Assista à Live Esquizofrenia, a Evolução do Conhecimento.
Dr Leonardo Palmeira, psiquiatra, aborda a Esquizofrenia Ontem e Hoje, como a compreensão sobre a doença evoluiu nos últimos anos e na história da psiquiatria.
Mariah Aragão da seu depoimento pessoal e como vem se recuperando e superando os obstáculos.
Luiza Lins aborda a esquizofrenia sob o olhar da família, a importância da informação e do combate ao preconceito.
O Dia da Consciência sobre a Esquizofrenia é comemorado em vários países do mundo e tem como objetivo marcar uma semana de debate sobre o transtorno, com informação, trocas de experiências e vivências e, sobretudo, desmistificando a esquizofrenia e combatendo o preconceito na sociedade.
No Brasil este é o terceiro ano que marcamos essa data, mas, pela pandemia de COVID-19, os eventos serão virtuais.
https://youtu.be/5fqi6VZc5uU
Lives pela Conscientização sobre a Esquizofrenia.
Dia 24 de maio comemora-se mundialmente o Dia da Consciência sobre a Esquizofrenia, que abre uma semana de esclarecimentos sobre a doença e de combate ao estigma na sociedade. A data já é marcada por atividades de conscientização em vários países, como EUA, Inglaterra e Austrália, dentre outros.
No Brasil é o terceiro ano que a data é comemorada pelas associações, familiares e pacientes, serviços e profissionais de saúde envolvidos no tratamento da esquizofrenia. Em 2019, além de eventos públicos, o Cristo Redentor e outros prédios públicos em São Paulo e Curitiba foram iluminados com as cores que simbolizam esse movimento.
Este ano, em função da pandemia da COVID-19 e do isolamento social, os centros organizaram lives pelo YouTube. Veja a programação:
Rio de Janeiro
Live 24/05/20 - a partir de 17h - no link: https://youtu.be/5fqi6VZc5uU
Live 30/05/20 - a partir de 17h - no link: www.youtube.com/smentaledu
As pessoas com esquizofrenia correm algum risco maior pela COVID-19?
Apesar de pessoas com esquizofrenia terem com frequência um menor interesse social, é reconhecido o papel que a vida em sociedade tem na recuperação dessas pessoas. Mesmo que mais escassos, os contatos sociais de pessoas com esquizofrenia possuem uma importância crucial em suas vidas. Contatos casuais em farmácias, mercearias, cafés e restaurantes contribuem para a integração da pessoa em sua comunidade e estão associados a melhorias na sua recuperação. Da mesma forma, contato com os serviços de saúde, centros comunitários e grupos de suporte são chaves. O isolamento social imposto pela quarentena da COVID-19 interrompe todas essas atividades.
Estudos mostram também que pessoas com esquizofrenia podem reagir pior a situações de desastre do que a população em geral, com menor capacidade de enfrentamento emocional, menor auto-estima e reduzida rede de apoio social. Essa dificuldade pode resultar em aumento do estresse posteriormente, com níveis mais elevados de ansiedade e depressão, contribuindo para um maior isolamento. Por outro lado, o isolamento social pode aumentar o risco de suicídio nessa população.
Sintomas como delírios, alucinações, comportamento desorganizado e prejuízos cognitivos, característicos da esquizofrenia, podem colocar essas pessoas em risco mais elevado para contrair a COVID-19. Pacientes podem ter maior dificuldade para compreender e aderir às medidas de proteção, inclusive à quarentena. Pessoas que em função de sua condição de saúde apresentam problemas de moradia, como p.ex. pessoas que vivem nas ruas, possuem um risco ainda maior.
Sabe-se das altas taxas de comorbidades em pessoas com esquizofrenia, particularmente tabagismo, doenças cardiovasculares, diabetes, doenças respiratórias crônicas, obesidade, dentre outras, que podem agravar o quadro clínico da COVID-19, aumentando o risco de internações. Ademais são conhecidas as dificuldades que essa população tem em conseguir atendimento em hospitais gerais, seja pela maior dificuldade em expressar suas queixas físicas, seja pelo preconceito de só enxergarem sua problemática psiquiátrica. Pessoas com esquizofrenia são mais propensas a sofrer subdiagnóstico de doenças físicas, com menor probabilidade de receber triagem e intervenções definitivas, e geralmente recebem cuidados de menor qualidade. Essa realidade é preocupante e pode aumentar a mortalidade dessas pessoas pela COVID-19.
Além disso, a própria infecção por COVID-19 pode agravar os sintomas em pessoas com esquizofrenia, pois os coronavírus podem estar associados a sintomas psicóticos por meio de um mecanismo relacionado à imunidade. Além disso, os sintomas associados aos coronavírus e seu tratamento têm sido associados a um maior sofrimento emocional, como a psicose secundária a esteróides e outras intervenções.
Outro aspecto que acende um alerta é a comorbidade com dependência química. Maiores taxas de recaídas do uso de drogas vem sendo reportadas ao longo da pandemia da COVID-19. Aliado à indisponibilidade de serviços assistenciais em função da quarentena, essa população fica mais vulnerável a crises e hospitalizações. O uso de drogas pode afetar também a tomada de decisão e gerar comportamentos de risco para infecção pelo coronavirus.
Existem evidências de que grupos de suporte de pares para pessoas em quarentena podem ajudar, fazendo com que elas se sintam conectadas a outras pessoas que passam por situações semelhantes, transformando-se em uma experiência de empoderamento e provendo um suporte que neste momento não é possível obter de outra maneira.
Uma grande preocupação na quarentena tem sido a adesão ao tratamento psiquiátrico. Sabe-se da dificuldade de adesão ao tratamento médico na esquizofrenia e a importância que os serviços e os profissionais de saúde têm em garantir o acesso e a tomada regular dos remédios. A indisponibilidade temporária dos serviços em função da quarentena representa um risco maior para adesão dos tratamentos. O uso da telemedicina pode ajudar a suprir a falta dos serviços, embora a sua disponibilidade ainda seja muito reduzida e represente novas oportunidades e desafios para o campo da saúde mental.
O que pode ser feito?
1) Veja se seu serviço de saúde ou médico/psicoterapeuta oferecem a telemedicina como forma de manter o tratamento no período de quarentena.
2) Certifique-se da qualidade da informação disponível sobre a epidemia, se ela é compreensível a todos, se ela não é geradora de maior ansiedade ou estresse. Modere a quantidade de informação de acordo com a necessidade e capacidade de absorção.
3) Converse sobre as medidas de proteção (higiene, máscaras, distanciamento social) e certifique-se de que elas foram compreendidas adequadamente.
4) Monitore se as medidas de proteção estão sendo cumpridas adequadamente.
5) Busque manter sua rede de apoio através de encontros virtuais ou grupos de pares online.
6) Procure manter uma rotina no seu dia-a-dia, incluindo atividades físicas, lúdicas, leituras, relaxamento e meditação.
7) Mantenha acesso aos medicamentos de uso contínuo e tome-os regularmente, inclusive os medicamentos para as doenças físicas.
8) Não utilize drogas e busque apoio médico em casos de recaída.
9) Ao procurar um atendimento de emergência por questões de saúde física, vá acompanhado de algum familiar e certifique-se de que suas queixas estão sendo compreendidas pela equipe de saúde.
10) Siga as recomendações dos órgãos de saúde e, em caso de dúvida, contacte seu profissional de saúde.
O que a Gripe Espanhola pode ensinar ao Brasil sobre a COVID-19?
