Entenda o que é o oxi e como a droga se espalhou pelo Brasil

O oxi já apareceu em diversos estados, como alternativa barata ao crack. Os primeiros relatos de consumo do oxi foram registrados no Norte do Brasil, mas, nos últimos dois meses, a droga já foi apreendida em pelo menos 13 Estados do país.
Apesar de ter sido apontada como uma nova droga pela mídia, o oxi é considerado por especialistas como uma variação mais barata e tóxica do crack, que combina a pasta base de cocaína com substâncias químicas de fácil acesso.
Entenda as principais características do oxi e saiba o que já foi descoberto sobre os efeitos e a proliferação da droga.
De que é feito o oxi?
O oxi é uma mistura da pasta base de cocaína, fabricada a partir das folhas de coca, com substâncias químicas de fácil acesso, como querosene, gasolina, cal virgem ou solvente usado em construções.
De acordo com o perito do Instituto de Criminalística de São Paulo, José Luiz da Costa, a fabricação da pasta base de cocaína - da qual também são feitos a cocaína em pó, o crack e a merla - também é feita utilizando uma substância alcalina e um solvente para extrair uma maior quantidade do princípio ativo da planta, responsável pelo efeito principal da droga no sistema nervoso.
"Para se transformar em oxi, a pasta recebe novamente uma quantidade de solvente e alcalino. Só que, desta vez, são produtos como o querosene e o cal, ainda mais tóxicos do que o bicarbonato de sódio, o amoníaco e a acetona, usados para fazer o crack e na cocaína em pó", diz o perito.
A droga pode ser misturada ao cigarro comum e ao cigarro de maconha, mas, geralmente, é fumada em cachimbos de fabricação caseira, como o crack.
Segundo o psiquiatra Pablo Roig, diretor da clínica de reabilitação Greenwood, em São Paulo, o oxi libera uma fumaça escura ao ser consumido e costuma deixar um resíduo marrom, semelhante ao efeito da ferrugem em metais.
Por isso a droga recebeu o nome de oxi, uma abreviação de "oxidado".
Qual a diferença entre oxi e crack?
A principal diferença entre o oxi e o crack no mercado das drogas é o preço.
De acordo com o diretor do Departamento de Investigações sobre Narcóticos de São Paulo (Denarc), Wagner Gíldice, o oxi é vendido por cerca de R$ 2 a R$ 5 nas ruas. Pedras de crack podem chegar a custar R$ 10.
O oxi é mais barato justamente porque é feito com produtos químicos que podem ser conseguidos sem fiscalização e a preços baixos. Também por causa da utilização destas substâncias químicas, ele é mais prejudicial ao organismo do que o crack.
No entanto, especialistas dizem que o efeito psicológico das duas drogas é muito semelhante, já que ambas tem o mesmo princípio ativo, que é a pasta de cocaína.
Segundo o psiquiatra Pablo Roig, tanto o crack como o oxi podem viciar os usuários mais rapidamente do que a cocaína em pó, porque chegam mais rapidamente ao cérebro.
"A cocaína absorvida em pó pelo nariz tem que passar pelo sangue até chegar ao cérebro. Por isso, ela demora mais para fazer efeitos do que crack e oxi, que são inalados e vão do pulmão diretamente para o cérebro em questão de segundos", diz.
Mas Roig diz que, uma vez no organismo, o oxi é mais letal do que o crack, por causa do alto nível de toxicidade das substâncias de que é composto.
"A toxicidade do oxi encurta a vida do usuário em 20% em relação ao crack. Os usuários de crack vivem pelo menos 5 a 6 anos, mas 30% dos usuários de oxi poderão estar mortos depois de um ano", afirmou.
Quais são os efeitos do oxi no organismo?
A psicóloga Helena Lima afirma que a droga age no sistema nervoso, proporcionando sensações variadas, que podem ir de prazer e alívio a angústia e paranoia a depender da pessoa.
"Pela descrição dos usuários, sabemos que o oxi faz efeito entre sete e nove segundos a partir do momento em que é inalado", diz.
Uma vez no organismo, a combinação de substâncias do oxi pode causar lesões sérias da boca até os rins.
"Dizemos que o oxi é artesanal por causa da sua produção, mas, em termos bioquímicos, ele é bastante complexo e sofisticado e, por isso, muito prejudicial", diz Lima.
Na boca, o querosene ou gasolina combinados com o calor provocam ferimentos nos lábios e na mucosa bucal, danificam as papilas gustativas da língua - células responsáveis pelo reconhecimento de sabores -, causam ferimentos no esôfago e corroem os dentes.
O cal virgem na droga pode provocar fibrose pulmonar, que prejudica a captação de ar pelo pulmão.
Os químicos adicionados à droga vão para o fígado, que é o órgão responsável por metabolizá-las. No entanto, a droga sobrecarrega o fígado e compromete suas funções, como a distribuição de açúcar no organismo.
Por causa disso, o uso prolongado do oxi aumenta as chances de doenças como cirrose hepática e o acúmulo de gordura no órgão.
"Muitas pessoas também misturam o oxi com o álcool, o que é ainda pior. A mistura forma uma substância chamada cocaetileno, que é altamente tóxica para o fígado. Por isso, vê-se usuários com lesões sérias no fígado em pouco tempo", diz Pablo Roig.
Quem consome oxi também está sujeito a falhas nos rins, que também ficam sobrecarregados pela alta quantidade de toxinas resultantes da combinação química da droga.
A dificuldade dos rins em eliminar as toxinas faz com que elas permaneçam circulando no sangue, causando náuseas, diarreia e problemas gastrointestinais.
Além disso, o usuário também está vulnerável aos problemas causados pelo princípio ativo da cocaína, como o risco de ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs).
Como a droga chegou no Brasil?
Especialistas e investigadores afirmam que o oxi começou a entrar no país pela fronteira com a Bolívia, que é o terceiro produtor de cocaína do mundo, segundo dados da ONU.
Há relatos de que o uso do oxi começou em Estados como Acre e Pará há cerca de 20 anos, mas, ao que tudo indica, começou a se espalhar pelo país nos último sete anos.
Um dos primeiros estudos brasileiros a mencionar a droga foi conduzido pela psicóloga e especialista em saúde pública Helena Lima, no Acre, em 2003.
"A pesquisa foi publicada em 2005 e fui muito procurada para falar sobre o oxi. No entanto, era uma droga desconhecida em um Estado pequeno no Norte do país. Por isso, ela foi ficando em segundo e terceiro plano na medida em que o problema do crack cresceu", diz a pesquisadora.
Nos últimos anos, o oxi passou a ser produzido no Brasil utilizando a pasta base de cocaína conseguida através do narcotráfico e os produtos químicos locais, como cal, querosene, gasolina e solvente.
"Acho que o fator estrutural do crescimento do oxi é a fragilidade do controle dos insumos químicos. A facilidade de acesso a essas substâncias acontece no país todo", afirma Helena Lima.
A psicóloga diz ainda que, no Acre, a droga se espalhou através dos usuários. "O oxi passa de mão em mão, mas também podem haver criminosos e até policiais envolvidos na distribuição."
O diretor do Denarc, Walter Gíldice, avalia que há uma grande possibilidade de que organizações de narcotráfico estejam diretamente envolvidas na proliferação do oxi.
"São os grandes traficantes que detém a pasta base, então eles podem estar por trás disso. Mas o que foi apreendido aqui já está sendo produzido aqui", diz.
Mas Gíldice também alerta para o fato de que, por ser produzida artesanalmente, a droga tem características diferentes em cada Estado. "As pedras que estão sendo vendidas no Pará são diferentes das de São Paulo, por exemplo. Aqui, elas são mais parecidas com o crack do que lá."
O que está sendo feito em relação à proliferação do oxi?
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está realizando uma pesquisa de campo sobre o oxi no Brasil, a pedido da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), órgão vinculado ao Ministério da Justiça.
De acordo com Helena Lima, a pesquisa é essencial para entender como a droga está sendo produzida e a quem está atingindo em cada região do país.
"Apesar da idéia de que o oxi é uma droga mais comum entre as classes mais baixas e entre os usuários de crack, entrevistei desde analfabetos até pessoas com formação universitária usando oxi no Acre", diz a pesquisadora.
"Só é possível combater o oxi sabendo como ele penetrou em cada Estado do Brasil, e isso depende das demandas do mercado de drogas em cada região."
O jurista e ex-secretário nacional Antidrogas Walter Maierovich afirma que, além de campanhas que alertem sobre os perigos da droga, é preciso realizar um controle mais rígido da venda de produtos químicos de uso mais corrente, como o cal e os solventes.
As fronteiras do país, segundo Maierovich, também precisam de mais vigilância.
"Ninguém está indo nos municípios da fronteira e verificando o aumento da renda nestes municípios. Estes lugares geralmente são pequenos e têm uma movimentação de dinheiro limitada. Se, de repente, há mais dinheiro circulando do que a capacidade desse lugar, há algo errado", disse.
O oxi já apareceu em diversos estados, como alternativa barata ao crack. Os primeiros relatos de consumo do oxi foram registrados no Norte do Brasil, mas, nos últimos dois meses, a droga já foi apreendida em pelo menos 13 Estados do país.
Fonte: BBC Brasil


Entrevista do Prof. Wagner Gattaz (USP) sobre Depressão no Canal Livre.

