Teste de farmacogenômica

Leia antes sobre Farmacogenômica
Existem três tipos de testes disponíveis no Brasil. Um utiliza material colhido da mucosa oral (células mortas) com um swab, uma espécie de cotonete, outro analisa o DNA a partir de células do sangue e o terceiro utiliza as células mortas da saliva.
Três laboratórios oferecem o teste de farmacogenômica no Brasil:
O GnTech, com sede em Florianópolis, envia o material de coleta pelo correio com as instruções para utilização. O método é simples, o próprio paciente, um familiar ou o médico podem coletar o material da mucosa oral, colocar no tubo de ensaio fornecido com o kit, preencher os dados e enviar pelo correio ou Fedex. O teste é feito nos EUA e o laudo fica disponível em 5 dias úteis.
O GENOA Biotecnologia é um laboratório com sede em São Paulo, que analisa o DNA a partir de células do sangue. O laboratório não possui ainda centro de coleta na cidade do Rio de Janeiro.
O Neurofarmagen tem parceria com o laboratório AB-Biotics, sediado em Barcelona, Espanha, e analisa o DNA a partir de células mortas na saliva. O paciente colhe a saliva em um kit e envia o material via FEDEX para a Espanha. O laudo é disponibilizado pela internet em até 15 dias.
A diferença desses laboratórios é basicamente a abrangência da pesquisa genética. O GnTech e o Neurofarmagen fornecem um laudo mais completo, já com as medicações antidepressivas e antipsicóticas (no caso do Neurofarmagen também estabilizadores de humor) que o paciente pode responder e tolerar melhor e aquelas que não terão êxito de acordo com o resultado genético, pois pesquisam além da metabolização, receptores nos neurônios que de alguma forma estão envolvidos com a resposta terapêutica à substância.
Já o GENOA disponibiliza apenas o resultado genético em relação ao metabolismo das substâncias, devendo o médico consultar um banco de dados para saber quais os melhores medicamentos para aqueles genes encontrados.
O obstáculo maior à utilização do teste é o preço. No site da GnTech o teste sai por R$ 7.289,10 e pode ser dividido em 5x sem juros ou em 12x de R$ 734,88 no cartão de crédito.
O Neurofarmagen cobra pelo teste R$ 5948,40, podendo ser dividido em até 10x sem juros no cartão.
A GENOA não divulgou o preço do seu teste.
Este teste deve ser indicado para pacientes com história de má resposta à medicação ou resistência farmacológica ao tratamento, ou seja, que não melhoram apesar das várias mudanças de medicação.
Outra vantagem de se fazer o teste é que ele pode ser útil mesmo para tratamentos futuros. Como se trata de uma análise genética, o resultado é definitivo, não sofrerá nenhuma mudança com o ambiente ou a história da pessoa. Ela saberá a quais medicamentos irá responder e tolerar para o resto da vida. Medicamentos que forem descobertos poderão ser incorporados à base de dados e ela não necessitará fazer novo teste, pois seus genes já estarão mapeados, bastando verificar para aquele novo medicamento qual será sua resposta e tolerabilidade.
Links úteis:
Site da Neurofarmagen - http://www.neurofarmagen.com.br
Site da GnTech - http://www.gntechtests.com.br/
Site da GENOA - http://www.genoabiotec.com.br/index.php
Exemplo de laudo de teste da GnTech


Farmacogenética: medicina personalizada.

Farmacogenética é a ciência que investiga as variações genéticas relacionadas a respostas individuais ao uso de medicamentos ou substâncias, tanto sobre a eficácia da resposta a um fármaco, como sobre a tolerabilidade, ou seja, os efeitos colaterais.

No final do século 19 um médico britânico que investigava porfiria causada pela ingestão de hipnóticos em pacientes com alcaptonúria percebeu que este efeito era causado por um erro do metabolismo determinado geneticamente. Archibald Garrod foi o primeiro médico a estabelecer a relação entre uma alteração do metabolismo e a herança genética. Este foi o início dos estudos em farmacogenética.

Hoje sabe-se que falhas na resposta terapêutica a determinado medicamento ou o aparecimento de efeitos colaterais podem estar relacionados a variantes gênicas, chamadas de polimorfismo. Esta nova área de conhecimento, ora denominada farmacogenômica, pretende:
- estudar o efeito de medicamentos na expressão dos genes;
- descobrir novas drogas a partir de alvos genéticos;
- fornecer aplicabilidade prática à clínica através de exames que possam oferecer um tratamento personalizado, individualizado para cada paciente.

Na década de 1970 foi descoberto o complexo enzimático do citocromo P450, enzimas do fígado responsáveis pela metabolização das principais substâncias, e descrita sua relação com a metabolização de vários medicamentos utilizados na prática clínica, como antidepressivos, antipsicóticos, anticonvulsivantes, analgésicos, dentre outros.

Outras proteínas começaram a ser estudadas, como as proteínas transportadoras, os receptores de membrana e os segundo-mensageiros intracelulares, novos alvos para tratamentos mais específicos e eficazes.

Primeiros estudos
Os primeiros estudos nesta área, da década de 1970 até a década de 1990, analisaram a resposta a um mesmo medicamento por membros de uma mesma família e encontraram forte concordância para a resposta terapêutica (70-92%). No caso do lítio, p.ex., um estudo demonstrou que filhos de pacientes com transtorno bipolar (TB) que respondiam bem ao lítio tendiam a apresentar também boa resposta ao medicamento, tanto em episódios afetivos (p.ex. depressão), como na profilaxia de novas crises. Por outro lado, filhos de maus respondedores ao lítio também não respondiam bem à medicação.

Outro estudo, que comparou diferenças de resposta entre o lítio e a lamotrigina, concluiu que os respondedores à lamotrigina tinham mais histórico de depressão, transtorno do pânico e transtorno esquizoafetivo na sua família, enquanto respondedores ao lítio tinham histórico na família de TB mais importante. Os respondedores à lamotrigina também tinham mais comorbidade psiquiátrica, com transtorno do pânico e dependência/abuso de substâncias, enquanto os respondedores ao lítio tinham um curso mais episódico do humor (episódios mais bem delimitados).

Estudos genético-moleculares buscam por polimorfismos de genes envolvidos na resposta ao tratamento farmacológico dos transtornos psiquiátricos. Os antidepressivos e antipsicóticos, p.ex., são metabolizados pelo sistema do citocromo P450, no qual existem várias isoformas de enzimas codificadas por diferentes genes. Polimorfismos desses genes podem determinar, portanto, uma grande variabilidade na capacidade de metabolização dessas enzimas.

Polimorfismos de genes que determinam proteínas transportadoras de serotonina e genes de receptores de serotonina e de dopamina na membrana de neurônios também influenciam a resposta aos psicofármacos.

Uma parte expressiva dos estudos tem-se concentrado na resposta ao metilfenidato (Ritalina) em pacientes com Transtorno de Déficit de atenção/Hiperatividade (TDAH), analisando alguns polimorfismos do gene DAT1.

Teste de farmacogenômica para a prática clínica
Em 2005 o FDA, órgão que regula medicamentos nos EUA, aprovou o primeiro teste de farmacogenômica para a prática clínica em psiquiatria. O teste investiga polimorfismos de dois genes, sendo 27 alelos do citocromo P450 2D6 (CYP 2D6) e 3 alelos do citocromo P450 2C19 (CYP2C19), que são enzimas que metabolizam uma grande quantidade de medicamentos psiquiátricos. Desta forma a psiquiatria foi a primeira área da medicina a se beneficiar de testes genéticos para a prática clínica. Com isso foi criada o que é chamado de safety pharmacogenomics, ou farmacogenética de segurança, em que é possível prever pela análise do DNA se um paciente vai reagir bem ou não a um determinado medicamento, reduzindo assim a tentativa e erro que ainda hoje permeia os tratamentos.

No Brasil existem três laboratórios que fazem o teste de farmacogenômica. O teste deve ser solicitado pelo médico, responsável também por interpretar os resultados e tomar a decisão sobre qual o melhor medicamento a ser usado em cada paciente (se você é paciente do Dr. Leonardo Palmeira, clique aqui para ter mais informações).

Bibliografia:
Quirino Cordeiro1, Roseli Gedanke Shavitt1, Carolina Cappi1, Aline Santos Sampaio1, Ivanil A. Morais1, Ana Gabriela Hounie1 , Maria Conceição do Rosário2 , Silvia Alves Nishioka3 , Euripedes Constantino Miguel- FARMACOGENÔMICA E PSIQUIATRIA - Rev.Fac.Ciênc.Méd.Sorocaba,v.11,n.1,p.4-10, 2009


Aumenta o consumo de maconha no Brasil e é cada vez mais cedo, diz estudo.

