Pílulas da felicidade, elas existem?

Vale a pena assistir ao Programa Espaço Aberto Saúde, da GloboNews, veiculado no último dia 9. Traz informações esclarecedoras e diferentes pontos de vista para que o espectador possa tirar suas próprias conclusões.

A prescrição de medicações psicotrópicas, como calmantes, antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos, deve ser criteriosa. São medicamentos muito eficazes para o tratamento de transtornos mentais e que podem devolver a paz e a estabilidade para quem sofre desses males. Não se pode negar sua utilidade na medicina, quem faz o tratamento e melhora com eles, sabe do que estou falando.
O maior problema é quando se receitam medicamentos deste tipo passando por cima da clínica, ou seja, sem a justificativa terapêutica que deveria nortear o bom uso desses remédios. Exemplos de como esses medicamentos não deveriam ser prescritos incluem: antidepressivos para tristezas temporárias e reações estressantes que fazem parte da vida (não se espera a resolutividade natural de alguns episódios reativos, como luto, desemprego, traumas); calmantes para dormir (existem remédios mais modernos que possuem efeito hipnótico sem o risco de deixar a pessoa dependente o resto da vida); antidepressivos para emagrecer (acho um verdadeiro absurdo, não são medicamentos para isso!); utilização de drogas para aumentar a performance (exemplos clássicos: Ritalina antes de provas, Rivotril antes de uma entrevista de emprego, etc).
O que as pessoas precisam perceber é que o uso indevido desses medicamentos pode trazer problemas de saúde mais graves do que a finalidade para a qual está se usando o medicamento pela primeira vez. Somente o especialista sabe avaliar se aquela pessoa pode ou não utilizar determinado medicamento, se está indicado ou não, por quanto tempo e quais os riscos que ela corre tratando ou não. Em medicina tudo envolve risco/benefício. É preciso colocar na balança e ver o que será mais interessante para a pessoa naquele momento e deixá-la o mais consciente possível desta escolha.
Agora, chamar esses medicamentos de pílulas da felicidade é forçar a barra. Em mais de 10 anos de profissão nunca vi esses medicamentos trazerem felicidade. Medicamentos tratam doenças e, a partir de uma estabilidade, cabe a cada um correr atrás de sua felicidade. Neste sentido, um tratamento pode viabilizar a busca pela felicidade, mas não a trará de bandeja para ninguém.


EUA avançam em 1º teste de Alzheimer

Exame revela formação de placas no cérebro que indicam o desenvolvimento da doença, antecipando o diagnóstico.
Um comitê consultivo da FDA (Federation Drugs Administration, da sigla em inglês para a agência americana que regula remédios e alimentos) recomendou na semana passada a aprovação do primeiro teste para doença de Alzheimer. Trata-se de um exame de imagem que mostra as placas no cérebro que causam a doença. Até agora, as placas só podem ser vistas em autópsias. A aprovação pondera que os radiologistas devem entrar em consenso sobre o que dizem os exames e os médicos devem ser treinados para lê-los.
A FDA geralmente segue as indicações do comitê, e especialistas em Alzheimer afirmam que o exame seria aprovado. As condições colocadas pelo órgão não devem trazer empecilhos, segundo Daniel Skovronsky, diretor-executivo da empresa Avid Ra­­diopharmaceuticals, que produziu o exame. “Nós não sabemos exatamente o que a FDA vai querer”, disse Skovronsky. “Mas esse tipo de consenso deve levar meses, não anos.”
As placas fazem parte do critério de diagnóstico do Alzheimer – se uma pessoa com problemas de memória não tem essas placas, ela não é portadora da doença. Mas, sem as imagens, o único modo de detectar a presença delas é por meio de autópsia. “Será um grande avanço”, diz Pierre N. Ta­­riot, diretor do centro de distúrbios da memória do Banner Alzhei­­mer’s Institute, em Phoenix, EUA.
Irreversível
O teste consiste no uso de um corante que se fixa à placa no cérebro, tornando-a visível em tomografias. Esses exames teriam muita importância em uma situação comum e problemática – tentar fazer o diagnóstico quando ainda não está claro se os problemas de memória do paciente são decorrentes do Alzheimer ou de outro fator. Mesmo se a pessoa for diagnosticada como portadora da doença de Alzheimer, ainda não há tratamento que retarde ou reverta o seu avanço, embora novas drogas estejam sendo testadas para diminuir essas placas.
Os médicos afirmam que ter um diagnóstico é importante para compreender o que está por vir. Também é importante para que os familiares do paciente saibam da doença, já que o risco de desenvolver o Alzheimer é maior se seus pais ou irmãos são portadores. O parecer do comitê “foi um grande passo”, diz Reisa Sperling, diretora do centro de pesquisa em Alzheimer do Brigham and Women’s Hospital, de Boston, EUA, acrescentando que, com esses exames, os médicos não mais farão suposições sobre os dados clínicos.
Intuição
O problema envolvendo a interpretação dos indicativos surgiu porque, no estudo da Avid, radiologistas não estabeleceram um limite para determinar quando a pessoa tem um volume significativo de placas. Em vez disso, foram feitas análises em níveis. O que é necessário, na prática, é estabelecer um ponto capaz de dizer “sim” ou “não”, e distinguir entre o que seriam quantidades significativas ou não de placas. A empresa deve provar ainda que o critério é preciso e que diferentes radiologistas interpretam o mesmo exame da mesma forma.
Algumas pessoas têm placas, mas não são portadoras de Alzheimer. Então, se o exame acusar a existência delas, os médicos devem usar seu julgamento clínico ao decidir sobre os resultados, levando em conta os sintomas do paciente, segundo P. Murali Doraiswamy, pesquisador do Alzheimer na Universidade Duke e investigador clínico dos testes realizados pela Avid. Mas, se o exame não indicar a formação de placas, a solução é mais simples, afirma Doraiswamy. Significa que os médicos devem procurar outras causas para os sintomas. “Essa técnica vai permitir que médicos de família se sintam mais confiantes ao apontar o Alzheimer”, disse. “Até agora, nós tínhamos que intuir se alguém tinha placas.”
Em 2008, um comitê da FDA afirmou que, para a aprovação do uso do pigmento, a empresa deveria mostrar que os exames estavam detectando as mesmas placas encontradas na autópsia.
A Avid fez esses testes usando pessoas próximas da morte que concordaram tanto em ter as imagens da tomografia colhidas quanto as autópsias em seus cérebros. A empresa também testou jovens que, presumivelmente, não teriam essas mesmas placas no cérebro. Os exames não acusaram a existência delas entre esses jovens.
Marco
A expectativa para a aprovação do novo teste é grande. Até mesmo Norman Foster, professor de neurologia na Universidade de Utah e consultor da GE Heatlhcare, que também está desenvolvendo um exame próprio para detectar as placas, pediu a aprovação do procedimento da Avid. “Médicos ainda têm pouca confiança na própria habilidade de determinar a causa da demência e, como resultado, eles muitas vezes nem arriscam”, diz. Com isso, famílias são deixadas no limbo, sem condições de planejar o futuro ou saber se o problema que têm é Alzheimer ou, se não, acabam demorando para procurar tratamento. “Os custos preventivos são enormes”, afirma Foster. “O preço emocional é incalculável”.
O professor cita os casos de três pacientes que vinha atendendo nas últimas duas semanas e que tinham se beneficiado do exame. Um deles era um homem de 70 anos com problemas de memória e depressão. Ele foi diagnosticado como depressivo, mas só quando passou dois anos piorando ficou claro que provavelmente era portador de Alzheimer. “Eu gostaria de ter tido a capacidade de fazer um exame como esse para um diagnóstico mais precoce”, afirma Foster. “A aprovação seria um avanço histórico na neurologia e no cuidado diário de pacientes com queixas de falta de memória”. Com a recomendação do comitê, Doraiswamy afirma: “É um marco no nosso campo”.
Fonte: Gazeta do Povo - Vida e Cidadania


