Antipsicóticos surgem como alternativas eficazes no tratamento dos transtornos de humor.
Os antipiscóticos de segunda geração acumulam evidências crescentes de sua eficácia no tratamento dos transtornos de humor, bipolar e unipolar (depressão maior), através de inúmeras pesquisas na última década. Farmacologicamente este fenômeno pode ser explicado pela atuação desses medicamentos em receptores serotoninérgicos (estimulando a produção de serotonina), o que os diferencia dos antipsicóticos mais antigos, conhecidos como típicos ou de primeira geração, cujo protótipo mais conhecido é o haloperidol, que age somente em receptores de dopamina. O efeito in vivo dessas substâncias, entretanto, pode ser bem mais abrangente, atuando inclusive em outros sistemas de neurotransmissão, como glutamato (sistema menos conhecido, mas de grande importância para a psiquiatria).
Tanto o Congresso da Associação Americana de Psiquiatria (APA – Hawaii) como o Congresso da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA – Buenos Aires) neste ano deram destaque ao tema em diferentes mesas redondas. A ideia é que os antipsicóticos de segunda geração sejam uma alternativa aos antidepressivos e estabilizadores de humor quando o paciente não responde ao primeiro medicamento. Alguns estudos têm demonstrado que um dos fatores que compromete a resposta terapêutica a longo prazo e deixa o paciente em risco de uma recaída é a presença de sintomas residuais, ou seja, sintomas depressivos, ansiosos, hipomaníacos ou mistos, mesmo com o uso do estabilizador de humor ou do antidepressivo.
O tempo de resposta também parece ser importante, sendo a demora na resposta terapêutica um fator preditivo de pior recuperação do episódio. Assim sendo, a alternativa de um antipsicótico de segunda geração deve ser considerada tão logo se observe que a resposta ao primeiro medicamento é inadequada.
Essas evidências têm encontrado respaldo de órgãos regulatórios, como o FDA (EUA) e o Ministério da Saúde (Brasil), que já autorizaram alguns medicamentos antipsicóticos de segunda geração a incluírem em bula as indicações para o tratamento dos transtornos de humor, por ora ainda restritos ao Transtorno Bipolar, em fases distintas como mania e depressão. Porém existe a expectativa de que em breve já conste a indicação do tratamento combinado para depressão maior na bula de algumas substâncias.
O efeito que essas medicações possuem na estabilização do humor e no controle da ansiedade pode ser um adicional interessante para pacientes que não conseguem atingir a estabilidade com o uso de antidepressivos ou estabilizadores de humor isoladamente.
Um problema na prática clínica é que muitos pacientes são resistentes ao uso dessas medicações por sua associação com o tratamento da esquizofrenia (primeira indicação em bula e patologia para a qual esses medicamentos foram inicialmente desenvolvidos ou estudados).
Um problema comum na psiquiatria e ao qual já fiz algumas referências aqui no blog é que o nome das classes medicamentosas dos psicofármacos é inadequada e confunde mais o paciente. Um exemplo clássico é o da classe dos antidepressivos: reúne substâncias com diferentes mecanismos de ação e com várias indicações que não somente a depressão, pois são muito utilizados no tratamento do pânico, da ansiedade, do TOC, do estresse pós-traumático, etc. Então deveriam ser chamadas também de anti-pânico, anti-obsessivos e assim por diante. O mesmo em relação aos estabilizadores de humor e antipsicóticos, cujo uso hoje extrapola os limites dos diagnósticos para os quais foram desenvolvidos ou estudados.
O que parece um mero detalhe traz um obstáculo para a prática dos consultórios, pois muitos pacientes acabam fantasiando, acreditando que possam ter um problema psiquiátrico mais grave, ou pensando que podem ficar com alguma sequela do tratamento. Poucos compreendem que sequelas ocorrerão se não tratarem adequadamente o transtorno de humor no presente, pois estudos já têm demonstrado a associação de depressão e transtorno bipolar ao longo da vida com demência na terceira idade, principalmente quando o controle destes transtornos não é adequado.
Os antipsicóticos de segunda geração são seguros, bem tolerados, causam bem menos sintomas extrapiramidais (conhecidos como impregnação) do que os de primeira geração e pacientes em uso deles conseguem manter suas atividades ou retomá-las sem prejuízos, não se justificando o temor que muitos pacientes têm de ficarem inutilizados pelos seus efeitos adversos.
Abaixo está a lista dos antipsicóticos de segunda geração que podem ser úteis no tratamento dos transtornos de humor e seus respectivos nomes comerciais:
- Quetiapina (Seroquel, Kitapen, Quetiapina genérica)
- Olanzapina (Zyprexa, Zopix e Olanzapina genérica)
- Aripiprazol (Abilify)
- Ziprazidona (Geodon)
- Clozapina (Leponex)
- Amisulprida (Socian)
- Paliperidona (Invega)
- Risperidona (Risperdal, Riss, Respidon, Risperidon, Zargus, Esquidon, outros, inclusive genéricos)
Congresso Mundial de Psiquiatria - 18 a 22/09 - Buenos Aires
Participarei do Congresso Mundial de Psiquiatria, que este ano será na cidade de Buenos Aires, Argentina, entre os dias 18 e 22 de setembro. Estarei ausente de 10 a 25 de setembro.
Cientistas da UFRJ recriam neurônio a partir de célula da pele de paciente com esquizofrenia
Essa pesquisa parece ser promissora, os cientistas ainda vão analisar células de outros pacientes, para aprofundar os resultados e a metodologia, mas além de poder abrir uma janela para conseguirmos identificar as alterações neuronais da esquizofrenia, pode servir para testarmos novas drogas ou mesmo para nos certificarmos qual o melhor tratamento para aquele paciente individual. Agora precisamos ser cautelosos. Em pesquisa muita coisa que funciona bem em laboratório (in vitro), pode não funcionar "in vivo". O estudo também não revelou a cascata de eventos que ocorreram até a mudança de resposta da célula quando ela foi submetida ao àcido valpróico (substância utilizada no experimento). De qualquer forma é um passo importante e podemos nos orgulhar de ter saído de um laboratório nacional, principalmente sabendo do pouco investimento em pesquisa em nosso país. Compreendo o sentimento do Sr. José Augusto, mesmo porque lido com familiares de pacientes esquizofrênicos há mais de 10 anos. Eles precisam de uma notícia como esta para renovar a esperança, mas lembro que a esperança não pode se apagar nunca, afinal, mesmo com os tratamentos hoje disponíveis, podemos atingir a recuperação do paciente e de sua família. Esta tem sido a tônica do nosso trabalho no Instituto de Psiquiatria da UFRJ.
Cientistas brasileiros conseguiram criar, em laboratório, neurônios iguais aos de pacientes com esquizofrenia. A identificação de alterações nas células vai ajudar na busca por novos tratamentos. O estudo foi apresentado nesta terça-feira (30) na Academia Brasileira de Ciências.
O laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro funciona como uma espécie de fábrica de células. Lá, os cientistas brasileiros conseguiram recriar neurônios de pacientes que sofrem de esquizofrenia, um transtorno mental sem cura, mas controlado com medicamentos.
Os pesquisadores usaram um pedaço de pele de uma pessoa esquizofrênica e com a ajuda de um vírus forçaram essas células a voltar no tempo até virarem células-tronco embrionárias, que dão origem a vários tecidos. Assim fabricaram os neurônios.
Durante a pesquisa, a equipe brasileira fez uma descoberta. Os pesquisadores conseguiram identificar certas alterações nos neurônios de um paciente esquizofrênico. Eles consomem mais oxigênio e produzem mais radicais livres, o que pode provocar danos às células.
Os neurônios criados em laboratório devem ajudar os cientistas a entender melhor esse distúrbio mental e a encontrar medicamentos mais eficientes para tratar a esquizofrenia. As descobertas feitas podem trazer maior esperança a quase dois milhões de brasileiros que sofrem desse mal. O futuro promete ainda mais.
“A médio e longo prazo podemos vislumbrar o que chamamos de medicina individualizada, que é basicamente pegar o fragmento da pele de um paciente, transformar aquela pele em célula-tronco e depois em neurônio, e partir daí testar medicamentos buscando aqueles que são mais eficazes especificamente para aquele determinado paciente”, explica Stevens Rehen, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ.
Boa notícia para Ana Lucia e para a família. Já são 33 anos de convivência com a esquizofrenia, com médicos e preconceito. “Essa pesquisa é que vai resolver o nosso problema”, crê o aposentado José Augusto Jorge, pai de Ana Lucia. Emocionado, ele afirma que o choro é de esperança. Assista aqui ao vídeo
Fonte: Jornal Nacional - TV Globo
Estudo avalia efeitos psicológicos das redes sociais em crianças e adolescentes
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Estudo apresentado em congresso de psicologia nos EUA aponta o bem e o mal que as redes sociais podem causar a jovens e adolescentes.
Um estudo apresentado no sábado (6/8) na 119.ª convenção anual da Associação Americana de Psicologia, em Washington DC (EUA), e divulgado no domingo (7/8) pelo site Science Daily afirma que o uso de redes sociais pode levar adolescentes a manifestar "tendências narcisísticas" e torná-los mais vulneráveis a ansiedade, depressão e outros problemas psicológicos.
Na apresentação, intitulada "Poke Me: How Social Networks Can Both Help and Harm Our Kids" (Cutuque-me: Como as redes sociais podem ao mesmo tempo ajudar e prejudicar nossas crianças), o PhD e professor de psicologia Larry D. Rosen, da Universidade Estadual da Califórnia, expôs que "particularmente entre jovens, estamos apenas começando a ver pesquisas sólidas que demonstram tanto o lado positivo quanto o negativo" de redes sociais como o Facebook.
Em seu estudo, Rosen aponta que adolescentes que usam Facebook tendem a apresentar com mais frequência tendências narcisísticas, enquanto jovens com forte presença no Facebook mostram mais sinais de outros problemas psicológicos, como comportamento antissocial, manias e tendências agressivas.
O abuso diário das mídias sociais e das tecnologias tem efeito negativo na saúde de todas as crianças, pré-adolescentes e adolescentes, que se tornam mais propensos a ansiedade, depressão e outros problemas psicológicos, além de deixá-los mais suscetíveis a problemas de saúde no futuro.
O psicólogo advertiu também sobre os efeitos do Facebook em estudantes: a rede social pode distrair e causar impacto negativo nos estudos. Rosen citou pesquisas que mostraram que alunos de colégio e de faculdade que visitaram o Facebook pelo menos uma vez durante um período de 15 minutos de estudo tiraram notas menores.
Benefícios
Entre os impactos positivos das redes sociais, Rosen destacou que os relacionamentos virtuais podem ajudar adolescentes introvertidos a aprender como se socializar. Além disso, as redes sociais podem fornecer ferramentas de ensino mais atraentes, capazes de promover o engajamento de jovens estudantes.
Aos pais, o professor recomendou que acompanhem as atividades dos filhos nos sites de redes sociais e discutam a remoção de conteúdo ou conexões impróprias. Os pais também precisam ficar atentos às tendências online e às últimas tecnologias, sites e aplicações que as crianças utilizam.
Estudo apresentado em congresso de psicologia nos EUA aponta o bem e o mal que as redes sociais podem causar a jovens e adolescentes.
→ Fonte: IDG Now
Entrevista sobre esquizofrenia no Canal Saúde da FIOCRUZ
Assistam à minha entrevista à jornalista Marcela Morato no Programa Ligado em Saúde, do Canal Saúde da Fiocruz, sobre a esquizofrenia. Espero que gostem!
Antidepressivos têm sua indicação questionada na depressão de pacientes com demência
Um estudo publicado este mês no The Lancet questiona o benefício dos antidepressivos em pacientes idosos diagnosticados com demência, como a doença de Alzheimer. Os autores avaliaram 300 pacientes com doença de Alzheimer diagnosticada ou suspeita durante 3 meses e verificaram que aqueles que utilizaram antidepressivos não tiveram nenhum benefício em comparação com os que utilizaram placebo, pelo contrário, o grupo tratado com antidepressivos teve mais efeitos adversos.
Um dos autores, Dr. Sube Benerjee, professor do King´s College London, Inglaterra, disse-se surpreso com o resultado e alerta para uma prática comum nos dias de hoje, que é receitar um antidepressivo para um paciente com Alzheimer. "Estou surpreso com a qualidade dos nossos resultados que permitem uma conclusão inequívoca de que o uso de antidepressivos nesta população como um tratamento de primeira linha deveria ser revisto", afirma o autor.
Este é o maior estudo até hoje que aborda o tratamento da depressão em pacientes com demência.
→ Fonte
"Bullying é um problema socioecológico"
Vale a pena a leitura desta reportagem do site Bonde. Concordo plenamente com a psicóloga Susan Swearer quando ela diz que o Bullying encontra campo fértil, seja em casa, na escola ou na comunidade e alerta para o papel das redes sociais. Observo que alguns ambientes, particularmente as escolas e as famílias, podem ter uma influencia negativa na estimulação deste tipo de comportamento, por às vezes tolerar este tipo de conduta. Às vezes o bully começa em casa, numa disputa entre primos, p.ex., e continua na escola.
Apesar de ocupar recente destaque na mídia, o bullying é um fenômeno antigo. Data do início dos anos 80 um dos primeiros estudos sobre o assunto, de autoria do professor Dan Olweus, da Universidade de Bergen, Noruega. Ele investigava o caso de três jovens com idades entre 10 e 14 anos, que haviam cometido suicídio em 1982, como resultado da agressão de um bully – quem pratica o bullying.
Quase 20 anos depois, os resultados das agressões continuam tendo o mesmo fim e por este motivo o assunto tem preocupado além de pais, professores e profissionais, autoridades que buscam nas políticas públicas tentar coibir a ação dos chamados "valentões".