Em 2012, 62% dos usuários experimentaram a droga antes dos 18 anos; em 2006, o índice era de 40%.
SÃO PAULO, Brasil – Ele deu o primeiro trago em 2001, quando tinha 16 anos.
Desde então, por seis anos, o comunicador Vinícius Werner, 27, fumou maconha todos os dias. Em todo o Brasil, 1,5 milhão de adolescentes e adultos também usam o entorpecente diariamente.
Como Werner, 62% dos usuários brasileiros tiveram contato com maconha antes de completar 18 anos, de acordo com o segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
E a tendência é de alta. Em 2006, quando foi realizado o primeiro estudo, o índice era de 40%, segundo a Unifesp.
“Quanto mais cedo ocorre o consumo da droga, maior é a chance do desenvolvimento de dependência”, explica a psiquiatra Clarice Sandi Madruga, coordenadora do levantamento.
Realizado em 149 municípios, o estudo ouviu 4.607 pessoas a partir dos 14 anos que responderam a um questionário sigiloso com mais de 800 perguntas sobre o uso de álcool e drogas.
Cerca de 8 milhões de brasileiros – 7% da população adulta – já experimentaram maconha ao menos uma vez na vida. Desse total, 3,4 milhões de pessoas (3%) utilizaram o narcótico no último ano.
Entre os menores de idade, mais de 600.000 já tiveram algum contato com o entorpecente ao longo da vida – 470.000 deles nos últimos 12 meses.
Tanto adultos quanto adolescentes têm acesso à droga comprando de alguém (60% dos casos) ou ganhando de algum amigo (35%). A diferença é que, enquanto os adultos conseguem maconha em locais públicos e pontos de venda, os menores de idade têm outro ponto de distribuição: a escola.
Efeitos da dependência
O Brasil não está entre os três maiores consumidores de maconha do mundo, segundo o levantamento da Unifesp. O percentual de indivíduos que utilizaram a droga no último ano chega a 14% no Canadá, 13% na Nova Zelândia, 10% nos Estados Unidos e no Reino Unido e 7% no Chile, na Argentina e no Brasil.
Mas a taxa de dependência entre os brasileiros se equipara à de outros países: 37% dos adultos que usam maconha são viciados – cerca de 1,3 milhão de pessoas, segundo o estudo da Unifesp.
Entre os fatores que indicam vício, estão a ansiedade pela falta da droga e a sensação de falta de controle.
A toxicomania é menor entre os adolescentes (chega a 10%), mas é extremamente nociva à saúde desse grupo, já que o cérebro termina a sua maturação somente por volta dos 25 anos de idade, explica Clarice.
“Os menores de 18 anos ainda não tiveram tempo de apresentar os sintomas que irão levar ao diagnóstico de dependência”, completa Clarice.
O consumo precoce da maconha age sobre o sistema nervoso central diminuindo a atenção, a concentração, a memória e a capacidade de resolver conflitos, segundo a psiquiatra e neurocientista Ana Cecilia Marques, coordenadora do Departamento de Dependência em Álcool e Drogas da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
“Estudos apontam que a taxa de dependência entre jovens que consomem álcool aos 16 anos varia de 6% a 8%. Se começaram aos 12 anos, o índice sobe para 10% a 12%”, aponta Ana Cecilia, ao lembrar que não há um estudo mais aprofundado sobre o uso precoce da maconha. “Esse percentual também é esperado para outras drogas, pois elas afetam o sistema límbico, que é o mesmo prejudicado pelo álcool.”
Como consequência do consumo precoce de entorpecentes, o usuário pode ter dificuldades para estudar, trabalhar e se relacionar com outras pessoas. Esses danos podem levar a depressão, ansiedade, além do desenvolvimento de esquizofrenia e outras neuroses, de acordo com Ana Cecilia.
Flexibilização
No Brasil, qualquer tipo de acesso à maconha é proibido: desde o uso medicinal até o cultivo para consumo próprio e a compra e venda da droga.
Nos últimos anos, porém, o debate sobre a possibilidade de descriminalizar ou legalizar a droga ganhou força. O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso é uma das personalidades que tem se manifestado a favor da mudança na legislação.
Em 2012, mais de 200 cidades sediaram a Marcha da Maconha, uma passeata realizada por defensores da regulamentação da erva.
“Estamos falando do fato de a proibição trazer muitíssimos problemas e não controlar o consumo de forma alguma, nem entre os adolescentes”, defende Alexandre de Castro, um dos organizadores da Marcha da Maconha em Belo Horizonte (MG).
Ainda assim, apenas 11% das pessoas entrevistadas no levantamento da Unifesp são favoráveis à legalização da maconha, enquanto 75% são contra.
Se a lei que proíbe o uso e venda maconha for flexibilizada, o número de dependentes deve aumentar no mesmo ritmo que o consumo, segundo Clarice.
“É sabido que o aumento da disponibilidade de qualquer droga aumenta o seu consumo”, diz Clarice, lembrando que menos de 20% dos viciados procuram tratamento médico. “Considerando esses baixíssimos índices, seria mais racional que um projeto de mudança envolvesse o incentivo à justiça terapêutica (recuperação de dependentes)”, defende Clarice.
Para Ana Cecilia, antes de discutir legalização de outras drogas, o governo deve garantir que menores não tenham acesso a entorpecentes hoje considerados legais.
“Eu só acredito em uma coisa: uma política que proteja a criança e o adolescente de drogas inclusive legais, como o álcool e o tabaco, que também são proibidas para menores de 18 anos”, afirma Ana Cecilia.
Fonte: Infosurhoy


Teste dos olhos pode auxiliar no diagnóstico da esquizofrenia.

Testes de movimento dos olhos ajudam a detectar a esquizofrenia, um distúrbio psicótico caracterizado por perda de afetividade e da personalidade, alucinações e delírios de perseguição. Segundo estudo divulgado na última quarta-feira e publicado pela Biological Psychiatry, um modelo de testes de olhar teve 98% de precisão em distinguir pessoas com e sem esquizofrenia.

A descoberta, dizem os pesquisadores, pode agilizar o diagnóstico da doença. Os autores do estudo, que pertencem à Universidade de Aberdeen (Grã-Bretanha), agora investigam se isso pode servir para que, identificado o mal, o tratamento dos sintomas seja feito com mais rapidez.

O estudo foi liderado pelos professores Philip Benson e David St Clair, que explicam que pesquisas prévias já indicavam a relação entre esquizofrenia e alterações no movimento dos olhos.

A pesquisa da Universidade de Aberdeen usou diversos testes de olhar, nos quais era pedido que voluntários acompanhassem com os olhos objetos que se moviam lentamente; que observassem uma variedade de cenas do dia a dia; e que mantivessem um olhar fixo sobre um alvo parado.

"As pessoas com esquizofrenia têm déficits já bem documentados na habilidade de acompanhar com os olhos objetos em movimento lento", explica Benson, em comunicado da universidade. "Seu movimento dos olhos tende a não acompanhar o objeto a princípio, e depois fazê-lo usando movimentos rápidos dos olhos."

O teste de cenas do dia a dia mostrou que "portadores de esquizofrenia têm um padrão anormal (de observação)", diz ele. No último teste, de fixar-se em um objeto parado, esses portadores "têm dificuldades em manter um olhar fixo".

A equipe de Benson e St Clair realizou seu estudo com 88 pacientes diagnosticados com esquizofrenia e 88 pessoas em um grupo de controle.

Diagnóstico clínico
Para Benson, "sabe-se há mais de cem anos que indivíduos com doenças psicóticas têm diversas anormalidades no movimento dos olhos. Mas, até a realização do nosso estudo, usando uma nova bateria de testes, ninguém pensou que essas anormalidades eram sensíveis o bastante para serem usadas como forma de diagnóstico clínico".

Seu colega St Clair explica que, atualmente, o diagnóstico da esquizofrenia é feito "apenas com (a análise) de sintomas e de comportamento", na ausência de exames de sangue ou de tomografias para isso.
"Se você tem sintomas de distúrbios, o diagnóstico é fácil. Mas há muitos pacientes (cujo diagnóstico) não é tão simples", agrega. "É (um procedimento) caro, que consome tempo e requer indivíduos altamente treinados. Em comparação, esses testes de olhar são simples, baratos e podem ser feitos em questão de minutos."

Segundo ele, isso significa que um modelo semelhante ao usado no estudo poderia ser aplicado em hospitais e clínicas. "O próximo passo é descobrir quando essas anormalidades são passíveis de serem detectadas pela primeira vez e se isso podem ser usado como pontos de referência para estudos de como intervir na doença".

Fonte: Terra


O que a pesquisa não explica:
Qual a especificidade do teste? Alterações dos movimentos oculares ocorrem também em outros transtornos mentais, como autismo, transtorno bipolar e outras psicoses.

Essas alterações ocorrem em todos os pacientes esquizofrênicos? A amostra da pesquisa é pequena, inclui apenas 88 pacientes.

Esse teste serviria para diagnósticos precoces, ou seja, antes do primeiro surto? Os pacientes da pesquisa já tinham o diagnóstico de esquizofrenia, portanto, já apresentavam sinais claros da doença.

Existem pessoas saudáveis que podem ter as alterações citadas na pesquisa? A pesquisa testou somente 88 pessoas saudáveis. Essas alterações dos movimentos oculares podem ocorrer em familiares saudáveis de pacientes com esquizofrenia?