Vale a pena assistir à entrevista do Prof. Wagner Farid Gattaz, da USP, ao programa Canal Livre, da Band. Ele fala com muita clareza e didática sobre a depressão e as doenças mentais.

Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4


Família pede ajuda para encontrar Joana

Reproduzo a pedido da família o cartaz com a foto de Joana Xavier de Souza Lisboa, paciente desaparecida de uma Clínica de Repouso em Canasvieiras, Florianópolis, Santa Catarina.
Procuro minha filha Joana vista pela última vez entre Canasvieiras e Jurerê Internacional no domingo à tarde (13/03).
Ela veste blusa azul claro, calça jeans e chinelo. Tem problemas psiquiátricos, mas não é agressiva.
Se você a viu, por favor entrar em contato em qualquer um dos telefones abaixo: 3365-1899 / 84345868 / 84781754 / 84297925 - Lenore Xavier de Souza.


Congresso da Associação Americana de Psiquiatria (APA), Honolulu, Havaí 2011


Estarei no APA agora em maio, um dos principais congressos de psiquiatria no mundo, realizado este ano em Honolulu, no Havaí. Espero trazer novidades para serem comentadas aqui no Blog. Um grande abraço a todos!


Matéria sobre depressão no site "Mais de 50".

Confiram a matéria publicada no site Mais de 50 sobre a depressão. Acesse clicando aqui.

Sinais da depressão

Aprenda a identificar os primeiros sinais da doença e procurar ajuda correta. Por Ilana Ramos.

Se você apresenta sintomas como tristeza profunda por muito tempo, apatia, perda do apetite e do sono, cuidado! Você pode estar entre os cerca de 121 milhões de pessoas no mundo todo, de acordo com dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), afetadas pela depressão. E não há motivo nenhum para vergonha. Assim como qualquer outra enfermidade física, como dores e machucados, os sintomas da depressão podem ser tratados e remediados, bastando afastar os convencionalismos, identificar os sinais e procurar ajuda profissional.

O primeiro passo para se dar início a qualquer tratamento é conhecer a doença. De acordo com o psiquiatra, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Sociedade Internacional de Pesquisa em Esquizofrenia Leonardo Palmeira, a depressão “é um transtorno de humor cujas características principais são tristeza, desânimo, falta de prazer, sintomas neurovegetativos (insônia ou aumento do sono) e aumento ou diminuição de apetite. Para identificar a depressão, é bom observar se há uma tristeza profunda, que dura mais de duas semanas. Além disso, a pessoa apresenta muito desânimo, baixa autoestima, não vê graça em nada, não vê sentido na vida”.

Mesmo com a discriminação em torno da depressão, esse termo já está vulgarizado na cultura popular. Diz-se que ou a pessoa está feliz ou está deprimida. O médico explica que “a tristeza passageira se relaciona apenas a algum evento externo como luto, perda de emprego, falência econômica. Como o nome já diz, ela é passageira, dura alguns dias, menos de uma semana. A depressão apresenta outros sintomas como alteração de apetite e do sono. A tristeza passa, todo mundo tem momentos de tristeza. A depressão é uma doença”.

A síndrome depressiva, bem como a tristeza comum, pode ser desencadeada simplesmente por algum fator externo que cause tristeza profunda, como a morte de um ente querido ou a perda de um emprego. No entanto, ela também pode ter raízes muito mais profundas. “A depressão pode ser desencadeada por uma condição médica. Ela pode ser hormonal, uma vez que o hipotireoidismo apresenta sintomas semelhantes; vitamínica, já que a deficiência da vitamina B12 no organismo está associada ao transtorno;e devido a certas doenças crônicas. Algumas pessoas, no entanto, não sabem exatamente o motivo, que é chamada de endógena. Ela vem de dentro e é mais popularmente conhecida como melancólica, que não tem nenhum fator externo evidente”, exemplifica o médico.

No entanto, como muitos já devem imaginar, a depressão também pode estar associada às variações hormonais que acontecem após os 50 anos. Leonardo Palmeira explica que “a depressão é comum em todas as fases da vida, mas após os 50 as causas podem estar associadas à diminuição na produção de certos hormônios, especialmente nas mulheres. Algumas desenvolvem a condição quando entram na menopausa ou na perimenopausa, período que antecede a menopausa. Após os 60, em ambos os sexos, observa-se uma associação da síndrome ao declínio da independência do indivíduo, que começa a ter dificuldades para se manter sem ajuda”.

Superar uma depressão pode não ser fácil, e sem a assistência de um especialista e o apoio da família fica mais difícil. Ainda de acordo com a OMS, menos de 25% das pessoas afetadas pelo transtorno depressivo têm acesso a tratamentos eficazes. Diante desse quadro, procurar ajudar é fundamental para tratar a doença. “A depressão é uma doença recorrente, que pode se manifestar mais de uma vez ao longo da vida. Ela é caracterizada pela diminuição dos neurotransmissores serotonina e noradrenalina e esse equilíbrio não pode ser corrigido sem o uso de medicamentos. No entanto, o uso da medicação deve ser acompanhado por um médico e em paralelo a sessões de terapia. A participação da família é importante também, pois ela funciona como colaboradora no tratamento. Se o familiar for bem esclarecido ele poderá ajudar ainda mais”, finaliza o psiquiatra.


O caso de Realengo: assassino em massa tipo pseudocomando - Parte II

Leia a Parte I
Uma característica que parece ser comum a estes casos é que o assassino do tipo pseudocomando possui uma grave fragilidade egóica e, para manter seu ego preservado, nutre uma raiva destrutiva em relação ao outro que eventualmente o transforma num vingador. Esta raiva vingativa lhe dá uma falsa sensação de poder (pseudopower), pois é tão somente uma reação de intolerância diante do seu fracasso e humilhação. Porém, quando esta é a única defesa do indivíduo contra a aniquilação de sua identidade, só lhe resta persistir na incessante denunciação da injustiça. Para alguns este é um caminho sem volta, porque existe uma honra perversa em recusar que a injustiça seja corrigida ou reparada, como se render-se à realidade significasse desistir de sua identidade (ou da falta dela) e isto é para ele intolerável.
A literatura a respeito da psicologia da vingança nos mostra que existe um elevado conteúdo emocional de ódio e medo e este medo pode resultar facilmente em paranóia. A raiva extremada pode afetar a atenção da pessoa a ponto dela ter dificuldade de pensar em outras coisas que não na vingança. Isso gera um ciclo vicioso, pois quanto mais ela pensa, mais raivosa e menos capaz de pensar em outra coisa ela fica. Portanto, a fantasia de vingança do assassino do tipo pseudocomando impede que ele possa utilizar outras estratégias capazes de desviar seu pensamento e suas atitudes para outra coisa. A fantasia de vingança é inflexível e persistente, porque ele precisa desesperadamente sustentar sua auto-estima. Ele é capaz de se sentir melhor e mais controlado enquanto rumina e finalmente planeja a vingança. A fantasia leva o vingador a experimentar prazer em imaginar o sofrimento dos seus alvos e orgulho por se sentir parte de uma espécie de “justiça maior espiritual”. A fantasia de vingança é uma falsa promessa de um remédio poderoso para seu ego despedaçado, dando-lhe uma ilusão de força e de que o auto-controle e a coerência interna foram restabelecidos.
Dietz descreveu esses indivíduos como “colecionadores de injustiça” que se agarram a cada insulto, acumulando uma pilha de evidências de que foram brutalmente maltratados. Esta é uma maneira deles sustentarem a vingança, reunindo provas contra os “inimigos” e nutrindo uma raiva impiedosa. Muitos tiveram uma história de infância de abandono e esta pode ser uma das explicações para a dificuldade de confiar no outro, tornando-os adultos com caráter paranóico. Supõe-se, em função disso, que eles tiveram problemas no desenvolvimento psicológico durante a infância que os fixaram num estágio persecutório (posição esquizo-paranóica). Neste estágio, a maior parte das percepções do mundo é baseada em sentimentos de frustração e maus-tratos e é encarada como ofensa intencional ou negação proposital de gratificação. Por isso, é comum que esses assassinos possuam sintomas de paranóia, que inflam seus sentimentos de inveja destrutiva. Eles não invejam o que o outro tem (como bens, roupas, etc) ou o status social, mas como o outro aproveita essas coisas. Portanto, o objetivo é destruir a capacidade do outro apreciar o que tem.
Com o passar dos anos esses indivíduos desenvolvem um sentimento crônico de perseguição que acaba por gerar uma atitude niilista que penetra seus conceitos sobre tratamento e sobre a vida em geral. O fato de não encontrar um significado na vida leva a sentimentos de desesperança, derrota pessoal e idéias suicidas, tornando-os menos capazes de aceitar ajuda externa e menos motivados a controlar o comportamento. Neste ponto o risco de suicídio e de comportamentos auto-destrutivos são maiores. A “teoria da fuga” (escape theory) do suicídio revela que, quando o indivíduo é incapaz de evitar afetos negativos e a auto-consciência aversiva e dolorosa, ocorre um processo de “desconstrução cognitiva” que leva à irracionalidade e à desinibição. O suicídio é, então, o último passo possível para escapar da consciência e de sua implicação para o ego.
No caso do assassino do tipo pseudocomando, trabalhar a consciência dos seus reais atributos sob uma tempestade de idéias persecutórias e afetos negativos é um tormento. Contemplar abertamente seus atributos seria um suicídio sem fim, uma agressão da realidade combinada por seus próprios ataques persecutórios. Sua existência passa a ser uma autodestruição progressiva. Ele precisa, então, de um santuário mental contra o niilismo opressivo que tomou conta de si. Ele se torna incapaz de retroceder de sua vingança “heroicamente” planejada. Ele vai chegando perto de tornar sua fantasia realidade e passa por um processo de aceitar que terá que sacrificar a própria vida. Seus pensamentos catastróficos o levam a acreditar que um homicídio-suicídio é sua única opção e suas atitudes o levam a sentir como se seu “eu” já estivesse morto – a morte do corpo físico é uma simples conseqüência inevitável. Isto elimina completamente qualquer possibilidade de encontrar um sentido para a vida.
Uma vez decidido a se sacrificar, o assassino traz suas fantasias de vingança à luz da realidade e formula suas comunicações finais. Essas comunicações têm um grande significado para ele, pois ele sabe que elas serão o único testamento vivo deixado por ele. O objetivo é que todos possam ter conhecimento das motivações de seu “sacrifício heróico”. Dois fatores que tornam este tipo de assassino único são: acesso às armas potentes e automáticas e a glorificação do fenômeno pela mídia.
Fonte de consulta: The "Pseudocommando" Mass Murderer: Part I, The Psychology of Revenge and Obliteration - James L. Knoll, IV, MD - J Am Acad Psychiatry Law 38:1:87-94 (2010)