"Existe uma relação entre saúde mental e bullying. Sejam os jovens agressores, vítimas, os dois (quando sofrem e praticam bullying) ou espectadores, sabemos que em muitos casos, a depressão e a ansiedade podem ser co-ocorrência de problemas. Eu sempre avalio para depressão e ansiedade quando estou trabalhando com os jovens que estão envolvidos em bullying. Bullying é um problema de saúde mental", afirma Susan Swearer, professora na Universidade de Nebraska, nos EUA, e autora de diversos estudos sobre o tema.
De acordo com a psicóloga, o fenômeno varia de acordo com o local onde ocorre. Isto sugere que existam condições psicológicas e sociais que favorecem a ocorrência deste tipo de agressão. "Estou cada vez mais convencida de que o bullying é um problema socioecológico e que o indivíduo, a família, os pares, a escola, a comunidade e todos os fatores sociais influenciam ou não sua ocorrência".
Neste sentido, para a autora, as intervenções devem ser elaboradas com base em dados coletados nos locais onde ocorrem. "As intervenções devem se basear em evidências. O que pergunto a alunos, pais e educadores é: Quais são as condições em sua escola (família, comunidade) que permitem a ocorrência deste tipo de agressão? Na resposta encontramos as áreas que devemos abordar em uma intervenção. Já que o fenômeno varia, cada local deve ter seus próprios dados para planejar intervenções eficazes, a fim de mudar as condições que estão alimentando o bullying em sua própria escola e comunidade".
Falta de padrões dificulta identificação de agressor e vítima.
Segundo Susan, não existe um perfil padrão de quem será um possível bully. "Se as condições ambientais são favoráveis, então qualquer um pode ser um bully. A mãe de uma menina vítima de bullying que cometeu suicídio me disse que as garotas que agrediam sua filha eram apenas ‘crianças normais’. As condições naquela escola e naquela cidade eram um campo fértil para agressores".
A pesquisadora aponta que existe uma dinâmica entre bullying e vitimização. De acordo com um de seus estudos, crianças que sofrem bullying em casa de seus irmãos ou parentes são mais propensas a serem bully na escola. "O que sabemos é que, se não tratadas, as crianças aprendem que praticar bullying é uma forma eficaz de conseguir o que se quer. E é provável que continuem com este comportamento na idade adulta. Assim, é fundamental intervir e parar o bullying durante os anos em idade escolar".
Da mesma forma, não existe um perfil das crianças mais propensas a cometer suicídio como resultado do bullying, por exemplo. "No livro Bullycide in America (‘Bullycídio na América’, 2007), mães de crianças vítimas de bullying que haviam cometido suicídio compartilham suas histórias e todas são diferentes. Em comum, apenas o trágico desfecho". Segundo Susan, existe uma conexão entre sofrer bullying e desenvolver depressão, e a depressão é um fator de risco para o suicídio. "Desta forma, pais e educadores devem prestar atenção em crianças com sinais e sintomas de depressão".
Tecnologia impacta bullying de forma negativa.
"Computadores, telefones celulares, sites e redes sociais são condições que permitem que o bullying ocorra. O que antes se limitava a um encontro cara a cara e em locais específicos, agora pode acontecer durante 24 horas, sete dias por semana". Uma maneira indicada por Susan de proteger as crianças é limitar ou monitorar o uso destas tecnologias. "Eu pergunto aos pais: você deixaria sua filha de 12 anos andar sozinha por um beco escuro? Então, por que a deixa usar o computador e mandar mensagens de texto sem acompanhar?". Para a psicóloga, pais e filhos não conseguem perceber o lado negativo da tecnologia e das redes sociais.
→ Fonte
Anvisa a um passo de proibir os emagrecedores no Brasil
Agência reguladora não se convence das desvantagens de proibir a venda dos inibidores de apetite em reunião técnica com especialistas e deve, até agosto, anunciar a proibição desses medicamentos.
Após meses de intensos debates, deve se confirmar a proibição da venda de remédios inibidores de apetite no Brasil, sugerida em nota técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em fevereiro deste ano. A discussão acerca do assunto foi encerrada em um painel promovido, na terça-feira, pelo órgão, conforme adiantado pelo Correio em 8 de junho. Segundo a chefe do núcleo de investigação em vigilância sanitária da Anvisa, Maria Eugênia Cury, o encontro reforçou as conclusões da agência reguladora de que não há margem de garantia para o consumo da sibutramina e dos anorexígenos anfetamínicos (anfepramona, femproporex e mazidol) com segurança por pacientes obesos. "Nós não conseguimos ter uma resposta objetiva de qual população se beneficia. Que o medicamento tem problemas de segurança, eu não tenho dúvidas. Reforçou (o painel) a avaliação de que o perfil de segurança do remédio é mais desfavorável do que favorável", afirma Maria Eugênia.
Boa parte da discussão voltou-se ao uso dos medicamentos, bastante receitados no Brasil. Segundo o presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, o mundo consumiu 5,7t de sibutramina em 2010. Dessas, 3,3t foram vendidas na América do Sul e quase 80% desse valor, cerca de 2,6t, foram consumidas por pacientes brasileiros. A maior divergência entre a agência e as entidades médicas e farmacêuticas envolvidas girava em torno do estudo Scout, que levou à proibição da sibutramina na Europa. No painel técnico, segundo Maria Eugênia Cury, foi possível analisar os dados do estudo e mostrar para os médicos que não havia equívoco em falar sobre os riscos para qualquer obeso, e não apenas para aqueles que já tenham histórico de doenças cardiovasculares. "A gente conseguiu ver que há técnicos e cientistas que não são da Anvisa e que confirmaram a nossa avaliação de que esse estudo, aliado a outros, demonstra riscos na utilização em uma população que não é só essa de contraindicação", explica a coordenadora.
Cury afirma que muitas das 15 questões enviadas às entidades médicas a respeito da segurança do uso dos emagrecedores permaneceram em aberto mesmo após os debates de terça. O representante da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), Ricardo Meirelles, afirma, no entanto, que todas foram sanadas. "Elas foram respondidas embasadas em publicações de revistas científicas, mostrando que não era a opinião de alguns especialistas, mas conclusões de trabalhos feitos em diversos países. A sensação que se teve é de que a Anvisa já está com uma ideia pré-concebida e não parece muito disposta a mudar", queixa-se. "Para os defensores da manutenção desses medicamentos, o estudo Scout foi mal interpretado porque foi feito com pacientes que já tinham doença cardiovascular prévia. O estudo apenas confirmou a bula, e a Anvisa, a exemplo da Agência Europeia, está querendo estender a proibição a toda a população de obesos", diz Meirelles.
O argumento usado pelos médicos, segundo o cardiologista e autor de livros de farmacologia clínica Flávio Danni Fuchs, não foi convincente. "Não se tem evidência concreta de que (o medicamento) seja útil em pacientes. Infelizmente, ele aumenta a pressão arterial e se mostrou perigoso em indivíduos com doença vascular e diabetes. Medicamentes que não têm segurança não devem ser autorizados para uso", sustenta Fuchs.