Carta Aberta da Associação Brasileira de Psiquiatria para o Ministro da Saúde

Caro Sr. Ministro da Saúde Alexandre Padilha, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) recebeu com satisfação a nomeação de Vossa Excelência para o cargo de Ministro de Estado da Saúde.
Não só pelo seu passado médico sanitarista como também pela defesa da Medicina como um todo e com o inicio das recentes mudanças em órgãos fundamentais como a FUNASA e a ANVISA, que contam com nosso integral apoio.
Acreditamos inclusive que esta atitude de mudança deva atingir a Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, a partir da substituição de seu coordenador. Essa medida se concretizada, pode dar início à recuperação do sistema de assistência em saúde mental no Brasil.
Para seu conhecimento, há cerca de 20 anos a estrutura de atendimento em saúde mental vem sendo sistematicamente desmontada no país por grupos de interesses diversos.
Nos últimos dez anos o número de leitos psiquiátricos privados mais que duplicou, e o número de leitos públicos diminuiu de 120 mil para 36 mil; e isso ocorre ao mesmo tempo em que assistimos à escalada do crack, à judicialização da saúde e ao aumento de moradores de rua com transtorno psiquiátrico.
Outro dado assustador é o crescimentos da população carcerária com doença mental, cerca de 12%, sendo em números absolutos próximo de cerca de 60 mil desassistidos no sistema prisional, muitos que são doentes que cometeram pequenos delitos por ser moradores de rua, serem exploradores por traficantes etc. Estamos transformando as prisões em novos manicômios.
Fora isso, temos a crescente necessidade de ferramentas terapêuticas para o tratamento dos portadores de Transtornos alimentares, Transtornos Bipolares, Transtornos de Déficit de atenção e Hiperatividade, transtornos de ansiedade, transtornos depressivos, dependentes químicos e outros que não têm alternativa real de tratamento na rede pública.
Existe hoje um quadro grave de desassistência na área de saúde mental no Brasil. Saímos de um modelo Hospitalocêntrico falido e entramos em um modelo Capscêntrico sem eficiência provada. Este cenário, em grande parte, foi construído a partir do afastamento dos psiquiatras do planejamento das políticas públicas, de planejamento e de atendimento. Não temos nada na área de promoção da saúde, prevenção da doença e assistência escalonada 1ª, 2ª, 3ª implantado de forma resolutiva. Defendemos um modelo em rede que seja efetivo, com comprovada eficácia, eficiência e efetividade. Veja as Diretrizes aprovadas em resolução pelo CFM em Julho de 2010.
A Associação Brasileira de Psiquiatria há tempos tem alertado para a condução equivocada da saúde mental no país e sempre foi ignorada pela Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas. Confiamos na capacidade e na disposição do Ministério da Saúde em reverter esse quadro alarmante.
Desde já nos colocamos à disposição para auxiliar nessa tarefa tão árdua como necessária, desde a análise conjunta da equipe ideal, a indicação daqueles que atenderiam ao interesse público, sem conflitos de interesse, com a participação do CFM/AMB/FENAM.
A ABP e os Psiquiatras Brasileiros estão à disposição de Vossa Excelência para contribuir neste trabalho conjunto, de forma voluntária.
Desde já, com meus sinceros agradecimentos,
Antônio Geraldo da Silva - Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria


Estudo: Divórcio e risco de suicídio nos filhos.

Esta matéria do jornal O Globo nos leva a algumas reflexões: em primeiro lugar como é negativo para uma criança um ambiente hostil e hipercrítico, com brigas, humilhações, cobranças e terror psicológico. Eu acho que é isto que está em jogo, o quanto os pais se maltratam e maltratam os filhos ao longo de um processo de separação.

Depois, a união dos pais é importante para que a criança adquira segurança e maturidade emocional para a vida adulta. Não basta estarem casados, é preciso que os pais estejam em sintonia, a harmonia do lar é fundamental para este processo de amadurecimento. Quem tem filho pode perceber no dia-a-dia o quanto o afeto entre os pais é importante para a criança. Portanto, entre fingir que está tudo bem, mas viver às turras, talvez a separação ainda seja uma saída honrosa e saudável para todos.

Agora, o fundamental é que os pais, mesmo separados, não se esqueçam de suas responsabilidades e do papel afetivo que possuem para com seus filhos.

Este estudo chama muito a atenção pelo tamanho da amostra. São quase 7 mil adultos! É provável que ele aponte um resultado próximo à realidade. Precisamos cuidar melhor de nossos filhos e, sobretudo, da família, seu porto seguro.

