Uma lição para todos!

O mundo emocionou-se com o resgate dos mineiros que ficaram presos na mina San José no Chile após 70 longos dias de espera. Foi um exemplo de superação, de fé e esperança e da solidariedade humana, que lamentavelmente anda esquecida nos dias de hoje.
Provavelmente a vida desses mineiros não será mais a mesma após este acidente. Conviverão com a lembrança dos dias de terror que passaram confinados a 620 metros de profundidade, passando por privações que nenhum ser humano imagina passar um dia. E de ter convivido constantemente com a possibilidade de morte, que nos primeiros dias parecia ser muito mais provável do que a sobrevivência.
Mas mesmo com todos os problemas físicos e psicológicos pelos quais ainda possam passar, o maior presente que tiveram foi ter a vida de volta. Isto faz com que tudo tenha um significado relativo. Eles mostraram ao mundo que a fé e a esperança são capazes de prolongar a vida e mudar o futuro. Certamente manterão o mesmo estado de espírito para superar as dificuldades, agora mais corriqueiras.
Acho que todos precisamos refletir mais a respeito. Do valor e do significado da vida, mesmo que passemos por turbulências, problemas e doenças, manter a fé e a esperança num futuro melhor é o ingrediente fundamental para a recuperação. Que a história dos mineiros possa nos ensinar muito a respeito da essência do homem, de seu poder de superação e, sobretudo, de fazer o bem ao próximo. A máxima (que já anda meio piegas) de que onde há vida ainda há esperança faz todo o sentido!
Veja o vídeo do momento mais emocionante do resgate:


Presidenciáveis ignoram a saúde mental

Leiam a carta da Associação Brasileira de Psiquiatria sobre a omissão dos candidatos a presidente em relação aos temas da Saúde Mental. Em agosto o Portal Entendendo a Esquizofrenia enviou carta aos candidatos e somente Plínio Sampaio (PSOL) respondeu às perguntas sobre a assistência psiquiátrica no Brasil. A entrevista dele está aqui no blog e também no Portal!
Provocados pela ABP, os candidatos à presidência mais bem colocados nas pesquisas se omitiram em relação aos seus planos para a saúde mental.
Prestes a eleger um novo Presidente da República, a população brasileira tem o direito de conhecer as propostas de quem se apresenta como seu possível representante durante os próximos quatro anos. Dentro deste raciocínio e para garantir que os seus associados tenham o maior número de informações no que diz respeito às ideias referentes às políticas públicas de saúde mental, a Associação Brasileira de Psiquiatria entrou em contato com os três candidatos que atualmente lideram as pesquisas de intenção de votos: Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva.
Ciente dos compromissos que envolvem os candidatos em uma campanha presidencial foi elaborada uma entrevista com perguntas diretas para, ao mesmo tempo, abordar os principais temas de interesse da Psiquiatria e permitir ao candidato praticidade para atender à solicitação da ABP. O questionário indagou sobre os planos de cada um para melhorar a assistência em saúde mental em geral, suas propostas específicas para o tratamento do crescente número de dependentes em drogas (lícitas e ilícitas), além da avaliação sobre o atual cenário do setor.
Mesmo com a insistência, nenhum candidato se prontificou a abordar o tema. Silenciar-se sobre a omissão destes candidatos, que pretendem liderar o Brasil em seu crescimento em todas as esferas sociais, seria tão, ou mais, preocupante que o silêncio dos presidenciáveis. É obrigação da Associação Brasileira de Psiquiatria representar seus 6 mil associados e fazer valer a sua voz para contribuir para a elaboração e aperfeiçoamento de uma política pública eficaz à prática profissional dos médicos psiquiatras e aos doentes mentais.
Cumprindo com o seu papel, o presidente da ABP, João Alberto Carvalho, se posicionou quanto a insensibilidade dos candidatos com relação ao tema. "A falta de resposta dos candidatos é apenas um sinalizador de como a assistência em saúde mental recebe pouca atenção do Estado. Esta não é a atitude esperada por aqueles que almejam alcançar uma posição de cunho democrático", lamentou.
"Faz parte da nossa consciência que o papel de uma instituição médica não se limita a defender interesses profissionais. É nossa obrigação também atuar para a melhoria da saúde da população. Infelizmente, como é possível perceber, os verdadeiros responsáveis por oferecer cidadania aos brasileiros estão menos preocupados do que os psiquiatras com o bem-estar da sociedade", diz João Alberto Carvalho.
Contudo, o presidente da ABP garante que a instituição não pode se afastar do debate político e insistir em sua permanente luta para aperfeiçoar as políticas públicas relacionadas à saúde mental.
Ele lembra que nos últimos anos a instituição tem lutado pela construção de uma rede de atendimento integrada, balanceada e hierarquizada, como a preconizada pela Organização Mundial de Saúde. Alerta para a importância da atenção primária, aponta equívocos e soluções no tratamento de dependes químicos e discute meios mais efetivos de financiamento, entre outros pontos. Essa discussão, aliás, foi levada ao Ministério Público diante da indiferença do Governo. "Sobretudo sempre procuramos restabelecer o debate pautado por critérios técnicos", resume o presidente da ABP.
Infelizmente, a omissão dos principais candidatos à presidência sobre o assunto não é um bom sinal.
Fonte: Associação Brasileira de Psiquiatria


Distúrbios durante o sono prejudicam a vida de pacientes

Muito boa a reportagem sobre os distúrbios do sono, vale a pena ler!
Insônia, apneia e parassonias são os mais comuns.
Depois de um dia corrido, nada mais justo que uma boa noite de sono para recuperar as energias. Mas nem sempre dormir é sinônimo de descanso. Muitos motivos atrapalham o repouso: de obstáculos que impedem a passagem de ar pela garganta a distúrbios psicológicos, a insônia pode ter origem das mais variadas.

Ao se deitar, alguns não conseguem dormir. Outros até conseguem, mas, mesmo sem perceber, despertam diversas vezes durante a noite - o que prejudica o descanso e, consequentemente, causa sonolência durante o dia. Os distúrbios são vários, assim como as causas. A insônia, um dos mais comuns, é uma consequência de outros problemas que atrapalham o sono.
Normalmente [a doença] é causada pela correria do dia a dia, que leva à ansiedade, tensões e preocupações que tiram o sono da pessoa – afirma o médico Shigeu Yonekura, neurologista e coordenador do Instituto do Sono, em São Paulo.
Além dos problemas psicológicos relacionados ao estresse, os distúrbios do sono podem também ter origem neurológica ou otorrinolaringológica – especialidade que trata das doenças de ouvido, nariz e garganta.
Problemas psicológicos
Os problemas de ordem psicológica são de diferentes origens, normalmente decorrentes de depressão, ansiedade e/ou estresse. A depressão, por exemplo, pode afetar o sono de duas formas distintas. No frio, a 'depressão de inverno' é uma doença recorrente em muitas pessoas. A temperatura diminui e, também, o ânimo das pessoas, que recorrerem ao sono com maior frequência para se refugiar das infelicidades.
Na depressão 'comum' a dificuldade é em pregar os olhos. Os problemas, assim como quando atingidas por estresse e ansiedade, levam as pessoas a não conseguirem dormir. A preocupação toma conta dos pensamentos, impedindo que o paciente consiga relaxar.
Problemas neurológicos:
Disfunções neurológicas também podem afetar o sono. Alguns distúrbios, como a parassonia, a narcolepsia e a síndrome das pernas inquietas, são os mais comuns.
A parassonia, por exemplo, se dá pela ativação do sistema nervoso central, que pode causar um despertar confuso, sonambulismo, enurese noturna – falta de controle urinário – e terror noturno que, durante a noite, pode provocar reações como agitação extrema, gritos, gemidos, falta de ar e comportamento agressivo e destrutivo.
São situações normais na infância, até os 12 anos mais ou menos, mas depois disso, quando o paciente sente que os sintomas continuam e começam a atrapalhar a vida da pessoa, ela deve procurar tratamento – ressalta o médico.
Outro distúrbio, a narcolepsia, é um tipo de dissonia caracterizada pela falta de controle em se manter acordado. A sonolência diurna chega a tal ponto que a pessoa acaba caindo no sono involuntariamente. É considerada perigosa por afetar o paciente até em tarefas cotidianas, como dirigir, podendo provocar sérios acidentes.
Já a Síndrome das Pernas Inquietas, também de ordem neurológica, causa sensações angustiantes, principalmente na região da panturrilha. O distúrbio - causado normalmente por uma carência de vitaminas, cálcio e magnésio - faz com que as pernas se movimentem muito durante a noite, atrapalhando, assim, o repouso. Em consequência disso, o paciente pode apresentar além de insônia, angústia, sonolência excessiva, cansaço e irritabilidade durante o dia.
Outros Problemas:
Um dos distúrbios mais comuns, a apnéia do sono causa pausas respiratórias que acontecem exclusivamente no sono. Ronco, cansaço e sonolência diurnos e déficit de atenção e memória são alguns dos sintomas, originados por diferentes causas.
Disfunções no sistema nervoso central – a Apnéia Central –, obesidade e hipertrofia da adenóide ou amígdala são os motivos pelos quais a respiração pára. O tratamento pode se dar de forma cirúrgica – com remoção de gordura ou redução dos obstáculos que impedem a passagem do ar – ou métodos alternativos, com aparelhos intra-orais que posicionam a mandíbula mais pra frente.
Outra saída é a utilização da máscara CPAP, um aparelho que estimula a respiração durante o sono – ressalta Yonekura.
Exame:
Para diagnosticar qual problema está afetando o paciente, deve-se fazer a polisonografia, um exame que monitora o sono da pessoa durante uma noite inteira – afirma o médico.
O teste permite verificar potenciais elétricos da atividades cerebral, dos batimentos cardíacos, os movimentos dos olhos, a atividade muscular, o esforço respiratório, a saturação do oxigênio no sangue, os movimentos das pernas e outros parâmetros que vão identificar de qual distúrbio a pessoa sofre.
Fonte: Jornal de Santa Catarina