A politização da epidemia e um sistema de saúde sucateado ao longo dos tempos que se mostra insuficiente e desarticulado não é algo novo e que aconteça somente na epidemia atual pela COVID-19. Um estudo publicado pela Dra Adriana da Costa Goulart em 2005 na Revista História, Ciência e Saúde (Goulart AC. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro. História, Ciências, Saúde. 12(1): 101-42, 2005) mostra que a epidemia atual guarda muitas semelhanças com a Gripe Espanhola no Brasil, ocorrida há mais de 100 anos.
O desgaste político das autoridades governamentais pela subestimação da gravidade da pandemia, a insistência na visão de que se tratava de um problema menor e que só acometia pessoas idosas, as resistências em realizar a quarentena, a morosidade nas decisões, a politização de tratamentos, a mobilização da imprensa e da opinião pública contra o governo são alguns dos ingredientes que estiveram presentes em ambas as epidemias.
Apesar desse nome, a Gripe Espanhola não se originou na Espanha. Era a Primeira Guerra Mundial e a Espanha foi o país mais transparente sobre a epidemia, enquanto outros, como a Inglaterra, tentavam escondê-la. Sua posição neutra na guerra e seus acenos aos alemães podem ter tido influência política para que recebesse a alcunha.
Apesar da epidemia já desgraçar a Europa, “as notícias sobre o mal reinante eram ignoradas ou tratadas com descaso e em tom pilhérico, até mesmo em tom de pseudocientificidade, ilustrando um estranho sentimento de imunidade face à doença” pelas autoridades brasileiras. Imperou-se uma visão de que a doença era corriqueira, que só afetava com gravidade pessoas de idade mais avançada", uma versão da contemporânea ‘gripezinha’.
A imprensa começou a dar maior destaque à epidemia quando o surto matou 156 pessoas de uma missão médica brasileira a bordo de um navio a caminho de Dakar. Sem condições de realizar a desinfecção de todos os navios que atracassem no porto e com a dificuldade política e econômica de determinar a quarentena daqueles que chegavam, autoridades do governo foram acusadas de favorecer a entrada da epidemia no país.
“Nenhuma estratégia de combate à moléstia foi previamente montada para socorrer a população. Muitas foram as deficiências das estruturas sanitárias e de saúde reveladas durante o período pandêmico, a começar pela administração sanitária, sobre a qual
muito se falou que a epidemia demonstrou a falência. Entretanto, essa situação já era há muito de conhecimento público. A falta de condições das instituições de saúde para socorrer a população foi o primeiro dos muitos problemas explicitados durante a epidemia”.
Segundo depoimento de um cidadão na época, “a epidemia só fez explodir uma raiva acumulada durante anos contra as instituições de saúde e o desmazelo que o governo
tinha para com a saúde de um modo geral. A espanhola veio, com certeza, tornar imperativo a melhoria da estrutura de saúde da cidade. (...) então houve muita confusão nas ruas, pois todos queríamos uma explicação para a inércia da saúde e do governo” (Nelson Antonio Freire em entrevista à Goulart).
Na época a Diretoria Geral de Saúde Pública, responsável pelas medidas de combate à epidemia, era subordinada ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores e possuía claramente pouca autonomia.
Rapidamente a cidade do Rio de Janeiro caminhou para um colapso. Faltavam alimentos, remédios, médicos e leitos em hospitais. As ruas se transformaram em um mar de cadáveres, pois faltavam coveiros e caixões. Segundo uma testemunha ocular da epidemia, “o pior de tudo é que estava morrendo gente aos borbotões, e o governo dizia nas ruas e nas folhas, que a gripe era benigna. Certo dia, as folhas noticiaram mais de quinhentos óbitos, e mesmo assim a gripe era benigna, benigna, benigna. (...) As mortes eram tantas que não se dava conta do sepultamento dos corpos”.
“Era necessário emoldurar a doença para torná-la compreensível e emocionalmente mais tolerável. Entretanto, nem a população, nem os serviços sanitários foram capazes de lidar com a violência imposta pela espanhola, que acabou instaurando um quadro de desordem pública. Isso porque não se tinha uma resposta positiva para dar à nova peste que recaía sobre a cidade. Tal fato possibilitou o surgimento de um quadro de tensões sociais, criando uma atmosfera de medo, incompreensão e colapso social que se instaurou na capital federal”.
O caos social e o quadro de insatisfação com a morosidade nas medidas profiláticas e com as limitações das instituições de saúde, mostrando-se despreparadas e sucateadas por escassez de verbas e investimentos, fez com que a população se voltasse contra o presidente Wenceslau Braz, o que também foi explorado politicamente por seus opositores e pela imprensa.
O reconhecimento oficial de uma epidemia só se concretiza após um grande acúmulo de doentes e mortos, segundo Rosemberg (1992) e Evans (1992), forçando uma reação coletiva. É antes de tudo um evento social, que mobiliza toda a sociedade para tentar construir sua própria resposta.
Para Rosemberg, uma doença só passa a existir quando há concordância de sua existência pela percepção, classificação e pelas respostas que lhe são dadas e quando se constitui o diagnóstico e, consequentemente, o tratamento. Uma vez cristalizada como entidade específica, ela passa a servir como fator estruturante de situações sociais. O processo de emolduramento traz em si um componente pelo qual as sociedades tentam fazer conexões entre a ordem biológica e social, em que a doença passa a ter também uma natureza social e cultural.
Neste sentido é também uma construção intelectual que, uma vez realizada, tem sua própria história e vitalidade. As negociações em torno da definição e das respostas à doença são sempre complexas, dependendo ao mesmo tempo de elementos cognitivos e disciplinares, de mecanismos institucionais e políticos, bem como do ajustamento ou não dos indivíduos aos modelos estabelecidos (Ranger e Slack, 1992. In: Goulart AC, 2005).
“Ela é construída por meio de fatores intelectuais, atitudes profissionais e políticas públicas, e também do conhecimento popular, tudo isso passando por complexas negociações, mediante as quais a sociedade concorda ou não em aceitar sua legitimação como um mal determinado”.
O que se vê é uma complexa rede de negociações sociais que são frequentemente conflituosas. A população passa a fazer sua própria leitura do conhecimento médico, fortalecendo práticas que nem sempre estão baseadas em evidências científicas, como receitas caseiras, medicina popular, que passam a ser encaradas como uma alternativa diante da falta ou ineficiência dos medicamentos indicados pelos médicos. A dificuldade de atender à demanda imposta pela epidemia também resulta em perda de capital político e prestígio social de vários segmentos da classe médica.
Diante do desconhecimento sobre a doença e de uma ciência ainda em formação, surge uma terapêutica extremamente heterogênea, que transmite incertezas e inseguranças. Durante a epidemia de Gripe Espanhola surgiram vários medicamentos que eram até então pouco utilizados ou desconhecidos da população e que ganharam atribuições curativas. Análogo ao que ocorre hoje com vários fármacos que passaram a ganhar conotação política, como é o caso da cloroquina e de vermífugos. O tratamento médico deixa de ser exclusividade dos médicos e torna-se parte da política e da cultura da pandemia.
Na tentativa de se salvar, a opinião pública passa a exigir a revitalização de medidas como quarentenas e isolamentos e os médicos, sem saber ao certo que tipo de estratégias utilizar, endossam o isolamento como principal medida de prevenção, já que de fato não se conhece nenhuma cura eficaz ou definitva.
O presidente Wenceslau Brás e o diretor da Saúde Pública, Carlos Seidl, foram acusados de incompetência administrativa e de não estabelecer estratégias para defender a população da epidemia. A insistência em defender a benignidade da gripe e o declínio da epidemia diante da realidade presenciada nas ruas foi encarada pela população como uma demonstração de passividade e rendeu as críticas ao governo.