Adultos que passaram pelo divórcio dos pais na infância têm mais probabilidade de serem considerados suicidas que seus pares de famílias intactas, sugere um estudo da Universidade de Toronto publicado esta semana no jornal Psychiatry Research.

Os pesquisadores examinaram diferenças específicas em uma amostra de 6.647 adultos, dos quais 695 tinham passado pela experiência do divórcio dos pais antes dos 18 anos. O estudo descobriu que homens de famílias divorciadas tinham mais que três vezes mais probabilidade de ideias suicidas quando comparados com aqueles com pais não divorciados. Já as filhas de pais divorciados tinham 83% mais probabilidade de suicídio que mulheres de lares não divorciados.

A relação entre o divórcio e as ideias suicidas é particularmente forte em infâncias estressantes devido ao abuso físico, pais viciados ou desempregados. Para mulheres que não tiveram essa infância infeliz a associação entre divórcio e suicídio não é significativa. Já homens, mesmo sem a experiência de uma infância de abusos, a ideia de suicídio aparece duas vezes mais do que homens que não têm os pais divorciados.

- A associação entre divórcio dos pais e pensamentos suicidas em homens foi muito forte, mesmo os que tiveram uma infância normal, mas estas descobertas não significam que crianças do divórcio estejam destinadas a se tornarem suicidas - diz Esme Fuller-Thomson, que liderou o estudo.

As explicações do impacto negativo nos homens varia, mas os pesquisadores acreditam que pode ser devido à falta de contato com o pai depois do divórcio. Estudos anteriores já tinham relacionado a perda da figura paterna ao desenvolvimento de comportamento hostil em meninos.


Angústia x Pânico: como diferenciá-las?

O termo angústia deriva de Angst, que em alemão significa "medo". De fato muitos pacientes definem angústia como um medo indefinido, uma apreensão, como se fosse um pressentimento de que algo ruim pudesse lhes acometer, mas a maioria dos pacientes não consegue identificar exatamente as causas para este sentimento. Isto torna a angústia diferente do pânico, uma crise de ansiedade acompanhada de sintomas físicos, como taquicardia, falta de ar, sudorese e sensação de morte, que gera um medo de passar mal ou morrer. No pânico o paciente identifica a razão do seu medo: se ele tivesse certeza de que as crises de pânico não mais ocorreriam, este medo acabaria.

No caso da angústia é diferente. As razões não são facilmente percebidas (podem até ser no decorrer do tratamento e da terapia). Ela também vem acompanhada de sintomas físicos, geralmente um aperto no peito, bem no meio do peito, atrás do esterno. É como se fosse uma dor constante, um desconforto que durasse por dias e o dia inteiro. Ela pode diminuir de intensidade, mas dificilmente desaparece por completo. É diferente do pânico, que vem em surtos ou crises, dá, fica em torno de 20 minutos, e depois desaparece como se não mais existisse, até a próxima crise. A angústia, não. Ela fica ali, como se estivesse querendo dizer algo que a pessoa não consegue entender.

Tanto o pânico como a angústia podem estar presentes em transtornos mentais como depressão, transtornos de ansiedade, transtornos de humor (como bipolaridade, ciclotimia, distimia, estados mistos), TOC, esquizofrenia, entre outros. O tratamento do transtorno de base em geral melhora este mal estar. A psicoterapia também é um tratamento importante, que permite à pessoa identificar e lidar melhor com os motivos que a levaram a este estado.

Leia abaixo a reportagem de Adriana Toledo, publicada na Revista Saúde é Vital deste mês.

Angústia é doença e tem cura

Ela gera um desconforto físico, psíquico e requer tratamento diferenciado. Saiba mais.

Chego pela manhã ao complexo do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e me dirijo ao primeiro andar do prédio do Instituto de Psiquiatria, onde sou recebida pelo chefe do departamento, o psiquiatra Valentim Gentil. Nosso objetivo é definido: caracterizar, com elementos concretos, o conceito de angústia. A missão é árdua. “Diferentemente do medo ou da ansiedade, que são experimentados pela maioria das pessoas, a angústia acomete menos de 50% da população. E nunca tive essa experiência, o que dificulta a tarefa de descrevê-la com precisão”, confessa. “Em geral, meus pacientes relatam uma agonia mental sem gatilho aparente, atrelada a um sufoco semelhante ao da asma, e uma dor ou compressão no peito”, descreve.

Incentivar o diagnóstico e um tratamento personalizado é a proposta de Gentil, que assina o artigo intitulado Why Anguish? — em português, Por que angústia? —, que acaba de ser divulgado na publicação científica inglesa Journal of Psychopharmacology. Isso porque, nas discussões entre especialistas do mundo todo, o sentido dessa emoção se esvaziou ao longo do tempo. E frequentemente ela é confundida com o distúrbio de ansiedade ou de pânico.

“Mas são comportamentos mentais diferentes, com padrões de ativação cerebral distintos”, defende Gentil. “A ansiedade é uma apreensão exagerada em relação ao futuro, enquanto a angústia é um sofrimento relacionado ao presente.”

Munida dos esclarecimentos sobre as manifestações físicas do sintoma, sigo ao consultório da psicanalista paulistana Maria de Lourdes Félix, que auxilia Gentil nas pesquisas sobre a face psicológica da angústia. “Meus pacientes costumam levar as mãos ao peito e reportar um sentimento de vazio. Sentem conflitos diante das inúmeras possibilidades de escolhas no dia a dia e questionam o sentido de sua existência”, conta. “Em casos extremos, essas pessoas são dominadas pela introversão. Elas perdem a capacidade de análise, de lidar com o cotidiano, de interagir socialmente. Ficam paralisadas.”

À luz do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), a psicóloga Marília Dantas, da Universidade Estácio de Sá, em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, traduz o mal-estar: “O ser humano sente desamparo, incerteza, falta de controle diante da liberdade de decidir. Optar por um caminho significa correr riscos, abrir mão das alternativas. Isso é angustiante”.

Reconhecer um quadro de angústia é uma função que cabe a especialistas. Mas os angustiados de plantão podem contribuir, fornecendo detalhes de como se sentem. É o que constatei nas conversas durante os trajetos de consultório em consultório. A pergunta que fiz a motoristas, recepcionistas, colegas e pedestres com quem cruzei no caminho era sempre a mesma: o que é angústia para você? As respostas variaram. “É pensar como seria minha vida se eu tivesse estudado psicologia.” Ou “É um beco sem saída dentro do peito”. Ou ainda “É uma incerteza sobre as consequências das decisões que tomei”.