Eleições 2010 - Entrevista com os candidatos - Plínio Sampaio.

O Portal Entendendo a Esquizofrenia enviou aos candidatos a Presidente da República uma carta com perguntas sobre as suas propostas para a área de Saúde Mental.

Segue a entrevista com o candidato do PSOL, Plínio Arruda Sampaio:

Portal: O Brasil enfrenta uma crise na rede hospitalar especializada (hospitais psiquiátricos), com redução de leitos que possam atender à população nos casos de urgência. Os hospitais gerais estão longe de suprir esta carência, pois a grande maioria não conta com alas psiquiátricas. Qual a sua proposta quanto aos leitos psiquiátricos?
Plínio: A situação da falta de leitos está diretamente ligada com o descompromisso das prefeituras, estados e do governo federal que com a criação dos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) passaram a desativar os hospitais psiquiátricos sem, no entanto, abrir vagas suficientes nos CAPS para atender a esta demanda. Resultado disso é que hoje temos muitas pessoas que não tem acesso a um tratamento adequado por descompromisso público.

Neste sentido pretendo promover a construção de CAPS como política mais humana para aqueles que sofrem de doenças mentais, reservando os hospitais públicos para aqueles casos mais graves, onde o paciente corre o risco de se automutilar, cometer suicídio ou matar outras pessoas.

Entendo que se constituem como uma alternativa ao modelo centrado no hospital psiquiátrico, caracterizado por internações de longa permanência e regime asilar. Os Centros de Atenção, ao contrário, permitem que os usuários permaneçam junto às suas famílias e comunidades.

Portal: Os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) estão sobrecarregados e muitos perderam sua característica inicial de espaço para reabilitação psicossocial de pacientes com transtornos mentais graves, funcionando como grandes ambulatórios. Qual a sua proposta para os CAPS e para os ambulatórios especializados?
Plínio: A criação dos CAPS foi um avanço na legislação brasileira, fruto de muita luta do movimento da luta anti-manicomial. No entanto, como já citei na resposta anterior, nenhuma das esferas do poder público criaram CAPS suficientes. É claro que o CAPS também tem suas contradições, por isso também pretendo junto com os movimentos e intelectuais da área avançar sempre em uma política de saúde mental que trate o doente como pessoa que não precisa ser privada do convívio social.

Portal: Sabemos que o tratamento da esquizofrenia e de outros transtornos mentais graves muitas vezes requer medicamentos modernos e de alto custo. O governo federal desenvolveu um programa de dispensação de medicamentos especiais, mas sabemos que a sua abrangência ainda está longe da ideal, poucas pessoas têm acesso e em alguns estados existe uma burocracia imensa para consegui-los. Qual a sua proposta no que diz respeito aos medicamentos de alto custo?
Plínio: Minha proposta no que diz respeito ao acesso a medicamentos é a mesma com relação a todo o sistema de saúde. O que acontece hoje é que a maioria dos remédios é muito caro e o estado não provem esses medicamentos para quem não pode pagar. Cria-se então um muro que por muitas vezes determina quem morre e quem vive.
Para acabar com essa divisão defendo um sistema socializado de medicina, onde tanto o pobre quanto o rico tenham acesso a mesma medicina e aos mesmos medicamentos providos pelo Estado e isso vale para os medicamentos de transtornos mentais graves, independente do preço. Saúde é um direito de todos e não pode servir para obtenção de lucro.

Portal: Sabemos que a recuperação de uma pessoa com transtorno mental grave depende também do combate ao estigma e ao preconceito na sociedade, para que eles possam ter maior oportunidade em sua comunidade, como trabalho e vida social. Outros países têm uma participação mais ativa no sentido de promover campanhas sociais antiestigma, informando a população e combatendo os muros do preconceito. Qual a sua proposta no combate ao estigma e ao preconceito da doença mental?
Plínio: O manicômio é expressão de uma estrutura, presente nos diversos mecanismos de opressão desse tipo de sociedade. A opressão nas fábricas, nas instituições de adolescentes, nos cárceres, a discriminação contra negros, homossexuais, índios, mulheres. Lutar pelos direitos de cidadania dos doentes mentais significa incorporar-se à luta de todos os trabalhadores por seus direitos mínimos à saúde, justiça e melhores condições de vida.

Portal: Por fim, como o senhor avalia a atual situação da assistência psiquiátrica no Brasil?
Plínio: Como já expressei em minhas repostas anteriores a assistência psiquiátrica é muito precária no Brasil, precisamos evoluir muito nessa área e pretendo junto com conselhos da área, o movimento de luta anti-manicomial travar um luta contra e exclusão dessa população, promovendo a inclusão desses cidadãos na sociedade.


Intervenção precoce: esforços para evitar o primeiro surto.

Reconhecer precocemente se uma pessoa irá desenvolver a esquizofrenia é um desafio para a ciência e para os médicos, pois existem evidências robustas de que evitar ou retardar um primeiro surto pode aumentar muito as chances de recuperação de uma pessoa com esquizofrenia. No encontro mundial de especialistas em esquizofrenia, realizado em abril de 2010 em Florença, Itália, muito se debateu sobre intervenção precoce, desde como reconhecer se um adolescente está em risco maior de adoecimento até que estratégias utilizar para aperfeiçoar a resposta ao tratamento e aumentar as chances de recuperação.

Dr. William Carpenter, da Universidade de Maryland, EUA, defendeu que os sistemas diagnósticos em psiquiatria, particularmente o Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais, a DSM, da Associação Americana de Psiquiatria, incluíssem no roll de diagnósticos as pessoas que apresentassem um estado mental de risco para psicose, também conhecido como Síndrome Prodrômica de Risco (Prodromal Risk Syndrome).

Segundo ele, as pessoas com sintomas leves, como retraimento/isolamento social e emocional, distorções leves da realidade, ilusões ou falsas percepções do meio, falta de vontade e persistência nas atividades laborativas, acadêmicas ou sociais, possuem um risco de desenvolver um surto psicótico maior do que a população geral. As taxas de conversão para psicose podem chegar a 40% em 1 ano. Para Carpenter, é fundamental reconhecer este grupo para oferecer um tratamento rápido e eficaz, capaz de frear a progressão para um estado de doença. “As chances de recuperação para as pessoas que começam um tratamento antes de uma crise são muito superiores àqueles que já experimentaram a ruptura emocional e social que o surto psicótico gera”, conclui.

Dr. Ashok Malla, da Universidade de McGill, Canadá, preconiza que as pessoas em estado de risco para psicose sejam acompanhadas em serviços especializados em intervenção precoce. “Esses pacientes precisam de um tratamento intensivo com uma equipe treinada e disponível para atender às suas demandas, utilizando técnicas de psicoeducação de família e de terapia cognitivo-comportamental, além de medicação quando necessária”, explica. A psicoeducação de família procura informar melhor a família e orientá-la sobre como agir em situações de conflito, reduzindo assim a sobrecarga em casa, que pode ser prejudicial e precipitar um primeiro surto, e a terapia cognitivo-comportamental vai reforçar a tolerância do indivíduo ao estresse e auxiliá-lo na solução dos seus conflitos. “Os pacientes devem ser acompanhados por no mínimo 5 anos, já que temos a evidência de que até 82% surtam após este período quando não recebem nenhum tipo de tratamento. Nos dois primeiros anos os encontros devem ser semanais, nos três anos seguintes é possível reduzir a freqüência da intervenção, dependendo da evolução de cada caso”, afirma Dr Malla.