Se antes havia um clima de otimismo entre os médicos diante da possibilidade de recuo da Anvisa, agora há apreensão. "Se for mantida essa posição, vai ser um prejuízo para todos os obesos, que atualmente são mais de 15% da população brasileira", afirma Meirelles, representante da Sbem.
A Anvisa tem dois pareceres favoráveis à suspensão do registro dos inibidores de apetite no país. Depois do último painel de discussão, será elaborado um documento que será submetido à avaliação da Diretoria Colegiada da agência reguladora, que deve decidir pela proibição dos emagrecedores. A previsão é de que a resposta final saia até agosto, segundo o presidente Dirceu Barbano.
Fonte: Correio Braziliense - 16/06/11
Doença mental é a que mais prejudica adolescentes
Mais um motivo de alerta para os pais! O tratamento precoce, na adolescência, é o caminho para melhorar a saúde mental na fase adulta e prevenir as complicações e a interrupção no desenvolvimento.
As doenças neuropsiquiátricas são a principal causa de afastamento do trabalho e do estudo na adolescência, aponta um artigo publicado na revista The Lancet. Cerca de 45% dos casos de afastamento na faixa etária de 10 a 25 anos estão associados a problemas psíquicos - especialmente depressão, alcoolismo, esquizofrenia e transtorno bipolar.
É a primeira análise científica que tenta traçar um panorama global de fatores que podem levar à invalidez na juventude. Os autores, da Organização Mundial da saúde (OMS), utilizaram dados de 2004 do Global Burden of Disease, levantamento internacional do impacto das doenças na família, na economia e na sociedade.
Os cientistas avaliaram um índice chamado Daly, que mede o tempo de vida perdido por morte prematura ou doença debilitante. A região que apresentou os piores índices foi a África, com valores cerca de 2,5 vezes maiores que os observados nos países ricos.
De um modo geral, o índice Daly para rapazes de 15 a 19 anos, em todas as regiões, apresentava valores 12% maiores que o das garotas na mesma idade.
As três principais causas de afastamento do estudo e do trabalho, na ordem, são: doenças psiquiátricas (45%), acidentes (12%, especialmente no trânsito) e doenças infecciosas ou parasitárias (10%).
O estudo também aponta os principais fatores de risco para a saúde durante a adolescência: pela ordem, alcoolismo, sexo inseguro, deficiência de ferro e gravidez precoce.
Em um comentário que acompanha o estudo, de John Santelli e Sandro Galea, da Universidade Columbia, os pesquisadores argumentam a necessidade de intervenções que aumentam "as conexões dos adolescentes às comunidades, escolas e famílias". "Elas são essenciais para a promoção da saúde entre os jovens", argumenta o texto.
Cerca de 27% da população mundial está na faixa etária analisada pelo estudo - de 10 a 24 anos - o equivalente a 1,8 bilhão de pessoas. Estima-se que, em 2032, chegará a 2 bilhões, com 90% vivendo em países de baixa ou média renda.
As doenças neuropsiquiátricas são a principal causa de afastamento do trabalho e do estudo na adolescência, aponta um artigo publicado na revista The Lancet. Cerca de 45% dos casos de afastamento na faixa etária de 10 a 25 anos estão associados a problemas psíquicos - especialmente depressão, alcoolismo, esquizofrenia e transtorno bipolar.
Fonte: O Estado de São Paulo
Entenda o que é o oxi e como a droga se espalhou pelo Brasil
O oxi já apareceu em diversos estados, como alternativa barata ao crack. Os primeiros relatos de consumo do oxi foram registrados no Norte do Brasil, mas, nos últimos dois meses, a droga já foi apreendida em pelo menos 13 Estados do país.
Apesar de ter sido apontada como uma nova droga pela mídia, o oxi é considerado por especialistas como uma variação mais barata e tóxica do crack, que combina a pasta base de cocaína com substâncias químicas de fácil acesso.
Entenda as principais características do oxi e saiba o que já foi descoberto sobre os efeitos e a proliferação da droga.
De que é feito o oxi?
O oxi é uma mistura da pasta base de cocaína, fabricada a partir das folhas de coca, com substâncias químicas de fácil acesso, como querosene, gasolina, cal virgem ou solvente usado em construções.
De acordo com o perito do Instituto de Criminalística de São Paulo, José Luiz da Costa, a fabricação da pasta base de cocaína - da qual também são feitos a cocaína em pó, o crack e a merla - também é feita utilizando uma substância alcalina e um solvente para extrair uma maior quantidade do princípio ativo da planta, responsável pelo efeito principal da droga no sistema nervoso.
"Para se transformar em oxi, a pasta recebe novamente uma quantidade de solvente e alcalino. Só que, desta vez, são produtos como o querosene e o cal, ainda mais tóxicos do que o bicarbonato de sódio, o amoníaco e a acetona, usados para fazer o crack e na cocaína em pó", diz o perito.
A droga pode ser misturada ao cigarro comum e ao cigarro de maconha, mas, geralmente, é fumada em cachimbos de fabricação caseira, como o crack.
Segundo o psiquiatra Pablo Roig, diretor da clínica de reabilitação Greenwood, em São Paulo, o oxi libera uma fumaça escura ao ser consumido e costuma deixar um resíduo marrom, semelhante ao efeito da ferrugem em metais.
Por isso a droga recebeu o nome de oxi, uma abreviação de "oxidado".
Qual a diferença entre oxi e crack?
A principal diferença entre o oxi e o crack no mercado das drogas é o preço.
De acordo com o diretor do Departamento de Investigações sobre Narcóticos de São Paulo (Denarc), Wagner Gíldice, o oxi é vendido por cerca de R$ 2 a R$ 5 nas ruas. Pedras de crack podem chegar a custar R$ 10.
O oxi é mais barato justamente porque é feito com produtos químicos que podem ser conseguidos sem fiscalização e a preços baixos. Também por causa da utilização destas substâncias químicas, ele é mais prejudicial ao organismo do que o crack.
No entanto, especialistas dizem que o efeito psicológico das duas drogas é muito semelhante, já que ambas tem o mesmo princípio ativo, que é a pasta de cocaína.
Segundo o psiquiatra Pablo Roig, tanto o crack como o oxi podem viciar os usuários mais rapidamente do que a cocaína em pó, porque chegam mais rapidamente ao cérebro.
"A cocaína absorvida em pó pelo nariz tem que passar pelo sangue até chegar ao cérebro. Por isso, ela demora mais para fazer efeitos do que crack e oxi, que são inalados e vão do pulmão diretamente para o cérebro em questão de segundos", diz.
Mas Roig diz que, uma vez no organismo, o oxi é mais letal do que o crack, por causa do alto nível de toxicidade das substâncias de que é composto.