Infelizmente, a maioria dos angustiados só procura ajuda especializada quando a sensação ruim beira o insuportável. “Eles chegam ao pronto-socorro com dor e opressão no tórax, peso e desconforto no peito”, confirma o cardiologista César Jardim, supervisor do pronto-socorro do Hospital do Coração, em São Paulo. Os sintomas se assemelham aos de problemas cardiológicos, como infarto. “Mas os problemas cardiovasculares só se confirmam em 30% dos casos”, estima. Ele conta que, depois de realizar exames e apontar que o sujeito está em condições perfeitas de saúde, os pacientes confessam que vêm se sentindo nervosos e… angustiados.

Quando é assim, excluída a presença de doenças físicas, o passo seguinte deveria ser a visita a um psiquiatra. “Há hipóteses de que a angústia seja desencadeada por uma maior ativação de uma região chamada ínsula, no córtex cerebral, relacionada à percepção de funções viscerais, como as do coração, do diafragma e dos pulmões”, explica Valentim Gentil. “Por isso, acreditamos que suas vítimas possam responder bem a calmantes chamados benzodiazepínicos, a alguns antipsicóticos e a uma classe de antidepressivos conhecida como tricíclicos”, continua. “A imipramina é um dos principais medicamentos desse grupo e se mostra eficaz, apesar de promover eventuais efeitos colaterais, como tonturas e alterações cardíacas”, completa seu colega Jair Mari, da Universidade Federal de São Paulo. Essa droga modula neurotransmissores como a noradrenalina, substâncias que agem no cérebro e controlam as emoções.

O ideal é complementar esse tratamento com o de um psicólogo ou psicanalista. “Trabalhamos o desenvolvimento emocional, fazendo com que o paciente reflita e traduza seus pensamentos, criando condições para contornar sentimentos que julga insuportáveis”, explica Maria de Lourdes. A angústia é, portanto, um problema de saúde e necessita de acompanhamento. Se ela anda sufocando-o, chega de sofrer em silêncio: busque auxílio e afrouxe, de vez, esse nó dentro do peito.

Fonte: http://saude.abril.com.br/edicoes/0324/bem_estar/conteudo_563179.shtml


Curso e Grupo de Ajuda para Familiares de Pacientes com Transtorno Mental Grave.

Gostaria de começar o ano com uma boa notícia e com a divulgação de um serviço de utilidade pública.

Estamos iniciando um programa de apoio às famílias de pacientes portadores de transtornos mentais graves, como esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo e transtorno bipolar, no Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB).

O programa é um aperfeiçoamento do que já ocorria no Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro e que deu origem ao livro "Entendendo a Esquizofrenia: como a família pode ajudar no tratamento?". Mas desta vez decidimos abranger todos os transtornos psiquiátricos graves, por entendermos que os conflitos vivenciados pelas famílias (e consequentemente por seus pacientes) são semelhantes, seja qual for o diagnóstico, e a necessidade de apoio, bem como de informação sobre os transtornos, podem repercutir positivamente na clínica do paciente e na qualidade de vida de seus familiares.

O programa consiste de três etapas:

Etapa 1 - entrevista com os familiares e pacientes para avaliar as demandas iniciais de cada família.
Etapa 2 - curso sobre transtornos mentais graves com seminários que informam, numa linguagem acessível, sobre os principais transtornos mentais, o quadro clínico, os tratamentos e o papel da família.
Etapa 3 - grupos de ajuda com os familiares (terapia de grupo) para debater os principais conflitos e formas de solucionar os problemas do dia-a-dia.

Este programa faz parte de um projeto de pesquisa que quer conhecer melhor e estudar os conflitos de famílias com experiência com formas graves de transtornos mentais.

As inscrições estão abertas e devem ser feitas pelo telefone (21) 2439-4269 – falar com Sra. Marismar.

Os encontros serão aos sábados, de 10 às 12h, no Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB), Av. Venceslau Brás, 71 - Fundos, Botafogo.

Início do curso previsto para maio de 2011.


Feliz Natal e um Próspero 2011!!!

A todos os leitores deste blog, a meus pacientes e a seus familiares,
Desejo um Natal de muita paz e alegria em um 2011 de muita saúde, prosperidade e conquistas.
Desejo um mundo de mais igualdade e de oportunidades para todos, menos violência, menos egoísmo, mais amor e fraternidade.
Olhemos para o outro como queremos ser olhados!
Um grande abraço,

Dr Leonardo Palmeira.


Mensagem de fim de ano do Portal Entendendo a Esquizofrenia.

Neste final de ano queremos transmitir uma mensagem de otimismo e esperança para 2011, acreditando num mundo com menos preconceito e mais respeito e oportunidades para aqueles que sofrem de um transtorno mental.

Sabemos que para alcançarmos esta meta precisamos unir a sociedade em torno de um sentimento positivo de que é possível sim derrubar os muros do preconceito e do estigma. Cada um pode fazer a sua parte, dedicando alguns poucos minutos de seu dia à divulgação da idéia de que podemos mudar a forma como encaramos a doença mental, seja através de e-mail ou conversas com amigos na escola, no trabalho, no seu condomínio ou comunidade, em clubes e igrejas.

Foi com esta iniciativa que o Reino Unido criou um movimento social contra a discriminação dos portadores de transtorno mental chamado “Time to Change” (Tempo de mudar), que conta com a mobilização de órgãos governamentais, empresas e um exército de voluntários dispostos a acabar com o preconceito. É o maior programa anti-estigma do país e vale à pena visitar o site da campanha http://www.time-to-change.org.uk/

O Portal Entendendo a Esquizofrenia apresenta a seguir alguns vídeos legendados da campanha inglesa e que transmitem esta mensagem de otimismo. Você pode ajudar divulgando esta idéia aos seus amigos e contatos e quem sabe conseguimos mobilizar as instituições em nosso país para uma campanha nacional contra o estigma da doença mental!

Schizo, o filme

Não me leve a mal

Como as pessoas podem ajudar amigos ou familiares com doença mental?