Dra. Merete Nordentoft, da Universidade de Copenhagen, uma das pesquisadoras-chefe da pesquisa conhecida por OPUS, que estuda a intervenção precoce da psicose na Dinamarca desde 1998, afirma que é importante engajar pacientes e familiares através da integração das questões médicas e das demandas sociais de cada caso e que, para maior efetividade do programa, é fundamental que a relação terapeuta-paciente não seja maior do que 1:10. Entre as atividades que propõe estão a terapia de família, o treinamento das habilidades sociais dos pacientes em grupo e a terapia cognitivo-comportamental. “Uma das abordagens que fazemos com o paciente é a elaboração de um plano de crise, conversando com cada um como deve agir quando está ouvindo vozes ou se sentindo ameaçado: ele deve tentar se distrair, ouvir uma música ou conversar com algum familiar, p.ex. Isso o deixa menos vulnerável e com uma sensação maior de proteção”, exemplifica. A estratégia de intervenção precoce mostrou-se mais eficaz do que outros tratamentos, com maior adesão por parte do paciente e da família, melhora dos sintomas, redução do uso e abuso de drogas e menos internações.

Uma questão que permanece ainda sem resposta é se de fato conseguimos prevenir a psicose ou a esquizofrenia. Alguns estudos, em fases mais avançadas, não viram diferença expressiva entre o grupo de pacientes que freqüentavam os programas de intervenção precoce após 5 anos e os que faziam o tratamento convencional. Para o Dr José Luiz Vazquez-Barquero, da Universidade de Santander, Espanha, e um dos responsáveis pelo estudo de Cantábria, também focado na intervenção precoce, cerca de 40% dos pacientes não apresentam recaída após 5 anos e para eles a alta é uma realidade possível. “É preciso conhecer bem os preditores de alta, para não dispensar um paciente que possa recair depois de interrompido o tratamento”, alerta. Porém, para 60% dos pacientes o tratamento precisa ser mantido.


Alguém ainda duvida dos efeitos do estresse II ?

Estresse pode diminuir chances de mulher engravidar, diz estudo
Um estudo científico mostrou, pela primeira vez, que altos níveis de estresse podem diminuir as chances de uma mulher engravidar.
Especialistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra, mediram a quantidade de hormônios associados ao estresse em mulheres que tentavam engravidar naturalmente e concluíram que as mais estressadas tinham mais dificuldade em ficar grávidas.
Técnicas de relaxamento talvez ajudem alguns casais, mas são necessárias mais pesquisas sobre o assunto, diz a equipe.
O estudo, publicado na revista científica Fertility and Sterility, monitorou 274 mulheres saudáveis com idades entre 18 e 40 anos que tentavam ficar grávidas.
Especialistas já sabem que idade, hábito de fumar, obesidade e consumo de álcool interferem nas chances de gravidez, mas a influência do estresse é menos clara.
A equipe da Universidade de Oxford mediu dois hormônios vinculados ao estresse, a adrenalina e o cortisol, a partir de exames da saliva das participantes.
A adrenalina é liberada pelo organismo quando a pessoa está, ou julga estar, em situações ameaçadoras ou perigosas. O cortisol está associado ao estresse crônico.
As mulheres que tinham índices maiores de alfa-amilase na saliva (uma proteína que pode servir como indicador na medição de índices de adrenalina) apresentaram uma redução de 12% nas suas chances de engravidar nos dias férteis em comparação às que tinham os níveis menores do indicador.
Os pesquisadores não encontraram associações entre chances de engravidar e a presença do hormônio cortisol.
Ioga - Uma das integrantes da equipe responsável pelo estudo, a cientista Cecilia Pyper, da National Perinatal Epidemiology Unit da Universidade de Oxford, disse que o objetivo do trabalho é melhorar a compreensão dos fatores que influenciam a gravidez em mulheres saudáveis.
"Este é o primeiro estudo a revelar que um medidor biológico do estresse está associado às chances de uma mulher ficar grávida naquele mês", explicou Pyper.
"A descoberta reforça a ideia de que casais que estão tentando ter um bebê devem procurar ficar tão relaxados quanto possível".
"Em alguns casos, pode ser importante procurar técnicas de relaxamento, terapia e até ioga e meditação".
A pesquisa foi feita em colaboração com o Eunice Kennedy Shriver National Institute for Child Health and Human Development, nos Estados Unidos.
Ela é parte de um estudo maior, que tenta avaliar os efeitos do fumo, álcool e cafeína sobre as chances de gravidez.
Fonte: BBC Brasil


Alguém ainda duvida dos efeitos do estresse?

Adversidades e estresse na infância levam a problemas de saúde no futuro, dizem estudos
Segundo pesquisas, estresse provocado por pobreza ou abusos pode levar a doenças cardíacas e envelhecimento celular precoce.
Adversidades e estresse no início da vida podem levar a problemas de saúde no futuro e até mesmo à morte prematura, segundo uma série de estudos apresentados em um encontro da Associação Americana de Psicologia, na Califórnia.
Os estudos sugerem que o estresse na infância provocado pela pobreza ou por abusos pode levar a doenças cardíacas, inflamação e acelerar o envelhecimento celular.
Segundo os responsáveis pelas pesquisas, as experiências no início da vida podem deixar "marcas duradouras" sobre a saúde no longo prazo.
Em um dos estudos, pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, analisaram a relação entre viver em pobreza e os sinais iniciais de doenças cardíacas em 200 adolescentes saudáveis.
Eles verificaram que aqueles que vinham de famílias mais pobres tinham artérias mais endurecidas e uma pressão sanguínea mais elevada.
Situações ameaçadoras
Uma segunda pesquisa do mesmo grupo mostrou que as crianças dos lares mais pobres eram mais propensas a interpretar uma série de situações sociais simuladas como ameaçadoras.
Elas também tinham pressão e batimentos cardíacos mais altos e apresentaram sinais mais fortes de hostilidade e raiva em três testes de laboratório.
Os resultados apoiam outras pesquisas que mostram uma ligação entre uma infância com alto nível de estresse e futuras doenças cardiovasculares, segundo a coordenadora dos estudos, Karen Matthews.
Segundo ela, ambientes imprevisíveis e com estresse levam as crianças a ficarem "hipervigilantes" em relação a percepções de ameaças.
"Interações com outros se tornam então uma fonte de estresse, que pode elevar o nível de estimulação, a pressão sanguínea e os níveis de inflamação e esgotar as reservas do corpo. Isso estabelece o risco para doenças cardiovasculares", disse.
Expectativa de vida
Outro estudo apresentado na conferência mostrou que eventos na infância como a morte de um dos pais ou abusos podem tornar as pessoas mais vulneráveis aos efeitos do estresse na vida posterior e até mesmo reduzir a expectativa de vida.
Pesquisadores da Universidade de Ohio State analisaram um grupo de adultos mais velhos, alguns dos quais cuidavam de pessoas com demência.
Eles avaliaram diversos indicadores de inflamação no sangue que podem ser sinais de estresse, assim como o comprimento dos telômeros - fitas de DNA que se encurtam a cada vez que as células se dividem e que podem ter relação com doenças relacionadas à idade.
Os 132 participantes também responderam a um questionário sobre depressão e sobre abusos ou negligências sofridos na infância.
O estudo relacionou abusos físicos, emocionais ou sexuais durante a infância com telômeros mais curtos e níveis mais altos de inflamação mesmo após serem descartados outros fatores como idade, sexo, índice de massa corporal, exercícios, sono e se a pessoa era responsável por cuidar de alguém.
"Nossa pesquisa mostra que as adversidades na infância deixam uma sombra longa sobre a saúde da pessoa e podem levar a inflamações e envelhecimento celular muito antes do que em aqueles que não passaram por isso", disse a coordenadora do estudo, Janice Kiecolt-Glaser.
"Aqueles que sofrem diversas adversidades podem encurtar sua expectativa de vida entre 7 e 15 anos", afirmou.
Fonte: BBC Brasil


Novo clipe do grupo Harmonia Enlouquece: Homem-Robô

O grupo Harmonia Enlouquece é formado por pacientes e técnicos do Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro - CPRJ, hospital do Governo do Estado do Rio de Janeiro, onde tive orgulho de trabalhar por muitos anos. Eles se tornaram mais conhecidos após a exposição na novela Caminho das Índias, da TV Globo, mas eles têm um repertório grande e muito interessante, que vale a pena conhecer. O clipe abaixo é do novo trabalho deles, "Homem Robô". Vale a pena assistir e visitar o Youtube, onde existem outras músicas do grupo.


Artigo Jornal O DIA: Os tabus da esquizofrenia.