Jornal O Povo do Rio: tragédias como a de Realengo podem ser evitadas.

Estou publicando a página do Jornal O Povo do Rio para que vocês possam ler a matéria do jornalista Felipe Martins.

"Trabalho de prevenção nas escolas pode evitar outras tragédias", com o que acredito ser fundamental aprendermos a partir desta tragédia.
É preciso ter um olhar mais atento ao desenvolvimento emocional e social de nossas crianças, aprendendo e ensinando a acolher as diferenças.


O caso de Realengo: assassino em massa tipo pseudocomando - Parte I

Descobri um artigo publicado em 2010 no Journal of The American Academy of Psychiatry and Law que traz muitas informações pertinentes ao caso da chacina de Realengo e das possíveis motivações do assassino. Confesso que fico um pouco incomodado com a rápida conclusão de que o assassino era esquizofrênico (que vem sendo veiculado pela mídia e por alguns psiquiatras). Na minha opinião existem algumas evidências que apontam para este diagnóstico, mas existem outras que não fecham. Reduzir um ato desta monstruosidade à doença mental seria leviano, pois a imensa maioria dos pacientes não são violentos e jamais seriam capazes disso. A sociedade já teme a doença mental naturalmente, o estigma da violência é um dos mais comuns. Temo que conclusões precipitadas possam contribuir ainda mais para o preconceito.
Decidi então colaborar com algumas informações da literatura médica que transcrevo abaixo e deixo que cada um possa tirar suas conclusões.
Assassinos em Massa "Pseudocomando": A psicologia da vingança e da obliteração, Parte I
O termo pseudocomando foi utilizado por Dietz em 1986 para descrever um tipo de assassino em massa que planeja sua ação após longo período de deliberação. O assassino tipo pseudocomando mata em público, de forma indiscriminada e à luz do dia, mas também pode matar familiares ou uma “pseudocomunidade” que ele acredita tê-lo maltratado. Ele chega ao local fortemente armado, geralmente com roupa camuflada ou de guerra e não possui um plano de fuga, suicidando-se ou sendo alvejado pela polícia (algumas vezes provocam a reação da polícia, também conhecido por suicídio através de policiais).
Mullen descreveu sua avaliação pessoal de cinco assassinos em massa do tipo pseudocomando que foram capturados antes de conseguirem se matar ou serem mortos pela polícia. Ele notou que os massacres eram sempre bem planejados e tinham uma motivação pessoal de vingança contra a “indiferença e a rejeição da sociedade”, caracterizando os assassinos como pessoas rancorosas, desconfiadas (paranóicas) e com forte atração por armas de fogo.
O fenômeno homicídio-suicídio é quando um indivíduo comete homicídio seguido de suicídio em não mais do que 24 horas de intervalo. É um evento raro, que ocorre anualmente em 0,2 a 0,38 casos por 100 mil pessoas. A maior parte dos homicídios-suicídios são cuidadosamente planejados como atos seqüenciais e podem ter diferentes vítimas e motivações. O homicídio-suicídio do tipo adverso (extra-familiar) envolve ex-empregados, estudantes vítimas de bullying ou uma pessoa ressentida e paranóica. Ela culpa os outros e se sente prejudicada de alguma forma, geralmente tem depressão e traços paranóides e/ou narcisistas, podendo eventualmente apresentar delírios persecutórios.
Os assassinos em massa do tipo pseudocomando, descritos por Dietz e Mullen, enquadram-se melhor nesta categoria de homicídio-suicídio. É considerado assassino tipo pseudocomando o criminoso que faz ao menos quatro vítimas num único evento e depois se mata ou é morto. A literatura médica não encontrou ainda uma ligação forte entre assassinatos em massa e doença mental grave, exceto para doenças como depressão, mas psicose parece ser rara.
Mullen descreveu alguns traços de personalidade e alguns fatores da história que essas pessoas possuem em comum:
• quando crianças eram isolados ou sofriam bullying, tornando-se solitários e desesperados de serem excluídos socialmente;
• geralmente são desconfiados, guardam ressentimentos e rancores e têm traços obsessivos, rígidos, narcisistas e de grandiosidade;
• vêem os outros como rejeitadores e indiferentes, em função disso passam grande parte do tempo ressentidos e ruminando humilhações passadas;
• essas ruminações invariavelmente levam a fantasias sobre vinganças violentas. Mullen observou que os assassinos atingiam um estado em que sentiam a morte como bem-vinda, percebendo que ela traria fama e uma aura de poder que não tinham.
Parte II - https://leonardopalmeira.com.br/?p=122


O perfil do assassino de Realengo

O massacre da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro (07/04/11) provocou grande comoção nacional e repercutiu no mundo todo. A perplexidade diante das mortes violentas de crianças e adolescentes provoca um sentimento coletivo de indignação e incompreensão. A primeira pergunta que se faz é o que teria motivado esta barbárie? Seria o assassino um terrorista, um serial-killer ou um doente mental?
Quando apareceram os primeiros indícios da motivação para o crime, como a carta deixada pelo assassino, Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos de idade e ex-aluno da escola, e alguns depoimentos de amigos e familiares, a tese de que ele poderia ter um desequilíbrio emocional prevaleceu. Mas seria possível e razoável afirmarmos que Wellington possuia uma doença mental?
A carta deixada por ele antes de matar 12 adolescentes na escola e depois se suicidar deixa claro que tudo foi metodicamente planejado. Ele já sabia que faria várias vítimas e que depois terminaria com a própria vida. A maneira como executou seu plano macabro também revela que houve preparo e treinamento, pois demonstrou ter habilidades com arma de fogo, tinha duas pistolas calibre 38 e carregadores que o permitiam carregá-las rapidamente. A polícia apurou que houve em torno de 59 disparos em 3 ou 4 minutos de ação, até que fosse baleado por um policial militar e se matasse com um tiro na cabeça.
Uma mensagem deixada por um anônimo numa comunidade do Orkut uma semana antes anunciava que haveria uma chacina em uma escola municipal que faria as pessoas lembrar de Columbine, nos EUA.
Estas evidências demonstram a intenção assassina de Wellington, que, na mesma mensagem do Orkut, justificava se vingar das pessoas que dele bulinaram naquela mesma escola. As vítimas, porém, eram dez anos mais novas que ele.
Que Wellington possivelmente estava transtornado e mentalmente desequilibrado não há dúvida. Porém, não se pode afirmar que ele estivesse com alguma doença mental. Isto somente poderia ser confirmado através do exame psíquico do assassino. Mas em tese e diante do que já foi noticiado na mídia é possível levantar algumas hipóteses.
Na carta deixada por ele, Wellington deixa transparecer idéias religiosas e sexuais. Pede para ser lavado e envolto despido em um pano branco que trazia consigo na mochila, mas que ele não fosse tocado sem luvas por pessoas impuras ou adúlteras, apenas por pessoas castas ou que perderam sua castidade após o casamento. "Nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem a sua permissão." É possível que o assassino tivesse conflitos sexuais ou passado por traumas sexuais em sua infância ou juventude que influenciaram sua personalidade.
A referência a bullying na escola também é relevante, uma vez que o bullying está relacionado com diversos problemas mentais e da personalidade na vida adulta. Nos crimes semelhantes a este que ocorreram nos EUA, o bullying estava presente na maioria dos assassinos. Eles também tinham uma atitude mais reservada e introspectiva, como a de Wellington, segundo consta de alguns relatos de familiares e amigos do assassino (perfil que também está associado a maior ocorrência de bullying).
Este temperamento mais retraído e de isolamento social, entretanto, não justifica a atitude de Wellington, afinal este temperamento é comum em outras pessoas e não está relacionado a atitudes violentas. Porém, o fato de não ser uma pessoa que se vincula afetivamente a outra, pode fazê-lo menos temeroso quanto a atos homicidas ou suicidas. Na prática clínica vemos o quanto ter pessoas amadas, como pais e filhos, evita um ato suicida, por exemplo.
A morte da mãe adotiva no ano passado, que parece ter sido uma referência importante em sua vida (ele foi adotado ainda criança), pode ter sido um ingrediente explosivo desta trama que provavelmente já se desenhava em sua mente. Há relatos de que após a morte da mãe adotiva o comportamento de Wellington mudou e ele passou a adotar uma outra aparência, vestindo roupas pretas e usando barba grande. Ele pode ter perdido uma das poucas referências afetivas de sua vida e tornado-se mais corajoso para o ato que planejava.
Existem relatos de que a mãe biológica de Wellington sofria de algum transtorno mental, que teria sido internada e que teria tentado o suicidio em algum momento de sua vida. Há outros relatos que dão conta de que ela poderia ter esquizofrenia. Sabemos que as doenças mentais em geral possuem uma carga genética, embora ter um pai ou uma mãe doente não signifique que necessariamente o filho também adoecerá. Esta carga genética não é específica para a doença A, B ou C, mas determina a vulnerabilidade da pessoa, que diante do estresse e traumas da vida pode desencadear um transtorno mental (ao menos é isto que a ciência nos permite afirmar atualmente). Os fatores ambientais, portanto, possuem um peso importante, podendo ser responsáveis por metade do risco de doença. Porém, ter uma predisposição genética poderia ser um fator facilitador de um transtorno na vida adulta, principalmente diante dos fatores psicossociais que já abordamos.
Isto não significa que Wellington pudesse ter esquizofrenia. Particularmente acho esta hipótese pouco provável, pois um indivíduo esquizofrênico não teria a capacidade de organização e pragmatismo para arquitetar todo este plano homicida. A esquizofrenia acomete diversos aspectos diferentes do psiquismo da pessoa e costuma provocar uma desagregação do comportamento, do pensamento e das emoções. Caso ele fosse esquizofrênico, certamente daria sinais claros da doença muito antes de ser capaz de um ato deste.
Existem outras hipóteses mais prováveis, como um transtorno de personalidade esquizóide (que explicaria o seu retraimento, dificuldades sociais e excentricidades) ou anti-social (psicopatia). É possível também que ele estivesse sob efeito de drogas (embora isto também não explique um comportamento como este). Todavia é importante frisar que nenhuma patologia mental seria suficientemente capaz de explicar um ato desta monstruosidade.
Embora seja muito difícil traçar um perfil psicológico do assassino e dizer qual a provável patologia por trás deste massacre, devemos alertar a sociedade para alguns pontos que julgo importantes neste caso: o bullying nas escolas, o papel da família e das referências afetivas para a constituição da personalidade da pessoa em formação, o acesso aos serviços de saúde mental, seja a partir da escola ou das famílias que percebem problemas psicológicos em seus membros e a facilidade com que se consegue armas e munição em nosso país.
Por fim, me vejo no papel de alertar para o preconceito que já existe contra aqueles que sofrem de transtornos mentais. Estudos no mundo inteiro comprovam que doentes mentais não são mais violentos do que pessoas saudáveis, que é muito mais comum um paciente ser vítima do que algoz de algum tipo de violência.
Não vamos depositar nosso desconforto de cogitar que um ser humano possa ser capaz de tamanha atrocidade na conta dos doentes mentais, pois eles não merecem isso!