Em determinado momento da epidemia, o diretor de Saúde Pública pedia a censura dos jornais, culpando-os e alegando que eles incutiam o pânico na sociedade e ameaçavam a ordem pública. A Gripe Espanhola passou a ser conhecida na capital como ‘Mal de Seidl’.
Observou-se na época diversos movimentos de cunho nacionalista que colocavam em xeque o modelo republicano ao exercício da governabilidade plena do Estado. Uma questão amplamente debatida foi que a sobreposição do Executivo em relação ao Legislativo acarretava várias conseqüências, entre as quais a inflexão das atividades
institucionais e, principalmente, das rotinas dos ministérios, que passavam a ser ocupados, não por “conselheiros do presidente”, mas por simples “depositários da confiança do presidente” (Lessa,1995. In: Goulart AC, 2005).
Um novo modelo de burocrata passou a ser exigido pela imprensa e com o apoio da população e de grupos políticos, alguém que incorporasse a saúde pública à agenda política do país. A epidemia acabou contribuindo para que figuras como Oswaldo Cruz (falecido em 1917) e Carlos Chagas (considerado seu herdeiro científico) fossem mitificadas.
Chagas tomou posse do comando dos socorros públicos quando a pandemia já entrava no seu declínio. Mesmo assim foi considerado pela população a única pessoa capaz de salvar a nação. Chagas já era um cientista respeitado e de grande renome por ser o braço direito de Oswaldo Cruz e pela descoberta do agente da Doença de Chagas, mas a Gripe Espanhola possibilitou que ele alcançasse posições de poder político e de conhecimento médico antes não alcançadas, encarnando um maior controle sociopolítico e fortalecendo sua associação a Oswaldo Cruz.
Ele criou um serviço especial de postos de atendimento à população em vinte e sete pontos diferentes da cidade. Ao mesmo tempo criou cinco hospitais emergenciais e publicou cartazes e panfletos de alerta aos habitantes e buscando apoio de profissionais da sua área, conseguindo ajuda da maioria dos médicos cariocas e de vários membros da Academia Nacional de Medicina.
“O gênio, de acordo com Norbert Elias, surge de uma construção social, sendo fruto das pressões sociais exercidas sobre ele e da interdependência com outros atores sociais de sua época. Esse tipo de ator se encontra frequentemente envolvido em um processo social não planejado, sendo muitas vezes escolhido para atender a uma demanda social (Elias, 1994b. In: Goulart AC, 2005). Carlos Chagas acabou por atender a uma demanda subjetiva e politicamente necessária do ponto de vista da população. Tal demanda ganhou crédito, devido à postura desse sanitarista e da sua transformação em um gênio salvador da nação e do povo ao longo do evento epidêmico”.
A ocorrência de novos surtos de gripe em 1919 levou Carlos Chagas, então nomeado pelo Presidente Epitácio Pessoa como o novo diretor de Saúde Pública, a restabelecer a quarentena e isolamento para navios e a notificação compulsória de casos da doença.
A Gripe Espanhola matou só no Rio de Janeiro, capital da República na época, 15 mil pessoas, 930 em um único dia no pico da doença, com aumento na taxa de mortalidade de quase 2.000%. 66% da população carioca precisou de internação. Em 1918 a população da cidade do Rio de Janeiro era de 910.710 habitantes.
As semelhanças entre as epidemias e os argumentos utilizados pela Dra Adriana da Costa Goulart em seu artigo servem à história, mas também a um modelo que nos permite compreender os efeitos que as epidemia tem sobre a sociedade e os governos.
Fonte: Goulart AC. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro. História, Ciências, Saúde. 12(1): 101-42, 2005.
Covid-19: Terceiro Comunicado.
Prezados pacientes,
Espero que estejam bem, assim como seus familiares! Vivemos um período difícil, com uma quarentena que se estende para mais de 30 dias. Algumas pessoas estão em casa há mais de 45 dias! É muito difícil passar por uma mudança de rotina tão drástica e ao mesmo tempo um distanciamento social das pessoas que amamos. Tenho certeza que isso vem fazendo muita falta a todos vocês, bem como a mim. No decorrer da semana pretendo escrever um pouco mais sobre isso, bem como a realidade que venho observando em minha clínica e que dicas posso passar para procurarmos aliviar essa angústia que muitos podem estar sentindo.
Por ora gostaria de lhes passar algumas mudanças no funcionamento do consultório a partir de hoje, como já venho fazendo periodicamente, já que a situação exige que a cada momento possamos nos adequar às mudanças.
Ontem saiu na imprensa que tanto o prefeito como o governador do Rio de Janeiro pretendem prorrogar a quarentena até o final de maio, então devemos respeitar a orientação de permanecer em casa e só sair em caso de extrema necessidade.
Em função disso, permanecerei atendendo prioritariamente através de videoconferência, mas mantendo horários específicos para atendimentos presenciais, uma vez que alguns pacientes necessitam comparecer ao consultório. Como vocês já foram informados pelo Segundo Comunicado, a Sra. Marismar está em casa, trabalhando remotamente, cuidando da minha agenda pelo WhatsApp.
No mês de maio, a Sra Marismar estará de férias, que já estavam marcadas desde o início do ano. Eu irei pessoalmente cuidar de minha agenda, marcando as consultas, também através do telefone 97226-3801. Peço que continuem utilizando o WhatsApp para os agendamentos. Procurarei atende-los neste celular no horário comercial, de 2a a 6a feira.
Ao agendarem a consulta, peço que enviem 3 horários da sua preferência, conforme a tabela a seguir, de acordo com sua modalidade de atendimento, presencial ou por vídeo. Lembre-se de incluir na sua solicitação seu nome completo e e-mail.
Presencial | Por vídeo | |
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Segunda-feira (Barra) | 14:00 15:15 16:30 17:45 19:00 | 14:45 16:00 17:15 18:30 19:45 |
Terça-feira (Barra) | 14:00 15:15 16:30 17:45 19:00 | 14:45 16:00 17:15 18:30 19:45 |
Quinta-feira (Ipanema) | 14:00 15:15 16:30 17:45 19:00 | 14:45 16:00 17:15 18:30 19:45 |
Sexta-feira (Barra) | 14:00 15:15 16:30 17:45 19:00 | 14:45 16:00 17:15 18:30 19:45 |
As consultas por vídeo poderão ser feitas por diferentes plataformas, como Zoom, Skype, GoogleMeet/Hangouts, e pelo próprio WhatsApp. Nós recomendamos o Zoom por ser a plataforma mais estável e com melhor qualidade de imagem e som (basta baixar o aplicativo na sua loja de aplicativos ou acessar zoom.us).
A forma de envio das receitas será combinada com cada um durante a consulta por vídeo, podendo ser pelo correio, motoboy ou portador. Recomendo os serviços de motoboy (Loggi.com ou Rappi.com.br). É fácil, prático e seguro e você não precisa se deslocar para pegar a receita.
Algumas informações adicionais são importantes:
- Não será permitida e entrada no prédio e no consultório sem máscara. Use máscara sempre!
- A sala de espera continua desativada, sendo permitido somente o ingresso de um paciente/família por vez.
- Não fornecerei receitas sem atendimento. Entendo que a receita médica faz parte da avaliação e sigo meu compromisso de manter os atendimentos.
- Não será possível o ingresso de pacientes ou portadores sem agendamento nos consultórios.
Espero que possamos retomar parcialmente nossas rotinas em breve. Desejo que vocês se cuidem, mantenham hábitos saudáveis, fiquem em casa e tenham saúde!
Um abraço,
Dr Leonardo Palmeira
Lidando com a pandemia do COVID-19 em populações com doenças mentais graves.
Nesta semana foi publicado na revista JAMA Psychiatry um artigo levantando a preocupação com uma população específica que poderá sofrer consequências graves da epidemia de COVID-19: as pessoas portadoras de transtornos mentais graves.