Rio – O tema esquizofrenia foi abordado recentemente de forma clara e educativa, instigando a sociedade a rever preconceitos e estigmas que rondam a doença há mais de um século. Tabus como associá-la à violência, à necessidade de internações prolongadas e à impossibilidade de recuperação ou a atitude de culpar o paciente e a família pela doença precisam ser desmistificados para o bem daqueles que lutam para vencê-la.

A esquizofrenia é uma doença como outra qualquer, que acomete o corpo e a mente da pessoa sem que ela possa se defender ou se precaver. O cérebro é inundado por uma substância chamada dopamina, produzida em excesso por neurônios que têm dificuldade para se conectarem.

A predisposição para a doença é genética e ninguém, principalmente o paciente e sua família, deve ser responsabilizado por ela.

Diversos estudos comprovam cientificamente que esquizofrênicos não são violentos, com índices de agressões ou crimes próximos aos da população geral. A maioria, pelo contrário, é mais vítima do que algoz, sentindo-se acuada pelos delírios e alucinações.
O tratamento é eficiente, reduz a necessidade de internações e é capaz de devolver à pessoa a capacidade de ter uma vida normal. Ela pode trabalhar, estudar, divertir-se e formar uma família.

Ele deve abranger medicamentos, psicoterapias, terapias ocupacionais e de família. Terapeutas devem ensinar sobre a doença aos parentes, ajudá-los na compreensão e na solução pacífica dos conflitos, reduzindo assim o estresse e as recaídas. Os pacientes não devem ser ofuscados pela doença e suas possibilidades vão muito além da esquizofrenia.


Short-cuts: metade dos doentes bipolares sofre de hipertensão.

Metade das pessoas que sofrem de doença bipolar é hipertensa, concluiu um estudo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

O estudo adianta ainda que quanto mais novos forem os indivíduos que sofrem da doença mental mais probabilidades têm de desenvolver hipertensão.

Para este estudo foram analisados pacientes internados que ajudaram a entender que a doença bipolar não está apenas relacionada com problemas cardiovasculares e diabetes como se pensava anteriormente.

“Há uma forte relevância clínica para a descoberta de que a hipertensão pode estar relacionada com a gravidade da doença bipolar”, garantiu Dale D’Mello, o psiquiatra que coordenou a investigação.

D’Mello explicou ainda que “há uma certa semelhança nas duas condições: ambas podem ser desencadeadas por stress e estão vinculadas à excreção de noradrenalina, uma hormona que afecta a forma como o cérebro reage ao stress” e influencia o humor, a ansiedade, o sono e a alimentação.

Diagnóstico e tratamento

O coordenador da investigação acredita que estes resultados mostram que se deve prestar mais atenção à questão da hipertensão arterial em pacientes bipolares.

“Há também indicações de que a hipertensão pode conduzir a lesões cerebrais. Diagnosticar o problema e tratá-lo precocemente permite alterar os resultados médicos em pessoas que lutam contra a doença bipolar”, explica D’Mello.

Este estudo pode ajudar a desenvolver tratamentos mais eficazes como por exemplo, substituir substâncias como o lítio no tratamento de doentes bipolares e obesos que não respondem bem às terapias mais comuns.

→ Fonte: Ciência Hoje


Iniciativas que priorizam o trabalho na recuperação da esquizofrenia.

O trabalho é um dos pilares na recuperação da esquizofrenia e um dos objetivos mais almejados por terapeutas, familiares e pacientes. Por isso ele foi tema de diferentes mesas redondas nesta Segunda Conferência Internacional da Sociedade de Pesquisa em Esquizofrenia, em Florença, Itália, realizada em maio de 2010.

Um consenso entre os especialistas é que o trabalho deve ser pensado caso a caso, ou seja, existem pacientes que podem retornar ou ingressar no mercado de trabalho, mas para outros isto pode significar maior instabilidade e risco de recaídas. Outro ponto fundamental é a vontade e a capacidade do próprio paciente. Se voltar a trabalhar é factível e um desejo, isto precisa ser considerado como uma das prioridades do tratamento e o paciente deve ser preparado para retornar tão logo tenha condições clínicas para isso. Não é necessário, contudo, que ele esteja totalmente recuperado ou livre de sintomas. Seu estado deve permitir que ele possa assumir suas responsabilidades, ainda que com algum grau de dificuldade, mas que o trabalho seja mais uma forma dele se recuperar da doença.

Incluir o trabalho no hall de terapias psicossociais parece, então, fundamental para que este objetivo seja finalmente alcançado. Dr. Keith Nuchterlein, da Universidade da Califórnia, enfatizou o programa conhecido por IPS (Individual Placement and Support), ou Suporte e Colocação Individual. Por ele, o paciente recebe treinamento e suporte contínuo, enquanto trabalha, através de um treinador de trabalho (job coach). Este profissional é capaz de orientá-lo e ajudá-lo nas necessidades que surgirem, avaliando junto à equipe médica cada etapa. Apesar do treinamento prévio, 60% do tempo do programa é com o paciente na comunidade e enfrentando os desafios do dia-a-dia. Entre os especialistas existe, inclusive, a percepção de que uma etapa de treinamento muito longa e exaustiva prejudica o retorno.

“Antes do retorno é preciso investigar os estressores e a relação do paciente no ambiente de trabalho. O treinamento ajuda a reforçar os pontos fracos e a preparar o paciente para os conflitos identificados pelo treinador”, afirma Dr. Keith. Este programa recebeu 74% de aprovação entre os pacientes, 86% retornaram ao trabalho dentro de um prazo de seis meses e 90% permanecem trabalhando 18 meses depois. A eficácia é quase duas vezes superior ao grupo que voltou a trabalhar sem participar do programa. “Isto mostra a necessidade de metodologias voltadas para a reinserção no mercado de trabalho e isto precisa ser incorporado no arsenal terapêutico da esquizofrenia se quisermos recuperar melhor nossos pacientes para uma vida mais produtiva”, conclui.

Dr. Barnaby Major, da Universidade de Londres, reforça que o objetivo final não é o trabalho em si, mas a qualidade de vida e a auto-estima dos pacientes, e que o melhor momento de voltar ao trabalho deve ser decidido por eles. “Eles participam de grupos de psicoeducação e de treinamento para o trabalho até sentirem-se preparados e aptos”. O programa de volta ao trabalho inclui pacientes que participam de programas de intervenção precoce, ou seja, aqueles que tiveram um único surto ou que apresentam sintomas da esquizofrenia, mas ainda não surtaram. “Quanto mais cedo nos preocuparmos com a reabilitação vocacional, maiores serão as taxas de retorno ao trabalho e menores os índices de cronificação, pois o trabalho contribui para o sentimento de valor e inserção social, elevando a auto-estima, reduzindo o estigma e ampliando o sentido de recuperação”, conclui.

Dr. Eion Killackey, da Universidade de Melbourne, enfatizou que programas de intervenção precoce e trabalho em saúde mental devem ser uma prioridade de governo e citou o plano de estratégias em Saúde Mental traçado pelo Governo Australiano até 2019. O Victorian Mental Health Reform Strategy 2009-2019 foi desenvolvido por consumidores, profissionais e autoridades do sistema de saúde australiano e reúne os compromissos para ampliar a participação das pessoas portadoras de doenças mentais graves na comunidade na próxima década. Projeto semelhante e conhecido por RAISE (Recovery After na Initial Schizophrenia Episode) foi desenvolvido pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA e preocupa-se em melhorar a participação social e a recuperação dos pacientes portadores de esquizofrenia.


Professores dizem que psiquiatria transformou depressão em doença da moda.

Os norte-americanos Jerome Wakefield e Allan Horwitz são professores de universidades e especialistas em diagnósticos de transtornos mentais.

A partir de suas pesquisas, escrevem "A Tristeza Perdida", livro em que esmiúçam a forma como a depressão vem sendo tratada por médicos e psicólogos.

Para os autores, a psiquiatria contemporânea confunde tristeza normal com transtorno mental depressivo. E o faz porque ignora a relação entre os sintomas e o contexto em que eles aparecem. O subtítulo do livro --"como a psiquiatria transformou a depressão em moda"-- marca a posição dos professores em relação ao tema.

Wakefield e Horwitz analisam, ao longo de 11 capítulos, questões como o conceito de depressão e de depressão no século 20, o aumento significativo do consumo de antidepressivos e o impacto da patologia na sociedade.

Examinando evidências históricas, filosóficas e psicologias, ambos questionam se a psiquiatria atual distingue com ética e eficácia o que é normal e o que é patológico.

CLIQUE AQUI e leia o prefácio e as primeiras páginas do livro.