"A toxicidade do oxi encurta a vida do usuário em 20% em relação ao crack. Os usuários de crack vivem pelo menos 5 a 6 anos, mas 30% dos usuários de oxi poderão estar mortos depois de um ano", afirmou.
Quais são os efeitos do oxi no organismo?
A psicóloga Helena Lima afirma que a droga age no sistema nervoso, proporcionando sensações variadas, que podem ir de prazer e alívio a angústia e paranoia a depender da pessoa.
"Pela descrição dos usuários, sabemos que o oxi faz efeito entre sete e nove segundos a partir do momento em que é inalado", diz.
Uma vez no organismo, a combinação de substâncias do oxi pode causar lesões sérias da boca até os rins.
"Dizemos que o oxi é artesanal por causa da sua produção, mas, em termos bioquímicos, ele é bastante complexo e sofisticado e, por isso, muito prejudicial", diz Lima.
Na boca, o querosene ou gasolina combinados com o calor provocam ferimentos nos lábios e na mucosa bucal, danificam as papilas gustativas da língua - células responsáveis pelo reconhecimento de sabores -, causam ferimentos no esôfago e corroem os dentes.
O cal virgem na droga pode provocar fibrose pulmonar, que prejudica a captação de ar pelo pulmão.
Os químicos adicionados à droga vão para o fígado, que é o órgão responsável por metabolizá-las. No entanto, a droga sobrecarrega o fígado e compromete suas funções, como a distribuição de açúcar no organismo.
Por causa disso, o uso prolongado do oxi aumenta as chances de doenças como cirrose hepática e o acúmulo de gordura no órgão.
"Muitas pessoas também misturam o oxi com o álcool, o que é ainda pior. A mistura forma uma substância chamada cocaetileno, que é altamente tóxica para o fígado. Por isso, vê-se usuários com lesões sérias no fígado em pouco tempo", diz Pablo Roig.
Quem consome oxi também está sujeito a falhas nos rins, que também ficam sobrecarregados pela alta quantidade de toxinas resultantes da combinação química da droga.
A dificuldade dos rins em eliminar as toxinas faz com que elas permaneçam circulando no sangue, causando náuseas, diarreia e problemas gastrointestinais.
Além disso, o usuário também está vulnerável aos problemas causados pelo princípio ativo da cocaína, como o risco de ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs).
Como a droga chegou no Brasil?
Especialistas e investigadores afirmam que o oxi começou a entrar no país pela fronteira com a Bolívia, que é o terceiro produtor de cocaína do mundo, segundo dados da ONU.
Há relatos de que o uso do oxi começou em Estados como Acre e Pará há cerca de 20 anos, mas, ao que tudo indica, começou a se espalhar pelo país nos último sete anos.
Um dos primeiros estudos brasileiros a mencionar a droga foi conduzido pela psicóloga e especialista em saúde pública Helena Lima, no Acre, em 2003.
"A pesquisa foi publicada em 2005 e fui muito procurada para falar sobre o oxi. No entanto, era uma droga desconhecida em um Estado pequeno no Norte do país. Por isso, ela foi ficando em segundo e terceiro plano na medida em que o problema do crack cresceu", diz a pesquisadora.
Nos últimos anos, o oxi passou a ser produzido no Brasil utilizando a pasta base de cocaína conseguida através do narcotráfico e os produtos químicos locais, como cal, querosene, gasolina e solvente.
"Acho que o fator estrutural do crescimento do oxi é a fragilidade do controle dos insumos químicos. A facilidade de acesso a essas substâncias acontece no país todo", afirma Helena Lima.
A psicóloga diz ainda que, no Acre, a droga se espalhou através dos usuários. "O oxi passa de mão em mão, mas também podem haver criminosos e até policiais envolvidos na distribuição."
O diretor do Denarc, Walter Gíldice, avalia que há uma grande possibilidade de que organizações de narcotráfico estejam diretamente envolvidas na proliferação do oxi.
"São os grandes traficantes que detém a pasta base, então eles podem estar por trás disso. Mas o que foi apreendido aqui já está sendo produzido aqui", diz.
Mas Gíldice também alerta para o fato de que, por ser produzida artesanalmente, a droga tem características diferentes em cada Estado. "As pedras que estão sendo vendidas no Pará são diferentes das de São Paulo, por exemplo. Aqui, elas são mais parecidas com o crack do que lá."
O que está sendo feito em relação à proliferação do oxi?
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está realizando uma pesquisa de campo sobre o oxi no Brasil, a pedido da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), órgão vinculado ao Ministério da Justiça.
De acordo com Helena Lima, a pesquisa é essencial para entender como a droga está sendo produzida e a quem está atingindo em cada região do país.
"Apesar da idéia de que o oxi é uma droga mais comum entre as classes mais baixas e entre os usuários de crack, entrevistei desde analfabetos até pessoas com formação universitária usando oxi no Acre", diz a pesquisadora.
"Só é possível combater o oxi sabendo como ele penetrou em cada Estado do Brasil, e isso depende das demandas do mercado de drogas em cada região."
O jurista e ex-secretário nacional Antidrogas Walter Maierovich afirma que, além de campanhas que alertem sobre os perigos da droga, é preciso realizar um controle mais rígido da venda de produtos químicos de uso mais corrente, como o cal e os solventes.
As fronteiras do país, segundo Maierovich, também precisam de mais vigilância.
"Ninguém está indo nos municípios da fronteira e verificando o aumento da renda nestes municípios. Estes lugares geralmente são pequenos e têm uma movimentação de dinheiro limitada. Se, de repente, há mais dinheiro circulando do que a capacidade desse lugar, há algo errado", disse.
O oxi já apareceu em diversos estados, como alternativa barata ao crack. Os primeiros relatos de consumo do oxi foram registrados no Norte do Brasil, mas, nos últimos dois meses, a droga já foi apreendida em pelo menos 13 Estados do país.
Fonte: BBC Brasil
Entrevista do Prof. Wagner Gattaz (USP) sobre Depressão no Canal Livre.
Vale a pena assistir à entrevista do Prof. Wagner Farid Gattaz, da USP, ao programa Canal Livre, da Band. Ele fala com muita clareza e didática sobre a depressão e as doenças mentais.
→ Parte 1
→ Parte 2
→ Parte 3
→ Parte 4
Família pede ajuda para encontrar Joana
Reproduzo a pedido da família o cartaz com a foto de Joana Xavier de Souza Lisboa, paciente desaparecida de uma Clínica de Repouso em Canasvieiras, Florianópolis, Santa Catarina.
Procuro minha filha Joana vista pela última vez entre Canasvieiras e Jurerê Internacional no domingo à tarde (13/03).
Ela veste blusa azul claro, calça jeans e chinelo. Tem problemas psiquiátricos, mas não é agressiva.
Se você a viu, por favor entrar em contato em qualquer um dos telefones abaixo: 3365-1899 / 84345868 / 84781754 / 84297925 - Lenore Xavier de Souza.
Congresso da Associação Americana de Psiquiatria (APA), Honolulu, Havaí 2011
Matéria sobre depressão no site "Mais de 50".
