Estudo aponta associação entre TPM e depressão pós-parto.

Tristeza, choro fácil, insônia, irritabilidade. Algumas mulheres podem reconhecer nesses comportamentos alguns dos sintomas que apresentam durante o período pré-menstrual. Mas recente dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Mulher pela psicóloga Elza Alves de Morais mostra que esta associação vai além da TPM: mulheres que apresentam estes sintomas nesse período têm maior chance de desenvolver depressão pós-parto.

O estudo foi realizado em um período de dez meses, com 94 mulheres nas primeiras semanas de pós-parto acompanhadas na maternidade do Hospital das Clínicas da UFMG. Os resultados revelam que as mulheres que durante a TPM apresentavam ao menos três dos sintomas classificados como emocionais – a exemplo dos descritos acima – têm quatro vezes mais chances de desenvolver depressão pós-parto em relação às mulheres que não apresentam esse tipo de comportamento. Os dados foram obtidos por meio da comparação entre dois questionários: um levantamento dos sintomas e sinais do período pré-menstrual que antecederam a gravidez e a Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo (EPDS, na sigla em inglês), que contém dez questões referentes aos sintomas depressivos observados no período pós-parto.

A associação entre os dois momentos existe devido a várias semelhanças entre os sintomas da tensão pré-menstrual e da depressão pós-parto. “São períodos em que a ação hormonal é semelhante, com redução nos níveis de progesterona e dos hormônios da tireóide, por exemplo”, explica o professor Antônio Carlos Vieira Cabral, obstetra e orientador do estudo. Mais recentemente, verificou-se também similaridade na ação da serotonina nestes dois momentos. Apesar de desempenhar diversas funções no organismo, este neurotransmissor é mais conhecido exatamente por sua associação com o humor. “Existe uma queda de serotonina tanto na TPM quanto no pós-parto, e algumas mulheres são mais afetadas por esse declínio do que outras”, afirma o professor.

Para Antônio Cabral, o número de mulheres atingidas pelo problema torna o estudo extremamente relevante. “A depressão pós-parto atinge cerca de 30% a 40% das novas mães, enquanto de 20% a 25% das mulheres são acometidas por algum tipo de tristeza durante a TPM”, afirma. “E é um problema que pode ser reduzido com um controle bem simples”.

Atenção especial

De acordo com o professor, o resultado do estudo mostra a necessidade de começar já no pré-natal um acompanhamento diferenciado para as mulheres que apresentarem esse tipo de sintomas. “As gestantes com risco identificado para depressão pós-parto podem receber acompanhamento psicológico no período, além dos cuidados normais”, afirma. O mesmo deve ocorrer no pós-parto imediato, com uma checagem que possa identificar precocemente sintomas da depressão pós-parto. “Este acompanhamento permite que a resposta ao problema seja mais rápida, antes que o problema se agrave”, comenta o professor.

Este protocolo de atendimento, com a entrevista prévia do histórico de sintomas pré-menstruais já está em utilização no Ambulatório Jenny Faria do Hospital das Clínicas da UFMG, onde é realizado o atendimento pré-natal. “O questionário é aplicado na primeira vez que a mulher é atendida, permitindo que ela receba o acompanhamento multidisciplinar desde o início”, explica Antônio Cabral.

Depressão pós-parto

A depressão pós-parto é uma depressão moderada ou grave, desencadeada poucas semanas após o parto. Além dos sintomas comuns à depressão – como tristeza exacerbada, reclusão, falta de energia – a mãe pode apresentar sentimentos negativos em relação ao bebê e incapacidade de cuidar direito da criança. E a falta de compreensão pode contribuir para a piora da situação. “As pessoas muitas vezes não entendem como a mãe pode deixar o bebê de lado, o que aumenta o sentimento de culpa”, afirma o professor Antônio Cabral.

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Fonte: Portal UFMG

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