Bullying mais que triplica no Brasil. Entenda os fatores envolvidos!

A pesquisa sobre bullying nas escolas brasileiras, tanto públicas como privadas, fica a cargo do IBGE junto com o Ministério da Saúde, responsáveis pela elaboração do PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar). Nas suas edições verificou-se taxas crescentes de bullying entre os estudantes brasileiros (veja gráfico), mas o surpreendente foi o salto verificado em 2019 em comparação a 2015: o bullying mais do que triplicou, passou de 7,4% para 23%.

A prática do bullying é mais frequente em escolas privadas, embora as queixas de vitimização ocorram mais na escola pública. Um estudo acredita que isto se deva ao mascaramento das violências no ambiente escolar privado (p.ex. formas mais discretas e em espaços com menor supervisão), enquanto nas escolas públicas os eventos são mais ostensivos (p.ex. no pátio, onde existem mais testemunhas). Outro motivo pode ser atribuído a fatores socioeconômicos e culturais, fatores pesquisados que mais se relacionam ao bullying (mais do que raça e gênero).

O nível socioeconômico mais elevado e maior índice de consumo das famílias elevam as chances da criança ou jovem cometer agressão por bullying – 95% nas escolas públicas e 67% nas escolas privadas. O contrário também é verdadeiro, maior nível socioeconômico reduz as chances de sofrer bullying – 62% na escola pública e 65% na escola privada. Atribui-se às classes econômicas mais elevadas a maior propensão a uma cultura hierárquica e de dominação, além da individualização das condutas frente à coletividade, própria da cultura meritocrática.

Quanto mais os valores meritocráticos são compartilhados no ambiente escolar, maior a propensão ao bullying. Isto ocorre porque existe uma tendência à individualização de problemas coletivos, em que cada um cuida das suas próprias questões. Equivale ao conceito de grupo e coletivo serial de Sartre e Young: no coletivo serial, apesar de estarem juntos, cada aluno age como se estivesse isolado, não existe a solidariedade e o espírito de grupo, em que um se implica no outro. Isso ajuda a explicar a dinâmica do bullying, em que além do agressor e da vítima, existem os perpetradores, espectadores que se omitem de denunciar o bullying e atuam como reprodutores e fortalecedores do poder do agressor, bem como da cultura agressiva na instituição.

Por isso, alguns pesquisadores consideram que, além das questões culturais e econômicas de cada família, a organização estrutural da escola é fundamental no combate ao bullying. Há de se combater a cultura da intimidação, que pode encontrar ressonância na instituição. A escola deve não somente investir no desenvolvimento de procedimentos anti-bullying para proteger as vítimas, como em poderes compensatórios para criar uma cultura de reconhecimento, justiça e confiança entre os alunos e novos espaços de diálogo com os alunos para o fortalecimento do grupo, libertando-se da armadilha do coletivo serial. “Reinventar” uma vontade conjunta que possa ser propulsora de mudanças no ambiente escolar.

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