Segundo o médico Benjamin Druss, da Rollins School of Public Health, ligada a Universidade Emory, em Atlanta, Georgia, a pandemia da COVID-19 representará um estressor sem precedentes para pacientes e sistemas de saúde em todo o mundo. Como atualmente não há vacina ou tratamento para a infecção, os esforços atuais de saúde estão focados em fornecer prevenção e rastreamento, manter a continuidade do tratamento para outras condições crônicas e garantir acesso a serviços apropriadamente intensivos para aqueles com os sintomas mais graves.
Os desastres afetam desproporcionalmente populações pobres e vulneráveis e os pacientes com doenças mentais graves podem estar entre os mais atingidos, segundo ele. Altas taxas de tabagismo nessa população podem aumentar o risco de infecção e conferir pior prognóstico entre os que desenvolvem a doença. Instabilidade residencial e falta de moradia podem aumentar o risco de infecção e dificultar a identificação, o acompanhamento e o tratamento daqueles que desenvolvem a doença. Indivíduos com doenças mentais graves empregados podem ter dificuldades para tirar uma folga do trabalho e podem não ter cobertura de seguro suficiente para cobrir testes ou tratamento. Pequenas redes sociais podem limitar as oportunidades de obter apoio de amigos e familiares, caso indivíduos com doenças mentais graves fiquem doentes. Tomados em conjunto, esses fatores podem levar a taxas elevadas de infecção e piores prognósticos nessa população, alerta o Dr. Druss.
Apoio a pacientes com doença mental grave
As pessoas com doenças mentais graves devem receber informações precisas e atualizadas sobre estratégias para mitigar os riscos e saber quando procurar tratamento médico para o COVID-19. Os materiais voltados para o paciente, desenvolvidos para populações em geral, precisarão ser adaptados para abordar problemas de comunicação em saúde e desafios na implementação de recomendações de distanciamento em situações de pobreza e situações instáveis de vida. As mensagens precisarão fornecer garantias de que aqueles que procuram atendimento não sofrerão penalidades com relação ao custo ou ao status de imigração. Os pacientes precisarão de apoio para manter hábitos saudáveis, incluindo dieta e atividade física, bem como o autogerenciamento de condições crônicas de saúde mental e física.
Também será importante abordar as dimensões psicológicas e sociais dessa epidemia para os pacientes. A preocupação pode exacerbar e ser exacerbada pela ansiedade e pelos sintomas depressivos. Estratégias de distanciamento físico, fundamentais para mitigar a propagação da doença, também podem aumentar o risco de solidão e isolamento nessa população. Aqueles que adoecem podem enfrentar um estigma duplo associado às infecções e às condições de saúde mental. Para qualquer paciente, os sintomas psicológicos surgirão em um contexto pessoal e social único que deve ser considerado no desenvolvimento de um plano de tratamento.
Capacitar médicos de saúde mental
Os médicos de saúde mental costumam ser o principal ponto de contato com o sistema de assistência médica mais amplo para seus pacientes com doenças mentais graves e, como tal, são os primeiros a responder à pandemia de COVID-19 para muitos desses indivíduos. Os médicos de saúde mental precisam de treinamento para reconhecer os sinais e sintomas desta doença e desenvolver conhecimentos sobre estratégias básicas para mitigar a propagação da doença, tanto em seus pacientes quanto em si mesmos. Os médicos devem conversar com seus pacientes sobre a melhor forma de implementar as estratégias.
Os médicos precisarão de apoio para manter sua própria segurança e bem-estar. Sempre que possível, os serviços devem ser prestados via tele-medicina, e não pessoalmente, e quando visitas pessoais forem necessárias, devem ocorrer em formatos individuais e não em grupos. O apoio dos colegas será essencial para manter o bem-estar físico, mental e social, principalmente se a pandemia for de duração prolongada.
Fortalecimento dos sistemas de saúde mental
É provável que a pandemia do COVID-19 exerça grande pressão sobre os centros comunitários de saúde mental e os hospitais psiquiátricos. Essas instalações têm capacidade limitada para rastrear ou tratar condições médicas, e poucas têm relações existentes com agências de saúde pública locais. É essencial que essas organizações desenvolvam planos de continuidade de operações para garantir que possam manter funções vitais em face de doenças da equipe ou escassez de medicamentos psicotrópicos. As clínicas precisarão de protocolos para identificar e encaminhar pacientes em risco de infecção e estratégias de quarentena para clínicos que desenvolvam sintomas da doença. Proteções ambientais adequadas, incluindo espaços bem ventilados, fácil acesso à lavagem das mãos e equipamentos de proteção individual devem estar disponíveis. As configurações institucionais, incluindo hospitais psiquiátricos, asilos e instalações de cuidados prolongados, correm um risco particularmente alto de surtos e precisam garantir que eles tenham planos de contingência para detectá-los e contê-los, se ocorrerem.
Expansão das políticas de saúde mental
Nas próximas semanas, haverá nos EUA uma onda de novas leis e regulamentos federais e políticas estaduais desenvolvidas para mitigar os resultados econômicos e de saúde do surto de COVID-19. Essas políticas terão uma urgência particular para populações com doenças mentais graves devido aos seus riscos elevados. As autoridades governamentais de saúde mental desempenharão um papel crítico na criação e administração de políticas relacionadas ao COVID-19 em seus hospitais e clínicas de saúde mental. O papel das políticas sociais, apoio à moradia e licença médica remunerada para funcionários serão vitais para garantir a saúde e o bem-estar dessa população.
A pandemia do COVID-19 criará desafios sociais e de saúde sem precedentes nos EUA e internacionalmente. Pessoas com doenças mentais graves correm um risco excepcionalmente alto durante esse período, assim como o sistema público de saúde mental, essencial para a prestação de seus cuidados. Um planejamento e execução cuidadosos em vários níveis serão essenciais para minimizar os resultados adversos dessa pandemia para essa população vulnerável.
* Texto traduzido e adaptado do artigo original: Druss BG. Addressing the COVID-19 Pandemic in Populations With Serious Mental Illness. JAMA Psychiatry.Published online April 03, 2020. doi:10.1001/jamapsychiatry.2020.0894, disponível em inglês em https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/fullarticle/2764227
Efeitos psicológicos da quarentena pelo COVID-19.
A quarentena imposta pela pandemia de COVID-19 já é a maior e a mais rigorosa dos tempos modernos. É inegável que existe um custo físico, psicológico, social e econômico para toda a população mundial. No Brasil experimentamos desde a semana passada uma quarentena com um rigor crescente, envolvendo medos, preocupações e incertezas. As autoridades não falam com todas as letras como a quarentena será daqui para frente, quanto tempo ficaremos longe de nossas rotinas e de nossos trabalhos, impedidos de ver familiares e amigos, de ter lazer e de fazer esportes. Não há na história recente um período de privação como este, fazendo muitos a compararem ao período da Segunda Guerra Mundial.
Mas quais são os efeitos psicológicos de uma quarentena? O que outras experiências podem nos ensinar, como abrandar os efeitos que um longo tempo de privação social pode ter em nosso organismo?
Um artigo publicado no Lancet em fevereiro (26) traz uma revisão dos estudos sobre impacto psicológico da quarentena após as epidemias de SARS (2003), Ebola (2014), H1N1 (2009/10) e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS - 2002).
Sintomas e transtornos mentais
Durante essas quarentenas as pessoas comumente relataram medo (20%), nervosismo (18%), tristeza (18%) e culpa (10%). Esses sintomas reduzem normalmente após o período de quarentena, sendo que um estudo mostrou que de 7-17% das pessoas que demonstraram sentimento de ansiedade e raiva após 4 a 6 meses reduziram a mais da metade, para 3-6%.