Transtorno Bipolar - entrevista de Veja com a atriz Linda Hamilton.

"Eu gostaria que as pessoas com doenças mentais pudessem experimentar a vida que levo hoje. É claro que tenho dias ruins, como todo mundo. Mas sei que mesmo os maus momentos podem ser bons, desde que se aprenda com eles. Minha infelicidade, no fim das contas, me fez uma pessoa bem melhor. O meu sucesso como atriz um dia será esquecido. Mas o sucesso que obtive como ser humano permanecerá para sempre comigo".

Além da entrevista na Revista Veja, vale a pena conferir a entrevista dela no Programa da Oprah em http://www.oprah.com/spirit/Depression-Takes-Its-Toll/1

A atriz americana conta como o distúrbio bipolar afetou sua vida pessoal e profissional e fala de sua difícil recuperação. Por Anna Paula Buchalla

Nos anos 80, a atriz americana Linda Hamilton alcançou o estrelato como a protagonista da série cinematográfica O Exterminador do Futuro. No segundo filme, para espanto dos espectadores, ela surgiu com um corpo musculoso obtido à custa de treinamentos que lhe consumiam seis horas por dia. Mais do que fruto da preparação para o papel da obstinada personagem Sarah Connor, que combatia andróides enviados do futuro para matar seu filho, a forma física de Linda era uma das facetas de um distúrbio bipolar não diagnosticado. As vítimas da doença alternam momentos de extrema euforia e de profunda depressão, e a ginástica obsessiva compunha um quadro em que também estavam presentes comportamentos autodestrutivos, uso de drogas, abuso de bebida e rompantes de violência. O inferno pessoal de Linda só chegou ao fim quando ela teve a doença diagnosticada e começou a tratar-se com remédios. A atriz credita ao distúrbio bipolar o fim de seus dois casamentos, um deles com o diretor James Cameron. Hoje, aos 49 anos, mãe de dois filhos e vivendo em Malibu, na Califórnia, ela não tem mais os músculos de Sarah Connor. Mas desenvolveu um tipo diferente de força, que a motivou a falar publicamente de sua doença. "Estou bem agora. Mas foram vinte anos de luta e sofrimento para chegar até aqui", disse Linda nesta entrevista a VEJA.

Veja – Por que a senhora resolveu falar publicamente sobre a sua doença?
Linda – Passei vinte anos da minha vida lutando contra uma doença que eu simplesmente não conseguia entender. Foram muitos diagnósticos errados até chegar à recuperação. Passou a ser muito importante para mim dividir – não a tristeza, o choque e o mal-estar em que estive mergulhada boa parte da minha vida –, mas o lado bom do tratamento, que é encontrar o equilíbrio. Achei que podia salvar as pessoas que como eu sofrem de doenças mentais.

Veja – A senhora usa remédios?
Linda – Uso, mas por muito tempo resisti à medicação. Tinha muito medo do que a química poderia causar no meu processo criativo. Achava que ela comprometeria minha profissão e que eu me sentiria inexpressiva e diminuída como pessoa. O que aconteceu foi o oposto. É claro que não foi fácil, no começo, tomar o comprimido todos os dias. Mas hoje vejo que a minha vida mudou completamente. E continua mudando. Abriu-se um incrível mundo novo para mim.

Veja – Como é saber que se depende de uma medicação para o resto da vida? Isso a incomoda?
Linda – De jeito nenhum. Inclusive porque conheço bem a alternativa: viver como eu vivi durante quase quarenta anos, no limite da loucura. Horrível seria saber que eu teria de conviver com uma doença não diagnosticada e não tratável pelo resto da minha vida. Não sei de onde tiraria forças para conseguir isso. Remédio e tratamento psicológico não são um problema para mim. São a solução.

Veja – Quantos anos a senhora tinha quando foi diagnosticada com distúrbio bipolar?
Linda – Eu tinha 37 anos. Dez anos antes, havia sido diagnosticada erradamente como depressiva, o que acontece freqüentemente com quem tem distúrbio bipolar. A diferença é que o paciente bipolar alterna períodos de euforia com outros de depressão. E a doença é tão difícil de ser diagnosticada justamente porque ninguém vai ao médico para dizer: "Doutor, eu me sinto incrível. Posso resolver todos os problemas do mundo". O problema maior do diagnóstico errado é que, quando um paciente bipolar é tratado como se fosse apenas um depressivo, ele deixa de passar por períodos de euforia. Isso complica ainda mais o quadro.

Veja – Como eram os seus episódios de euforia?
Linda – Eu basicamente não precisava dormir. Achava que tinha as melhores idéias do mundo para qualquer tipo de assunto. Que podia levantar bandeiras de campanhas impossíveis. Nesses momentos, eu era uma pessoa feliz e excitadíssima pelo fato de estar viva. Trata-se de uma grande explosão de energia, só que irreal. E permanecer nesse estado, posso garantir, não é seguro. A depressão que se segue, muitas vezes somente uma hora depois da mais completa euforia, costuma ser desesperadora. Houve momentos terríveis, como no nascimento do meu segundo filho, quando tive depressão pós-parto. Comecei a ter alucinações – vinham à minha mente imagens dos meus filhos machucados, sangrando. Achava que não poderia sair de casa ou eles ficariam em perigo. Era um controle obsessivo. Tinha de estar ao lado deles o tempo todo, como se só eu fosse capaz de mantê-los seguros. Àquela altura, já haviam passado pela minha casa mais de treze babás.

Veja – A senhora teve pensamentos suicidas?
Linda – Não exatamente, embora houvesse vezes em que eu simplesmente não quisesse mais viver. Num momento de depressão extrema, tive ímpetos de me atirar de um carro em movimento. Não necessariamente para me matar, mas para fugir de uma situação muito dolorosa.

Veja – A senhora se envolveu com álcool e drogas. As pessoas à sua volta percebiam que estava usando substâncias químicas?
Linda – Eu já sou, normalmente, uma pessoa agitada. Nos anos 80, eu me viciei em cocaína e não era todo mundo que percebia que eu estava sob efeito de drogas. Mas acho que meu problema maior foi mesmo com o abuso de álcool. Na maioria das vezes, podia beber o dia e a noite inteiros sem que ninguém percebesse que eu estava passando do limite.