Fonte: Associação Brasileira de Psiquiatria


Elyn Saks e a comovente história de quem superou a esquizofrenia.

A partir deste mês o Blog do Dr Leonardo Figueiredo Palmeira irá abordar através de seus artigos mensais os principais temas da Segunda Conferência Internacional da Sociedade de Pesquisa em Esquizofrenia, realizada em abril deste ano em Florença, Itália.

O primeiro artigo é sobre a conferência de abertura, ministrada pela Doutora Elyn Saks (foto), professora de Direito da Universidade da Califórnia do Sul, autora do livro “The Center Cannot Hold: My Journey Through Madness*” (sem tradução para o português), onde ela conta sua batalha pessoal contra a esquizofrenia.

Elyn Saks adoeceu na adolescência, mas só veio a aceitar a doença vinte anos depois de tentar lutar sozinha contra as alucinações terríveis e as paranóias que tinha. Iniciava e parava os tratamentos, se recusava a tomar as medicações, que, segundo ela, lhe traziam muitos efeitos colaterais e a faziam se sentir artificial.

“Eu tinha um pensamento incontrolável de que meu terapeuta era o demônio e que poderia me matar. Era um delírio que me distanciava do tratamento”, recorda-se.

Na infância lembra-se que tinha algumas manias e obsessões, só podia se levantar da cama se seus chinelos estivessem virados para cima e postos lado a lado. Por muito tempo cismou que havia um homem que durante a noite ficava do lado de fora de sua casa, aguardando-a dormir para entrar e matar sua família.

“O primeiro sinal real de psicose, que eu me lembre, foi aos 15 ou 16 anos, quando eu matei a escola (coisa que eu jamais faria) e corri para casa. No caminho tinha a nítida impressão que as casas da rua me mandavam mensagens: você é má, você é o diabo, tome cuidado, nós vamos te pegar”, conta Elyn.

Ela emagreceu muito, ficou muito abatida, se isolou de todos na escola e, depois, na faculdade. “Eu não queria falar com ninguém, pois achava que assim eu espalharia minha maldade para todo mundo”, explica. “Quando cheguei ao hospital e me olhei no espelho, tomei um susto. Estava irreconhecível, muito abatida, descuidada. Pensei: qualquer um que olhasse para mim perceberia que estava louca”.

Somente aos 40 anos convenceu-se de que a doença não iria embora sozinha e que precisava da medicação e da psicoterapia. “Por 20 anos eu lutei com a aceitação. Ironicamente, quanto mais eu aceitava que tinha uma doença mental, menos a doença me dominava – até o ponto em que me libertei. É como se destrancasse uma porta que sempre esteve à minha frente, mas que, por medo, relutava abrir. Agora sinto que não tem mais volta. Desde então, passei a levar muito a sério a medicação e minha psicoterapia”, enfatiza.

Os médicos diziam lhe que alguém que sofria de esquizofrenia não tinha qualquer esperança de sucesso profissional e alguns lhe pediram que abandonasse a faculdade de direito. Mas Elyn continuou seus estudos, não só se formou, como hoje é uma renomada professora e pesquisadora de sua área. Em 2001 casou-se com Will, “que trouxe mais humor para a sua vida”. É o companheiro que a ajuda nos momentos mais difíceis e de maior estresse. “É ele quem me alerta de possíveis sinais e comportamentos que indiquem alguma recaída”, acrescenta.

Mesmo em tratamento e bem, ela não se descuida. “A psicose não é como um botão que você liga ou desliga, é como um dimmer, que você regula o nível de intensidade. Neste momento eu conheço minha doença muito bem e não é tão incomum assim eu ter algum tipo de pensamento psicótico. Então eu falo para mim mesma: é apenas a minha doença atuando. Mesmo nos períodos em que começo a acreditar nas minhas maluquices, penso no que as outras pessoas vão pensar e me controlo para não parecer louca. É a forma como procuro me livrar dos sintomas”.

Ela escreveu este livro para dar esperança às pessoas que sofrem de esquizofrenia e para que as outras pessoas compreendam melhor a doença. “Espero que esta história ajude a implodir os mitos que cercam a doença mental”, conclui.
Ao final de sua palestra, Elyn listou aquilo que considera ser fundamental na recuperação de uma pessoa que sofre de esquizofrenia:

1) Tomar a medicação corretamente
2) Viver com a família ou com animais de estimação: ela destaca o papel dos bichos de estimação, como cães e gatos, na recuperação de esquizofrênicos.
3) Evitar o isolamento
4) Envolver-se espiritualmente (igreja, religião)
5) Hábitos saudáveis de vida como exercícios físicos e alimentação saudável
6) Evitar drogas e álcool
7) Evitar atividades e ambientes superestimulantes ou estressantes
8) Evitar ambientes com muita gente e viagens muito longas
9) Trabalhar em um ambiente acolhedor
10) Participar de serviços ou grupos de recuperação/ressocialização
11) Fazer psicoterapia

*O livro de Elyn Saks ainda não foi traduzido para o português, mas pode ser encontrado em inglês em livrarias que vendem pela internet.


Congresso Mundial sobre Esquizofrenia

Especialistas do mundo inteiro se reúnem em Florença, Itália, para o segundo congresso da Sociedade Internacional de Pesquisa em Esquizofrenia, entre 10 e 14 de abril. Os maiores pesquisadores da área são esperados num evento que discutirá amplamente os avanços no campo da pesquisa, como promessas de novos medicamentos, estratégias de reabilitação psicossocial e de terapia familiar e novas descobertas da genética e da neurobiologia da esquizofrenia.
Estarei lá e enviarei as principais novidades através do Portal Entendendo a Esquizofrenia e do blog! Em função disso, peço desculpas por eventuais atrasos nas respostas às mensagens aqui postadas. Retorno em 25 de abril.


Achado gene relacionado à esquizofrenia.

Uma mutação genética que bloqueia a comunicação entre duas áreas do cérebro responsáveis pela memória seria uma das causas da esquizofrenia, segundo revelou estudo publicado ontem na “Nature”.

O trabalho mostrou que a alteração conhecida como 22q11, comum em pacientes esquizofrênicos, impede o fluxo de informação entre o hipocampo e o córtex pré-frontal.

— Mostramos que essa mutação específica atrapalha a comunicação entre essas duas regiões cerebrais, provocando problemas cognitivos — afirmou Joshua Gordon, da Universidade de Columbia. — Este é o primeiro passo. Com um pouco mais de estudo e compreensão sobre o que ocorre nessas áreas, poderemos desenvolver terapias que ajudem a restabelecer a comunicação entre essas regiões.

Caracterizada por alucinações e pensamentos desordenados, a esquizofrenia é bem mais comum em homens do que em mulheres e, normalmente, é diagnosticada no fim da adolescência ou início da idade adulta. Estima-se que a condição afete uma em cada 100 pessoas.
Embora existam drogas no mercado capazes de controlar a doença, elas não curam a desordem e podem ainda provocar efeitos colaterais severos, como ganho de peso excessivo.

O estudo foi feito com camundongos — metade deles com a mutação comumente presente nos pacientes esquizofrênicos.

Os cientistas registraram a atividade mental dos roedores submetidos a um teste de memória. O sucesso na tarefa dependia diretamente da comunicação entre as duas regiões do cérebro. Os registros feitos revelaram que os animais portadores da mutação não conseguiam realizar o teste.

Fonte: Jornal O Globo (01/04/10)


Entrevista no Portal Consulte sobre Esquizofrenia.

Parte 1 – Estima-se que a esquizofrenia atinja 1% da população, entre homens e mulheres de todas as classes sociais. De difícil diagnóstico, quanto antes for descoberta, melhor e mais rapidamente o paciente estará curado. Acompanhe aqui a entrevista com o autor do livro Entendendo a Esquizofrenia, o psiquiatra Dr. Leonardo Figueiredo Palmeira, que explica o que é a doença, quais suas causas e sintomas.

1. O que é a Esquizofrenia?
É uma doença mental, cuja característica fundamental é uma dissociação entre pensamento, emoção e percepção. A pessoa perde a capacidade de integrar suas vivências psíquicas internas e externas e com isso acaba tendo sintomas como delírios - que são crenças irreais, fantasias nas quais a pessoa acredita como se elas fossem de fato reais, alucinações - que são percepções falsas do meio, então a pessoa pode escutar vozes, ver coisas, ver vultos que não existem, sentir sensações estranhas no corpo. Enfim, a pessoa, por esta dissociação das suas funções psíquicas, tem vivências que são falsas, mas que ela toma como realidade. Então ela acaba perdendo o juízo crítico da realidade. Não consegue mais discernir a fantasia da própria realidade. Isto leva a outros sintomas comportamentais, dificuldade de relacionamento, introspecção, retraimento emocional, isolamento social que são outros sintomas que compõem a esquizofrenia.