Estudos qualitativos mostraram que a quarentena também produz outros sentimentos como solidão, desesperança, frustração, irritação, raiva, exaustão emocional e pode provocar insônia. Rebaixamento do humor (73%) e irritabilidade (57%) estão entre as queixas mais prevalentes entre as pessoas submetidas a ela.
Os profissionais de saúde, como esperado, sofrem mais. Entre os profissionais de saúde que prestaram atendimento durante as epidemias, dois estudos encontraram maior prevalência de alcoolismo e dependência química 3 anos depois do surto de SARS em 2003. Outro estudo verificou que 9% reportaram depressão 3 anos depois do surto de MERS, sendo que destes 60% que tiveram que passar por quarentena reportaram sintomas depressivos mais graves. Um estudo relacionou a quarentena de empregados de um hospital a sintomas de estresse pós-traumático 3 anos depois da epidemia. Os profissionais de saúde também experimentam maior estigmatização do que o público em geral. Eles têm com maior frequência pensamentos de estarem infectados com SARS e preocupações de infectar outras pessoas.
A experiência negativa com a quarentena sofre influências de diversos fatores, que podem contribuir para aprofundar os sentimentos de tristeza, medo e frustração. Os estudos apontam que quanto maior o tempo de quarentena e confinamento, com perda da rotina usual e redução do contato físico e social com outros, maior a aflição das pessoas. Isso pode ser potencializado quando há desabastecimento de suprimentos básicos ou considerados essenciais para o período de epidemia. Durante a epidemia de SARS em Toronto, p.ex., autoridades públicas demoraram muito a suprir as necessidades de kits médicos, com máscaras e termômetros, o que foi associado a uma pior evolução psicológica.
Informação e comunicação
Outro aspecto tem a ver com a informação passada de maneira inadequada à população, com diferenças na forma, abordagem e conteúdo da informação transmitida por diferentes órgãos e níveis de governo. No caso da epidemia de SARS em Toronto, houve informações desencontradas que levaram à falta de clareza e propósito da quarentena, dos diferentes níveis de risco e o sentimento por parte da população da falta de transparência do governo quanto à gravidade da epidemia. Esse fator foi considerado um preditor significativo de sintomas de estresse pós-traumático, atribuindo a importância de se ter um protocolo claro e racional que contemple as dificuldades da população em seguir a quarentena.
Trabalho e finanças
O aspecto financeiro da quarentena pode ter um impacto determinante no estado emocional das pessoas. A interrupção das atividades profissionais sem um planejamento de curto ou médio prazo pode ter um efeito psicológico duradouro, com piora do estresse e causando raiva e ansiedade por semanas, mesmo após a suspensão da quarentena. A possibilidade do trabalho remoto, através do home office, ajuda a pessoa a se manter ocupada e a se sentir produtiva, aliviando em parte as tensões que o afastamento e as incertezas diante do trabalho podem causar.
A ação dos governos é considerada primordial nesses momentos, com políticas tributárias compensatórias e de auxílio financeiro enquanto durar a quarentena. Na epidemia de Ebola, mesmo recebendo assistência financeira do Estado, muitos consideraram o montante insuficiente e que a demora em receber o auxílio não possibilitou a cobertura das despesas. Muitos tornaram-se dependentes das famílias, o que foi difícil de aceitar e trouxe conflitos adicionais. Na epidemia de SARS em Toronto houve casos de estresse pós-traumático e depressão, principalmente entre as classes menos favorecidas.
Estigma
O estigma é um dos principais temas sociais relacionados às epidemias. Pessoas infectadas e que foram submetidas à quarentena forçada relataram preconceito e estigmatização mesmo após o controle da epidemia, sendo tratadas por seus vizinhos com suspeição e temor, não sendo convidadas para eventos sociais e recebendo comentários críticos. Mesmo profissionais de saúde, que precisaram trabalhar no atendimento à população, relataram aumento das tensões dentro da própria família, por considerarem a profissão deles muito arriscada.
A educação da população sobre a doença e a explicação do racional para a quarentena são importantes para reduzir o estigma. A mídia também pode ter um papel decisivo, tanto para produzir como para combater o estigma, dependendo da maneira como divulgam as informações.
O que pode ser feito para abrandar os efeitos da quarentena?
Manter a quarentena o mais breve possível
Quarentenas longas estão associadas a piores desfechos psicológicos. Restringi-las ao que é cientificamente razoável e não adotar medidas exageradas de precaução contribuem para minimizar os efeitos sobre as pessoas. As autoridades devem manter a coerência com o tempo de quarentena por elas determinada. A extensão do período de quarentena exacerba os sentimentos de frustração e desmoralização. Impor um cordão de isolamento na cidade sem um limite claro de tempo, como foi feito em Wuhan, China, é mais danoso do que adotar os procedimentos estritamente necessários.
Forneça às pessoas o máximo de informação possível
Assegurar que a população tenha um bom entendimento da situação e das razões para a quarentena, sem informações que provoquem insegurança, medo e exageros. As pessoas já estão com medo de adoecer e de infectar outras pessoas, normalmente possuem expectativa catastrófica em relação a qualquer sintoma que venham a experimentar durante a quarentena, então necessitam, por parte da autoridade de saúde pública, da informação que as auxilie a ter uma visão mais lúcida e compreensiva da epidemia.
Reforçar que a quarentena ajuda a proteger outras pessoas mais vulneráveis e demonstrar que as autoridades estão gratas por essa atitude ajudam a reduzir os efeitos psicológicos da quarentena e aumenta a adesão das pessoas.
Forneça suprimentos adequados
Os suprimentos básicos não podem faltar e precisam ser coordenados pelo governo com antecedência, como planos de realocação para conservar os estoques e evitar o desabastecimento.
Reduza a monotonia e melhore a comunicação
O isolamento e a monotonia contribuem para elevar os níveis de estresse. Acessar sua rede social é uma prioridade, com as mídias sociais e plataformas de comunicação servindo de instrumento valioso para conectar amigos e familiares. Garantir, portanto, acesso a telefones e rede WiFi que possibilitem essa comunicação direta é essencial para reduzir sentimentos de isolamento, estresse e pânico.
Outra comunicação importante é com as autoridades de saúde pública, disponibilizando um canal de contato por telefone e serviços online para orientações de como proceder em caso de algum sintoma.
No Brasil existe um atendimento por telefone (136) para tirar dúvidas e buscar auxílio para COVID-19, bem como um chat on line (http://ms136.vectorservicos.com:8085/webchat/default.aspx).
Há evidências de que grupos de suporte virtuais para pessoas em quarentena podem prover apoio a pessoas que não estão recebendo apoio de outras.
Profissionais de saúde necessitam de atenção especial
Profissionais de saúde em quarentena podem se sentir pior por não estarem ajudando seus colegas no atendimento aos pacientes e as percepções de seus colegas nesse sentido são particularmente importante. A separação da equipe pode aumentar o sentimento de isolamento e o apoio de seus colegas imediatos é fundamental, cabendo às chefias assegurarem que algum suporte vem sendo oferecido aos profissionais em quarentena.
Essa revisão joga uma luz sobre alguns aspectos importantes que cercam a quarentena de uma epidemia. Cada um de nós precisa ter acesso à informação de qualidade, que seja capaz de nos instruir, mas ao mesmo tempo de nos tranquilizar. Cumprir com as determinações das autoridades, respeitando a quarentena imposta, é a nossa parte de contribuição para o controle dessa epidemia. O restante precisamos deixar para as autoridades, para os médicos e demais profissionais de saúde. Acompanhar o noticiário massivamente pode ser para muitos ansiogênico, ficar acompanhando o número de doentes e de mortos também. Cada um precisa encontrar seu ponto de equilíbrio entre a informação adequada (aquela que importa e nos instrui) e a exagerada (aquela que aumenta o medo e gera angústia). Tomar cuidado com as fake-news, que infelizmente são cada vez mais comuns em tempos de mídias sociais, onde os cliques e likes valem mais do que o respeito à vida das pessoas.