Confiram a matéria publicada no site Mais de 50 sobre a depressão. Acesse clicando aqui.
Sinais da depressão
Aprenda a identificar os primeiros sinais da doença e procurar ajuda correta. Por Ilana Ramos.
Se você apresenta sintomas como tristeza profunda por muito tempo, apatia, perda do apetite e do sono, cuidado! Você pode estar entre os cerca de 121 milhões de pessoas no mundo todo, de acordo com dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), afetadas pela depressão. E não há motivo nenhum para vergonha. Assim como qualquer outra enfermidade física, como dores e machucados, os sintomas da depressão podem ser tratados e remediados, bastando afastar os convencionalismos, identificar os sinais e procurar ajuda profissional.
O primeiro passo para se dar início a qualquer tratamento é conhecer a doença. De acordo com o psiquiatra, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Sociedade Internacional de Pesquisa em Esquizofrenia Leonardo Palmeira, a depressão “é um transtorno de humor cujas características principais são tristeza, desânimo, falta de prazer, sintomas neurovegetativos (insônia ou aumento do sono) e aumento ou diminuição de apetite. Para identificar a depressão, é bom observar se há uma tristeza profunda, que dura mais de duas semanas. Além disso, a pessoa apresenta muito desânimo, baixa autoestima, não vê graça em nada, não vê sentido na vida”.
Mesmo com a discriminação em torno da depressão, esse termo já está vulgarizado na cultura popular. Diz-se que ou a pessoa está feliz ou está deprimida. O médico explica que “a tristeza passageira se relaciona apenas a algum evento externo como luto, perda de emprego, falência econômica. Como o nome já diz, ela é passageira, dura alguns dias, menos de uma semana. A depressão apresenta outros sintomas como alteração de apetite e do sono. A tristeza passa, todo mundo tem momentos de tristeza. A depressão é uma doença”.
A síndrome depressiva, bem como a tristeza comum, pode ser desencadeada simplesmente por algum fator externo que cause tristeza profunda, como a morte de um ente querido ou a perda de um emprego. No entanto, ela também pode ter raízes muito mais profundas. “A depressão pode ser desencadeada por uma condição médica. Ela pode ser hormonal, uma vez que o hipotireoidismo apresenta sintomas semelhantes; vitamínica, já que a deficiência da vitamina B12 no organismo está associada ao transtorno;e devido a certas doenças crônicas. Algumas pessoas, no entanto, não sabem exatamente o motivo, que é chamada de endógena. Ela vem de dentro e é mais popularmente conhecida como melancólica, que não tem nenhum fator externo evidente”, exemplifica o médico.
No entanto, como muitos já devem imaginar, a depressão também pode estar associada às variações hormonais que acontecem após os 50 anos. Leonardo Palmeira explica que “a depressão é comum em todas as fases da vida, mas após os 50 as causas podem estar associadas à diminuição na produção de certos hormônios, especialmente nas mulheres. Algumas desenvolvem a condição quando entram na menopausa ou na perimenopausa, período que antecede a menopausa. Após os 60, em ambos os sexos, observa-se uma associação da síndrome ao declínio da independência do indivíduo, que começa a ter dificuldades para se manter sem ajuda”.
Superar uma depressão pode não ser fácil, e sem a assistência de um especialista e o apoio da família fica mais difícil. Ainda de acordo com a OMS, menos de 25% das pessoas afetadas pelo transtorno depressivo têm acesso a tratamentos eficazes. Diante desse quadro, procurar ajudar é fundamental para tratar a doença. “A depressão é uma doença recorrente, que pode se manifestar mais de uma vez ao longo da vida. Ela é caracterizada pela diminuição dos neurotransmissores serotonina e noradrenalina e esse equilíbrio não pode ser corrigido sem o uso de medicamentos. No entanto, o uso da medicação deve ser acompanhado por um médico e em paralelo a sessões de terapia. A participação da família é importante também, pois ela funciona como colaboradora no tratamento. Se o familiar for bem esclarecido ele poderá ajudar ainda mais”, finaliza o psiquiatra.
O caso de Realengo: assassino em massa tipo pseudocomando - Parte II
Leia a Parte I
Uma característica que parece ser comum a estes casos é que o assassino do tipo pseudocomando possui uma grave fragilidade egóica e, para manter seu ego preservado, nutre uma raiva destrutiva em relação ao outro que eventualmente o transforma num vingador. Esta raiva vingativa lhe dá uma falsa sensação de poder (pseudopower), pois é tão somente uma reação de intolerância diante do seu fracasso e humilhação. Porém, quando esta é a única defesa do indivíduo contra a aniquilação de sua identidade, só lhe resta persistir na incessante denunciação da injustiça. Para alguns este é um caminho sem volta, porque existe uma honra perversa em recusar que a injustiça seja corrigida ou reparada, como se render-se à realidade significasse desistir de sua identidade (ou da falta dela) e isto é para ele intolerável.
A literatura a respeito da psicologia da vingança nos mostra que existe um elevado conteúdo emocional de ódio e medo e este medo pode resultar facilmente em paranóia. A raiva extremada pode afetar a atenção da pessoa a ponto dela ter dificuldade de pensar em outras coisas que não na vingança. Isso gera um ciclo vicioso, pois quanto mais ela pensa, mais raivosa e menos capaz de pensar em outra coisa ela fica. Portanto, a fantasia de vingança do assassino do tipo pseudocomando impede que ele possa utilizar outras estratégias capazes de desviar seu pensamento e suas atitudes para outra coisa. A fantasia de vingança é inflexível e persistente, porque ele precisa desesperadamente sustentar sua auto-estima. Ele é capaz de se sentir melhor e mais controlado enquanto rumina e finalmente planeja a vingança. A fantasia leva o vingador a experimentar prazer em imaginar o sofrimento dos seus alvos e orgulho por se sentir parte de uma espécie de “justiça maior espiritual”. A fantasia de vingança é uma falsa promessa de um remédio poderoso para seu ego despedaçado, dando-lhe uma ilusão de força e de que o auto-controle e a coerência interna foram restabelecidos.
Dietz descreveu esses indivíduos como “colecionadores de injustiça” que se agarram a cada insulto, acumulando uma pilha de evidências de que foram brutalmente maltratados. Esta é uma maneira deles sustentarem a vingança, reunindo provas contra os “inimigos” e nutrindo uma raiva impiedosa. Muitos tiveram uma história de infância de abandono e esta pode ser uma das explicações para a dificuldade de confiar no outro, tornando-os adultos com caráter paranóico. Supõe-se, em função disso, que eles tiveram problemas no desenvolvimento psicológico durante a infância que os fixaram num estágio persecutório (posição esquizo-paranóica). Neste estágio, a maior parte das percepções do mundo é baseada em sentimentos de frustração e maus-tratos e é encarada como ofensa intencional ou negação proposital de gratificação. Por isso, é comum que esses assassinos possuam sintomas de paranóia, que inflam seus sentimentos de inveja destrutiva. Eles não invejam o que o outro tem (como bens, roupas, etc) ou o status social, mas como o outro aproveita essas coisas. Portanto, o objetivo é destruir a capacidade do outro apreciar o que tem.
