condições. Porém, se a irritabilidade ocorre de forma crônica e não-episódica, ela é mais preditiva de ansiedade e depressão em pacientes com TDAH do que de TBH.

Veja a tabela a seguir com as principais diferenças entre TDAH e TBH:

DiferençasTDAHTBHTDAH + TBH
Déficit de atençãoCrônicoEpisódico, associado ao estado de humorCrônico com piora nos episódios de humor
HiperatividadeCrônicaEpisódica, associada ao estado de humor, e geralmente mais excessivaCrônica com piora nos episódios de humor
ImpulsividadeCrônicaEpisódica, associada ao estado de humorCrônica com piora nos episódios de humor
Labilidade emocional e mudanças de humorRápida, as vezes várias vezes ao diaMais episódica, embora possa ser mais rápida em cicladores rápidosRápida, varias vezes ao dia
Tratamento médicoPsicoestimulanteEstabilizador de humorPrimeiro estabilizador de humor, depois associação com psicoestimulante
ComorbidadesDQ
T de Conduta
T Desafiador-Opositivo
T dos impulsos/compulsões
T de Ansiedade
Depressão Maior
DQ
T de Ansiedade
T dos impulsos/compulsões
T Personalidade Borderline
Todas as anteriores

https://www.youtube.com/watch?v=XfAp8_706OU


Como ajudar seu parente com esquizofrenia (serve para qualquer transtorno mental).

O amor e o apoio da família são ingredientes importantes para o tratamento e a recuperação da pessoa que sofre de esquizofrenia. Se alguém próximo a você sofre desta doença, você pode fazer uma grande diferença na vida desta pessoa, ajudando-a a encontrar o tratamento certo, a lidar melhor com os sintomas e a pavimentar seu longo caminho da recuperação.

Por outro lado, ajudar alguém com esquizofrenia pode ser uma tarefa árdua e você pode não conseguir fazer isso sozinho, precisando recorrer a profissionais e serviços capacitados. Mas, sobretudo, você precisará cuidar de você mesmo para conseguir ajudar mais seu ente querido.

Se alguém próximo a você tem esquizofrenia, provavelmente você tem se pegado com sentimentos como medo, culpa, raiva, frustração e desesperança. A doença pode ser difícil de aceitar. Você pode achar que não conseguirá ajudar seu parente diante dos sintomas que ele apresenta ou pode estar preocupado com o estigma que ele vai sofrer ou ainda se sentir confuso e envergonhado com os comportamentos que você não consegue compreender. Você pode ficar tentado a esconder a doença das outras pessoas.

Para início de conversa e para que você consiga lidar melhor com a doença é importante que você tenha em mente o seguinte:

  1. Aceite a doença e suas dificuldades.
  2. Seja realista em relação ao que você espera da pessoa que tem esquizofrenia e de você próprio.
  3. Tenha senso de humor.
  4. Procure fazer o melhor para ajudar seu parente a se sentir bem e aproveitar a vida, preste a mesma atenção às suas necessidades e mantenha a esperança.

Informe-se

Ler sobre a doença e seu tratamento vai lhe permitir a tomar melhores decisões, a manejar melhor os conflitos, a trabalhar em conjunto com o paciente pela sua recuperação e a lidar melhor com obstáculos e retrocessos.

Reduza o estresse

O estresse pode fazer com que os sintomas da esquizofrenia se acentuem, portanto, é importante criar um ambiente que ofereça estrutura e suporte para o paciente. Evite pressioná-lo ou criticá-lo por eventuais falhas que ele cometa.

Estabeleça expectativas realistas

É preciso ser realista sobre os desafios e limitações que a esquizofrenia impõe. Ajude seu parente a estabelecer e alcançar objetivos que ele possa manejar nesse momento e tenha paciência com o ritmo lento da recuperação.

Empodere seu parente

Tenha cuidado para não ultrapassá-lo e fazer por ele as coisas que ele seja capaz de fazer. Procure ajuda-lo e ao mesmo tempo encorajá-lo a ter mais independência possível.