O site da campanha também colocou no ar dicas para um Natal alegre e saudável:
1) Sua presença é o maior presente! Só estando lá para ouvir e falar, e também visitar as pessoas que podem estar sozinhas durante o período festivo, pode fazer uma grande diferença para alguém neste Natal. Você não precisa ser um especialista em saúde mental para apoiar um amigo ou um membro da sua família que esteja mais vulnerável.
2) Se você sente que precisa de apoio, reserve um tempo para conversar com amigos ou familiares sobre suas preocupações ou dúvidas. Falar pode ajudar a buscar o foco e colocar as coisas em perspectiva.
3) Tire um tempo para si mesmo se você estiver estressado ou chateado. Dê uma caminhada, ouça uma boa música ou pegue um livro para uma leitura rápida.
4) Coma bem, beba com moderação e encontre formas divertidas de ficar ativo. Cuidar da sua saúde física durante o Natal pode ser um bom caminho para proteger a sua saúde mental também.
5) Tenha uma boa noite de sono. A emoção e o estresse do Natal mais ir até tarde da noite para estar reunido com seus entes queridos pode afetar padrões de sono. O importante é estar bem descansado para que você possa se sentir bem.
6) Lembre-se de relaxar. Compense as responsabilidades e o trabalho com as atividades de recreação e lazer, e se dê um tempo livre quando sentir que precisa. Os exercícios de respiração, meditação ou yoga são perfeitos para ajudar a relaxar.
7) Tente não fazer tudo sozinho. Pedir aos outros que compartilhem as tarefas com você, como cozinhar, limpar, decorar ou embrulhar os presentes, é importante para garantir que você não se sinta estressado ou sob pressão.
8) Lembre-se da arte de dar. Natal não é só receber presentes, é sobre o espírito de dar também. Por que não alegrar o dia de alguém oferecendo seus serviços para uma instituição de caridade que fornece refeições de Natal ou visitar um vizinho idoso ou parente que pode estar vulnerável neste momento. Fazer algo generoso pelos outros pode fazer você se sentir bem consigo mesmo.
9) Não coloque pressão sobre si mesmo para que tenha um grande momento. A expectativa de que todos devem ser felizes e se divertir no Natal pode deixar você pra baixo e esvaziado, portanto, se tranquilize de que não se sentir alegre é completamente normal e muitas pessoas se sentem da mesma maneira.
10) O Natal não tem que ser perfeito. Alguns dos melhores momentos da vida são quando as coisas dão errado e você se vê no desafio de fazer as coisas acontecerem à medida que o tempo avança.

Tenha um Natal alegre e divertido e um 2011 de muita saúde, conquistas e avanços pessoais.
São os sinceros votos da nossa equipe!

Portal Entendendo a Esquizofrenia


Homens que dormem menos de seis horas por dia têm quatro vezes mais chances de morrer, diz pesquisa.

Manter um ritmo regular de sono e fazer atividades físicas ajudam a dormir melhor.
Um estudo publicado na edição de setembro da revista científica Sleep revelou que os homens que dormem por poucas horas diariamente podem morrer mais cedo. Os cientistas descobriram que aqueles que sofrem de insônia crônica e descansam menos de seis horas por dia têm um risco quatro vezes maior de morrer do que aqueles que não enfrentam esses problemas.
Foi a primeira que uma pesquisa demonstrou a relação entre o sono e a mortalidade. Antes, os cientistas já sabiam que a insônia crônica associada a noites mal dormidas poderia provocar problemas neurológicos, além de aumentar o risco de diabetes tipo 2 e de pressão alta. Nesses pacientes, o risco de mortalidade é ainda maior.
O alerta dos pesquisadores, no entanto, não se restringe apenas a quem sofre de insônia crônica - doença que se caracteriza por dormir menos de seis horas durante longo período de tempo. Segundo a médica Dalva Poyares, do Instituto do Sono e professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), quem enfrenta problemas constantes para dormir também precisa ficar atento.
- [Segundo a pesquisa], a maior mortalidade afeta quem tem insônia e, além disso, tem uma diminuição do sono de maneira objetiva. Mas quem dorme pouco durante muito tempo também está sujeito.
De acordo com a psiquiatra Ana Paula Megale Hecksher, especialista em sono, dormir é importante porque ele mantém o organismo regulado e ajuda no sistema de defesa do corpo.
- O cérebro funciona muito durante o sono, quando são liberadas substancias responsáveis por manter sistema imunológico (proteção) ativo. Pela noite, o sistema de defesa é reorganizado. O indivíduo que não dorme bem tem esse sistema mais fragilizado, ficando mais sujeito a doenças.
Ana Paula afirma ainda que uma noite mal dormida faz a pressão cardíaca ficar desregulada. Além disso, hormônios como adrenalina e cortisol ficam em níveis mais altos. Essas substâncias estão envolvidas com o estresse e influenciam na pressão arterial do organismo.
Segundo a psiquiatra, a privação de sono afeta também a memória e a atenção do indivíduo, deixando a pessoa mais suscetível a acidentes no trabalho, no trânsito, em casa, dentre outros.
- É um problema de saúde pública. Mas agora estamos tendo mais espaço para discutir.
Diagnóstico precoce e tratamento adequado
Segundo Dalva, as pessoas que precisam ficar mais atentas, porque são as mais sujeitas a sofrer com insônia, são aquelas que vivem preocupadas, que têm uma atividade mental intensa, que trabalham muito e as que não têm um ritmo regular de sono.
De acordo com um dos autores do estudo americano, Alexandro N. Vgontzas, professor de psiquiatria do Centro Médico de Medicina de Hershey, nos EUA, os resultado deve servir como alerta a população e a classe médica para os perigos do sono.
- Esses resultados vão aumentar a consciência de médicos e cientistas para que a insônia seja diagnosticada precocemente e tratada adequadamente.
O estudo acompanhou por dez anos mil mulheres com idade média de 47 anos, e, por um período de 14 anos, um total de 741 homens com idade média de 50 anos.
Diferente dos homens, os cientistas não encontraram a mesma relação entre mortalidade e insônia crônica nas mulheres. Eles não souberam explicar o porquê, mas imaginam que o menor de acompanhamento pode ter influenciado no resultado.
Fonte: R7.com


Internet e Saúde: "Nós vamos ficar cada vez mais distraídos!"