Pesquisas por biomarcadores da esquizofrenia ocorrem há mais de 3 décadas. Muitos achados, inclusive este dos olhos, já são conhecidos, mas nenhum marcador foi considerado ainda fidedigno para o diagnóstico definitivo da doença.


"Não dá nenhum barato": o risco da maconha.

O atual liberalismo em torno do consumo da droga está em descompasso com as pesquisas médicas mais recentes. As sequelas cerebrais são duradouras, sobretudo quando o uso se dá na adolescência.
"Hoje ainda, até o fim do dia, 1 milhão de brasileiros terão fumado maconha. A maioria dessas pessoas está plenamente convencida de a droga não faz mal. Elas conseguem trabalhar, estudar, namorar, dirigir, ler um livro, cuidar dos filhos... A folha seca e as flores de Cannabis são consumidas agora com uma naturalidade tal que nem parece ser um comportamento definido como crime pela lei penal brasileira. O aroma penetrante inconfundível permeia o ar nas baladas, nas áreas de lazer dos condomínios fechados, nos carros, nas imediações das escolas. A maconha que em outros tempos já foi chamada de "erva maldita", agora ganhou uma aura inocente de produto orgânico e muitos de seus usuários acendem os "baseados" como se isso fosse parte de um ritual de comunhão com a natureza, uma militância-. espiritual de sintonia com o cosmo. Ha uma gigantesca onda de tolerância com esse vício. Nos Estados Unidos, dezessete estados já regulamentaram seu uso medicinal. Em novembro, os estados de Washington E Colorado farão um plebiscito sobre a legalização. No Uruguai, o presidente José Mujica pretende estatizar a produção e a distribuirão da droga. Em maio deste ano, no Brasil, sob o argumento do direito à liberdade de expressão, o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou a marcha da maconha - desde, é caro que ela não fosse consumida pelos manifestantes, em um de seus shows, em janeiro, Rita Lee causou tumulto ao interromper a apresentação em Sergipe para interpelar os policiais que tentavam reprimir o fumacê na platéia: "Este show é meu. Não é de vocês. Por que isso? Não pode ser por causa de um baseadinho. Cadê um baseadinho pra eu fumar aqui?".
Na contramão da liberalidade oficial, legal e até social com o uso da maconha, a ciência médica vem produzindo provas cada dia mais eloquentes de que a fumaça da maconha faz muito mal para a saúde do usuário crônico - quem fuma no mínimo um cigarro por semana durante um ano. Fumar na adolescência, então, é um hábito que pode ter consequências funestas para o resto da vida da pessoa. Aqueles cartazes das marchas que afirmam que "maconha faz menos mal do que álcool e cigarro" são fruto de percepções disseminadas por usuários, e não o resultado de pesquisas científicas incontrastáveis. Maconha não faz menos mal do que álcool ou cigarro. Cada um desses vícios agride o organismo a sua maneira, mas, ao contrário do que ocorre com a maconha, ninguém sai em passeata defendendo o alcoolismo ou o tabagismo. Diz um dos mais respeitados estudiosos do assunto, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo: "Encarar o uso da maconha com leniência é uma tese equivocada, arcaica e perigosa".
Alguns dos argumentos para a legalização da maconha têm uma lógica perfeita apenas na aparência. Os defensores da legalização alegam que. vendida legalmente, a maconha também seria cultivada dentro da lei e industrializada. A oferta aumentaria e os preços cairiam. Isso tornaria inúteis os traficantes. Eles sumiriam do mapa, levando consigo todo o imenso colar de roubos, assassinatos e corrupção policial que a repressão à maconha provoca. O argumento não resiste ao mais simples teste de realidade embutido na pergunta: "Quem disse que traficante vende só maconha?". Se a maconha fosse liberada, o tráfico de cocaína, heroína e crack continuaria e todos os problemas sociais decorrentes do poder desse submundo ficariam intactos. Acrescente-se à equação o fato de que a maconha efetivamente faz mal à saúde, e a lógica dos defensores de sua legalização evapora-se no ar ainda mais rapidamente.
Um dos estudos mais impactantes e recentes sobre os males da maconha foi conduzido por treze reputadas instituições de pesquisa, entre elas as universidade Duke, nos Estados Unidos, e de Otago, na Nova Zelândia. Os pesquisadores acompanharam 1000 voluntários durante 25 anos. Eles começaram a ser estudados aos 13 anos de idade. Um grupo era composto de fumantes regulares de maconha. Os integrantes do outro grupo não fumavam. Quando os grupos foram comparados, ficou evidente o dano à saúde dos adolescentes usuários de maconha que mantiveram o hábito até a idade adulta. Os fumantes tiveram uma queda significativa no desempenho intelectual. Na média, os consumidores crônicos de maconha ficavam 8 pontos abaixo dos não fumantes nos testes de Q.I. Os usuários de maconha saíram-se mal também nos testes de memória, concentração e raciocínio rápido. Os resultados mostram que é falaciosa a tese de que fumar maconha com frequência não compromete a cognição. Diz o psiquiatra Laranjeira: "Se o usuário crônico acha que está bem, a ciência mostra que ele poderia estar muito melhor sem a droga. A maconha priva a pessoa de atingir todo o potencial de sua capacidade".
O cineasta paulistano Álvaro Zunckeller, de 32 anos, fumou maconha durante duas décadas, desde a adolescência, com os amigos, na roda do bar e na saída da escola. No início, era um cigarro a cada duas semanas. Chegou a três por dia. "Era um viciado, mas para a maioria das pessoas eu era um sujeito sossegado, apenas um pouco desatento", conta ele. Zunckeller é um caso típico da brasa dormida dos danos da maconha ao cérebro confundidos com um comportamento ameno e um estilo de vida mais contemplativo. Apenas 10% dos pacientes internados em clínicas de recuperação de dependentes foram parar ali para tentar se livrar do vício da maconha. Ainda assim, muitos dos usuários da droga nessas clínicas foram diagnosticados com esquizofrenia, bipolaridade, depressão aguda ou ansiedade — sendo o vício de maconha apenas um componente do quadro psicótico e não seu determinante.
Até pouco tempo atrás vigorou a tese de que a maconha só deflagra transtornos mentais em pessoas com histórico familiar dessas doenças. Essa noção benigna da maconha foi sepultada, entre outros trabalhos, por uma pesquisa feita pelo Instituto de Saúde Pública da Suécia. Um grupo de 50000 voluntários foi avaliado durante 35 anos. Eles consumiram maconha na adolescência. Os suecos demonstraram que o risco de usuário de maconha sem antecedentes genéticos vir a desenvolver esquizofrenia ou depressão é muito mais alto do que o da população em geral. Entre os usuários de maconha pesquisados, surgiram 3,5 mais casos de esquizofrenia do que na média da população. No que se refere à depressão, o número de casos clínicos foi o dobro. Os sinais de perigo da fumaça estão surgindo em toda parte. "O bombardeio repetido da maconha sobre o cérebro cria uma marca neuronal indelével", diz Ana Cristina Fraia, psicóloga da Clínica Maia Prime, em São Paulo, especializada no tratamento de dependência química.
A razão básica pela qual a maconha agride com agudeza o cérebro tem raízes na evolução da espécie humana. Nem ó álcool, nem a nicotina do tabaco; nem a cocaína, a heroína ou o crack; nenhuma outra droga encontra tantos receptores prontos para interagir com ela no cérebro como a cannabis. Ela imita a ação de compostos naturalmente fabricados pelo organismo, os endocanabinoides. Essas substâncias são imprescindíveis na comunicação entre os neurônios, as sinapses.
A maconha interfere caoticamente nas sinapses, levando ao comprometimento das funções cerebrais. O mais assustador, dada a fama de inofensiva da maconha, é o fato de que, interrompido seu uso, o dano às sinapses permanece muito mais tempo — em muitos casos para sempre, sobretudo quando o consumo crônico começa na adolescência. Em contraste, os efeitos diretos do álcool e da cocaína sobre o cérebro se dissipam poucos dias depois de interrompido o consumo.
Com 224 milhões de usuários em todo o mundo, a maconha é a droga ilícita universalmente mais popular. E seu uso vem crescendo — em 2007, a turma do cigarro de seda tinha metade desse tamanho. Cerca de 60% são adolescentes. Quanto mais precoce for o consumo, maior é o risco de comprometimento cerebral. Dos 12 aos 23 anos, o cérebro está em pleno desenvolvimento. Em um processo conhecido como poda neural, o organismo faz uma triagem das conexões que devem ser eliminadas e das que devem ser mantidas para o resto da vida. A ação da maconha nessa fase de reformulação cerebral é caótica. Sinapses que deveriam se fortalecer tornando-se débeis. As que deveriam desaparecer, ganham força.