Cuide mais de você

Para conseguir ajudar melhor seu parente, você precisa primeiramente cuidar de suas próprias necessidades.

Assim como o paciente, você também precisa de ajuda, encorajamento e inteligência/compreensão para lidar com as situações. Quanto mais você sentir que tem um suporte e alguém que se importa com você, melhor você será capaz de ajudar seu ente querido.

Fazendo uma alusão ao que ocorre num avião em caso de despressurização da cabine, você precisa colocar a máscara de oxigênio primeiro em você para depois poder ajudar quem não tem condições de fazê-lo sozinho.


Junte-se a um grupo de auto-ajuda

Essa é uma das melhores formas de apoio na esquizofrenia. Grupos de ajuda formados por familiares que passam por situações muito semelhantes a sua podem ajuda-lo a se empoderar e a ter esperança de que a mudança e a recuperação são possíveis. Reduz também o sentimento de solidão, isolamento e impotência. É também uma fonte importante de aconselhamento, para compartilhar experiências e informações.

Tenha um tempo livre para você

Reserve um tempo do seu dia para fazer coisas que você gosta, seja relaxar contemplando uma paisagem ou a natureza, seja encontrando com amigos e se divertindo. É importante você criar um intervalo no cuidado com a pessoa adoecida para evitar o burnout.

Cuide de sua saúde

Mantenha os cuidados com sua saúde física, mantendo um bom sono, exercitando-se com regularidade, cuidando de sua alimentação, indo regularmente ao médico. Negligenciar sua saúde só faz aumentar o estresse.

Cultive amizades

É importante você manter outros relacionamentos. Não se sinta culpado por se preocupar com suas necessidades sociais! Você também precisa de ajuda e relacionamentos positivos podem ajuda-lo em momentos difíceis.

A importância de administrar o estresse

A esquizofrenia traz estresse para o paciente e para o ambiente familiar. Se você não tomar cuidado, ficará esgotado e, consequentemente, estressará ainda mais a pessoa que sofre com a doença. Manter o estresse sob controle é uma das coisas mais importantes que você pode fazer por seu familiar.

Pratique sua aceitação

Uma das piores coisas é você empacar no dilema “por que comigo?”. Ao invés de ficar pensando o tempo todo como a vida foi injusta contigo, aceite seus sentimentos, mesmos os negativos, e procure lidar com eles de forma a não deixa-los se tornar uma obsessão.

Procure ter prazer

Ter momentos de diversão e alegria não é supérfluo ou leviano, mas necessário. As pessoas não são felizes porque não tem problemas, mas porque aprendem a ter prazer na vida apesar de suas adversidades.

Reconheça seus próprios limites

Seja realista em relação ao nível de suporte e cuidado que você é capaz de prover. Você não pode dar conta de tudo e não vai conseguir fazer aquilo que se propõe se estiver emocionalmente esgotado.

Evite culpar-se

Você precisa compreender que, apesar de você ser capaz de fazer uma grande diferença, você não deve se culpar pela doença ou se sentir responsável pela recuperação de seu parente. Você pode ajuda-lo, mas não tem como fazer por ele!


Encorajando e apoiando o tratamento

A melhor forma de ajudar na recuperação de uma pessoa com esquizofrenia é leva-la a um tratamento e ajuda-la a se manter nele. O maior desafio inicial é convencer o paciente em surto de ir ao médico. Se ele se mostrar relutante, algumas estratégias podem ser úteis.

Ofereça opções

O seu parente pode ficar mais aberto a procurar um médico se ele perceber que isso pode ajuda-lo a controlar melhor a situação. Se ele estiver desconfiado de você, pense em outra pessoa que possa acompanha-lo na consulta.