2. Quais os fatores causadores da doença?
Ainda não há uma causa totalmente conhecida. Mas o que se sabe hoje é que a metade do risco da doença é composta por fatores genéticos e a outra metade por fatores ambientais. Existem possivelmente centenas de genes que predispõem a pessoa a desenvolver a esquizofrenia, mas não basta ter esses genes. A doença surge de uma combinação de fatores genéticos e ambientais, principalmente fatores que ocorrem precocemente ao longo da vida da pessoa, como durante a gestação, o parto e a primeira infância. Esses fatores ambientais ativam os genes de predisposição à doença, gerando uma vulnerabilidade da pessoa adoecer ao longo da vida. Alguns exemplos de fatores ambientais seriam:

a) Durante a gravidez - infecções maternas como pelo vírus da gripe, rubéola, toxoplasmose, depressão materna, problemas do parto (parto difícil, parto de emergência, hipóxia neonatal, prematuridade, baixo peso ao nascer).
b) Na primeira infância - traumas psíquicos, maternagem deficiente, perda dos pais, infecções do Sistema Nervoso Central.

Esses genes, na presença dos fatores ambientais, seriam ativados e interfeririam no desenvolvimento cerebral criando esse estado de vulnerabilidade. A pessoa fica, então, vulnerável e, na presença de fatores estressantes, ela pode desencadear um surto. Isso é mais comum na adolescência, por ser o momento de formação da personalidade, de cobranças e responsabilidades, aumentando o estresse. Essa pessoa não suporta a sobrecarga e entra num processo de adoecimento, de surto.

3. Fatores genéticos ou fatores ambientes isoladamente podem levar à esquizofrenia?
Veja, a combinação de fatores genéticos e ambientais leva a pessoa a desenvolver uma vulnerabilidade à doença. Ela precisa ter ao longo da vida alguma situação de sobrecarga social ou cotidiana que a leve a desencadear a doença. Há pessoas com predisposição genética, mas que não desenvolvem a doença por não possuírem os fatores ambientais que deflagram todo o processo. Também existem pessoas que têm os genes para a doença, passaram por fatores ambientais de risco, ou seja, possuem a vulnerabilidade, mas que ao longo da vida não foram submetidas a situações de estresse suficientes para o início da doença. Então, existem vários cenários possíveis, em que mesmo tendo a predisposição, a pessoa não adoece. Por exemplo, um pai esquizofrênico não necessariamente vai ter um filho esquizofrênico; ele herda os genes do pai, como herda os genes da mãe, pode ter uma predisposição hereditária, mas pode não ter todos os ingredientes necessários para o adoecimento.

4. Então quem tem um familiar com a doença tem mais chance de também ter a doença?
Esta é uma dúvida muito freqüente que as pessoas perguntam no site: ‘Meu pai ou irmão é esquizofrênico. Qual a possibilidade de eu ser ou do meu filho ser esquizofrênico?’. Estatisticamente essa chance é pequena, tem estudos mostrando que no caso de um dos pais esquizofrênico, o risco do filho ser esquizofrênico é de 12%, o que não é um risco grande, justamente porque o que causa a doença é a combinação de todos os fatores citados. Em outros estudos com gêmeos idênticos, que têm, portanto, o mesmo DNA e teoricamente o mesmo risco de adoecimento, que foram criados no mesmo ambiente, a taxa de concordância para a esquizofrenia é de 50%, ou seja, um gêmeo tem esquizofrenia e o outro vai desenvolver a esquizofrenia apenas em 50% dos casos. Então isso mostra que o peso da hereditariedade é 50% assim como o peso dos fatores ambientais, sejam os fatores precoces que vão alterar o desenvolvimento da pessoa e deixá-la vulnerável à doença, sejam os fatores posteriores que vão desencadear o surto.

5. Qual é a faixa etária mais atingida?
É uma doença que acomete pessoas jovens. A faixa de idade na maior parte dos casos é dos 15 aos 35 anos, sendo que, os homens adoecem mais precocemente do que as mulheres. O pico de incidência nos homens é dos 15 aos 25, nas mulheres dos 25 aos 35 anos. Podem acontecer casos fora desta faixa etária, mas são raros. A esquizofrenia raramente acorre na infância, acredita-se que menos de 1% dos esquizofrênicos desenvolvam a esquizofrenia antes dos 10 ou 12 anos de idade. Existem casos posteriores aos 35 anos, podendo ocorrer aos 40, 45 anos, mas são raros. Dentro do conceito de vulnerabilidade, imagina-se que uma pessoa aos 35 ou 40 anos de idade já tenha passado por fatores externos estressantes suficientes para desencadear a doença. Basicamente são pessoas em idade jovem, em idade produtiva, pessoas em que se espera uma autonomia, uma força de trabalho, formação de família. Enfim, isso é para mostrar como a esquizofrenia pode interferir diretamente com a qualidade de vida e com as perspectivas que a pessoa tem de ter uma vida produtiva e saudável.

6. Como identificar os sintomas da doença, de forma a procurar um especialista e iniciar o tratamento o mais rápido possível?
Essa é uma questão crucial e também difícil de responder, porque quanto mais rápido você iniciar um tratamento, melhor o prognóstico, menor as chances da pessoa desenvolver um surto mais grave, maior a probabilidade dela se recuperar plenamente, de voltar às suas atividades normais.

O primeiro sintoma da esquizofrenia geralmente é o retraimento e o isolamento social. O adolescente acometido pela esquizofrenia - antes de entrar em delírio, alucinações, maiores deturpações da realidade - se fecha, fica muito introspectivo, absorto em seus próprios pensamentos, dúvidas, angústias, ansiedades. A pessoa perde referenciais de vida, começa a questionar coisas absurdas como sua própria existência, a razão das coisas, explicações para fatos naturais, começa se interessar por temas mais exóticos ou mais científicos, acaba se envolvendo com literaturas que tratam do assunto, pode ter interesses específicos em religião, astronomia, física, enfim, buscando uma resposta para o estado interno. Esse estado chamamos de humor delirante difuso, que ainda não é o próprio delírio, mas o estado inicial de angústia que leva a pessoa a entrar no surto psicótico. Então, a pessoa começa se isolar, fica introspectiva, não quer ir à escola ou trabalho, não quer mais se socializar, se isola no quarto e se fecha para o mundo.

7. Estes sintomas podem ser confundidos com uma depressão?
Muitas vezes a família vê isso como um estado de depressão ou até mesmo como algo passageiro da adolescência, uma crise existencial. É por isso que é difícil diagnosticar a doença nesse período, pois dificilmente a família vai levar a pessoa ao médico, ao psiquiatra. Além da resistência natural que todo familiar tem em relação a isso, somente famílias que já sabiam de outros casos de esquizofrenia, que já tenham passado por essa experiência, é que vão acender a luz de alerta. Mas a grande maioria dos casos passa como uma depressão, uma crise normal, passageira. E aí, então, a família só vai despertar para o problema quando o surto eclodir, por ser o momento em que a pessoa começa a falar de suas crenças irreais, de coisas sem sentido, com um comportamento mais alterado e desorganizado. Mas os primeiros sinais, antes do primeiro surto, são esses: isolamento, introspecção, retraimento, dúvidas existenciais, procura por explicações para tudo, a necessidade de vivenciar significados em tudo que acontece.

É importante e desejável que se faça o diagnóstico antes do surto para atuar preventivamente e, com isso, evitar todas aquelas perdas que a pessoa tem, em que o indivíduo se desconecta da realidade, não se relaciona normalmente com as pessoas, se afasta de todos e de tudo, como trabalho e estudo, evitando assim grandes repercussões que uma crise psicótica pode ter para o funcionamento da pessoa.

Parte 2 – A esquizofrenia, uma vez diagnosticada e devidamente tratada, pode permitir que o paciente volte a levar uma vida normal. Acompanhe nesta entrevista com o Dr. Leonardo Figueiredo Palmeira algumas informações importantes sobre as crises, os diferentes tratamentos e a possibilidade de cura da doença.

1. Os pacientes em crise podem ser violentos chegando ao ponto de agredir as pessoas?
Pacientes podem se tornar violentos em uma crise psicótica, mas a violência não é comum a todos os casos. Um dos grandes estigmas da esquizofrenia é justamente achar que o esquizofrênico é violento, que oferece um risco à sociedade, mas isso não é verdade. Se fizermos um levantamento dos casos de esquizofrenia, veremos que a grande parte dos pacientes – 70% a 80% dos pacientes - é muito mais vítima do que algoz de alguma violência. Então, até pelo estado de vulnerabilidade que os indivíduos se encontram, pelo estado de apreensão que o surto psicótico traz, eles se acuam. Às vezes se tornam violentos para se proteger, porque se sentem ameaçados. É preciso saber se a pessoa se sente ameaçada ou não e pra isso é preciso conversar com a pessoa, saber exatamente o que está se passando na sua mente, se está se sentindo perseguida por alguém, se ela acha que vão invadir seu apartamento ou se acha que vão fazer algum mal para sua vida. É natural que a pessoa se arme, se defenda de possíveis invasores. Então, neste sentido, a pessoa pode se tornar violenta, mas na maioria dos casos não funciona desta forma.