Veja – É estranho que ninguém percebesse.
Linda – Talvez eles percebessem, mas o fato é que não se preocupavam. Meus amigos falharam comigo nesse aspecto. No geral, as pessoas me viam alta e me incentivavam a beber ainda mais. Mais um pouco e me inscreveriam em um concurso de bebidas. Afinal, eu era uma moça festeira. Era divertida e agitava as noites. Ninguém via isso como um problema.

Veja – Quando a senhora teve a sua primeira crise depressiva depois de tornar-se atriz?
Linda – Foi num de meus primeiros trabalhos, um seriado para a TV, em 1980. Estava fazendo um telefilme chamado Rape and Marriage (Estupro e Casamento), com Mickey Rourke. Ele era, na época, uma estrela em ascensão. O meu papel era muito difícil, havia muita tensão nas filmagens. Foi muita pressão sobre mim. Fiquei esgotada e quase pus tudo a perder.

Veja – A senhora conquistou a fama com a série O Exterminador do Futuro. No segundo filme, sua forma física chamou muito a atenção dos espectadores. Os músculos definidos eram sinal de uma boa fase pessoal?
Linda – Não mesmo. Na verdade, eu estava vivendo um período muito complicado. Interpretar aquele papel me causou um imenso desgosto pessoal. Sarah Connor, a protagonista, era alguém que havia perdido tudo: a mãe, a colega de quarto, o amante... Eu permanecia grudada na personagem e, por causa disso, entrei num estado de depressão severa. Não sabia como me proteger dos sentimentos que vinham do meu trabalho e que se misturavam à vida real. Se um ator não consegue separar uma instância da outra – e, quanto a mim, isso se devia ao distúrbio bipolar –, ele enlouquece. Há o caso de uma atriz que, depois de fazer uma cena extremamente intensa, foi acometida de cegueira histérica. O diretor do filme teve de ficar duas horas com ela no camarim para convencê-la de que podia enxergar. No meu caso, infelizmente, a depressão durou muito mais do que duas horas.

Veja – A ginástica pesada também fazia parte do quadro de distúrbio bipolar?
Linda – Na verdade, o meu lado maníaco é maravilhoso para quem me contrata. Eu me empenho a fundo em todos os papéis. Mas o que aconteceu naquela época foi que, durante a preparação para o filme, eu me tornei compulsiva em relação aos exercícios. Fazia seis horas de ginástica pesada por dia. Logo depois do filme continuei na mesma toada. Treino até hoje, mas jamais naquele nível.

Veja – Como foi a sua infância?
Linda – Foi uma infância normal até certo ponto. Perdi meu pai, que era médico, quando eu tinha 5 anos de idade, em um acidente de carro. Também não foi exatamente uma boa experiência para mim ter uma irmã gêmea idêntica. Eu tentava o tempo todo fazer coisas para me diferenciar, para criar a minha própria identidade. Exceto por esses dois fatos, tive uma infância tranqüila. Mas havia também um pouco de tristeza e solidão na minha vida. Eu me sentia diferente das outras pessoas. Já era a depressão, mas ninguém se dava conta.

Veja – Seu pai também foi diagnosticado como bipolar.
Linda – Sim, mas naquele tempo o distúrbio era chamado de psicose maníaco-depressiva. Ele tinha alterações de humor extremas. Certamente há um componente genético nessa doença. E as estatísticas mostram isso. Depois da morte do meu pai, tive meu primeiro grande episódio maníaco: eu me confortava com a comida. Tornei-me uma glutona compulsiva. Cheguei a pesar mais de 70 quilos na adolescência.

Veja – Sua irmã gêmea, Leslie, também é bipolar?
Linda – Não posso fazer esse diagnóstico, mas há muitas evidências que indicam que ela também precisa de atenção. Leslie sofre com doenças crônicas do sistema imunológico. Talvez seja uma somatização do distúrbio.

Veja – A senhora fez terapia durante vinte anos. Por que parou?
Linda – Minha vida está estável, feliz, serena. Não sinto necessidade. Arrisco dizer que me conheço muito bem. Mas, para chegar até aqui, tentei terapias de todos os tipos. Algumas foram desastrosas, inclusive por falta de experiência e disposição minha. Fui a um terapeuta, logo depois que meu primeiro filho nasceu, por indicação de uma amiga. Após três sessões, abandonei o consultório. Não consegui entender uma palavra do que aquele homem queria me dizer. Hoje, olho para trás e entendo 100% do que ele tentava me fazer ver. Ele queria dizer que cada um cria a sua própria realidade.

Veja – Como é o seu relacionamento com os pais de seus dois filhos – o ator Bruce Abbott e o diretor James Cameron?
Linda – Hoje é maravilhoso. E não falo da boca para fora. A gente só se dá bem porque trabalha muito para conseguir isso. Quando se tem filhos, não se quer vê-los assustados, arruinados, destruídos pelo seu mau comportamento. Com as crianças, a gente descobre que alguém tem de ser o adulto e não é justo pedir a elas que assumam esse papel. Nesse sentido, ter filhos foi uma bênção na minha vida. Meus ex-maridos são grandes parceiros. Embora tenhamos uma história de mágoas e abandono, as coisas para funcionar precisam de uma atitude positiva. Um dia meu filho me perguntou: "Você se divorciou do meu pai?". Ele não sabia o que tinha acontecido porque o pai dele nos deixou antes de ele nascer. Respondi que sim, e ele me disse: "Mas vocês não se divorciaram tanto assim!". Decidi que, dali em diante, esse seria o meu código: divorciar-me, mas não levar a separação assim tão longe. Esse não é um jeito bom de viver?

Veja – A senhora atribui o fim dos seus casamentos ao seu comportamento imprevisível?
Linda – Há sempre duas pessoas envolvidas em um fracasso. Meu primeiro marido, Bruce, foi um parceiro maravilhoso, companheiro, gentil, mas acho que eu o assustei com minhas crises. Quanto a James, penso que nunca deveríamos ter ficado juntos. Ambos estávamos apaixonados por Sarah Connor, a personagem de O Exterminador do Futuro, série que ele dirigiu. E isso nada tinha a ver com o James Cameron e a Linda Hamilton de carne e osso. Devo reconhecer, porém, que meu distúrbio contribuiu para o fim do casamento. Lembro que uma vez James me disse: "Eu gosto da Linda que deixo pela manhã, mas nunca tenho certeza de quem eu vou encontrar em casa à noite". Dependendo do que acontecesse durante o dia, se qualquer coisa me estressasse, eu fazia disso uma tempestade. Simplesmente não conseguia esquecer, perdoar ou me livrar do sentimento ruim. Deve ser exaustivo para uma pessoa conviver com alguém com alterações excessivas de humor. Nunca se sabe o que vem em seguida.

Veja – A senhora defende um programa de bem-estar para doentes mentais. Do que se trata?
Linda – É importante que as pessoas com doenças mentais não cuidem só da cabeça. Esses pacientes vivem, em média, de oito a vinte anos menos. É preciso encorajá-los a ter um estilo de vida mais saudável. Parte do programa de recuperação que defendo é desenhada para combater os efeitos colaterais dos remédios, com boa alimentação e exercícios físicos. Os medicamentos podem ser incrivelmente efetivos, mas também devastadores por causa dos efeitos colaterais.

Veja – A senhora se sente curada?
Linda – Eu gostaria que as pessoas com doenças mentais pudessem experimentar a vida que levo hoje. Acredito que o que conquistei não pode mais ser tirado de mim. É claro que tenho dias ruins, como todo mundo. Mas sei que mesmo os maus momentos podem ser bons, desde que se aprenda com eles. Minha infelicidade, no fim das contas, me fez uma pessoa bem melhor. O meu sucesso como atriz um dia será esquecido. Mas o sucesso que obtive como ser humano permanecerá para sempre comigo.

Fonte: Revista Veja


Mais da metade dos bipolares não recebe tratamento.

Estudo publicado no periódico Archives of General Psychiatry mostra aquilo que todos nós já constatamos em nossas clínicas. A dificuldade em identificar os quadros bipolares e tratá-los de acordo é hoje um dos principais desafios da psiquiatria. Convencer pacientes aparentemente deprimidos de que precisam tomar estabilizadores de humor e não antidepressivos é o desafio seguinte. É uma pena constatar isso, pois o transtorno bipolar, se tratado precocemente e de maneira adequada, pode ter um curso benigno, enquanto não tratá-lo pode condenar a pessoa a passar o resto de sua vida com depressões e péssima qualidade de vida. Espero que matérias como esta sirvam de alerta para médicos e pacientes.

Mapeamento mundial sobre transtorno bipolar mostra que menos da metade dos doentes recebe tratamento.

A pesquisa avaliou mais de 60 mil pessoas em 11 países como Brasil, EUA e China, das quais 2,4% apresentavam o transtorno. O resultado foi publicado no "Archives of General Psychiatry".
Os pesquisadores escolheram amostras aleatórias em suas regiões e fizeram entrevistas com base em critérios da Organização Mundial da Saúde para o diagnóstico.
O transtorno bipolar é caracterizado por oscilações de humor entre euforia (ou mania) e depressão. Pode causar irritabilidade, agressividade e ideias suicidas.