Foque num sintoma particular

A pessoa com esquizofrenia pode ter temores de ser tachada como “louca”, de ser internada ou de tomar remédios fortes. Ela também pode não aceitar ir ao médico para tratar de um problema que ela não percebe como doença (p.ex. por causa de seus delírios e alucinações que ela acredita serem reais). Porém, ela pode aceitar uma ajuda para lidar com a insônia ou com a falta de energia, por exemplo. Tentativas de normalizar a experiência (todo mundo pode precisar um dia de um psiquiatra para lidar com o estresse a ansiedade) e de reduzir a ameaça e o estigma que esse tipo de atendimento normalmente tem para as pessoas podem ajudar.

Procure ajuda logo

A intervenção precoce faz uma grande diferença para a recuperação da esquizofrenia, portanto, não perca tempo. Seu parente precisa de ajuda para encontrar um tratamento, dificilmente ele fará isso sozinho.

Encoraja a independência

Ao invés de fazer tudo por ele, estimule o auto-cuidado e a auto-confiança. Ajude-o a reaprender ou desenvolver as habilidades que o ajudarão a ter mais independência.

Seja colaborativo

É importante que a pessoa com esquizofrenia tenha voz no seu tratamento e possa compartilhar com os terapeutas as suas decisões. Quando ela se sente respeitada e reconhecida, ela se motiva mais a seguir o tratamento e a trabalhar pela sua recuperação.


Monitorando a medicação

Uma vez iniciado o tratamento, o monitoramento dos remédios pode assegurar que o paciente permaneça no seu caminho da recuperação, além de poder tirar o melhor proveito do medicamento. Você pode ajudar de diferentes formas.

Leve a sério os efeitos colaterais

Muitos pacientes param o remédio por causa de efeitos colaterais, por isso procure conhecer bem os possíveis efeitos adversos dos medicamentos antipsicóticos e preste atenção às queixas que seu familiar faz em relação a eles. Leve ao conhecimento do médico qualquer efeito colateral percebido pelo paciente. O médico pode tomar decisões que reduzam o efeito desagradável, como reduzir dosagens, trocar o remédio ou prescrever outros para combater o efeito colateral.

Encoraja seu familiar a tomar a medicação regularmente

Mesmo com os efeitos colaterais sobre controle, muitos pacientes se recusam a tomar medicamentos ou os tomam de maneira irregular. Isso pode decorrer também da falta de consciência de estar doente e de não compreender a importância da medicação. Outro fator é que o paciente pode simplesmente se esquecer de tomar sua dose diariamente, pois a doença também pode trazer problemas de memória e atenção.

Calendários de medicação, caixas organizadoras de comprimidos, alarmes no celular podem ajudar aqueles pacientes mais esquecidos. Não caia no pensamento comum de que o paciente esteja esquecendo ou se recusando de tomar o remédio propositalmente. A própria doença causa isso, seja por problemas cognitivos ou pela falta de consciência, que é um sintoma da doença, chamado de anosognosia.

Diante de um problema como esse, procure não pressioná-lo, leve ao conhecimento do médico, pois existem antipsicóticos que podem ser administrados uma ou duas vezes por mês, sem a necessidade dos comprimidos orais. São medicamentos injetáveis de longa ação, dados por via intramuscular, muito eficazes no controle da doença.

Tenha cuidado para evitar interações medicamentosas

Antipsicóticos podem causar efeitos desagradáveis quando combinados com outros medicamentos de uso corriqueiro, vitaminas e fitoterápicos. O uso de substâncias como álcool e drogas ilícitas também é prejudicial. Portanto, comunique sempre ao médico sobre o uso de medicamentos e outras substâncias.

Monitore o progresso de seu familiar

Você pode ajudar o médico a acompanhar o progresso no tratamento relatando a ele sintomas importantes, como mudanças de comportamento, de humor e outros sintomas em resposta ao medicamento. Um diário é uma boa forma de registrar os detalhes do cotidiano, história dos medicamentos utilizados, efeitos colaterais apresentados que podem ficar esquecidos com o passar do tempo.