Os efeitos psicoativos da maconha são conhecidos desde o ano 2000 antes de Cristo. Seu princípio psicoativo mais atuante é o tetraidrocanabinol (THC). Um outro componente da droga, o canabidiol, é o principal responsável pelos seus efeitos potencialmente terapêuticos. No campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, o psiquiatra José Alexandre Crippa estuda o efeito do canabidiol no tratamento da fobia social. Trinta e seis voluntários, metade deles composta de fóbicos, ingeriram cápsulas da substância e, em seguida, tiveram de falar em público. Os níveis de ansiedade apresentados pelos portadores do transtorno equivaleram aos registrados pelos participantes sem a fobia.
Todos os estudos sérios sobre os potenciais usos médicos da maconha mediram os efeitos de uma única substância, selecionada e isolada em laboratório — e não da inalação da fumaça de um cigarro. Diz Crippa: "Os defensores do uso medicinal do cigarro da maconha querem mesmo é obter a liberação da droga". Nos Estados Unidos floresce uma indústria de falsificação de receitas depois da legalização da erva para o tratamento do glaucoma e no controle da náusea de pacientes submetidos a quimioterapia. Para a alegria dos viciados, médicos inescrupulosos prescrevem a droga por preços que variam de 100 a 500 dólares.
Em nenhum país a maconha é completamente liberada. Um dos mais notoriamente tolerantes é a Holanda, que permite o consumo da erva nos coffee shops, mas, ainda assim, os proprietários só estão autorizados a vender 5 gramas, o equivalente a um cigarro, para cada cliente. Recentemente, o governo holandês proibiu a venda da droga para estrangeiros. Nem sempre foi assim. Na década de 70, quando a Holanda descriminalizou a maconha e se tornou uma espécie de Disney libertária, fumava-se em praça pública. A festa acabou cedo. Desde então, o tráfico só aumentou. A experiência holandesa — e o recuo das autoridades — derruba um dos mais rígidos pilares da defesa pela liberação: o de que a venda autorizada poria fim ao tráfico. Não pôs.
No Brasil, desde 2006, com a lei antidrogas sancionada pelo então presidente Lula, foi estabelecida uma distinção na punição de traficantes e usuários. Os bandidos estão sujeitos a até quinze anos de prisão. O consumidor não vai para a cadeia. Nesse caso, o juiz decide por uma advertência verbal, pela prestação de serviços comunitários ou recomenda um tratamento médico. A lei brasileira não contempla o volume máximo da droga a ser classificado como uso pessoal. Luana Piovani e Isabel Filardis são algumas das celebridades que defendem a tese de que a maioria dos presos com maconha "nunca cometeu outros delitos, não tem relação com o crime organizado e portava pequenas quantidades da droga no ato da detenção". Do ponto de vista social, elas estão corretíssimas. Do ponto de vista da saúde e da aplicação das leis, nem tanto. O advogado criminalista Pedro Lazarini faz restrições: "Um bandido pode se valer desses limites para nunca ser condenado". O ideal seria que as evidências científicas incontestáveis sobre os ruinosos efeitos da maconha para a saúde sejam levadas em conta. Todos ganham com isso.
"Atualmente, "pega mal" ser contra a liberação da maconha"
Aos 66 anos, o paulistano Valentim Gentil Filho é um dos mais renomados psiquiatras do país. Com doutorado em psicofarmacologia clínica pela Universidade de Londres, ocupou o cargo de presidente do conselho diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas durante doze anos — sem nunca ter abandonado a prática clínica. Tamanha experiência o levou a defender a condenação da maconha. "Trata-se da única droga a interferir nas funções cerebrais de forma a causar psicoses irreversíveis", disse a VEJA. "Se fosse para escolher uma única droga a ser banida, seria a maconha."
Nos últimos dois anos, a ideia da descriminalização para o usuário da maconha ganhou força no país. Recentemente, um grupo de juristas apresentou a proposta no Senado com o objetivo de a medida ser adotada na reforma do Código Penal. O que o senhor acha disso?
O tráfico deve adorar isso. Em hipótese alguma dá para liberar geral. Estamos fadando de substâncias altamente tóxicas. Um dos argumentos pró-maconha é que a legalização reduziria o consumo da droga. As pesquisas mostram, no entanto, que, quando o consumo é referendado e a droga é considerada segura, o adolescente experimenta mais. A história de que os jovens se sentem estimulados a usar drogas por serem proibidas se aplica apenas a uma minoria,
Há muitos médicos, inclusive da sua especialidade, que não pensam como o senhor.
Não é simpático expressar uma opinião contrária à cultura da "anticaretice" que impera no país em relação à maconha. Atualmente, "pega mal" ser contra a liberação da maconha. Até mesmo entre oi médicos. O fato de a maconha não ser tão agressiva como primeiras vezes contribui para isso. Mas ou esses médicos estão muito desinformados ou eles têm acesso a fontes científicas bem diferentes das minhas. Se fosse obrigado a escolher uma única droga a ser banida, seria a maconha, sem sombra de dúvida.
De que forma a maconha seria mais prejudicial do que as outras drogas?
Drogas como heroína, cocaína e crack são devastadoras porque podem matar a curto ou curtíssimo prazo. Além disso, é difícil se livrar dessas substâncias pelo alto grau de dependência que apresentam. Os danos que elas causam ao cérebro, porém, cessam quando deixam de ser usadas. Ou seja, passado o período de abstinência, as funções do organismo se restabelecem. Com a maconha a história é outra. É a única droga a interferir nas funções cerebrais de forma a causar psicoses definitivas, mesmo quando seu uso é interrompido.
Qualquer usuário está suscetível a tais danos?
Sim, mas em graus diferentes, a depender da frequência de consumo e da tolerância do organismo do usuário. É uma roleta-russa. O consumidor esporádico, aquele que fuma às vezes, está sujeito a sofrer estados psicóticos transitórios, como alucinação e paranoia, ataques de pânico e ansiedade. O efeito permanente nas conexões nervosas se dá no uso crônico. Aí, sim, absolutamente todos sofrem algum prejuízo.
O astrônomo americano Carl Sagan (1934-1996) foi usuário da maconha e um defensor ferrenho da droga. Ainda assim, deixou o legado de uma carreira brilhante. Ele teria sido uma exceção?
Sagan foi um gênio, e sou fã dele. Mas penso que, se não tivesse usado tanta maconha, ele teria sido um profissional ainda mais brilhante e mais responsável. Sagan tinha algumas idéias estapafúrdias para um astrônomo. Por exemplo: ele se tomou um dos líderes do Seti (Search for Extra-Terrestrial Intelligence — Busca por Inteligência Extraterrestre), que investiu centenas de milhões de dólares na busca de sinais alienígenas ou provas de alguma civilização extraterreste. Repito aqui: Não há exceções para os danos causados pela maconha.
É possível identificar os adolescentes mais propensos a usar a droga?
Há entre eles um traço de personalidade conhecido como "busca de novidade" (novelty seeking) ou "busca de sensações" (sensation seeking). Pessoas com esse perfil se expõem mais a riscos, têm menor controle sobre suas emoções, são mais impulsivas e têm maior probabilidade de se tomarem dependentes da maconha. No extremo oposto, alguns jovens introvertidos e ansiosos também ficam vulneráveis, dependendo do ambiente. Famílias estruturadas ajudam, e a presença dos pais monitorando o comportamento é uma proteção importante, mas não é garantia contra o uso.
Qual é a sua opinião sobre o uso medicinal da maconha?
Acredito em benefícios de determinadas substâncias extraídas da planta que dá origem à maconha, a Cannabis. Isso é diferente de preconizar o uso terapêutico da maconha fumada, que tem muitos compostos nocivos ao organismo, além da fumaça quente retida no pulmão, com potencial cancerígeno. Não acredito nem mesmo nas versões "purificadas" da planta, vendidas em alguns estados americanos e em coffee shops europeus. Não há tecnologia capaz de certificar que um baseado tenha apenas substâncias não tóxicas da planta. Aliás, a venda nesses lugares é uma bagunça. O filho de um amigo conseguiu comprar maconha medicinal na Califórnia porque no mesmo lugar onde comprou a droga comprou também a receita médica. Uma coisa tem de ficar clara: a agência de saúde oficial americana (FDA) não valida o consumo da maconha ou de outros preparados da Cannabis para fins medicinais. Alguns estados liberam por meio de seus governos.
0 senhor já fumou maconha?
Nunca. E jamais tive vontade.
Seus filhos já fumaram?
Não que eu saiba.
Fonte: Veja