Buscar conectividade social é outro ponto importante. Conversar com os amigos e familiares através das plataformas de videocoferência (existem várias, o próprio WhatsApp, Skype, Hangout, Zoom) nos ajuda a superar a solidão e o isolamento que a quarentena nos impõe.
Covid-19: Segundo Comunicado.
Prezados pacientes,
Tendo em vista as novas medidas de restrição pelo poder público, restringindo mais a circulação de pessoas em estabelecimentos comerciais e transportes públicos, decidimos a partir da semana de 23/03 alterar a rotina dos consultórios. Essa medida visa resguardar a segurança de nossos profissionais e pacientes, sem interromper a prestação de serviço.
1. As consultas médicas devem ser realizadas preferencialmente por videoconferência. Utilizamos todas as plataformas disponíveis, como WhatsApp, Skype, Hangouts e Zoom. Elas poderão ser marcadas nos horários de atendimento de consultório (2a, 3a, 5a e 6a).
2. As receitas médicas serão enviadas pelo correio ou por motoboy, dependendo da região de moradia e preferência do paciente. Não será possível buscar as receitas pessoalmente. Essa medida visa proteger os pacientes e acompanhantes, que não precisarão se deslocar até o consultório, e atender às necessidades de restrição de nossas secretárias em relação ao atendimento ao público.
3. Atendendo às necessidades particulares de cada um e consciente de meu dever como médico, manteremos o funcionamento do consultório para consultas presenciais. Essa medida pretende contemplar os pacientes de primeira vez e aqueles que não podem se consultar remotamente. Esses atendimentos ocorrerão exclusivamente às 3as na Barra e 5as em Ipanema e deverão ser agendados com antecedência, pois não será possível o ingresso de paciente sem agendamento nos consultórios.
4. Não haverá atendimento ao público nos consultórios. As secretárias trabalharão remotamente. Portanto receitas, laudos e outros documentos só poderão ser enviados por correio ou motoboy.
5. Pedimos que os pacientes com sintomas gripais ou que tenham contato com algum parente suspeito de infecção pelo COVID-19 não marquem consultas presenciais. Não receberemos pacientes com sintomas de gripe no consultório. Caso algum paciente gripado necessite de atendimento psiquiátrico, a orientação será passada por telefone ou videoconferência.
Manteremos os cuidados de higiene e respeitaremos a orientação de não permitir pacientes aguardando na sala de espera, orientando aqueles agendados para consultas presenciais a aguardar em local aberto e arejado.
A secretária Sra Marismar trabalhará remotamente e poderá ser contactada pelo celular/WhatsApp 97226-3801. Todas as solicitações devem, portanto, ser encaminhadas a ela.
Acreditamos na compreensão e cooperação de todos como forma de enfrentarmos essa epidemia. Depende de cada um de nós as medidas para a proteção individual, de nossos entes queridos e dos demais cidadãos.
Juntos seremos mais fortes e capazes de abreviar esses tempos difíceis, que nos impõem restrições do direito de ir e vir, de muitas vezes estar juntos de pessoas que amamos, de fazer atividades que nos trazem prazer e satisfação.
Cuidem-se com responsabilidade e sem pânico. O momento exige equilíbrio e bom senso.
Um abraço
Dr Leonardo Palmeira
Covid-19: Funcionamento dos Consultórios.
Prezados pacientes,
Conforme noticiado na mídia, a nossa cidade vem apresentando um aumento de casos de infecção pelo COVID-19, popularmente conhecido como coronavirus, o que nos coloca em estado de alerta, haja vista o que ocorreu em outros países em que a epidemia se encontra em fases mais avançadas. São esperados números crescentes de casos nas próximas semanas e precisamos estar preparados quanto às medidas de proteção, como evitar aglomerações, lavar bem as mãos ou utilizar álcool 70%, evitar colocar as mãos nos olhos, nariz e boca, além de cumprir a quarentena domiciliar em caso de infecção.
Não há motivo para pânico! O COVID-19 possui uma baixa taxa de mortalidade e complicações, a maioria dos casos são assintomáticos ou com poucos sintomas (principalmente tosse e febre). Contudo, pessoas idosas, com doenças crônicas ou imunossuprimidas têm maior risco de complicações respiratórias e podem requerer hospitalização, portanto, há de se ter cuidado redobrado com essa população.
Algumas universidades e escolas decidiram suspender as aulas por 15 dias a partir desta segunda-feira, 16/03, eventos esportivos e culturais estão sendo adiados ou cancelados para evitar aglomerações de pessoas. Essas medidas visam conter a velocidade do avanço do vírus e evitar que muitas pessoas adoeçam ao mesmo tempo, sobrecarregando o sistema de saúde, que, mesmo em países mais desenvolvidos, mostrou-se insuficiente para atender à demanda de pacientes.
Informamos que manteremos os horários normais de funcionamento e atendimento dos consultórios, sempre atentos às medidas de proteção dos nossos profissionais e pacientes. As secretárias, Sra Marismar (Barra) e Sra Tatiane (Ipanema), serão orientadas a oferecer aos pacientes e acompanhantes a possibilidade de aguardar o atendimento em locais abertos, se assim desejarem. O prédio na Barra da Tijuca dispõe de uma área ao ar livre no terraço e o de Ipanema dispõe de cafés na área externa da galeria, bem como de uma praça em frente.
Aos pacientes que não se sentirem seguros para comparecer pessoalmente ao consultório ou que não puderem por algum motivo de saúde será oferecido o atendimento por videoconferência, agendado em horário normal de consulta. O paciente poderá se consultar, bastando para isso que ele tenha acesso a um celular smartphone ou a um computador com conexão à internet. As receitas serão enviadas pelo correio para a residência do paciente. Ressaltamos que essa modalidade de atendimento só estará disponível para os pacientes que já foram atendidos anteriormente pelo Dr. Leonardo, conforme resolução do CFM.
Esperamos que essa situação seja breve e que logo possamos retornar às nossas rotinas!
Cordialmente,
Dr. Leonardo Palmeira
Assista ao vídeo da Campanha Janeiro Branco no Aterro do Flamengo.
Os grupos de ajuda-mútua para pacientes e familiares que convivem com transtornos mentais no Rio de Janeiro, ligados ao Programa Entrelaços do IPUB/UFRJ, organizaram um evento pela saúde mental no Aterro do Flamengo, em 26 de janeiro de 2020. O vídeo a seguir traz os depoimentos e as imagens do evento, que teve o propósito de combater o estigma e o preconceito contra as doenças mentais e chamar atenção para os cuidados com a mente.
Para mais informações sobre esse trabalho, CLIQUE AQUI!
https://www.youtube.com/watch?v=ZEx8dUIeZbg
Ioga ajuda a aliviar sintomas da depressão.
Os autores do estudo descobriram que a prática de uma aula por semana pode aumentar as taxas do ácido gama-aminobutírico, o GABA, um aminoácido que age no sistema nervoso central como um neurotransmissor (substância que faz a comunicação entre os neurônios) nos circuitos do cérebro onde ocorre o processamento das emoções. Isso poderia abrandar sintomas da depressão.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 264 milhões de pessoas são afetadas pela doença ao redor do globo. “Níveis adequados de GABA deixam a pessoa mais tranquila. Ele exerce um efeito ‘ansiolítico’”, explica Rui Afonso, doutor em neurociências pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP) e professor de ioga e meditação. “Até onde sabemos, esse é o primeiro estudo que correlaciona GABA, ioga e sintomas de depressão.”