Preste atenção aos sinais de recaídas

A interrupção do medicamento é a causa mais frequente de recaída, por isso a importância de assegurar que o tratamento está sendo seguido à risca. Mesmo os pacientes estabilizados e em recuperação precisam da medicação para manter seus ganhos e afastar os sintomas.

Infelizmente, mesmo que o paciente tome seu medicamento regularmente, recaídas podem ocorrer por outros motivos. Mas se você aprender a reconhecer os sinais de alerta de uma recaída e tomar prontamente algumas medidas, você pode ajudar a prevenir uma crise aguda. Os sinais de alerta são parecidos com os sintomas e comportamentos da crise anterior.


Prepare –se para uma situação de crise

Apesar dos seus esforços para prevenir uma crise, pode haver um período em que os sintomas evoluem rapidamente e que você precise agir com rapidez para conter a crise.

Plano de emergência

Um bom plano de emergência deve incluir:

• Uma lista com os contatos de emergência, como telefone do médico, do terapeuta, da ambulância e do hospital.
• Familiares e amigos que se disponham a ajudar, como ficar com as crianças ou dependentes enquanto você toma as decisões necessárias.

É bom discutir com o paciente enquanto ele estiver estabilizado que em caso de emergência pode ser necessário acionar o plano de emergência, de forma que ele fique menos desconfiado ou aborrecido sem saber o que esperar numa situação como esta.


Os dez mandamentos em caso de uma crise

(fonte: Word Fellowship for Schizophrenia and Allied Disorders)

1) Lembre-se que você não pode discutir com a pessoa em crise
2) Lembre-se que a pessoa pode estar assustada com a própria perda de autocontrole
3) Não manifeste irritação ou raiva
4) Não grite
5) Não seja sarcástico
6) Reduza coisas que provoquem maior distração (desligue TV, rádios, luzes fluorescentes que piscam, etc)
7) Peça a qualquer visitante casual para ir embora, quanto menos gente, melhor
8) Evite o contato olho a olho de forma contínua
9) Evite tocar a pessoa
10) Sente-se e peça a pessoa para se sentar também

Texto baseado no artigo “Helping your loved one with schizophrenia” SZ Magazine, 2013, 11 (4): 15-17


Questionário ASRS de triagem para TDAH no adulto.

A escala ASRS (Adult ADHD Self Rating Scale) foi desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para o rastreio de pessoas portadoras de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Ela atende a uma necessidade de adaptação de escalas para a população adulta, já que a maioria das existentes é limitada a crianças.

Esta escala não é diagnóstica, mas elenca um grande número de sintomas que podem ser úteis ao médico na avaliação clínica e pode ajudar a aumentar a sensibilidade diagnóstica, uma vez que o TDAH é um diagnóstico comum na população e que em geral se associa a outros transtornos psiquiátricos, como Transtorno Bipolar, Depressão, Ansiedade, Psicose e Autismo. Muitas vezes a comorbidade com outros transtornos psiquiátricos dificulta o reconhecimento dos sintomas do TDAH e atrasam o tratamento específico, contribuindo para uma baixa taxa de resposta e perda de qualidade de vida quando somente um dos transtornos é tratado.

Há mais de um ano utilizo a escala ASRS na avaliação de meus pacientes e, por sua utilidade, decidi incorporá-la ao meu website, para que todos os pacientes possam respondê-la antes da consulta, da mesma forma como já ocorre com as Escalas de Depressão e Ansiedade de Beck.

Esta escala pode servir também como avaliação da gravidade dos sintomas num corte transversal, assim como as de Depressão e Ansiedade, demonstrando objetivamente a resposta ao tratamento.

→ Para responder a escala, CLIQUE AQUI.


Lares que curam.

Um aspecto central na recuperação de alguém que sofre de um transtorno mental é o seu lar e as pessoas com quem convive diretamente. Na maior parte das vezes estamos falando de pais, irmãos, cônjuges e filhos.