Maus tratos na infância afetam o desenvolvimento cerebral

A forma como o bebê é tratado pela mãe nos seus primeiros anos de vida poderá determinar se seu cérebro terá um bom funcionamento. Uma pesquisa da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) comparou os cérebros de duas crianças de três anos de idade: de um lado, bem tratada por seus familiares, principalmente pela mãe; e de outro, negligenciada. O resultado da pesquisa mostrou que no caso da mãe que deu amor, carinho e se comportou como totalmente responsável pelo bebê, o cérebro dele cresceu plenamente. Enquanto que no caso oposto, quando a criança sofreu abuso ou foi maltratada, o cérebro mostrou-se menor e com pontos mais escuros, indicando que é menos desenvolvido.
— O desenvolvimento do circuito cerebral depende potencialmente de uma interação positiva entre a mãe e o bebê — apontou o professor do Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais da UCLA, Allan Schore, ao jornal britânico “The Telegraph”.
De acordo Schore, isto ocorre porque 80% das células cerebrais se desenvolvem na faixa dos 2 anos de idade, e se o processo de formação de conexões (sinapses) for prejudicado ou não for estimulado, o déficit poderá ser permanente. Ele ressalta que o bebê maltratado poderá ter sua inteligência afetada. Além disso, poderá crescer com menos empatia para com outras pessoas, mais propensão a ser viciado em drogas e a se envolver em crimes violentos. Ele ainda terá mais chances de ficar desempregado com frequência e de ter problemas de saúde e mentais. Esta descoberta, segundo o pesquisador, poderia ser um dos fatores a explicar, por exemplo, por que algumas gerações de famílias tendem a enfrentar um ciclo difícil de quebrar de falta de escolaridade, desemprego persistente, pobreza, vícios como o de álcool e drogas, assim como o envolvimento em crimes.
Em janeiro deste ano, a Escola de Medicina da Universidade de Washington publicou o primeiro estudo mostrando mudanças na anatomia cerebral no caso de crianças que tinham sido negligenciadas por seus pais. A pesquisa, publicada no periódico “Proceedings of the National Academy of Sciences” (Pnas), apontou que crianças que foram bem cuidadas por suas mães nos primeiros anos de vida tinham o hipocampo do cérebro maior. Essa estrutura é fundamental para o aprendizado, a memória e a resposta ao estresse. Neste estudo, os pesquisadores analisaram as imagens dos cérebros de 92 crianças, revelando que aquelas que tinham recebido afeto e sido bem alimentadas tinham o hipocampo 10% maior que as crianças cujas mães tinham sido negligentes.
Fonte: O Globo


Pacientes com transtorno bipolar perdem a capacidade cerebral.

O diagnóstico tardio e o tratamento inadequado do Transtorno Bipolar pode causar a cada crise depressiva uma perda nos pacientes de 5 a 10 % do hipocampo, segundo dados fornecidos por especialistas durante o 30º Congresso Brasileiro de Psiquiatria realizado semana passada em Natal (RN).

O psiquiatra Fábio Gomes, pesquisador e professor da Universidade Federal do Ceará, explica que a cada crise de mania ou depressão vivenciada pelo paciente bipolar, importantes partes do cérebro são prejudicados. Segundo ele, repetidas ocorrências podem levar a danos muitas vezes irreversíveis.

A crise pode mexer com o equilíbrio do organismo, aumentando o estresse oxidativo em todo o corpo e agravar a doença em si. “A cada cinco quadros depressivos, há uma perda de 5 a 10% no hipocampo”, quantifica o especialista. O hipocampo é uma estrutura localizada no lobo temporal do cérebro, responsável principalmente pela memória e pela cognição. Nesses casos, por exemplo, os resultados são a falta de concentração e dificuldade na leitura, explica o especialista.

De acordo com a psiquiatra Ângela Miranda Scippa, presidente da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB) e diretora do Centro de Estudo de Transtorno de Humor e Ansiedade – (CETHA) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), o transtorno bipolar é uma doença tóxica, e a cada episódio de depressão são liberadas substâncias tóxicas ao cérebro que atuam na destruição dos neurônios, levando a perda de capacidade mental.

A especialista preferiu não precisar números, mas destaca que o fato da doença ter sintomas parecidos com os transtornos de ansiedade e Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDH), muitos pacientes podem levar até dez anos para ser diagnosticado bipolar.

Por conta disso, muitos acabam entrando em constantes crises depressivas ocasionando atrofia de áreas do sistema nervoso central trazendo prejuízos a vida do indivíduo como alterações no humor, perda de memória e dificuldade de concentração.

Apesar da gravidade da doença, em Salvador não existe distribuição adequada de medicamentos para tratamento e controle do bipolar para a população carente. “A assistência a saúde mental por parte do Estado em Salvador é precária. Falta unidade de tratamento, medicação e vagas de internação. Pacientes sem tratamento podem chegar a cometer suicídio, além de ter uma grande perda neuronal a cada crise”, destacou Ângela.

No entanto, a psiquiatra destaca que a medicação é um forte aliado no tratamento da bipolaridade. “A medicação retira os sintomas do paciente protegendo o cérebro da agressão da doença evitando a perda neuronal. Em Salvador, cerca de 2 % da população carente, que sofre com o tipo mais brando da doença, não tem acesso a medicamentos para o tratamento e controle bipolar.

Os remédios são muitos caros variando de R$ 80 a R$ 1.000 além disso, foram fechados vários hospitais e com isso muitos pacientes com quadros mais graves ficam desasistidos”, destacou a médica.

Na capital, apenas o CETHA, que funciona no ambulatório Magalhães Neto, no bairro do Canela oferece atendimento e interação gratuita para portadores da doença. Porém, segundo a psiquiatra, a unidade está superlotada e falta medicamentos para atender a todos os pacientes. “Aqui em Salvador, não existe uma priorização para a saúde mental. Muitos pacientes após saírem da internação ficam sem o medicamento de uso contínuo. E isso é muito grave, podendo levá-lo a cometer suicídio em momentos de crise”, criticou a médica.
O impacto do diagnóstico da doença é muito forte tanto para o portador quanto para familiares. Nenhum deles sabe lidar bem com a situação do diagnóstico, a crise, o tratamento que não pode ser interrompido e que leva algum tempo para se obter o resultado almejado.

Muitas vezes a negação da doença, a suspensão do tratamento, o descompasso do apoio familiar geram atraso no controle da doença e perda significativa da qualidade de vida. A compreensão da família sobre as manifestações da doença e a instabiliadde dos portadores é muito importante para garantir o controle e gerar mais qualidade de vida para o portador e familiares.

A Associação Brasileira de Familiares Amigos e Portadores de Trasntornos Afetivos ( ABRATA), oferece informações a pacientes e familiares sobre como lidar com a doença através do site : www.abrata.org.br

Fonte: Tribuna da Bahia


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A atividade física regular na terceira idade pode ajudar a evitar o encolhimento do cérebro.

A pesquisa foi feita pela Universidade de Edimburgo, na Escócia, e analisou dados de 638 pessoas com 70 anos que foram submetidas a exames cerebrais.
Os resultados mostraram que aqueles que eram fisicamente mais ativos tiveram menor retração do cérebro do que os que não se exercitavam.
Por outro lado, os que realizavam atividades de estimulação mental e intelectual, como fazer palavras cruzadas, ler um livro ou socializar com os amigos, não tiveram efeitos benéficos em relação ao tamanho do cérebro, constatou o estudo, publicado na revista Neurology.
Deterioração
A ciência já provou que a estrutura e funcionamento do cérebro se deterioram com o passar dos anos.
Também são inúmeros os registros na literatura médica de que o cérebro tende a encolher com o envelhecimento.
Tal encolhimento está ligado a uma perda de memória e das capacidades cerebrais, dizem as pesquisas.
Os estudos têm mostrado que as atividades sociais, físicas e mentais podem contribuir para a prevenção desta deterioração.
No entanto, até agora não tinham sido realizados amplas pesquisas com imagens cerebrais para observar essas mudanças na estrutura do cérebro e seu volume.
Segundo o estudo, que levou três anos para ser concluído, o médico Alan Gow e sua equipe pediram aos participantes que levassem um registro de suas atividades diárias.
No final desse período, quando completaram 73 anos, os participantes passaram por scanners de ressonância magnética para analisar as mudanças no cérebro.
Depois de levar em conta fatores como idade, sexo, saúde e inteligência, os resultados mostraram que a atividade física estava "significativamente associada" com a menor atrofia do tecido cerebral.
"As pessoas de 70 anos que fizeram mais exercício físico, incluindo uma caminhada, várias vezes por semana, apresentaram uma retração menor do cérebro e outros sinais de envelhecimento da massa cerebral do que aqueles que eram menos ativos fisicamente", exlicou Grow.
"Além disso, nosso estudo não mostrou nenhum benefício real no tamanho do cérebro com a participação em atividades mental e socialmente estimulantes, como observado por imagens em scanners de ressonância magnética durante os três anos de estudo", acrescentou.
Segundo o pesquisador, a atividade física foi também associada a um aumento no volume de massa cinzenta.
Esta é a parte do cérebro onde se originam as emoções e percepções. Em estudos anteriores, essa região está relacionada à melhora da memória de curto prazo.
Quando os cientistas analisaram o volume de substância branca, responsáveis pela transmissão de mensagens no cérebro, descobriram que as pessoas fisicamente ativas tinham menos lesões nessa área do que as que se exercitavam menos.
Causas
Embora estudos anteriores já tenham mostrado os benefícios do exercício para prevenir ou retardar a demência, ainda não está claro os motivos por que isso acontece.
Os pesquisadores acreditam que as vantagens da atividade esportiva podem estar ligadas ao aumento do fluxo de oxigênio no sangue e de nutrientes para o cérebro.
Mas uma outra teoria é que, como o cérebro das pessoas encolhe com a idade, elas tendem a se exercitar menos e, assim, acabam tendo menos benefícios.
Seja qual for a explicação, dizem os especialistas, os resultados servem para comprovar que o exercício físico é benéficio para a saúde.
"Este estudo relaciona a atividade física à redução dos sinais de envelhecimento do cérebro, sugerindo que o esporte é uma forma de proteger a nossa saúde cognitiva", disse Simon Ridley, da entidade Alzheimer's Research no Reino Unido.
"Embora não possamos dizer que a atividade física é o fator causal deste estudo, nós sabemos que o exercício na meia idade pode reduzir o risco de demência futura", acrescentou.
"Vai ser importante acompanhar tais voluntários para ver se essas características estruturais estão associadas com maior declínio cognitivo nos próximos anos", disse.
"Também será necessário mais pesquisas para saber detalhadamente sobre por que a atividade física está tendo esse efeito benéfico", afirmou.
Já o professor James Goodwin, da organização Age UK, que financiou a pesquisa, disse: "Este estudo destaca novamente que nunca é tarde para se beneficiar dos exercícios, seja uma simples caminhada para fazer compras ou um passeio no jardim", concluiu.
"É crucial que, se o fizermos, permanecer ativo à medida que envelhecem", acrescenta.
Fonte: Diário de Pernambuco
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Congresso Europeu de Neuropsicofarmacologia