2. E quanto ao suicídio, o paciente em crise corre este risco?
O risco de suicídio na esquizofrenia é grande, depois da depressão e do transtorno bipolar é a doença mental que mais tem risco de suicídio. Então é importante conversar com o médico do paciente para que este risco seja melhor investigado. Existem pacientes que podem tentar o suicídio durante o surto, às vezes até em obediência a alucinações que mandam se jogar, se ferir. Podem ter um comportamento suicida após o surto, por uma depressão ou quando caem na realidade e vêem que tudo aquilo faz parte de uma doença e que terão que conviver com a rotina de tratamentos. Tomar consciência do problema também pode de alguma maneira levar à depressão e ao suicídio. Realmente são situações em que tanto a família quanto os profissionais precisam ficar atentos. Existem estudos que mostram que até metade dos pacientes com esquizofrenia podem vir a tentar o suicídio em algum momento de sua vida e as taxas de suicídio na esquizofrenia giram em torno de 10%. Então realmente é motivo para termos certa preocupação, naturalmente sem exagerar, mas sabendo que isso pode ocorrer, para poder prevenir, conversar melhor com o paciente, dar apoio à família, o suporte necessário para que isso não aconteça.

3. Quais são os tratamentos possíveis para a doença?
A esquizofrenia possui o tratamento químico (medicamentoso) e tratamento psicossocial, através de terapia individual, reabilitação social e terapias ocupacionais. No tratamento medicamentoso, existem medicamentos que são antipsicóticos, que atuam no cérebro bloqueando receptores de dopamina. Isto porque uma das principais alterações químicas cerebrais que ocorre na esquizofrenia é o excesso de dopamina e que causa delírios, alucinações e alterações de comportamento. Portanto, esses medicamentos corrigem este desbalanço de dopamina e com isso tratam efetivamente a doença, melhorando a capacidade do paciente se relacionar com as demais pessoas e de retomar suas atividades.

Mas existem pacientes que além da questão psicótica, possuem o que chamamos de sintomas negativos – outro ponto bastante importante a ser abordado. Esses sintomas negativos são a apatia, a dificuldade de iniciativa, o isolamento social, a dificuldade de se envolver em atividades produtivas como trabalho ou atividades sociais. Enfim, pessoas que vão melhorar do surto, sair daquele estado psicótico, mas vão ter dificuldade de retomar suas atividades normalmente. Para esses pacientes é importante que além da medicação se ofereça terapias de reabilitação. Elas incluem a psicoterapia, para ajudar a pessoa a ter mais consciência de sua doença e de seus pontos fortes e pontos fracos, para trabalhar melhor sua capacidade de enfrentamento, sua auto-estima e o seu envolvimento em atividades, e terapias ocupacionais, através de oficinas e atividades que possam recuperar a capacidade da pessoa de se relacionar socialmente e de exercer atividades produtivas. Para isso existem os centros de atenção psicossocial e os hospitais-dia, onde os pacientes freqüentam as atividades de reabilitação social. Existe também a reabilitação neuropsicológica, porque a esquizofrenia tem sintomas cognitivos, como dificuldade de atenção, memória, concentração, dificuldade de planejamento e de organização de suas atividades, que podem ser recuperados com um treinamento adequado.

4. A eletroconvulsoterapia (eletrochoque) é indicada?
É um tratamento polêmico, até porque já foi muito mal utilizado no passado, usado inclusive como medida punitiva para mau comportamento em clínicas psiquiátricas, ou seja, foi um tratamento que acabou ficando muito estigmatizado, embora seja um tratamento eficaz do ponto de vista médico. Existem pacientes que precisam do eletrochoque e realmente melhoram como não melhorariam com medicamentos convencionais.

Os critérios de indicação para o eletro-choque são os seguintes:
a) Primeiro - quando o quadro é grave e o paciente não responde à medicação ou quando não se pode esperar pela resposta à medicação. A medicação pode demorar de 8 a 12 semanas para fazer efeito. E há casos que são graves, em que a pessoa corre risco de vida e não se pode perder tempo. Nestes casos, o eletrochoque acaba sendo indicado por ser um tratamento relativamente rápido. Uma pessoa submetida a 3 ou 4 sessões de eletrochoque – o que se dá aproximadamente em uma semana - tem uma melhora substancial do quadro.

b) Outras indicações - quando há catatonia, ou seja, quando o paciente fica imóvel, numa mesma posição, não interage e, portanto, não se alimenta, não ingere líquidos. Este estado traz riscos de problemas físicos, como desidratação e desnutrição, sendo necessário intervir rapidamente. Na gravidez, quando a paciente não pode usar a medicação, ou quando ela coloca em risco a saúde do feto.

É importante que se diga que a eletroconvulsoterapia hoje em dia é feita em condições totalmente diferentes do que no passado, em ambiente hospitalar, com o paciente anestesiado, monitorado através de aparelhos que controlam a pressão e os batimentos cardíacos e através do eletroencefalograma para ver se o estímulo elétrico aplicado foi eficaz. É um procedimento que está regularizado tanto pelo Ministério da Saúde como pelo Conselho Federal de Medicina, portanto é um procedimento legal, feito também em outros países. Existem alguns efeitos colaterais, sendo o principal deles as alterações de memória. Durante o período em que faz as sessões, o paciente pode ter problemas de memória recente, não se recordando de coisas que acontecem nos dias próximos às sessões, mas depois do tratamento ele a recupera plenamente.

5. O paciente pode ficar 100% curado, inclusive não necessitando mais de medicamentos? Recaídas são comuns?
Esta resposta é muito variável e, naturalmente, depende do caso. Em torno de 20% das pessoas que desenvolvem esquizofrenia tem um único surto, se recuperam fazendo o tratamento por um período de 1 ou 2 anos, melhoram e podem ficar sem medicação, podem viver uma vida normal e sem uma nova recaída. Neste caso, estamos falando de pessoas que têm uma forma mais leve da doença e que, portanto, são pessoas menos vulneráveis, mais resistentes às sobrecargas cotidianas e que terão menos chances de recaídas.

Porém, a maior parte dos pacientes tem um curso que é recorrente, ou seja, pode sim desenvolver novas crises e aí a evolução vai depender de diversos fatores. Primeiro, do próprio tratamento, tanto medicamentoso, quanto psicoterápico e psicossocial, que precisa ser mantido por um período. Esse tratamento vai fortalecer a pessoa quanto à sua vulnerabilidade. Portanto, a esquizofrenia não é uma doença necessariamente crônica, com a qual a pessoa terá de conviver para o resto da vida. O que é pra vida inteira é a vulnerabilidade. Então, se a pessoa passa futuramente por um período de estresse, por algum trauma ou situação de desequilíbrio, pode sim desencadear uma nova crise. Mas se estiver em tratamento, se fortalecendo, as chances de recaída são menores.

6. Quais são os fatores desencadeantes destas recaídas e como evitá-las?
Os fatores que influenciam as recaídas são o próprio tratamento e o ambiente em que a pessoa vive. A família se coloca em uma posição de muita importância, porque as sobrecargas advindas da convivência familiar, muitas vezes por cobranças excessivas, críticas, brigas e desentendimentos vão, ao longo do tempo, se tornando uma sobrecarga emocional e um fator de desequilíbrio a mais e que pode levar o paciente a recair mais vezes, apesar do tratamento. Alem disso, temos os fatores sociais que se relacionam à vida da pessoa, como o trabalho, por exemplo. A pessoa que se recupera de um surto e começa um trabalho muito estressante, onde as cobranças excedem sua capacidade de corresponder às demandas, pode também ter uma nova crise.

Então é importante que os pacientes com esquizofrenia não só façam o tratamento do surto, mas sejam acompanhados ao longo do tempo para saber quais são as suas necessidades, fragilidades, para fortalecer sua capacidade de enfrentar o estresse, saber manejar os conflitos da melhor forma possível para evitar uma reincidência da doença.


A vulnerabilidade ao estresse: onde começa e onde termina a doença mental?