BRASIL

Apesar da gravidade dos sintomas, só 42,7% das pessoas diagnosticadas no mapeamento estavam sendo tratadas por um especialista. No grupo de países que incluía o Brasil, esse índice era ainda menor: 33,9%.
"A pessoa não tem acesso ao sistema de saúde, ou acha que os sintomas são resultado do uso de drogas", diz a psiquiatra Laura Helena de Andrade, coordenadora de epidemiologia do Instituto de Psiquiatria da USP e responsável pela coleta de dados na Grande São Paulo.

Segundo ela, é comum um bipolar receber diagnóstico de depressão, porque a manifestação de euforia pode ser mais leve. "E é muito mais comum a pessoa só ir buscar tratar a depressão, porque ela incomoda mais. Mas, se o médico ministrar antidepressivos, pode desencadear episódios de mania, com aumento da irritabilidade", diz.

Segundo o estudo, esse transtorno é mais incapacitante do que cada um dos tipos de câncer, e mais até que Alzheimer. Bipolares sofrem por mais anos com os prejuízos do transtorno, em comparação aos outros doentes.

O dado foi extraído de um relatório da OMS segundo o qual a bipolaridade representa 0,9% das doenças incapacitantes, logo à frente do Alzheimer, com 0,8%.

"A pessoa já começa a ter problemas na adolescência ou no começo da vida adulta e, ao longo do tempo, vai perdendo habilidades como capacidade de raciocínio, memória e concentração", diz o psiquiatra Ricardo Moreno, que coordena o programa de transtornos afetivos do Instituto de Psiquiatria.

O psiquiatra Eduardo Tischer, da Unifesp, acrescenta: "A doença é crônica, e leva meses para que o paciente consiga se restabelecer. Enquanto isso, ele sofre prejuízos no trabalho e suas relações familiares pioram".
O não tratamento só piora os sintomas. "A pessoa tem mais chances de recorrer a drogas, álcool e de cometer suicídio", afirma Tischer.

Portador pode ter problemas com drogas e álcool

Além de destacar a taxa de prevalência da doença, o levantamento encontrou outros problemas mentais associados à bipolaridade.

Três quartos das pessoas que tinham o distúrbio apresentavam também outra condição psiquiátrica, como ansiedade e abuso de álcool e drogas.

Para Ricardo Moreno, o consumo dessas substâncias se explica pela alta impulsividade, especialmente durante a manía.

Além disso, 16% dos bipolares já tentaram suicídio alguma vez na vida.

"O risco é maior porque a depressão bipolar costuma ser mais grave e, geralmente, associada a comportamentos impulsivos", diz Andrade.

→ Fonte: Correio do Estado


O que é? - Obsessão.

A proposta da coluna "O que é?" é trazer, numa linguagem objetiva e rápida, informações sobre os principais transtornos mentais, para que o leitor possa ter em poucas palavras o que de fato é importante saber.

Obsessões ou pensamentos obsessivos são idéias recorrentes/repetitivas, intrusivas/invasivas, geralmente de conteúdo aversivo/repugnante/negativo, que invadem a consciência da pessoa e produzem ansiedade, angústia, sentimento de culpa, medo e desespero.

A pessoa fica muito incomodada com os pensamentos, pois não consegue se desligar deles naturalmente, eles interferem nas suas atividades cotidianas, na capacidade de concentração e de planejamento. A pessoa fica remoendo aquelas idéias sem parar, podendo levar ao esgotamento ou estafa mental, causar insônia, tristeza, sensação de enlouquecimento e até ideação suicida.

Os tipos mais comuns de pensamentos obsessivos são:
- idéias de algo de ruim ou catastrófico poderá ocorrer a alguém da família ou a pessoa próxima (acidente, assalto, sequestro, morte, etc) - essas idéias podem ter explicações baseadas na realidade em que se vive, como morar em local violento ou perigoso, mas a preocupação é nitidamente exagerada e domina a consciência e o comportamento da pessoa num dado momento.
- idéias de ciúmes e de posse (achar que está sendo traído, que o companheiro ou companheira pode ter outra pessoa) - esses pensamentos podem levar a comportamentos compulsivos, como ligar repetidamente para a pessoa, seguí-la, controlá-la à distância, monitorá-la excessivamente, etc.
- idéias de contaminação e sujeira, podendo gerar rituais compulsivos de limpeza.
- idéias de dúvida, gerando a necessidade de verificação ou confirmação (será que fechei a porta? Será que deliguei o gás? Será que a pessoa me deu a informação correta? Será que li certo?)
- idéias sexuais aversivas (incesto, pedofilia, pornografia), que geram muito sentimento de culpa e a necessidade de pedir perdão, se purificar, rezar.
- vários outros tipos: a classificação como idéia obsessiva está mais na forma do que no conteúdo, portanto, o que existe em comum é o fato de serem idéias repetitivas, invasivas, que incomodam a pessoa, mas que ela não consegue parar de pensar. Existem alguns tipos em que a pessoa fantasia uma história, como se viajasse por um mundo próprio, geralmente mágico, com riquezas, posses, poderes, passa horas pensando nisso, mas não perde a conexão com a realidade, se indagada sabe não se tratar de um fato verídico.

Aliás, muitas vezes os pacientes não comentam sobre essas idéias. É diferente do delírio, em que a pessoa realmente acredita naquilo.

As idéias obsessivas podem também vir ainda na forma de ruminações sobre acontecimentos do presente, em que a pessoa fica pensando naquilo repetidamente, sem conseguir desviar-se, a ponto de lhe causar estresse ou angústia, interferir em outras atividades cotidianas.

Uma característica importante é que as obsessões tendem a piorar muito com o estado de ansiedade, ou seja, se a pessoa estiver sob estresse, ela pode ter mais pensamentos obsessivos do que em períodos mais amenos. Como a própria obsessão gera estresse, isto provoca uma reação em casacata que culmina num ciclo vicioso em que obsessões são capazes de gerar mais obsessões.

O pensamento obsessivo é erroneamente confundido com TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo, transtorno em que pensamentos obsessivos são uma característica central.

Na verdade, pensamentos obsessivos ocorrem em vários outros transtornos mentais, podendo se afirmar que a maioria dos pacientes com pensamentos obsessivos não tem TOC, mas um outro transtorno, cuja obsessão faz parte. Portanto, somente a avaliação médica adequada poderá chegar ao diagnóstico.

Listamos as doenças que mais comumente apresentam pensamentos obsessivos como um dos sintomas importantes:
- Transtornos de humor, principalmente do espectro bipolar (TBH, ciclotimia), mas também depressão.
- Psicoses, como Esquizofrenia, Transtorno Esquizoafetivo, dentre outros (atenção, pois pensamentos obsessivos são comuns no início dos quadros, antes mesmo do primeiro surto).
- Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)
- Alcoolismo - principalmente após muitos anos de doença, sendo mais comuns as obsessões de ciúme e posse.
- Fobia Social - pensamentos obsessivos de dúvida, sobre o que os outros estão pensando dele, em função da ansiedade social.
- Transtorno do Pânico - pensamentos obsessivos acerca de passar mal e ter uma nova crise, de que algo ruim irá acontecer.
- Ciúme patológico
- Transtornos de Tiques e Sindrome de Gilles de la Tourette, comumente estão associados a obsessões e compulsões.
- Transtornos de Personalidade
- Transtornos Alimentares, como anorexia e bulimia, principalmente na forma de pensamentos repetitivos acerca da imagem corporal.
- Dependência química
- Várias outras

É importante compreender, portanto, que as obsessões são sintomas que podem ocorrer em quase todos os transtornos mentais e que a maneira de tratar depende de cada transtorno de base. Em geral, melhorando do transtorno de base, as obsessões também melhoram. A psicoterapia mais indicada para o tratamento dos sintomas obsessivos é a Cognitivo-comportamental.


Tal pai, tal filho?

Duas reportagens recentes abordaram o efeito que quadros psiquiátricos nos pais podem ter sobre os filhos, trazendo consequências negativas para a saúde mental dos pequenos, seja já na infância ou, posteriormente, na adolescência e vida adulta. Vale a leitura e a reflexão.

Pais depressivos batem mais em crianças de até um ano

Depressão pós-parto da mãe e desemprego do pai são as causas do comportamento violento

Pais depressivos tendem a bater muito mais em seus filhos pequenos do que os pais que não sofrem do problema. Uma pesquisa divulgada nesta semana apontou que ao menos 40% dos pais que sofrem da doença batem nos filhos de até um ano, contra 13% dos pais que não apresentam a depressão. O estudo foi divulgado no jornal Pediatrics.

Uma das causas apontadas, segundo o autor do estudo, Neal Davis, da Universidade de Michigan, indica problemas de depressão pós-parto e a depressão pela falta de emprego.

- A depressão entre pais está fortemente vinculada às taxas de desemprego, que são muito maiores agora do que uma década atrás.

E a depressão pós-parto, mais comum em mulheres, tem potencial de atingir até 25% delas após o parto, segundo estimativas. Nos casos mais graves, levam a comportamentos extremos, que fazem as mães matarem os próprios filhos.
O resultado partiu de uma análise de dados de 1.746 pais extraídos de um exame realizado em 16 grandes cidades dos EUA, entre os anos de 1999-2000. Os homens foram questionados sobre sintomas de depressão, hábito de bater nos filhos e suas interações com crianças de até 1 ano.