Vou participar do Congresso Europeu de Neuropsicofarmacologia entre 13 a 17 de outubro em Viena e aproveito para tirar alguns dias de férias a partir de hoje, retornando ao consultório no dia 21/10. Se você é meu paciente, clique aqui para informações sobre colegas meus que você pode consultar em caso de emergência (você precisa estar logado no site para visualizar a página). Você pode neste período se comunicar comigo por e-mail se necessário. Espero retornar com muitas novidades, este congresso vai discutir as novas perspectivas para a psiquiatria e apresentar avanços na área da farmacologia, novas moléculas que poderão estar disponíveis em breve para tratamento. Um abraço a todos!


Qual o melhor tratamento para a esquizofrenia?

Esta é uma pergunta recorrente nos consultórios médicos e dúvida também de muitos leitores do site, por isso resolvemos abordar este tema de forma clara e abrangente, para que todos possam compreender os desafios que se colocam para a recuperação de uma pessoa que sofre de esquizofrenia.

Não se trata somente da escolha de um antipsicótico eficaz e bem tolerado, mas de uma constelação de fatores que vão desde a precocidade do diagnóstico e do tratamento até a escolha dos tratamentos psicossociais, como a psicoeducação de família, psicoterapia e terapias de reabilitação.

Um ponto central é o tempo para o diagnóstico e para um tratamento que seja capaz de trazer o paciente para um estado de remissão (sem sintomas positivos) o mais rapidamente possível.

Pesquisas mostram que um paciente com esquizofrenia é levado a um psiquiatra em média após 1 ano de doença, quando já sofre dos sintomas positivos, como delírios e alucinações. Geralmente o paciente apresenta também, algum tempo antes do primeiro surto, sintomas negativos, como apatia, desânimo e isolamento, e sintomas cognitivos, como problemas de memória e concentração, que prejudicam as suas atividades produtivas, como trabalho e estudo, muitas vezes descontinuando-as algum tempo antes. Esses sintomas raramente são atribuídos à doença e dificilmente o paciente é levado ao psiquiatra apenas por essa razão.

Portanto, na maioria dos casos, um tratamento é iniciado já com mais de um ano de adoecimento. Isto se o paciente não apresentar a resistência natural ao tratamento (por não ter consciência de sua doença) ou se a família adiar a procura pelo psiquiatra (é muito comum a negação ou subestimação do problema ou a crença de se tratar de algo espiritual ou de uma crise existencial da adolescência).

Os primeiros cinco anos de doença são considerados um período considerado crítico, pois estudos mostram que a gravidade da doença nos cinco anos iniciais influencia o prognóstico do paciente ao longo da vida. Todavia, quanto mais eficiente o tratamento no início do quadro, maiores as chances de recuperação, com a retomada progressiva das atividades do paciente antes de adoecer.

Isso ocorre porque alterações neurofuncionais e neuroanatômicas na esquizofrenia costumam ocorrer mais neste período do que com a cronicidade da doença, como se esta fosse uma fase de maior atividade biológica.

Pesquisas demonstraram que pacientes com esquizofrenia podem apresentar declínio de funções cognitivas, como memória, atenção e capacidade executiva, que podem não ser totalmente recuperadas passada esta fase, comprometendo o potencial de recuperação do paciente no futuro. Da mesma forma, alterações anatômicas, como redução do volume do lobo frontal, do núcleo estriado e do hipocampo, ocorrem mais no inicio da doença.

O tratamento com antipsicótico, medicação indicada no tratamento da esquizofrenia, tem um efeito neuroprotetor e pode evitar a progressão da doença em sua fase inicial, mas para isso é necessário que o medicamento seja iniciado precocemente, assim que identificado o transtorno, e garantida sua regularidade de administração, essencial para uma resposta terapêutica satisfatória e para a prevenção de recidivas (leia mais sobre Intervenção Precoce).

Adesão é o termo que se usa para definir essa regularidade do tratamento. Problemas de adesão são muito comuns na esquizofrenia e envolvem diferentes motivos. Um paciente pode não aderir ao tratamento porque não se acha doente, porque a medicação causa um efeito colateral intolerável para ele ou simplesmente porque a medicação não é eficaz o suficiente para o alivio dos sintomas, não fazendo sentido para o paciente o compromisso de tomar um medicamento diariamente. O paciente pode aderir ao tratamento no início e depois interromper, por achar que está curado e que não precisa mais do medicamento, o que também configura um problema de adesão, já que o tratamento de longo prazo é fundamental para o controle da doença, para a prevenção de recaídas e para a recuperação do paciente.

Problemas de não-adesão costumam estar presentes nos quadros mais graves ou de pior evolução, sendo um dos principais fatores relacionados ao conceito de resistência ou refratariedade ao tratamento (esquizofrenia refratária). Por isso a importância de se identificar precocemente a não adesão e tratar o paciente com medicamentos eficazes, mais toleráveis e que possam ser mais eficientes num tratamento a longo prazo, reduzindo assim os riscos de interrupção.

Os efeitos colaterais que mais comprometem a adesão ao tratamento são os efeitos extrapiramidais (do tipo parkinsonismo - tremores, lenhificação motora, alteração da marcha) e os metabólicos (como ganho de peso). Os antipsicóticos de segunda geração, que surgiram na década de 90, costumam ser opções mais eficientes do que os de primeira geração por causarem menos efeitos extrapiramidais e, entre eles, existem alternativas com melhor perfil metabólico e que causam menos ganho de peso.

Em dezembro de 2011 foi lançado no Brasil o primeiro antipsicótico de segunda geração injetável de longa duração e de uso mensal, o Palmitato de Paliperidona (Invega Sustenna). Até então só existiam antipsicóticos injetáveis (depósito) de primeira geração (Haldol Decanoato, Piportil L4, Flufenan Depot e Clopixol Depot) e um de segunda geração de uso quinzenal (Risperdal Consta).

Invega Sustenna representa um avanço no tratamento da esquizofrenia, especialmente no caso dos pacientes com histórico ou características de não-adesão ao tratamento oral (p.ex. pacientes que se recusam a tomar remédios ou que recaem com frequência porque param de tomar a medicação). Através de injeções mensais o paciente recebe níveis regulares da medicação antipsicótica sem a necessidade de comprimidos orais. É uma opção hoje para garantir um tratamento eficaz nos casos iniciais de esquizofrenia e evitar com isso a progressão da doença.

O medicamento, embora crucial, não é a única coisa importante no tratamento inicial da esquizofrenia. Hoje se sabe que a família tem um papel tão importante quanto o tratamento medico. Pesquisas mostraram de forma consistente desde a década de 80 que o ambiente familiar pode influenciar a evolução da esquizofrenia, inclusive determinar um maior número de recaídas e hospitalizações. As atitudes familiares mais relacionadas às recaídas foram aumento da critica, hostilidade, cobranças excessivas, aumento das expectativas, superproteção e superenvolvimento afetivo (viver essencialmente para o paciente, abdicando de suas atividades).

Um estudo em 2007 comparou dois grupos de pacientes, ambos moravam com familiares com alto nível de critica, mas somente um grupo tinha adesão ao tratamento médico, ou seja, usava antipsicótico regularmente. Ao final de um ano de acompanhamento, as taxas de recaída e hospitalização foram semelhantes entre o grupo que tomava e o que não tomava medicamentos, mostrando que o ambiente familiar com alto nível de critica anula os benefícios do antipsicótico.

Portanto, a cooperação da família é tão importante quanto o tratamento médico. Esta constatação é tão robusta que a psicoeducação de família, nome que se dá ao tratamento familiar para esquizofrenia, foi considerada a modalidade de tratamento psicossocial com maior nível de evidência cientifica, fazendo parte de todos os consensos internacionais para tratamento da doença. Lamentavelmente a cobertura deste tratamento para famílias de pacientes com esquizofrenia é menor do que 20%.