Com o passar dos anos esses indivíduos desenvolvem um sentimento crônico de perseguição que acaba por gerar uma atitude niilista que penetra seus conceitos sobre tratamento e sobre a vida em geral. O fato de não encontrar um significado na vida leva a sentimentos de desesperança, derrota pessoal e idéias suicidas, tornando-os menos capazes de aceitar ajuda externa e menos motivados a controlar o comportamento. Neste ponto o risco de suicídio e de comportamentos auto-destrutivos são maiores. A “teoria da fuga” (escape theory) do suicídio revela que, quando o indivíduo é incapaz de evitar afetos negativos e a auto-consciência aversiva e dolorosa, ocorre um processo de “desconstrução cognitiva” que leva à irracionalidade e à desinibição. O suicídio é, então, o último passo possível para escapar da consciência e de sua implicação para o ego.
No caso do assassino do tipo pseudocomando, trabalhar a consciência dos seus reais atributos sob uma tempestade de idéias persecutórias e afetos negativos é um tormento. Contemplar abertamente seus atributos seria um suicídio sem fim, uma agressão da realidade combinada por seus próprios ataques persecutórios. Sua existência passa a ser uma autodestruição progressiva. Ele precisa, então, de um santuário mental contra o niilismo opressivo que tomou conta de si. Ele se torna incapaz de retroceder de sua vingança “heroicamente” planejada. Ele vai chegando perto de tornar sua fantasia realidade e passa por um processo de aceitar que terá que sacrificar a própria vida. Seus pensamentos catastróficos o levam a acreditar que um homicídio-suicídio é sua única opção e suas atitudes o levam a sentir como se seu “eu” já estivesse morto – a morte do corpo físico é uma simples conseqüência inevitável. Isto elimina completamente qualquer possibilidade de encontrar um sentido para a vida.
Uma vez decidido a se sacrificar, o assassino traz suas fantasias de vingança à luz da realidade e formula suas comunicações finais. Essas comunicações têm um grande significado para ele, pois ele sabe que elas serão o único testamento vivo deixado por ele. O objetivo é que todos possam ter conhecimento das motivações de seu “sacrifício heróico”. Dois fatores que tornam este tipo de assassino único são: acesso às armas potentes e automáticas e a glorificação do fenômeno pela mídia.
Fonte de consulta: The "Pseudocommando" Mass Murderer: Part I, The Psychology of Revenge and Obliteration - James L. Knoll, IV, MD - J Am Acad Psychiatry Law 38:1:87-94 (2010)
Jornal O Povo do Rio: tragédias como a de Realengo podem ser evitadas.
Estou publicando a página do Jornal O Povo do Rio para que vocês possam ler a matéria do jornalista Felipe Martins.

"Trabalho de prevenção nas escolas pode evitar outras tragédias", com o que acredito ser fundamental aprendermos a partir desta tragédia.
É preciso ter um olhar mais atento ao desenvolvimento emocional e social de nossas crianças, aprendendo e ensinando a acolher as diferenças.
O caso de Realengo: assassino em massa tipo pseudocomando - Parte I
Descobri um artigo publicado em 2010 no Journal of The American Academy of Psychiatry and Law que traz muitas informações pertinentes ao caso da chacina de Realengo e das possíveis motivações do assassino. Confesso que fico um pouco incomodado com a rápida conclusão de que o assassino era esquizofrênico (que vem sendo veiculado pela mídia e por alguns psiquiatras). Na minha opinião existem algumas evidências que apontam para este diagnóstico, mas existem outras que não fecham. Reduzir um ato desta monstruosidade à doença mental seria leviano, pois a imensa maioria dos pacientes não são violentos e jamais seriam capazes disso. A sociedade já teme a doença mental naturalmente, o estigma da violência é um dos mais comuns. Temo que conclusões precipitadas possam contribuir ainda mais para o preconceito.
Decidi então colaborar com algumas informações da literatura médica que transcrevo abaixo e deixo que cada um possa tirar suas conclusões.
Assassinos em Massa "Pseudocomando": A psicologia da vingança e da obliteração, Parte I
O termo pseudocomando foi utilizado por Dietz em 1986 para descrever um tipo de assassino em massa que planeja sua ação após longo período de deliberação. O assassino tipo pseudocomando mata em público, de forma indiscriminada e à luz do dia, mas também pode matar familiares ou uma “pseudocomunidade” que ele acredita tê-lo maltratado. Ele chega ao local fortemente armado, geralmente com roupa camuflada ou de guerra e não possui um plano de fuga, suicidando-se ou sendo alvejado pela polícia (algumas vezes provocam a reação da polícia, também conhecido por suicídio através de policiais).
Mullen descreveu sua avaliação pessoal de cinco assassinos em massa do tipo pseudocomando que foram capturados antes de conseguirem se matar ou serem mortos pela polícia. Ele notou que os massacres eram sempre bem planejados e tinham uma motivação pessoal de vingança contra a “indiferença e a rejeição da sociedade”, caracterizando os assassinos como pessoas rancorosas, desconfiadas (paranóicas) e com forte atração por armas de fogo.
O fenômeno homicídio-suicídio é quando um indivíduo comete homicídio seguido de suicídio em não mais do que 24 horas de intervalo. É um evento raro, que ocorre anualmente em 0,2 a 0,38 casos por 100 mil pessoas. A maior parte dos homicídios-suicídios são cuidadosamente planejados como atos seqüenciais e podem ter diferentes vítimas e motivações. O homicídio-suicídio do tipo adverso (extra-familiar) envolve ex-empregados, estudantes vítimas de bullying ou uma pessoa ressentida e paranóica. Ela culpa os outros e se sente prejudicada de alguma forma, geralmente tem depressão e traços paranóides e/ou narcisistas, podendo eventualmente apresentar delírios persecutórios.
Os assassinos em massa do tipo pseudocomando, descritos por Dietz e Mullen, enquadram-se melhor nesta categoria de homicídio-suicídio. É considerado assassino tipo pseudocomando o criminoso que faz ao menos quatro vítimas num único evento e depois se mata ou é morto. A literatura médica não encontrou ainda uma ligação forte entre assassinatos em massa e doença mental grave, exceto para doenças como depressão, mas psicose parece ser rara.
Mullen descreveu alguns traços de personalidade e alguns fatores da história que essas pessoas possuem em comum:
• quando crianças eram isolados ou sofriam bullying, tornando-se solitários e desesperados de serem excluídos socialmente;
• geralmente são desconfiados, guardam ressentimentos e rancores e têm traços obsessivos, rígidos, narcisistas e de grandiosidade;
• vêem os outros como rejeitadores e indiferentes, em função disso passam grande parte do tempo ressentidos e ruminando humilhações passadas;
• essas ruminações invariavelmente levam a fantasias sobre vinganças violentas. Mullen observou que os assassinos atingiam um estado em que sentiam a morte como bem-vinda, percebendo que ela traria fama e uma aura de poder que não tinham.