Quando uma pessoa adoece de um transtorno mental é comum que o seu lar também sofra mudanças. Muitas vezes essas mudanças já vinham ocorrendo antes até do adoecimento. Como uma das características fundamentais do adoecimento mental é a vulnerabilidade da pessoa ao estresse e aos eventos comuns da vida, é frequente que conflitos familiares apareçam como fatores significativos que podem agravar o quadro mental do paciente.

Não se trata de culpar a família pela doença, afinal existem razões sociais, psicológicas e biológicas que rondam o adoecimento e que nem sempre são relacionadas à dinâmica familiar. Porém, devido à maior sensibilidade da pessoa aos conflitos, às vezes pré-existentes, eles são capazes de elevar o estresse e a demanda emocional da pessoa que nem sempre consegue contorná-los.

Pessoas que se recuperaram de um transtorno mental reforçam a importância do lar em sua recuperação. A moradia do paciente é uma preocupação também dos serviços de saúde mental, principalmente depois que pesquisas demonstraram que pacientes egressos de hospitais voltavam a ser internados quando moravam com familiares com comportamentos como cobranças excessivas, críticas, expectativas incompatíveis, superproteção ou superenvolvimento afetivo.

Na maior parte das vezes esses comportamentos são automáticos e intuitivos, o familiar age com a intenção de ajudar o paciente a reagir à doença, sem muitas vezes notar o quanto prejudicial possa ser a sua atitude. Outras vezes o familiar pode estar emocionalmente esgotado e também incapaz de lidar com as mudanças que um transtorno mental traz para a convivência. E em algumas situações o familiar pode também estar doente e necessitar de tratamento.

Em todos os casos um ponto em comum é a falta de informação sobre as doenças mentais, a dificuldade de aceitar a doença como se aceita qualquer outra, como a hipertensão ou a diabetes, de compreender que os sintomas não estão sob controle do paciente e que não depende somente dele a melhora.

A dificuldade do familiar de compreender e aceitar o transtorno mental de seu ente querido também têm relação com o conceito que ele próprio tem sobre a doença mental, algumas vezes cercado pelo estigma e o preconceito que em nós é incutido pela sociedade.

Outro pensamento comum, principalmente quando o paciente inicia o tratamento, é que os remédios psiquiátricos irão curar a doença e que pouco depende dos demais atores psicossociais. É crescente a falsa ideia de que medicamentos curam os transtornos mentais, como se não dependesse também dos fatores psicológicos, sociais e familiares aos quais o paciente está constantemente exposto. Se o paciente não melhora a contento com o tratamento médico, ou a culpa é do remédio, que está errado, ou do paciente, “que também não se ajuda”.

O problema é muito mais complexo do que isso. Medicamentos têm eficácia em torno de 60% e esta eficácia é pontual, pois os estudos avaliam os pacientes ao longo de um período determinado, não existe um seguimento por anos de tratamento.

Ocorre que um paciente pode melhorar inicialmente com a medicação, mas parar de responder depois de algum tempo, porque ele não está feliz com a sua vida e com o seus relacionamentos. Ou mesmo não responder ao medicamento, simplesmente por que os estressores são tão prevalentes que a medicação nunca é suficiente.

Infelizmente, com o avanço da psicofarmacologia, inegavelmente um progresso na saúde pública, difundiu-se amplamente a ideia de que medicamentos são soluções definitivas para todo sofrimento mental. Há muito mais desestímulo à psicoterapia, terapias de família, terapias ocupacionais, dentre outros tratamentos psicossociais, do que há 20 ou 30 anos. Os próprios pacientes se mostram resistentes à ideia de fazer qualquer outro tratamento que não seja tomar os remédios.

Recuperar-se de um transtorno mental é algo complexo e que exige investimento em diferentes frentes, da mesma forma que sua causa é multifatorial. Envolver no tratamento todos os aspectos da vida da pessoa é, portanto, necessário para quem quer verdadeiramente se recuperar. Trabalho, família, moradia, aspectos psicológicos, ocupar-se com atividades prazerosas e que deem sentido à sua vida é tão ou mais importante do que o remédio. A busca pelo bem-estar deve ser do cotidiano da pessoa que sofre de um transtorno mental e daquelas que convivem mais intimamente com ela.