As prerrogativas de um tratamento de psicoeducação de família são informar os familiares sobre a doença (por isso o nome educação) e ajudar familiares e pacientes com os problemas advindos da convivência com a doença, através da terapia de solução de problemas, que pode ser feita individualmente com cada família e o paciente ou em grupo, com várias famílias e pacientes. A terapia em grupo se mostrou mais eficaz na prevenção de recaídas, na medida em que permite a troca de experiências entre pessoas que compartilham das mesmas vivencias.

A psicoeducação de família não só ajuda a prevenir recaídas, como também melhora a adesão ao tratamento médico, combate o estigma da doença entre familiares e pacientes, amplia a rede social dessas pessoas, melhora a qualidade de vida e auxilia na recuperação do paciente, inclusive na retomada de suas atividades (leia mais sobre prevenção de recaídas).

Portanto, respondendo a pergunta do titulo deste artigo, o melhor tratamento para a esquizofrenia é aquele que alia, desde o inicio, o tratamento médico, com um antipsicótico eficiente e que possa garantir a adesão do paciente, e a psicoeducação de família. Quanto antes começar esses tratamentos, menor a gravidade da doença e maiores as chances de recuperação (leia mais sobre recuperação).


Estresse e depressão afetam taxa de sobrevivência de pacientes com câncer

O estudo, publicado na revista PLoS ONE e liderado pelo oncologista Lorenzo Cohen, analisou um grupo de pacientes com carcinoma de células renais em estágio final. Os pacientes mais depressivos eram mais propensos a falecer.
A ciência já sabia que fatores emocionais tinham um impacto sobre a biologia. Nesse estudo, foi descoberto que eles podem influenciar os resultados de um câncer. Cohen acredita que o culpado por trás dessa ligação seja o cortisol, também conhecido como “hormônio do estresse”, que atua nas vias inflamatórias.
O cortisol é o hormônio produzido pela glândula adrenal em resposta ao estresse, e ajuda a regular a resposta inflamatória do corpo. Em circunstâncias normais, os níveis de cortisol são elevados de manhã e diminuem ao longo de todo o dia. Porém, pacientes com estresse crônico ou sintomas depressivos mantém níveis elevados de cortisol ao longo do dia.
No estudo, os pacientes com níveis de cortisol altos ao longo do dia tiveram um risco aumentado de mortalidade. Através de perfis genéticos, os pesquisadores concluíram que a associação entre a condição psicológica do paciente e o tempo de sobrevivência pode decorrer de uma desregulação na biologia inflamatória.
Outros estudos obtiveram resultados parecidos. Um da Universidade Carnegie Mellon (EUA) descobriu que o estresse psicológico crônico estava associado com a perda da capacidade do corpo de regular sua resposta inflamatória.
Ao longo de um período prolongado de estresse crônico, o tecido do corpo torna-se insensível ao cortisol e o hormônio perde a sua eficácia na regulação da inflamação. A inflamação é boa quando acionada como parte do esforço do organismo para combater a infecção, mas a inflamação crônica pode promover o desenvolvimento e a progressão de muitas doenças, incluindo depressão, doenças cardíacas, artrite reumatoide, diabetes e câncer.
De acordo com Lorenzo Cohen, o próximo passo é a realização de ensaios clínicos com pacientes de câncer que satisfazem os critérios para depressão e ansiedade. Um grupo vai receber tratamento para essas condições e outro não, para ver se há melhora na qualidade e expectativa de vida dos pacientes ao eliminar a depressão.
Por enquanto, Cohen sugere que pacientes com câncer e sua família tentem gerir de alguma forma o estresse associado com a doença.
Fonte: Hype Science


Estudos revelam riqueza genética no 'DNA lixo'

Essa descoberta ajuda a compreender melhor porque a interação gene-ambiente é tão importante para certas doenças como a esquizofrenia, o transtorno bipolar, entre outras. Essas sequências de DNA, que teriam a função de regulação da expressão gênica, podem ser uma das explicações porque fatores ambientais podem ativar alguns genes de predisposição à doença e fazer com que uma pessoa adoeça e outra não, apesar de possuírem o mesmo gene de susceptibilidade. Como explicar, p.ex., que no caso de gêmeos idênticos, quando um tem esquizofrenia, o outro adoeça somente em 48% dos casos?
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Onze anos atrás, quando o primeiro rascunho de sequenciamento do genoma humano foi publicado, uma das maiores surpresas foi constatar que apenas 2% das 3 bilhões de "letras" químicas que o compõem correspondem a genes propriamente ditos - sequências chamadas "codificadoras", que carregam as instruções genéticas necessárias para a síntese de proteínas. Os outros 98% foram apelidados de "DNA lixo", por não ter função conhecida no organismo. Um apelido que sempre incomodou muita gente.
Agora, mais de uma década de ciência depois, chega a redenção. Mais de 30 trabalhos publicados simultaneamente em quatro revistas científicas de peso, incluindo Nature e Science, descartam em definitivo o apelido pejorativo, confirmando várias evidências acumuladas ao longo dos anos de que o "DNA lixo", na verdade, não é lixo coisa nenhuma. Os resultados, oriundos do projeto Enciclopédia de Elementos de DNA (Encode, na abreviatura em inglês, que significa "codificar"), indicam que mais de 80% do genoma humano têm algum tipo de função bioquímica operacional.
"Eu diria que o termo DNA lixo pode ser definitivamente jogado no lixo", diz a geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP).
Dentro do que se chamava de lixo, os pesquisadores do Encode encontraram uma riqueza milionária de sequências chamadas reguladoras, que não codificam proteínas diretamente, mas interagem de alguma forma com o funcionamento dos genes. Algumas funcionam como interruptores, ligando-os ou desligando-os. Outras como um botão de volume, aumentando ou diminuindo a intensidade com que determinados genes se expressam em determinadas células, em determinadas situações.
É esse maquinário regulatório que permite ao ser humano ser uma espécie biologicamente tão complexa com "apenas" 20 mil genes - bem menos do que uma espiga de milho ou um grão de arroz. "O genoma humano é muito mais complexo do que imaginávamos", diz Mayana.
"O que eles estão confirmando é uma suspeita de muito tempo, de que essas sequências também têm um sentido biológico enorme", reforça Dirce Maria Carraro, diretora do Laboratório de Genômica e Biologia Molecular do Hospital A.C. Camargo. "É óbvio que elas não estão no genoma por acaso."
Os cientistas destacam a importância dos resultados para estudos clínicos que tentam relacionar mutações e outras formas de alterações genéticas à saúde. Milhares de alterações já foram identificadas que afetam a ocorrência ou a manifestação de doenças, mas a grande maioria não está nos genes (nos 2% do genoma que codificam proteínas), o que já era um forte indício de que o "DNA lixo" tinha alguma função relevante dentro das células - caso contrário, as mutações seriam inócuas.
Uma das teorias era de que o DNA lixo serviria como uma "zona de amortecimento", na qual mutações aleatórias poderiam se acumular ao longo do tempo sem maiores consequências para o organismo. Mas não. Os dados mostram que alterações nessas regiões reguladoras podem ser tão relevantes clinicamente quanto mutações nos genes.
Perspectivas. Os resultados acrescentam uma nova camada de complexidade ao estudo do genoma humano e mostram que é preciso bem mais do que uma sequência de letrinhas para entender como ele funciona. E que os genes são apenas parte de uma história que pode ser contada de diversas maneiras, dependendo de como o genoma é lido. Mayana prevê que os dados abrirão muitas perspectivas de tratamento, apontando para novos alvos genéticos fora das regiões codificadoras e melhorando o entendimento de como o genoma funciona de uma forma geral.
Uma das áreas médicas que certamente tirará proveito dos dados é a oncologia, na qual a relação entre genética e fisiologia se dá de forma mais acentuada. Dirce ressalta, porém, que os dados não têm aplicação imediata na medicina. Assim como foi o caso com o sequenciamento do genoma humano, os resultados do Encode servem como uma plataforma de conhecimento básico, sobre a qual novas pesquisas poderão ser construídas com finalidades mais aplicadas. Algo que levará tempo.
"É uma quantidade imensa de informações. Vai demorar um pouco para darmos sentido prático a tudo isso", diz a pesquisadora. "Teremos de decifrar devagarzinho todos esses achados."
Segundo uma reportagem que acompanha os trabalhos na revista Nature, se todas as sequências genéticas produzidas pelo projeto fossem impressas numa escala de mil pares de bases por centímetro quadrado, o resultado seria uma pilha de papel com 30 quilômetros de comprimento e 16 metros de altura.
Leitura suficiente para muitos e muitos anos de pesquisa.
Fonte: Estadão