Muito boa a entrevista de Nicholas Carr ao Jornal O Globo de hoje. É preciso que estejamos atentos aos malefícios da internet, mesmo diante dos seus indiscutíveis benefícios, particularmente para crianças e adolescentes, que ainda passam por amadurecimento de suas funções psíquicas.
Concordo plenamente quando ele alerta para os riscos que a apresentação do conteúdo na internet traz para a atenção e nossa capacidade de manter o foco. Nem todos conseguem filtrar o conteúdo e manter o foco nele apesar dos estímulos visuais cada vez mais chamativos. Quando este ambiente passa a tirar o tempo dos livros e de outros meios que requerem maior treinamento atentivo e, portanto, cognitivo, é para nos preocuparmos. Este pode ser um grande tiro pela culatra dos que pensam que a internet é a grande ferramenta para a educação de nossos jovens. Acho que convivemos ainda há pouco tempo com ela para termos esta certeza.
Escritor, ex-editor-executivo da revista "Harvard Business Review" e professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Nicholas Carr adora colecionar polêmicas. Em dois livros - "The Big Switch: Rewiring the World, from Edison to Google" e "IT doesn't Matter" - ele chama a atenção para a inutilidade das equipes de Tecnologia da Informação (TI) nas empresas e defende a tese da computação em nuvem, na qual as empresas não mais serão donas de softwares e bancos de dados - administrados por equipes de TI - e tudo ficará hospedado no ciberespaço.
Em um artigo publicado em 2008 na revista "The Atlantic", ele perguntava se o Google estava nos tornando estúpidos. Recebeu uma saraivada de críticas em seu blog, "Rough Type". Afinal, ele insinuava que as distrações multimídias da internet serviam a tudo, menos ao conhecimento, porque limitavam seriamente nossa capacidade de atenção e foco (e, consquentemente, de aprendizado).
Semana passada, Carr esteve no Brasil para o Info Summit 2010. Em pauta, o seu novo livro - "The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains" (algo como "Os superficiais, o que a internet tem feito com nossos cérebros"), em que desenvolve o artigo da "Atlantic" e defende a tese de que a internet pode, sim, emburrecer e dificultar o aprendizado, logo ela que chegou a ser considerada a revolução na área educacional. Após o evento, escritor falou com exclusividade ao GLOBO.
No livro "Where good ideas come from" ("De onde vêm as boas ideias"), o escritor Steven Johnson afirma que o ambiente caótico da internet e suas conexões são fundamentais para a inovação e ainda ajudam as pessoas a serem mais criativas. Em seu novo livro, "The Shallows" ("Os superficiais"), o senhor afirma que a internet e o excesso de informações sem profundidade que ela despeja nas pessoas estão encolhendo nossa capacidade de pensar. Quem está correto, afinal?
NICHOLAS CARR: É totalmente verdade que a internet permite ter a acesso a informações tão ampla e rapidamente que o compartilhamento, a pesquisa e a colaboração ficam mais fáceis. Mas o que pessoas como Steven Johnson podem estar desconsiderando é que estas tecnologias nos fazem pensar de maneira diferente, nem sempre positiva. Ou seja: o que vemos com a internet e as tecnologias digitais em geral é que toda a ênfase está no ritmo rápido de troca de informação e na capacidade de achar toneladas de conteúdo. Os aspectos básicos da tecnologia são esses: links, mecanismos de buscas, alertas, interrupções, multitarefas, multifuncionamento. Este sistema não nos encoraja nem nos dá oportunidade para fazer coisas que necessitam de atenção mais profunda. Por exemplo...
CARR: As coisas que, no passado, sempre foram consideradas essenciais para uma vida intelectual rica, como contemplação, reflexão e introspecção. Se você é constantemente interrompido, você nunca consegue exercitar estas formas de pensamento mais atentas e focadas. Uma das coisas que sabemos sobre a mente é que a habilidade para prestar atenção, pensar profundamente sobre algo, focar e concentrar-se de fato ativam muitos dos nossos processos cognitivos, como pensamento crítico, memória, lógica, pensamento conceitual e algumas formas de criatividade. Meu medo é que estamos perdendo nossa capacidade e habilidade para esse tipo de pensamento. Seres humanos adoram obter novas informações, e há uma espécie de obsessão de estar no topo do conhecimento de tudo, mas isso nos empurra a uma forma de pensamento mais primitiva na qual estamos constantemente mudando o nosso foco.
A ideia é que a maioria das pessoas, obcecadas em obter informações, acaba ouvindo falar um pouco de tudo, mas nada profundamente. E a maioria, fora de contexto, é isso?
CARR: Exato. E é por isso que os chamo de superficiais: você circula com muita rapidez, obtém informações rapidamente, mas nunca vai fundo em nada.
Quais são as evidências de que a forma como obtemos informação pelas mídias digitais impede a compreensão e o aprendizado?
CARR: Há muitos estudos sobre vários aspectos da rede, como os que comparam hipertexto a texto. Há 30 anos, quando os textos na internet começaram a usar os hipertextos, acreditava-se que estes pedaços de informação de acesso rápido complementariam o entendimento do que estava sendo dito e ajudariam a ampliar a compreensão geral. Mas o que os estudos começaram a mostrar é que a compreensão e interpretação do texto estavam mais fracas com os hipertextos comparadas com o texto linear tradicional. E parece estar relacionado com a qualidade dispersiva do link. Mais que isso. Só na percepção, durante a leitura, de que há ali um link, o seu cérebro começa a se perguntar se vale a pena ir até o hipertexto e se aquela informação fará ou não falta na leitura. Aquilo quebra o ritmo de leitura e acaba afetando a compreensão do texto. E isso só reforça a tese de que, quanto mais você está focado, maior a compreensão e o aprendizado.
Mas os educadores acham que uma das ferramentas mais preciosas para o aprendizado são os recursos multimídia...
CARR: Os estudos não mostram isso. Multimídia requer que a pessoa mude o tempo todo o seu foco. E o fato é que, se você está o tempo todo mudando o seu foco, a sua habilidade de aprender se reduz. O que não significa que multimídia seja sempre ruim, se ela for preparada com fins específicos. Mas o problema com a internet é que ela não é desenhada por experts em educação, e você tem constantes mudanças de foco. Se você olha para o modelo básico de webdesign de mídias sociais, como Facebook, percebe que ele não é feito com a ideia de otimizar a compreensão e o entendimento. É feito com a ideia de manter a visão grudada na tela em focos de conteúdos constantemente variados e atualizados.
Ou seja, é uma tecnologia que encoraja a dispersão. E o que deixaria a rede ser menos dispersiva?
CARR: A internet é uma ferramenta multimídia tão poderosa que ela encoraja as pessoas, seja produtores ou consumidores de conteúdo, a ter e fazer mais e mais sem o necessário questionamento sobre qualidade, interesse e utilidade do que está ali. Você pode imaginar a internet desenvolvida de uma forma diferente, onde são filtrados todos os componentes dispersivos da maneira que um bom livro. Certas plataformas caminham para isso. O iPad, por exemplo, é um tipo mais comum de apresentação de informações até porque suas habilidades multimídias não são tão fortes. Há alguns indicativos de que talvez as pessoas queiram mais foco. Mas a tendência geral continua em direção a mais e mais dispersão.