Por isso selecionamos algumas dicas importantes para aqueles que convivem com alguém que esteja em sofrimento:

1) Procure se informar sobre a doença mental

Existem livros de psicoeducação e auto-ajuda que podem ser úteis, sites na internet sobre os diversos transtornos psiquiátricos, fóruns de pacientes que podem servir de troca de experiência e informações.

Outra dica importante é solicitar um horário com o médico que assiste o paciente para obter informações sobre a doença e dicas de como é possível ajudar em cada caso.

Procure sempre tirar todas as suas dúvidas. Quanto melhor informado estiver, mais capacitado estará para ajudar seu ente querido.

Busque também ter uma visão menos fatalista e mais esperançosa em relação ao futuro. Não se deixe levar por estigmas e estereótipos. Por isso assista a depoimentos de outras pessoas que se recuperaram de transtornos mentais.

O que você pensa sobre doenças mentais influencia demais sua atitude com o paciente, portanto, é necessário olhar para seus próprios preconceitos. Se você está ainda numa fase de negação ou revolta, precisa buscar ajuda para passar desta fase e seguir adiante.

2) Tenha mais disponibilidade para ouvir

O paciente precisa ser ouvido e acolhido em seu sofrimento. Normalmente transtornos mentais trazem um sentimento de fracasso e frustração, é comum que pacientes se culpem por terem adoecido e se menosprezem, acreditando que não possuem valores ou crédito com outras pessoas. Naturalmente buscam o isolamento. Portanto, uma atitude acolhedora e a disponibilidade para ouvi-lo pode ajudar muito.

Procure ouvi-lo sem julgá-lo ou emitir sua opinião. Existe uma tendência natural de querermos emitir nossa opinião, contra-argumentar, tentar convencer o outro do nosso ponto de vista. O paciente precisa de uma escuta reflexiva, interessada em compreender suas vivencias, por mais estranhas que inicialmente possam parecer. É preciso entrar aos poucos no mundo dele, entender seu ponto de vista e ter empatia com o seu sofrimento: como você se sentiria no lugar dele?

Essa é uma mudança de postura que lhe permitirá olhar para o sofrimento de uma outra perspectiva, de onde você será mais capaz de ajudá-lo.

3) Seja mais tolerante e preserve sempre o seu lar

O paciente que adoeceu é vulnerável ao estresse, a barulhos, a tumultos, a muito estímulo. Cabe a cada familiar fazer inicialmente um diagnóstico do que mais incomoda o paciente e procurar preservar o ambiente da melhor forma possível. Isso será benéfico inclusive para a resposta ao tratamento médico. Pacientes que contam com um ambiente mais favorável irão responder a doses menores de medicação e terão maiores chances de recuperação.

Evite os comportamentos como críticas, cobranças, discussões, abordar temas polêmicos ou discutir diferenças antigas. Um comportamento demasiadamente afetivo, como preocupações exageradas, necessidade de estar constantemente em contato ou controlando os passos do paciente, também pode ser prejudicial. A forma de perceber isso é se sua atitude desperta algum tipo de reação de reprovação ou repulsa. Caso isso ocorra, procure respeitar o limite que o paciente estabelece e solicite o auxílio de outra pessoa da família com quem ele tenha uma melhor relação, do seu psicoterapeuta ou do médico.

4) Procure estabelecer uma relação de parceria

O que se almeja e o que consideramos necessário para que o familiar seja um facilitador no processo de recuperação é o estabelecimento de uma parceria em que sejam respeitadas as crenças, os desejos e os projetos do paciente como ele sendo o maior interessado e responsável por sua recuperação.