Filhos de pais mais velhos nascem com mais mutações genéticas

As mutações "de novo" ocorrem durante a divisão celular da produção de espermatozóides e geram variações de cópias de genes (CNV). Com o avanço da idade do homem, o número de CNV aumenta e isso é transmitido para o filho no momento da fecundação. Essas mutações em geral não causam doenças, algumas podem ser inclusive benéficas, mas o que pesquisadores descobriram é que alguns genes que sofrem mutações "de novo" podem aumentar o risco de doenças como esquizofrenia e autismo no filho. Essas novas mutações farão parte do DNA do filho, que passa a transmitir as mutações para as gerações futuras, acarretando o mesmo risco, sendo que as próximas gerações receberão novas mutações "de novo" das gerações anteriores e assim por diante. O que contribui para a evolução da espécie agora se sabe que traz um risco também para algumas doenças genéticas.
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Um novo estudo islandês publicado nesta quarta-feira (22) pela revista “Nature” reforça uma descoberta recente dos cientistas de que a idade do pai no momento da concepção influencia a saúde da criança. Os filhos de pais mais velhos apresentam maior risco de desenvolver condições como o autismo e a esquizofrenia.
Em abril, uma pesquisa da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, já havia mostrado relação entre a diferença de idade entre pai e filho e o risco de autismo.
O atual estudo, liderado pelo grupo “deCODE Genetics” analisou o genoma de 78 homens islandeses e seus descendentes para calcular a quantidade de mutações genéticas nos filhos, de acordo com a idade do pai.
Os cientistas descobriram que o filho de um pai de 20 anos de idade nasce com uma média de 25 mutações genéticas. Se o pai tinha 40 anos no momento da concepção, esse número sobe para 65 mutações. Segundo o estudo, o aumento é da ordem de duas mutações para cada ano de vida do pai, ao longo da vida adulta.
O que o estudo levou em consideração foram as chamadas mutações “de novo”, características que surgem nos bebês, mas que não estavam presentes em seus pais.
A variação acontece só com o pai, e não com a mãe, porque as mulheres já nascem com todos os óvulos – células femininas que são fecundadas e dão origem aos bebês. Já os espermatozoides, células reprodutivas masculinas, são produzidos ao longo da vida. Por isso, elas sofrem mais divisões celulares e são mais sujeitas ao risco de mutações.
De forma geral, essas mutações nem sempre fazem mal ao bebê – inclusive fazem parte do processo evolutivo. Segundo os especialistas, cerca de 10% dessas mutações são maléficas, podendo causar problemas brandos ou mais graves, como o autismo e a esquizofrenia.
“As populações humanas modernas estão sujeitas a muito menos pressão seletiva do que aconteceu ao longo da história da evolução humana. Como as mutações maléficas são mais comuns que as benéficas, a evolução sob essa seleção relaxada inevitavelmente levará a um declínio da saúde média da população”, avaliou Alexey Kondrashov, da Universidade de Michigan, nos EUA, em um comentário também publicado pela “Nature”.
Fonte: G1


Sacrificar o sono para estudar piora o desempenho do aluno, revela estudo

Uma pesquisa feita pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos EUA, aponta que deixar de dormir algumas horas à noite para estudar um pouco mais piora o desempenho do aluno no dia seguinte. Esse é um comportamento comum principalmente nos últimos anos do ensino médio, que antecedem o vestibular.
O trabalho está publicado na atual edição da revista "Child Development" (Desenvolvimento Infantil) e conclui que os prejuízos por sacrificar o sono independem do quanto a pessoa estudou durante o dia.
Os cientistas, liderados pelo professor de psiquiatria e ciências biocomportamentais Andrew Fuligni, analisaram durante duas semanas variações em 535 alunos de três séries diferentes do ensino médio. Os participantes, de várias etnias e faixas socioeconômicas, tiveram que responder por quanto tempo estudavam e dormiam, se não entendiam algo ensinado nas aulas ou haviam tirado nota baixa em alguma prova escrita, oral ou tarefa de casa.
Para a surpresa dos pesquisadores, a falta de sono criou mais problemas relacionados ao desempenho nos exames do que à compreensão dos adolescentes sobre o que era falado. Fuligni destaca que o sucesso acadêmico depende, portanto, de estratégias que evitem comprometer o sono, como manter um horário consistente de estudo durante o dia, usar o período escolar da forma mais eficiente possível e diminuir o tempo gasto com outras atividades menos essenciais.
Foram analisados 535 adolescentes de 3 séries do ensino médio nos EUA. Comportamento de jovens é comum nos anos que antecedem o vestibular.
Fonte: G1


Portadores de transtornos psiquiátricos têm mais risco de se viciar em drogas

Doenças psiquiátricas como depressão, transtorno bipolar e transtorno obsessivo-compulsivo se mostraram presentes em 51% de dependentes de álcool e drogas, de acordo com uma pesquisa com 1,3 mil pessoas atendidas na unidade estadual de álcool e drogas do Hospital Lacan, em São Bernardo do Campo.
Os resultados refletem uma tendência maior à dependência química entre as pessoas que sofrem deste transtorno, segundo observa Sérgio Tamai, coordenador da área de saúde mental do órgão. "Um indivíduo que sofra de depressão, por exemplo, tem chance mais elevada de tentar buscar drogas estimulantes ou abusar de bebidas alcoólicas”, afirma o psiquiatra.
O estudo, conduzido pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, mostrou também que as mulheres são mais propensas dos que os homens a este tipo de doença e nesta condição - enquanto 50,1% deles apresentavam o quadro, 56% das mulheres estavam nesta situação.
De acordo com Tamai, já está comprovado que indivíduos com pré-disposição genética para doenças psíquicas que usam drogas aumentam em até sete vezes os riscos de desenvolvê-las. “O uso de drogas ou o abuso de bebidas alcoólicas pode ser entendido praticamente como uma roleta russa porque o paciente não pode prever exatamente quais serão as consequências”, explica.
Fonte: Terra


Entrevista com Iván Izquierdo sobre a memória

Iván Izquierdo é um dos maiores pesquisadores do tema em todo o mundo e dirige o Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul. Nesta entrevista ao Canal Livre da TV Bandeirantes ele fala sobre o funcionamento da memória, da importância de sua utilização ao longo da vida para prevenção de doenças como o Mal de Alzheimer. Para ele os inimigos da memória são o álcool, o estresse, a depressão e a ansiedade e algumas pessoas podem começar a perder a memória a partir dos 20 anos de idade. O Mal de Alzheimer é mais comum somente após os 65 anos de idade, mas existem outras causas de demência que podem ocorrer mais cedo. No caso da depressão a melhor forma de tratar a memória é tratando a depressão quimicamente, mas ele não descarta a importância de tratar a depressão também com terapia.
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Entrevista do Dr. Leonardo Palmeira no Programa Sem Censura sobre Esquizofrenia.

Nesta entrevista, que foi ao ar em 08/08/2012, o Dr. Leonardo Palmeira fala sobre a diferença entre a esquizofrenia e o transtorno bipolar, como a vulnerabilidade ao estresse, determinada geneticamente, desencadeia os surtos e que é possível se recuperar e levar uma vida normal através de um tratamento que englobe medicação, terapia e atendimento à família.

Segundo o psiquiatra, um dos pontos de maior conflito está na dificuldade da família compreender que os sintomas negativos são parte da doença e que nem sempre os pacientes conseguem controlá-los. A crítica, cobrança excessiva e pressão emocional aumentam o retraimento e o desânimo que muitos pacientes têm. Foi esclarecedor também o debate com a jornalista Leda Nagle que desmistifica o preconceito que muitas pessoas têm acreditando que esquizofrênicos sejam violentos.


Sofrimento emocional, mesmo os casos menos graves, já aumenta risco de vida.

O sofrimento emocional, mesmo os casos menos graves, como níveis mais baixos de stress, ansiedade, depressão e insegurança — sintomas que atingem uma em cada quatro pessoas —, aumenta o risco de morte causada pela maioria das causas em um período de oito anos. Essa é a conclusão de um extenso estudo publicado nesta terça-feira no periódico British Medical Journal (BMJ). Ainda de acordo com a pesquisa, a mortalidade decorrente de câncer é a única não afetada por problemas psicológicos leves: apenas distúrbios mais intensos e frequentes parecem interferir nesse risco.
Esse estudo, desenvolvido nas universidades de Londres e de Edimburgo, na Grã Bretanha, é o maior já feito sobre a relação entre problemas emocionais e mortalidade. Os pesquisadores levaram em consideração dez outras pesquisas das quais, ao todo, participaram 68.222 adultos com pelo menos 35 anos de idade que não apresentavam doenças graves, como câncer ou problemas cardiovasculares. Eles foram acompanhados ao longo de oito anos.
Os níveis de sofrimento psicológico foram medidos com base em questionários respondidos pelos participantes, que relataram intensidade e frequência com que sentiam sintomas de ansiedade, depressão, problemas de relacionamento e falta de confiança. Segundo os autores, a associação entre risco de morte e problemas psicológicos foi semelhante mesmo após os resultados serem ajustados em relação a outros fatores, como idade, sexo, tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo e hábitos alimentares.
Para o coordenador do trabalho, Tom Russ, esses resultados são preocupantes, já que, segundo ele, como os sintomas de problemas emocionais leves costumam não ser aparentes ou então ignorados pelos profissionais de saúde, os pacientes que apresentam esses distúrbios acabam não recebendo tratamento adequado. Para o pesquisador, esse estudo pode implicar em novas abordagens de terapia para problemas emocionais menos graves a fim de reduzir o risco de mortalidade entre indivíduos que apresentam esses distúrbios.
Fonte: Veja On Line