Globalmente, 7% deles já tinham expressado sintomas recentes de depressão.

A Academia Americana de Pediatria e especialistas em desenvolvimento infantil advertem contra bater em crianças de qualquer idade. Outros estudos têm mostrado que as crianças que são espancadas correm risco de serem abusadas fisicamente e se tornarem agressivas.

Os pesquisadores disseram que palmada é especialmente preocupante em crianças, porque a medida corretiva tem muito mais chance de machucar a criança, sem ajudar, de fato, em sua educação. “[as crianças] não conseguem entender a conexão entre seu comportamento e a subsequente punição", diz Davis. Fonte: R7.com


Depressão pós-parto da mãe e desemprego do pai são as causas do comportamento violento

Depressão de pais pode prejudicar os filhos

Pais deprimidos podem ser negativos em relação aos seus filhos, fazendo com que eles se estressem mais facilmente.

A descoberta foi feita em um estudo que tinha como objetivo analisar a relação entre o temperamento nos primeiros anos de vida da criança e os riscos de desenvolvimento de depressão. Como a depressão infantil é uma doença rara nos anos iniciais, as crianças começaram a participar do estudo quando tinham três anos, para que os cientistas pudessem acompanhar o desenvolvimento da doença caso ela surgisse.

Como no período inicial do estudo nenhuma das crianças apresentava sinais de depressão, os cientistas fizeram experimentos para medir como situações estressantes as afetavam. Intercalando os experimentos com jogos e atividades divertidas, os pesquisadores analisaram o comportamento dos participantes enquanto eles lidavam com o estresse ou a frustração. Em um teste, a criança era deixada sozinha em uma sala onde entrava um homem estranho que tentava conversar com ela. Em outro, ela recebia uma caixa transparente com um brinquedo trancado dentro e um molho de chaves que não tinha a chave que podia abrir a fechadura. Após os experimentos os pesquisadores mediram os níveis de cortisol – o hormônio do estresse – em amostras de saliva das crianças.

As mães foram mais presentes no estudo. Poucos pais participaram do estudo, e por isso não foi possível analisar bem como eles lidavam com seus filhos. As mulheres foram avaliadas enquanto interagiam com a criança em atividades e tarefas. Atenção especial foi dada a qualquer hostilidade que a mãe dirigisse à criança, como comentários negativos ou sinais de raiva e frustração.

Os resultados dos testes mostraram que as crianças que tinham os níveis mais altos de estresse eram filhas de mães que tiveram depressão nos primeiros três anos de vida do filho. As crianças de mães que tinham comportamentos hostis durante as atividades compartilhadas apresentaram o mesmo resultado.

O estudo sugere uma abordagem das formas como a depressão dos pais pode afetar a criança e até mesmo levá-la a desenvolver a doença. A co-autora da pesquisa Lea Dougherty, da Universidade de Maryland, acha que a descoberta é “bem esperançosa, porque se nós nos concentramos nos cuidados dos pais, nós podemos realmente intervir cedo e ajudar pais com depressão crônica quando eles têm filhos”. Fonte: UOL


O que é? - Sindrome do Pânico.

A proposta da coluna "O que é?" é trazer, numa linguagem objetiva e rápida, informações sobre os principais transtornos mentais, para que o leitor possa ter em poucas palavras o que de fato é importante saber.
O primeiro diagnóstico escolhido é a Síndrome do Pânico.

Caracterizada na maioria das vezes por ataques súbitos de falta de ar, taquicardia, sudorese, tremores, sensação de morte ou doença (p.ex. achar que está tendo um infarto), geralmente auto-limitados e que não duram mais do que 20 minutos. Melhora com tranquilizantes ou com o simples atendimento médico, seja no hospital ou consultório, mas tende a ser recorrente, com crises repetidas ao longo da semana ou num mesmo dia, isto se não for tratada logo. Outra complicação que vemos é o medo que a pessoa desenvolve de sair sozinha por receio de passar mal, de frequentar lugares fechados ou com muita gente, acreditando que naquele ambiente será difícil obter socorro. A preocupação de quem sofre da Sindrome do Pânico é sempre de não ter a crise e ela pode passar a monitorar seus batimentos cardíacos e respiração, disparando um alerta no primeiro sinal de anormalidade. Sendo assim, podem ocorrer ataques de pânico desencadeados por exercícios físicos, relação sexual ou estresse.

Uma outra apresentação, bem menos comum (cerca de 10% dos pacientes), é na forma gastrointestinal, através de ataques de diarréia e/ou vômitos, geralmente precedidos por cólicas ou enjôos que fazem a pessoa buscar um banheiro rapidamente. Esses pacientes geralmente procuram gastroenterologistas e alguns são diagnosticados com Síndrome do cólon irritável. O diagnóstico é mais difícil do que na forma respiratória, porém este tipo também gera o comportamento evitativo, como deixar de sair ou ter medo de sair com receio de ter uma crise e não conseguir achar um banheiro a tempo e também pode ser desencadeada pelo estresse (p.ex. uma reunião de negócios ou uma prova). As crises também são de curta duração, geralmente o paciente se sente aliviado depois que vai ao banheiro, mas permanece o medo de uma nova crise.

O tratamento envolve medicação (ansiolíticos e antidepressivos) e psicoterapia e o prognóstico é muito variável, a maioria tem boa resposta, mas alguns podem precisar de um tempo mais prolongado de tratamento, principalmente se ocorrer agorafobia (medo como de sair à rua ou de frequentar locais públicos).

Um aspecto importante e muitas vezes negligenciado é que a Síndrome do Pânico pode preceder outros transtornos mentais por meses ou até anos, principalmente os Transtornos de humor (depressão, ciclotimia ou transtorno bipolar). Mais raramente pode preceder a esquizofrenia e o transtorno esquizoafetivo, por isso a necessidade do paciente manter seu acompanhamento médico, mesmo depois de suspensa a medicação. O psiquiatra pode decidir tratar o transtorno de base (se este já for aparente no momento dos ataques de pânico), o que melhora muito os sintomas.


Reportagem no Fantástico sobre a alta programada do INSS

Você adoece, não consegue mais trabalhar, precisa se tratar para conseguir recuperar sua capacidade laborativa. Seu médico decide lhe afastar e o encaminha para a perícia do INSS. O que parece ser simples e um direito do trabalhador pode se transformar num calvário e num pesadelo. O perito não concorda com seu afastamento, julga que você tem condições de trabalho e te dá alta. A empresa, por sua vez, não reconhece que você tem condições de trabalho, exige um laudo do seu médico liberando-o, afinal, não quer assumir a responsabilidade caso algo de ruim lhe aconteça. De fato, você ainda não está em condições. Você fica sem salário, não tem como custear seu tratamento e passa necessidades. Seu quadro piora pelo estresse e você não tem apoio do Governo, apesar de pagar seus impostos e previdência em dia!
Infelizmente isso tem acontecido com uma frequência cada vez maior. Todo o médico que possui pacientes afastados (e a psiquiatria é, junto à ortopedia, a especialidade que mais afasta do trabalho) conhece bem esta realidade. Pacientes se queixam de serem maltratados e algumas vezes humilhados na perícia, sentindo-se como se estivessem fraudando a previdência ou simulando alguma doença grave. Não raro pioram muito de seu estado psíquico antes e depois da perícia médica, necessitando de aumento das dosagens dos medicamentos para passarem pelo trauma que se tornou a perícia do INSS.
Não é possível que as autoridades da previdência ainda não fizeram um diagnóstico desta situação, que é tão clara para nós médicos e pacientes. Parabéns ao Fantástico da Rede Globo por ter abordado este tema! Espero que a situação mude também com a nova lei que suspende a alta programada. Desejamos que as perícias sejam mais criteriosas e humanas, como é o atendimento médico que essas pessoas muitas vezes recebem.


Governo quer proibir medicamentos para emagrecer.

O Brasil é um dos países com a maior receita de anfetaminas e emagrecedores do mundo, o Governo nunca controlou bem a comercialização deste tipo de medicamento no país, agora parece ter acordado para o problema.
A sibutramina já foi proibida na Europa, o laboratório que a desenvolveu já suspendeu a produção no mundo todo, restando apenas genéricos e similares. Com certeza estas medidas não foram à toa.
Anfetaminas aceleram o metabolismo, emagrecem, mas deixam as pessoas dependentes delas. Algumas surtam e tem problemas psiquiátricos graves, que depois requerem um tratamento independente e por longo período. O problema que não se tem como prever quem vai reagir mal à medicação. É um risco! Isto sem falar que a maioria dos pacientes que usaram anfetaminas ganharam tudo o que perderam e um pouco mais depois que pararam o remédio.
O que emagrece é mudança de hábitos, atividades físicas, tratamento da compulsão, se houver (com psicoterapia e medicação anti-compulsiva). Nem a sibutramina e nem a anfetamina são capazes de tratar a compulsão, pelo contrário, já vi pacientes piorarem da compulsão com esses medicamentos por se tornarem mais impulsivos.