Os pesquisadores americanos avaliaram 30 pacientes depressivos. Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos. Ambos praticaram uma modalidade de ioga, a Iyengar, e uma técnica de respiração, a coerente (respirar cinco vezes por minuto). “A lyengar ioga é uma modalidade que deriva de uma linha bem tradicional chamada de hatha ioga. Ela tem como característica a utilização de posturas (ásanas), exercícios de respiração (pranayamas) e meditação”, explica Afonso. A Iyengar tem uma precisão muito grande quanto à postura do aluno.
“Assim, uma de suas particularidades é a utilização de acessórios para deixar o corpo do praticante mais alinhado, biomecanicamente correto”, diz o professor.
“A atenção sustentada é que vai diferenciar a ioga de uma ginástica”, continua. Nesse segundo caso, fazemos os movimentos e os exercícios para o corpo. O processo cognitivo não é importante. Na ioga, a percepção do momento presente é muito importante: as posturas não são realizadas para o corpo, mas por meio dele.
Durante três meses, parte dos voluntários fez três sessões de ioga por semana e os outros participantes, duas. Todos foram submetidos a um exame de imagem, a ressonância magnética, antes da primeira aula e depois da última. “Por meio da ressonância, é possível observar as alterações, a estrutura e as funções cerebrais sem necessidade de exame mais invasivo”, conta Afonso. Em outras palavras, com o paciente acordado, dá para enxergar o efeito neurobiológico da ioga. Como é uma prática contemplativa que requisita o sistema cognitivo, o cérebro vai estar em pleno funcionamento durante sua execução.
Os resultados apontaram que ambos os grupos apresentaram melhoras depois de 90 dias de prática. A análise da ressonância magnética por imagem revelou que os níveis de GABA depois deste período ficaram elevados em comparação a antes do início das sessões, por aproximadamente quatro dias após a última aula. Mas esse aumento não foi mais verificado nos oito dias seguintes. Segundo os pesquisadores, fornecer dados baseados em evidências pode ser útil para fazer com que as pessoas experimentem a ioga como uma estratégia para aprimorar sua saúde e bem-estar.
Fonte: Fábio de Oliveira/Agência Einstein/página3.com.br
Anvisa passa a exigir apenas receita médica para liberar importação de canabidiol.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou nesta quarta-feira (22) mudanças no processo de autorização para que pacientes possam importar de produtos à base de canabidiol, um dos derivados da maconha.
Com as mudanças, a agência passará a exigir apenas a prescrição médica para análise de cada pedido, o qual deve ser feito por meio do Portal de Serviços do governo federal.
Entre os documentos que deixam de ser exigidos, está a apresentação de laudo médico com a descrição da doença e termo de consentimento —o qual passa a ser gerado de forma automática. Segundo a agência, a dispensa de laudo médico ocorre devido à responsabilidade do médico na prescrição de tratamentos.
O aval para importação também passará a valer por dois anos. Antes, esse período era de um ano.
Segundo o diretor-presidente substituto da agência, Antônio Barra, as medidas visam reduzir o tempo de espera de pacientes para obter os produtos, em um contexto em que crescem os pedidos de importação e o prazo para análise.
Questionada, a agência informa não ter estimativa de quanto será essa redução. "Mas esperamos que haja uma redução muito significativa. Fica difícil dizer que vamos zerar esse prazo. O ideal é que haja acompanhamento da sociedade", diz o diretor.
De acordo com Barra, o tempo de espera atual é em torno de 75 dias, "o que pode causar a descontinuidade de tratamentos e danos irreparáveis à saúde das pessoas", afirma. Para comparação, em 2018, o prazo para análise de cada pedido era de 45 dias.
A aprovação das mudanças ocorre um mês após a agência aprovar medidas que dão aval à venda de produtos à base de Cannabis em farmácias, mas vetar a proposta de um cultivo da planta por empresas para pesquisa e produção de medicamentos.
O veto ocorreu após críticas do governo de Jair Bolsonaro à proposta de cultivo, para quem a medida indicaria um primeiro passo para legalização da Cannabis no país.
Ainda não há prazo para oferta dos produtos em farmácias --a expectativa da Anvisa é que os primeiros pedidos de registro de produtos ocorram a partir de março, quando a resolução entra em vigor. Enquanto isso, pacientes ainda precisam recorrer aos pedidos de importação.
Desde que a Anvisa passou a receber esses pedidos, em 2015, ao menos 9.540 pacientes já obtiveram aval para importar produtos à base de canabidiol. As principais doenças apontadas nos pedidos são epilepsia, autismo, dor crônica, doença de Parkinson e neoplasia maligna.
A demanda, porém, tem sido crescente. Para comparação, em 2015, foram solicitadas 902 autorizações. Em 2018, esse número chegou a 3.613. Em 2019, dados apontam 6.276 pedidos somente até o terceiro trimestre.
Pacientes, porém, reclamam do alto custo para obter esses produtos, que chega a R$ 1.200 por mês, o que leva muitos a recorrer ao mercado ilegal.
Fonte: Folha de SP
Janeiro Branco: Quem cuida da Mente, cuida da Vida!
Com o objetivo de convidar a sociedade a uma grande reflexão sobre a qualidade de vida na saúde mental, o grupo de pares, Mentes em Ação, juntamente com outros grupos do Projeto Entrelaços, apoiam a Campanha Janeiro Branco.
O evento acontecerá no Rio de Janeiro, no Aterro do Flamengo, dia 26 deste mês, às 9h.
Através de conversas e algumas atividades gratuitas, os organizadores estarão prontos para disseminar informações valorosas sobre saúde mental.
O movimento é dedicado a importância de fazer as pessoas perceberem a respeito das suas vidas, pensarem sobre seus relacionamentos, como está a prevenção ao adoecimento emocional e mental de cada um.
A saúde mental influencia o bem-estar do indivíduo. É importante a divulgação e debate desse tema. Cuidar da saúde mental é fundamental para o equilíbrio da humanidade. "Quem cuida da mente, cuida da vida:)"
Veja abaixo o vídeo de divulgação e o material que explica melhor o propósito desse evento e participe!
https://www.youtube.com/watch?v=DgbcSz6JmLY
Agenda do Dr. Leonardo para o primeiro semestre de 2020.
Prezados pacientes, gostaria de comunicá-los a respeito de minha agenda do primeiro semestre de 2020 para que possam se organizar em relação à marcação de consultas. Atenderei até o dia 03/01/20, depois saio de férias e retorno no dia 21/01/20.
Não haverá atendimento nos seguintes períodos:
Janeiro
04 a 20 – Férias
Fevereiro
25 a 27 - Carnaval
Março
Atendimento normal
Abril
2 a 9 - Congresso Internacional de Pesquisa em Esquizofrenia (SIRS), Florença CANCELADO DEVIDO AO COVID-19 - FUNCIONAREMOS NORMALMENTE
10 - Sexta-feira Santa
21 – Tiradentes
23 – São Jorge
24 - Em função do feriado de São Jorge
Maio
01 - Dia do Trabalho
Junho
11 - Corpus Christi
Peço sua especial atenção para os meses de janeiro, em função das férias, e abril, em função do período do congresso. Antecipe sua consulta e evite imprevistos de última hora.
Um abraço,
Dr Leonardo Palmeira
Sexismo pode ser causa de depressão em mulheres mais jovens.
Um estudo recente, desenvolvido no Reino Unido, revelou que mulheres entre 16 e 30 anos têm até cinco vezes mais chance de desenvolver depressão clínica devido ao sexismo - tipo de preconceito ou discriminação baseada exclusivamente no gênero ou sexo de uma pessoa.