Parte II - https://leonardopalmeira.com.br/?p=122
O perfil do assassino de Realengo
O massacre da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro (07/04/11) provocou grande comoção nacional e repercutiu no mundo todo. A perplexidade diante das mortes violentas de crianças e adolescentes provoca um sentimento coletivo de indignação e incompreensão. A primeira pergunta que se faz é o que teria motivado esta barbárie? Seria o assassino um terrorista, um serial-killer ou um doente mental?
Quando apareceram os primeiros indícios da motivação para o crime, como a carta deixada pelo assassino, Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos de idade e ex-aluno da escola, e alguns depoimentos de amigos e familiares, a tese de que ele poderia ter um desequilíbrio emocional prevaleceu. Mas seria possível e razoável afirmarmos que Wellington possuia uma doença mental?
A carta deixada por ele antes de matar 12 adolescentes na escola e depois se suicidar deixa claro que tudo foi metodicamente planejado. Ele já sabia que faria várias vítimas e que depois terminaria com a própria vida. A maneira como executou seu plano macabro também revela que houve preparo e treinamento, pois demonstrou ter habilidades com arma de fogo, tinha duas pistolas calibre 38 e carregadores que o permitiam carregá-las rapidamente. A polícia apurou que houve em torno de 59 disparos em 3 ou 4 minutos de ação, até que fosse baleado por um policial militar e se matasse com um tiro na cabeça.
Uma mensagem deixada por um anônimo numa comunidade do Orkut uma semana antes anunciava que haveria uma chacina em uma escola municipal que faria as pessoas lembrar de Columbine, nos EUA.
Estas evidências demonstram a intenção assassina de Wellington, que, na mesma mensagem do Orkut, justificava se vingar das pessoas que dele bulinaram naquela mesma escola. As vítimas, porém, eram dez anos mais novas que ele.
Que Wellington possivelmente estava transtornado e mentalmente desequilibrado não há dúvida. Porém, não se pode afirmar que ele estivesse com alguma doença mental. Isto somente poderia ser confirmado através do exame psíquico do assassino. Mas em tese e diante do que já foi noticiado na mídia é possível levantar algumas hipóteses.
Na carta deixada por ele, Wellington deixa transparecer idéias religiosas e sexuais. Pede para ser lavado e envolto despido em um pano branco que trazia consigo na mochila, mas que ele não fosse tocado sem luvas por pessoas impuras ou adúlteras, apenas por pessoas castas ou que perderam sua castidade após o casamento. "Nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem a sua permissão." É possível que o assassino tivesse conflitos sexuais ou passado por traumas sexuais em sua infância ou juventude que influenciaram sua personalidade.
A referência a bullying na escola também é relevante, uma vez que o bullying está relacionado com diversos problemas mentais e da personalidade na vida adulta. Nos crimes semelhantes a este que ocorreram nos EUA, o bullying estava presente na maioria dos assassinos. Eles também tinham uma atitude mais reservada e introspectiva, como a de Wellington, segundo consta de alguns relatos de familiares e amigos do assassino (perfil que também está associado a maior ocorrência de bullying).
Este temperamento mais retraído e de isolamento social, entretanto, não justifica a atitude de Wellington, afinal este temperamento é comum em outras pessoas e não está relacionado a atitudes violentas. Porém, o fato de não ser uma pessoa que se vincula afetivamente a outra, pode fazê-lo menos temeroso quanto a atos homicidas ou suicidas. Na prática clínica vemos o quanto ter pessoas amadas, como pais e filhos, evita um ato suicida, por exemplo.
A morte da mãe adotiva no ano passado, que parece ter sido uma referência importante em sua vida (ele foi adotado ainda criança), pode ter sido um ingrediente explosivo desta trama que provavelmente já se desenhava em sua mente. Há relatos de que após a morte da mãe adotiva o comportamento de Wellington mudou e ele passou a adotar uma outra aparência, vestindo roupas pretas e usando barba grande. Ele pode ter perdido uma das poucas referências afetivas de sua vida e tornado-se mais corajoso para o ato que planejava.
Existem relatos de que a mãe biológica de Wellington sofria de algum transtorno mental, que teria sido internada e que teria tentado o suicidio em algum momento de sua vida. Há outros relatos que dão conta de que ela poderia ter esquizofrenia. Sabemos que as doenças mentais em geral possuem uma carga genética, embora ter um pai ou uma mãe doente não signifique que necessariamente o filho também adoecerá. Esta carga genética não é específica para a doença A, B ou C, mas determina a vulnerabilidade da pessoa, que diante do estresse e traumas da vida pode desencadear um transtorno mental (ao menos é isto que a ciência nos permite afirmar atualmente). Os fatores ambientais, portanto, possuem um peso importante, podendo ser responsáveis por metade do risco de doença. Porém, ter uma predisposição genética poderia ser um fator facilitador de um transtorno na vida adulta, principalmente diante dos fatores psicossociais que já abordamos.
Isto não significa que Wellington pudesse ter esquizofrenia. Particularmente acho esta hipótese pouco provável, pois um indivíduo esquizofrênico não teria a capacidade de organização e pragmatismo para arquitetar todo este plano homicida. A esquizofrenia acomete diversos aspectos diferentes do psiquismo da pessoa e costuma provocar uma desagregação do comportamento, do pensamento e das emoções. Caso ele fosse esquizofrênico, certamente daria sinais claros da doença muito antes de ser capaz de um ato deste.
Existem outras hipóteses mais prováveis, como um transtorno de personalidade esquizóide (que explicaria o seu retraimento, dificuldades sociais e excentricidades) ou anti-social (psicopatia). É possível também que ele estivesse sob efeito de drogas (embora isto também não explique um comportamento como este). Todavia é importante frisar que nenhuma patologia mental seria suficientemente capaz de explicar um ato desta monstruosidade.
Embora seja muito difícil traçar um perfil psicológico do assassino e dizer qual a provável patologia por trás deste massacre, devemos alertar a sociedade para alguns pontos que julgo importantes neste caso: o bullying nas escolas, o papel da família e das referências afetivas para a constituição da personalidade da pessoa em formação, o acesso aos serviços de saúde mental, seja a partir da escola ou das famílias que percebem problemas psicológicos em seus membros e a facilidade com que se consegue armas e munição em nosso país.
Por fim, me vejo no papel de alertar para o preconceito que já existe contra aqueles que sofrem de transtornos mentais. Estudos no mundo inteiro comprovam que doentes mentais não são mais violentos do que pessoas saudáveis, que é muito mais comum um paciente ser vítima do que algoz de algum tipo de violência.
Não vamos depositar nosso desconforto de cogitar que um ser humano possa ser capaz de tamanha atrocidade na conta dos doentes mentais, pois eles não merecem isso!