Proposta de proibir os emagrecedores que atuam no sistema nervoso central, como a sibutramina e os derivados de anfetamina, foi anunciada a entidades médicas da área; para especialistas, decisão é radical e deixará pacientes sem alternativa de tratamento.
O reinado dos remédios emagrecedores está por um fio. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quer banir de vez a comercialização de todas as drogas usadas para emagrecer que atuam no sistema nervoso central: a sibutramina e os derivados de anfetamina (femproporex, dietilpropiona e mazindol).
A única droga para o tratamento da obesidade que continuará liberada será o orlistate (Xenical), que atua diretamente no intestino, reduzindo em cerca de 30% a absorção de gordura.
Diante de estudos que apontam que o consumo de sibutramina aumenta o risco de problemas cardíacos, desde o ano passado a Anvisa impôs novas regras e endureceu os critérios de venda dessa droga - considerada de primeira classe no tratamento da obesidade. Ela deixou de ser vendida como medicamento comum e passou a integrar a categoria dos anorexígenos, drogas que exigem receita especial.
A proposta de proibir os emagrecedores foi anunciada a especialistas e entidades médicas da área na semana passada e será publicada hoje no site da agência, junto com um parecer explicando os motivos.
Radical. Para médicos endocrinologistas que atuam no combate à obesidade, a medida é radical demais e vai deixar os pacientes sem opção de tratamento, já que o controle da fome e da saciedade ocorre no cérebro.
"Quase metade da população brasileira tem sobrepeso. Muitos pacientes não conseguem perder peso com o tratamento clínico convencional, que inclui dieta e exercícios físicos. Como vamos controlar a obesidade desses pacientes sem mexer no cérebro?", diz o endocrinologista Márcio Mancini, chefe do departamento de obesidade do Hospital das Clínicas (HC).
Segundo Mancini, o estudo no qual a Anvisa se baseia para tentar banir a sibutramina foi feito em pacientes com mais de 55 anos, com doença coronariana. "Nós já não indicávamos sibutramina para pacientes cardíacos. O que vamos fazer com o resto da população obesa?"
A presidente da Associação Brasileira para Estudos da Obesidade (Abeso), Rosana Radominski, afirma que a Anvisa não considerou as atuais diretrizes sobre tratamento da obesidade. "Os técnicos não levaram isso em consideração. Como eles defendem mudanças de hábitos e exercícios físicos, ficará a ideia de que só é gordo quem quer. Colocaram no mesmo saco o profissional sério e os que promovem o uso indiscriminado dessas drogas. O correto seria intensificar a fiscalização."
A endocrinologista Cláudia Cozer, diretora da Abeso, concorda. "A grande maioria dos pacientes toma esses remédios com critério e com acompanhamento. Retirar do mercado é uma medida drástica."
Fonte: O Estado de São Paulo (15/02/11)


Estudo sobre o crack no Brasil (UNIFESP)

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) acompanharam por 12 anos 107 dependentes de crack. Após esse período, 40% haviam parado de consumir a droga, 25% estavam mortos, 12% presos e 20% continuavam dependentes. Entre os que ainda faziam uso frequente, mais da metade estava empregada. Do total, 29% estavam abstinentes havia pelo menos cinco anos.
Os 107 pesquisados passaram por cerca de três semanas de internação no Hospital Geral de Taipas entre 1992 e 1994. Depois da alta, foram submetidos a três avaliações: após dois, cinco e 12 anos. Ao longo desse tempo, verificou-se uma diminuição no ritmo de mortalidade, o que, segundo a principal autora do estudo, a psicóloga Andrea Costa Dias, revela que os usuários se adaptaram ao contexto de violência do crack e desenvolveram estratégias para minimizar o risco associado ao consumo da droga. "As mortes por crack são principalmente causadas pela violência. Nossa hipótese é que os usuários foram aprendendo a lidar com a polícia, com os traficantes e desenvolveram estratégias para evitar a overdose e conseguir manter um uso controlado", afirma.
Os dados da pesquisa, continua Andrea, mostram que há diversos padrões de consumo da substância e contrariam a ideia de que o crack é uma droga avassaladora, que mata em pouco tempo e deixa pouca margem para recuperação. "Existe uma aura de terror em torno da droga que acaba estigmatizando os usuários. Isso faz, por exemplo, que os profissionais de saúde se sintam menos motivados em ajudá-los."
Segundo a autora, não foi possível identificar os fatores determinantes para a recuperação dos dependentes. Mas verificou-se que a interrupção no uso estava associada à busca por outros tratamentos após a internação no Hospital Geral de Taipas, ao aumento na empregabilidade e a atividades religiosas.
Para o cientista social Luiz Flavio Sapori, autor do livro "Crack: um desafio social", o dado mais relevante é o alto índice de mortalidade no grupo. "Mais de 30% dos usuários ou morreram assassinados ou foram presos. É um índice muito maior que o de qualquer outra droga e absolutamente preocupante", diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Globo.com


Reportagem do Jornal O Globo sobre a Psicocirurgia no TOC

A lobotomia e o eletrochoque, práticas que no século passado eram usadas para tratar doenças mentais, estão sendo atualizadas e ganham novas aplicações, como, por exemplo, o controle do transtorno obsessivo compulsivo, o TOC. A volta dessas técnicas, que já foram usadas até em tortura, causa polêmica e põe de um lado aqueles que argumentam ser a última chance para pessoas que sofrem de distúrbios graves sem solução com métodos de rotina, e críticos, que afirmam se tratar de opções experimentais que levam pacientes a correrem riscos. Para eles, não há provas da validade dos novos métodos.
Pela primeira vez desde que a lobotomia (retirada parcial ou total de um lobo do cérebro) caiu em descrédito na década de 50, cirurgias para tratar transtornos de comportamento ganham adeptos, mas geram polêmica. Nos EUA, ela gira em torno da operação para tratar o TOC.
Há dois anos, a agência americana que controla drogas e alimentos (a FDA) aprovou essa operação, mas em artigo na revista "Health Affairs" especialistas dizem que isso foi um erro. Segundo eles, a técnica não foi suficientemente testada, nem a sua eficácia a longo prazo nem os seus efeitos colaterais são bem conhecidos.
- Não somos contra a operação, mas queremos vê-la corretamente testada antes de ser indicada - disse o principal autor do artigo, Joseph Fins, chefe de ética médica do hospital NewYork-Presbyterian. - Com a herança da psicocirurgia, é importante não deturpar as coisas, dizer que é algo é tratamento quando não é.
Na verdade, a técnica para aliviar o TOC, a estimulação cerebral profunda (DBS, na sigla em inglês) é conhecida há décadas, mas só atualmente tem sido mais aplicada. Basicamente é o implante de eletrodos dentro do cérebro para ativar determinadas áreas. Os autores do artigo na "Health Affairs" citam pelo menos um estudo para ficar com o pé atrás com relação à psicocirurgia. Cientistas suecos observaram que pessoas submetidas a outro tipo de cirurgia para TOC (a capsulotomia, que corta circuito cerebral) apresentavam apatia e dificuldade de autocontrole.
Ainda para os críticos, o interesse comercial é que tem impulsionado o uso da DBS. Mas os médicos que usam o método discordam.
- Os pacientes são capazes de tomar decisões com base em nossa experiência - disse Wayne Goodman, da Escola de Medicina Mount Sinai. - Eu não gostaria de privá-los da opção. Sua vidas têm sido tão destruídas pelo TOC que eles poderiam pensar em suicídio se não existisse a opção cirúrgica.
Segundo defensores das técnicas, seus críticos não têm experiência com TOC.
- Acho que a FDA agiu certo - diz Benjamin Greenberg, da Universidade de Brown. - Dados sobre eficácia da DBS não são exatos, e estamos fazendo estudos mais substanciais.
Para o neurocirurgião Alexandre Castro do Amaral, responsável pelo Ambulatório de Neurocirurgia Funcional e Dor do Hospital dos Servidores do Estado do Rio e professor do Instituto de Pós-graduação Carlos Chagas, parte das críticas a técnicas como a DBS se deve ao fato de remeterem à lobotomia, usada muito tempo por regimes autoritários para torturar e punir inimigos.
- Hoje as técnicas em neurocirurgia não têm relação com a lobotomia, que deixava a pessoa abobada. No caso de TOC e Parkinson a estimulação cerebral profunda, quando bem indicada, pode ser a única opção - diz Amaral. - Já existe protocolo para controlar distúrbios alimentares.
Uma medida para casos extremos
Amaral reforça que a cirurgia para TOC só é aprovada em casos extremos, quando nenhum outro tratamento clínico resolve, e ela deve ter pelo menos o aval do psiquiatra do paciente e um outro, neutro. Quanto ao eletrochoque, a eletroconvulsoterapia para depressão grave, Amaral afirma que ela tem indicação.
- Cerca de 20% dos doentes com depressão não respondem a qualquer tratamento, e 30% vão tentar o suicídio. O eletrochoque não vai curar a depressão, mas o paciente ficará livre das crises por algum tempo e poderá responder melhor aos medicamentos - explica.
O neurocirurgião José Oswaldo de Oliveira Júnior, da Central de Dor do Hospital A.C. Camargo , defende a aplicação da neurocirurgia para transtornos mentais apenas em casos bem selecionados e avaliados por uma equipe multidisciplinar.
- Alguns dos tratamentos em psicocirurgia ainda precisam ser validados, outros estão estabelecidos, como no mal de Parkinson. Já esquizofrênicos, por exemplo, poucos melhoram com a DBS. É preciso analisar com muito cuidado cada situação.
Fonte: O Globo - 16/02/11