As participantes da pesquisa contaram que sofreram mais assédio em ambientes como trabalho, escola, transporte público e táxi, sendo que 82% experienciou assédio sexual na rua. Todas acrescentaram ainda que os efeitos do sofrimento psicológico que tiveram duraram por, pelo menos, quatro anos.
Sexismo contra mulheres
A pesquisa foi realizada como uma parceria entre a organização Young Woman's Trust e a University College of London. Para chegar à conclusão final, o estudo definiu o conceito de sexismo a ideia de "sentir-se insegura, evitar certos locais, ser insultada, ameaçada ou atacada fisicamente por ser mulher".
No estudo, foram coletados dados de 2.995 mulheres, com idades entre 16 e 93 anos, do Reino Unido. O resultado parcial mostrou que as participantes mais jovens (até 30 anos) sofriam mais sexismo e tinham maiores impactos na saúde mental do que mulheres mais velhas.
Em termos de comparação, 24% das mulheres de 16 a 30 anos afirmaram ter sofrido sexismo no último ano, enquanto apenas 17% das mulheres com mais de 30 alegaram ter experienciado o preconceito de gênero no mesmo período.
Vítimas de sexismo
Em um relato anônimo, uma das mulheres entrevistadas afirmou que se isolou socialmente nos momentos em que sua ansiedade estava mais elevada e deixou de ver amigos por meses. Ela também deixou empregos e passou a evitar certos locais em sua cidade natal.
Outra participante relatou que sofreu com os efeitos do estresse e da ansiedade gerados em grande parte como resultado do sexismo que sofreu no ambiente de trabalho. "Eu temia ir trabalhar todas as manhãs e isso afetava tanto minha saúde mental quanto física", disse.
Sexismo e saúde mental
Sophie Walker, diretora do Young Women's Trust, afirmou que este estudo mostra que existe uma "clara e danosa" relação entre sexismo e a saúde mental das mulheres jovens dos dias atuais.
"O que muitas vezes é confundido como falta de confiança em mulheres jovens é, na verdade, uma crise na saúde mental causada por uma sociedade sexista. O sexismo está afetando profundamente a vida das jovens, sua liberdade econômica e sua saúde", disse.
Ela declarou ainda que os serviços de saúde tradicionais não são acessíveis ou apropriados para abrigar as demandas das mulheres jovens. "Há necessidade de serviços de saúde mental para mulheres jovens mais especializados, além de investimentos em serviços para combater a violência contra mulheres e meninas".
Por fim, Walker acrescentou que é preciso impedir que os danos causados pelo sexismo perdurem por anos em mulheres jovens, sendo importante tratar o problema de maneira mais completa. "Se você tentar ignorá-lo e não abordá-lo, ele apodrece e os problemas permeiam outras áreas da sua vida".
Fonte: R7
Anvisa aprova a regulamentação de produtos à base de cannabis para uso medicinal.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nesta terça-feira (3) a liberação da venda em farmácias de produtos à base de cannabis para uso medicinal no Brasil. A regulamentação foi aprovada por unanimidade e é temporária, com validade de três anos.
Na mesma reunião da diretoria colegiada do órgão foi rejeitado o cultivo de maconha para fins medicinais no Brasil. Por 3 votos a 1, proposta foi arquivada pela agência reguladora. Com a decisão, fabricantes que desejarem entrar no mercado precisarão importar o extrato da planta.
Sobre a venda em farmácias, a norma passa a valer 90 dias após sua publicação no "Diário Oficial da União". De acordo com a resolução, os produtos liberados poderão ser para uso oral e nasal, em formato de comprimidos ou líquidos, além de soluções oleosas.
A comercialização ocorrerá apenas em farmácias e drogarias sem manipulação, que venderão os produtos prontos, mediante prescrição médica.
O tipo de prescrição médica necessária vai depender da concentração de tetra-hidrocanabidiol (THC), principal elemento tóxico e psicotrópico da planta Cannabis sativa, ao lado do canabidiol (CBD), que é usado em terapias como analgésico ou relaxante.
O THC altera as funções cerebrais e é a substância que provoca os mais conhecidos efeitos do consumo da maconha, droga ilegal no Brasil. Entretanto, estudos indicam que o THC também pode ser usado como princípio ativo para fins medicinais.
Nas formulações com concentração de THC inferior a 0,2%, o produto deverá ser prescrito por meio de receituário tipo B e renovação de receita em até 60 dias.
Já os produtos com concentração de THC superior a 0,2% só poderão ser prescritos a pacientes terminais ou que tenham esgotado as alternativas terapêuticas de tratamento. Neste caso, o receituário para prescrição será do tipo A, mais restrito, padrão semelhante ao da morfina.
A embalagem dos produtos deve informar a concentração dos principais canabinoides presentes na formulação, dentre eles o CBD e o THC, mas somente a concentração de THC é levada em conta para a classificação dos rótulos.
Todos devem conter a frase "Venda sob prescrição médica", seguida de "Só pode ser vendido com retenção de receita" no caso de produtos com menos de 0,2% de THC ou da frase "Uso desse produto pode causar dependência física ou psíquica" no caso de concentrações superiores a 0,2%.
A resolução da Anvisa cria uma nova classe de produto sujeito à vigilância sanitária: "produto à base de cannabis". Ou seja, durante os três anos de validade, os produtos ainda não serão classificados como medicamentos.
A regulamentação aprovada cita que os produtos à base de cannabis ainda precisam passar por testes técnicos-científicos que assegurem sua eficácia, segurança e possíveis danos, antes de serem elevados ao patamar de medicamentos.
A delimitação do intervalo de três anos para validar a norma foi sugerida pelo diretor Fernando Mendes, sob a justificativa de que ainda não há comprovação da eficácia dos tratamentos a base dos produtos. "Não há qualquer evidência de baixo risco no uso desses produtos", afirmou ele.
Após esse período, uma nova resolução deverá ser editada.
Os produtos liberados pela Anvisa podem ser ou fabricados no Brasil ou importados.
O regulamento exige que as empresas fabricantes tenham:
- Certificado de Boas Práticas de Fabricação (emitido pela Anvisa);
- autorização especial para seu funcionamento;
- conhecimento da concentração dos principais canabinoides presentes na fórmula do produto;
- documentação técnica da qualidade dos produtos;
- condições operacionais para realizar análises de controle de qualidade dos produtos em território brasileiro.
Em nota, a Anvisa disse que os fabricantes que optarem por comprar o insumo no exterior "deverão realizar a importação da matéria-prima semielaborada, e não da planta ou parte dela".
O comunicado continua: "A proposta de norma remete essa atividade aos atuais regramentos de importação e demais regulamentos relacionados ao controle dos pontos de entrada e saída referentes a qualquer produto entorpecente, psicotrópico ou precursor, independentemente de se tratar de matéria-prima ou produto acabado".
Além disso, de acordo com a norma, "para viabilizar o monitoramento integral dos lotes de produtos e medicamentos da cannabis importados, foram limitados os pontos de entrada dos produtos em território nacional".
A resolução aprovada nesta terça pela Anvisa proíbe nos rótulos dos produtos:
- os termos medicamento, remédio, fitoterápico, suplemento, natural ou qualquer outro semelhante;
- qualquer indicação quanto à sua destinação de uso, especialmente incluindo alegações terapêuticas;
- nomes geográficos, símbolos, figuras ou qualquer indicação que permita interpretação falsa.
O colegiado da Anvisa também analisa nesta terça uma segunda resolução, que trata dos requisitos para a liberar o cultivo da cannabis no Brasil exclusivamente para fins medicinais.
Fonte: G1