E a tendência não teria volta...
CARR: Exato. O que a gente sabe de empresas que produzem novos aparelhos eletrônicos é que elas competem entre si adicionando novas funções. Mesmo o Kindle, que começou como um leitor de livros, já permite algum tipo serviço de rede. O iPad já evolui para um sistema de multitarefa. Meu medo é que mesmo estes produtos que incentivam a atenção continuem a se desenvolver na direção de ter mais funções. E a realidade crua é: nós vamos adicionar distração e dispersão mais e mais.
Fonte: O Globo


Suicídio: Tragédia Silenciosa

Muito interessante a reportagem publicada hoje na Folha de São Paulo sobre Suicídio. Os números impressionam da mesma forma como o silêncio da mídia e da sociedade em não abordar um tema de tanta relevância. Parabéns à Folha!
Estima-se que o número de tentativas de suicídio supere o de mortes em pelo menos dez vezes; é possível evitar uma parcela desses óbitos.
Diariamente, 25 pessoas põem fim a suas vidas no Brasil. Foram 9.090 suicídios oficialmente registrados em 2008. Para cada óbito, no mínimo cinco ou seis pessoas próximas ao falecido foram profundamente afetadas. O impacto do suicídio na vida das pessoas e da nação é silenciado pela sociedade.
Nos meios de comunicação há orientação, discutível quando adotada em termos absolutos, de não se noticiar suicídio. Silencioso, ele resta à margem das tragédias nacionais. Mas é possível evitar uma parcela dessas mortes.
Numa escala mundial, nosso coeficiente de mortalidade por suicídio é relativamente baixo: 5,4 mortes em cada 100 mil habitantes, ao longo de um ano. Esse índice cresceu 30% nos últimos 25 anos.
O coeficiente é uma média nacional e esconde importantes contrastes. Em algumas cidades, os índices equiparam-se aos de países do Leste Europeu. Ademais, como somos um país populoso, atingimos o décimo lugar mundial em número total de suicídios, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
No espectro do comportamento autoagressivo, o suicídio é a ponta de um iceberg. Estima-se que o número de tentativas supere o de mortes em pelo menos dez vezes. Um inquérito populacional elaborado pela OMS e levado a cabo por pesquisadores da Unicamp apurou que, em cada cem habitantes da cidade de Campinas, 17 já haviam pensado seriamente em pôr fim à vida e três efetivamente tentaram o suicídio.
A causa de um suicídio é invariavelmente mais complexa do que um acontecimento recente que salta à vista e que é tomado como explicação rápida para o ocorrido.
A perda do emprego ou o rompimento de um relacionamento amoroso geralmente são os fatores precipitantes. Na maioria das vezes, pessoas que põem fim à vida sofrem de um transtorno mental subjacente (fator predisponente) que aumenta a vulnerabilidade para o suicídio. Depressão e dependência de álcool são os mais frequentes.
Recentemente, nossa sociedade vem-se abrindo para discutir o tema-tabu. O suicídio passou a ser enfrentado na arena da saúde pública. Um exemplo disso é a parceria firmada entre a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e a Rede Globo, a partir da qual inserções de 30 segundos entram na programação da televisão.
Há, hoje, considerável informação a respeito do que, em vários países, deu certo em prevenção.
Exemplo recente foi um estudo realizado em serviços médicos de vários países, entre os quais o Hospital de Clínicas da Unicamp, que acompanhou, desde o atendimento em um pronto-socorro, 1.867 pessoas que tentaram o suicídio.
Metade delas, após sorteio, foi acompanhada por meio de telefonemas periódicos. Após 18 meses, o número de suicídios nesse grupo foi, comparativamente, dez vezes menor. Com os telefonemas, a tentativa de suicídio deixou, assim, de ser um pedaço de história a ser esquecido ou silenciado.
Em agosto de 2006, o Ministério da Saúde publicou as diretrizes que orientariam um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio. O plano ainda não saiu. É preciso transformar as diretrizes em ações assistenciais baseadas em evidências científicas, as quais, por sua vez, poderão orientar novas políticas de prevenção e estratégias de atendimento.
Na área da saúde, isso constitui um desejado círculo virtuoso entre política, assistência e pesquisa, que não é simples de ser alcançado.
NEURY JOSÉ BOTEGA é professor titular do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), representante nacional na Associação Internacional de Prevenção do Suicídio e coordenador da Comissão de Prevenção de Suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Fonte: Folha online
Leia também:
Sinais que devem servir de alerta para o risco de suicídio.


Brasil tem mais de 100 mil processos na Justiça buscando por procedimentos médicos

Muito boa a reportagem do Fantástico/TV Globo de ontem (21/11/10), vale a nossa reflexão. Aonde estão as prioridades do governo? O funcionário do Ministério da Saúde fala em 100 milhões de reais por ano para a compra de medicamentos que deveria ser dever do Estado, mas enquanto isso discute-se no governo o Trem Bala entre Rio e São Paulo a um custo de quase 20 bilhões. Pelas contas daria para comprar os medicamentos por 200 anos!!!! Quantas vidas deixarão de ser salvas?