Mesmo que isso possa parecer num primeiro momento improvável, seja devido à doença ou a questões pessoais, esta atitude deveria ser default, ou seja, padrão para todos os casos, pois é através desta parceria entre familiar e paciente que a recuperação pessoal têm mais chances de acontecer.

Nessa parceria o familiar não impõe seu pensamento como uma verdade absoluta ou algo que precisa ser seguido, mas como uma opinião que possa servir de reflexão ao paciente para que ele possa considerar outras alternativas e experimentar por ele mesmo sua utilidade.

Portanto, numa parceria a forma como você emite sua opinião é muito importante. Humildemente você pode considerar emitir uma opinião contrária a dele, concordando inicialmente que pessoas podem ter opiniões divergentes, sem a necessidade de rompimento ou desavença, e que sua opinião é apenas uma opinião, que você não é o senhor da verdade e que pode estar errado, mas que gostaria de discordar em alguns pontos como forma de ajudá-lo a considerar outras alternativas.

Mesmo que isso seja complicado e signifique num primeiro momento fazer concessões que possam ser difíceis, o que se almeja é estabelecer um canal livre para o diálogo e um relacionamento positivo em que a troca seja possível e que sua opinião não seja rechaçada meramente por ser a sua opinião.

Para os pacientes a emoção que permeia um relacionamento, como, p.ex., na forma como as coisas são faladas, é muitas vezes mais forte do que o seu conteúdo, impossibilitando que ele ouça o que o familiar tem a dizer, por melhor que seja a sua intenção.

Outro ponto fundamental nesta comunicação é que se conheça os assuntos que o paciente julga serem importantes na sua vida e os enfatize em relação àqueles que o familiar prioriza. O foco não deve ser naquilo que o paciente não seja capaz de fazer, mas naquilo que ele tenha condições de realizar hoje.

Trabalhar com expectativas menos complexas e um dia de cada vez, ao invés de projetar muito para o futuro, pode ajudar na evolução gradativa para tarefas ou atividades mais trabalhosas. Este processo de transição deve ser liderado pelo paciente, sendo importante que ele se sinta agente ativo, que ele formule seus próximos passos e objetivos de curto e longo prazo. Ele pode contar com ajuda terapêutica e familiar, mas sem que os outros se coloquem à frente de seus interesses ou de suas ações.

Esta prática da parceria precisa ser um exercício constante e o familiar normalmente encontra muita dificuldade, até por ser parte emocionalmente envolvida. A sugestão é buscar ajuda através do psiquiatra que assiste o paciente, de um psicoterapeuta ou terapeuta de família ou de grupos de auto-ajuda, compostos por familiares e pacientes que partilham de experiências semelhantes.

A experiência da Suécia

Na Suécia existe uma iniciativa que tem prosperado e ajudado muitos pacientes a se recuperarem desde 1987.

Famílias voluntárias recebem pessoas com transtornos mentais diversos para morarem com elas por 1 ou 2 anos. Normalmente essas pessoas não conseguem viver em suas casas, têm recaídas ou precisam aumentar seus medicamentos para conseguirem um nível razoável de estabilidade emocional. Enquanto isso, a família original participa de grupos terapêuticos e o paciente de uma psicoterapia, além de manter seu tratamento médico.

Depois de serem acolhidos pelas famílias voluntárias, os pacientes conseguem melhorar dos sintomas, atingir um nível de amadurecimento, empoderando-se e retomando suas atividades e, até mesmo, reduzir ou suspender os medicamentos. Embora este não seja o objetivo maior dessa iniciativa, o fato de pacientes reduzirem ou suspenderem os remédios demonstra o quanto o lar é importante na recuperação.

Após o período estipulado, pacientes retornam às suas famílias ou seguem os passos que acreditam ser os melhores para sua vida.

Assista ao documentário Healing Home, de Daniel Meckler, e conheça a experiência do Family Care Foundation, da Suécia, e compreenda melhor como a transformação do lar para quem sofre de um transtorno mental é crucial para a recuperação.

https://www.youtube.com/watch?v=JntGtwLRhdA