Pouco se sabe sobre a origem dos transtornos mentais, mas já é bem estabelecido que fatores genéticos e ambientais convergem para o adoecimento. A hereditariedade é um aspecto importante, já que muitos pacientes apresentam um histórico familiar positivo para distúrbios mentais. Entretanto, é comum que os transtornos mentais na família sejam diferentes, por exemplo, um tem depressão, o outro tem Transtorno do Pânico e um terceiro é bipolar.

Estudos genéticos têm associado diversos genes a diferentes distúrbios mentais, mas têm encontrado genes comuns a mais de um transtorno. No caso da esquizofrenia e do transtorno Bipolar (TBH), onde se tem maior robustez científica, vários genes (disbindina, DISC I, COMT, neuroregulina, dentre outros) foram encontrados tanto em pacientes esquizofrênicos como bipolares.

Isto nos leva a um questionamento: seriam os genes específicos para o transtorno A ou B ou eles predisporiam a pessoa ao adoecimento qualquer que fosse a síndrome? E sendo esta segunda hipótese verdadeira, o que faria com que a pessoa desenvolvesse depressão e a outra esquizofrenia?

Isso poderia explicar também porque familiares com a mesma carga genética não adoecem, enquanto outros desenvolvem transtornos mentais graves. Ou seja, embora a genética seja importante, ela não é preponderante. Entram em jogo fatores ambientais, o temperamento e a personalidade da pessoa, que podem tanto protegê-la, como empurrá-la para uma síndrome.

É neste contexto que entra um conceito da década de 70, a vulnerabilidade da pessoa ao estresse, ou seja, sua incapacidade de resistir às pressões, traumas e desgostos da vida, aos quais todos estamos expostos. Naquela época já se dizia que o que poderia ser inato não era a doença mental, mas a vulnerabilidade pessoal de desencadeá-la. E que ter ou não a doença dependeria de inúmeras variáveis, como criação, temperamento, personalidade, posturas e hábitos de vida, traumas, etc.

Pelo conceito de vulnerabilidade, um dos princípios fundamentais para a saúde de um organismo, é manter sua homeostase, seu equilíbrio fisiológico. Se estamos com sede ou precisamos saciar nossa fome, é porque nosso organismo detectou alguma ameaça à nossa homeostase e nos alertou a prontamente agirmos para seu reequilíbrio. As células do nosso corpo também agem sob este princípio. Este seria uma espécie de pulsão vital.

Quando algo de estressante ou desagradável nos ocorre, também agimos para buscar um alívio e restabelecer as condições de felicidade. Experimentamos, nestes momentos, mesmo que seja por um breve período, uma sensação de angústia ou aflição, perdemos algumas noites de sono, ficamos sem apetite, mas logo nos recuperamos e estabelecemos o status quo.

Nessa hora entram em cena o que psiquiatras chamam de disposição e capacidade de enfrentamento. São ferramentas que utilizamos para resolver assertivamente os problemas da vida. O que ocorre em pessoas vulneráveis, é que a disposição e sua capacidade para solucionar seus problemas não são suficientes para recuperar a homeostase, seja porque o trauma ou o infortúnio da vida é muito grande, difícil de transpor, seja porque sua disposição e capacidade de enfrentamento não estão adequadas. O sofrimento psíquico, então, se prolonga e ganha contornos dramáticos, uma vez que a pessoa não vê saída.

A genética pode explicar, em parte, porque alguns são mais vulneráveis, porque uns surtam diante de um problema e outros apenas se abalam, mas conseguem se reequilibrar. Mas certamente que a genética não atua isoladamente. As influências do temperamento (também inato) e da personalidade (adquirida através da criação, das experiências emocionais no início da vida) são de suma importância. Algumas pessoas têm verdadeiro tropismo para problemas, envolvem-se em relacionamentos conturbados, têm condutas de risco, expõem-se a drogas, enfim, criam consciente ou inconscientemente uma atmosfera propícia para o estresse e se colocam em risco o tempo todo para o adoecimento psíquico. É como se colocassem em cheque toda a sua capacidade de enfrentamento, mas se esquecem que o estresse crônico mina sua própria resistência.

O tratamento psiquiátrico, através de medicamentos, procura aliviar os sintomas para aguçar a percepção e permitir que a pessoa possa recuperar suas habilidades de enfrentamento para lidar com a situação adversa. Muitos quadros psiquiátricos vêm acompanhados de alterações cognitivas, como da atenção e da memória, que dificultam à pessoa planejar sua vida e tomar decisões acertadas para reestruturá-la. Neste sentido, a manutenção dos sintomas aprisiona a pessoa em seu marasmo atual, impedindo que ela evolua e saia do quadro.

A psicoterapia é outro ponto fundamental. Medicações podem atuar a curto prazo e devolver à pessoa alguma estabilidade, mas é através da psicoterapia, compreendendo seus pontos fracos e trabalhando para aperfeiçoar suas habilidades de enfrentamento, que a pessoa reunirá condições psicológicas para um dia interromper os medicamentos e seguir sua vida.

Mas as medicações podem ser essenciais para que a psicoterapia de fato aconteça. É comum que num quadro agudo a pessoa circule em círculo, sem conseguir perceber e elaborar suas questões, impedindo, assim, a progressão do tratamento. Por isso o tratamento aliado (medicação e psicoterapia) é comprovadamente mais eficaz do que os tratamentos isolados.

Um aspecto que considero fundamental na recuperação de longo prazo é a mudança de hábitos, comportamentos e atitudes diante das situações de vida, como trabalho, relacionamento, família. Muitos pacientes perceberão, através do tratamento, erros que podem predispô-los a um novo episódio e imprimirão mudanças em seus comportamentos para evitar a repetição.

A maior parte das recaídas ocorrem por fatores sociais ou biológicos que se repetem ao longo dos anos. No caso dos fatores biológicos, a identificação é importante para determinar se aquela pessoa precisa de um tratamento preventivo, inclusive através de medicamentos. É o caso das depressões sazonais, em que a pessoa desenvolve um episódio depressivo sempre no inverno e isso independe de outros fatores sociais. É o caso de algumas apresentações de transtornos cíclicos, como o transtorno bipolar e a esquizofrenia, em que a pessoa, p.ex, tem um episódio uma ou duas vezes por ano. Quando se percebe um padrão de recorrência claro, talvez seja negócio tratar continuamente a fim de se evitar a próxima recaída.

Mas grande parte dos quadros psiquiátricos não apresenta um padrão claro de recorrência (embora possa ser recorrente) que sugira um gatilho biológico para uma nova crise. Eles recorrem muitas vezes por repetição ou manutenção de fatores psicossociais geradores de estresse. A esquizofrenia, doença mental mais consolidada pelas pesquisas científicas, sofre fortes influências do meio em que a pessoa vive. Tem sido comprovado que o estresse proveniente da convivência familiar pode determinar se um paciente terá mais ou menos crises psicóticas. Esquizofrênicos com famílias compreensivas e colaborativas com o tratamento e a reabilitação tem até 70% menos recaídas e hospitalizações do que aqueles que possuem famílias críticas ou hostis. O mesmo pode ser aplicado a pacientes com outros transtornos, como TBH, TOC, Borderline, entre outros.

Então, um dos enfoques do tratamento é mudar os fatores do ambiente sócio-familiar que estão interferindo no processo de adoecimento. Ambientes como trabalho, círculos sociais, amizades prejudiciais seguem o mesmo raciocínio. Sempre que houver uma sobrecarga emocional ou estresse, pode ocorrer um desequilíbrio da homeostase, aumentando a vulnerabilidade da pessoa a um novo episódio da doença.

E porque muitas pessoas tomam remédios a vida toda? Primeiro é preciso separar aquelas que precisarão da medicação por apresentarem doença mais grave, crônica ou recorrente, sendo a medicação um fator preventivo de suma importância. Mas mudar comportamentos, hábitos, estilos de vida não é simples e muitos relutam e, por isso, agarram-se às medicações. É como emagrecer. A maioria quer tratamentos de resultados rápidos, como medicamentos, cirurgias, em detrimento de dietas demoradas e atividades físicas. Porém, qual resultado durará mais tempo? Emagrecimentos rápidos estão relacionados a ganho posterior de peso, enquanto àqueles com mudança real dos hábitos alimentares e do estilo de vida mantém-se magros para a vida toda. Vinte anos após o surgimento da cirurgia bariátrica (para redução de peso) já assistimos a pacientes operados que recuperaram seu peso antes da cirurgia.

Em suma, a transformação pessoal para uma vida mais feliz e sem episódios psiquiátricos precisa partir de dentro para fora, com a ajuda de medicamentos e psicoterapia, mas não pode se furtar de mudar o meio em que a pessoa vive. A cura está na capacidade de reduzir a sua vulnerabilidade e de aumentar sua capacidade de enfrentamento às situações da vida.

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