Quem madruga e dorme até tarde pode ter "Distúrbio do Sono Atrasado"

Quem dorme até tarde não é vagabundo, diz ciência.
Alvo de críticas de familiares e amigos, quem gosta de ficar na cama até a hora do almoço pode ter um motivo científico para a "vagabundagem": o distúrbio do sono atrasado. O assunto foi um dos temas abordados no 6º Congresso Brasileiro do Cérebro, Comportamento e Emoções, que aconteceu recentemente em Gramado.
O organismo humano tem um ciclo diário, de modo que os níveis hormonais e a temperatura do corpo se alteram ao longo do dia e da noite. Depois do almoço, por exemplo, o corpo trabalha para fazer a digestão e, conseqüentemente, a temperatura sobe, o que pode causar sonolência.
Quando dormimos, a temperatura do corpo diminui e começamos a produzir hormônios de crescimento. Se dormirmos durante a noite, no escuro, produzimos também um hormônio específico chamado melatonina, responsável por comandar o ciclo do sono e fazer com que sua qualidade seja melhor, que seja mais profundo.
Pessoas vespertinas, que têm o hábito de ir para a cama durante a madrugada e dormir até o meio dia, por exemplo, só irão começar a produzir seus hormônios por volta das 5 da manhã. Isso fará com que tenham dificuldade de ir para a cama mais cedo no outro dia e, consequentemente, de acordar mais cedo. É um hábito que só tende a piorar, porque a pessoa vai procurar fazer suas atividades durante o final da tarde e a noite, quando tem mais energia.
O pesquisador Luciano Ribeiro Jr. da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), especialista em sono, explica que esse distúrbio pode ser genético: "Pessoas com o gene da ‘vespertilidade’ têm predisposição para serem vespertinas. É claro que fator social e educação também podem favorecer”. Mas não se sabe ainda até que ponto o comportamento social pode influenciar o problema.
A questão, na verdade, é que o vespertino não se encaixa na rotina que consideramos normal e acaba prejudicado em muitos aspectos. O problema surge na infância. A criança prefere estudar durante a tarde e não consegue praticar muitas atividades de manhã. Na adolescência, a doença é acentuada, uma vez que os jovens tendem a sair à noite e dormir até tarde com mais frequência.
A característica vira um problema quando persiste na fase adulta. “O vespertino é aquele que já saiu da adolescência. Pessoas acima de 20 anos de idade que não conseguem se acostumar ao ritmo de vida que a maioria está acostumada”, diz Luciano. Segundo ele, cerca de 5% da população sofre do transtorno da fase atrasada do sono em diferentes graus e apenas uma pequena parcela acaba se adaptando à rotina contemporânea.
O pesquisador conta também que, além do preconceito sofrido pelos pais, professores e, mais tarde, pelos colegas de trabalho, o vespertino sofre de problemas psiquiátricos com maior frequência: depressão, bipolaridade, hiperatividade, déficit de atenção são os mais comuns. Além disso, a privação do sono profundo, quando sonhamos, faz com que a pessoa tenha maior susceptibilidade a vários problemas de saúde: no sistema nervoso, endócrino, renal, cardiovascular, imunológico, digestivo, além do comportamento sexual.
O tratamento não envolve apenas remédios indutores do sono, como se fosse uma insônia comum. É necessária uma terapia comportamental complexa, numa tentativa de mudar o hábito, procurando antecipar o horário do sono. Envolve estímulo de luz, atividades físicas durante a manhã e principalmente um trabalho de reeducação.

E as pessoas que têm o hábito de acordar às 4 ou 5 horas da manhã? “O lado oposto do vespertino é o que a gente chama de avanço de fase. Só que esse não tem o problema maior no sentido social. Ele está mais adaptado aos ritmos sociais e profissionais. Os meus pacientes deste tipo têm orgulho, já ouvi mais de uma vez eles dizendo ‘Deus ajuda quem cedo madruga’”, diz o neurologista.
Fonte: Revista Galileu


Short-cuts: Transtorno psíquico "burn out" ataca desiludidos com o próprio trabalho.

Perfeccionismo é fator de risco para esta doença insidiosa, que ataca a motivação de gente que rala, sem distinção de cargos hierárquicos.

O "burn out", termo que em inglês designa a combustão completa, está incluído no rol dos transtornos mentais relacionados ao trabalho. Foi a terceira maior causa de afastamento de profissionais em 2009, segundo dados da Previdência Social.
A síndrome é bem mais que "mero" estado de estresse, não pode ser confundida.

Esse transtorno psíquico mescla esgotamento e desilusão. Pode ser desencadeado por uma exposição contínua a situações estressantes no trabalho, explica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente no Brasil da Isma (International Stress Management Association), entidade que pesquisa o "burn out".

"A doença é gerada pela percepção de que o esforço colocado no trabalho é superior à recompensa. A pessoa se sente injustiçada e vai se alienando, apresentando sintomas como depressão, fobias e dores musculares."

É a doença dos idealistas, diz Marilda Lipp, do Centro Psicológico de Controle do Stress e professora de psicologia da PUC-Campinas.

"O 'burn out' é um desalento profundo, ataca pessoas dedicadas demais ao trabalho, que descobrem que nada daquilo pelo que se dedicaram valeu a pena."

O estresse, compara Lipp, tem um componente biológico forte, ligado a situações em que o corpo tem de responder ao perigo. Já o "burn out" é um estado emocional em que a pessoa não sente mais vontade de produzir.

"Tem a ver com o valor depositado no trabalho", diz Lipp. "Quem apresenta exaustão emocional, não se envolve mais com o que faz e reduz as ambições pode estar sofrendo do transtorno."

O diagnóstico não é fácil: a apatia gerada pelo "burn out" pode sugerir depressão ou síndrome do pânico.

Médicos, professores e policiais são grupos de risco, diz Duílio de Camargo, psiquiatra do trabalho ligado ao Hospital das Clínicas.

DESMAIOS
O professor Cláudio Rodrigues, 43, entrou em combustão total por duas vezes. Começou como um estresse, que foi se acumulando ao longo de dez anos.

Ele lecionava 13 horas por dia numa escola da zona sul de São Paulo. E se frustrava com salas lotadas e alunos desinteressados, conta.

"Via um aluno meu entregando pizza junto com alguém que nunca tinha estudado. Eu me sentia impotente como professor". Deprimido, se manteve afastado das salas por dois anos. Em 2004, depois de receber acompanhamento psiquiátrico e tomar medicação, voltou. Em maio deste ano, recaiu.

"Nada tinha mudado na escola, estrutura péssima. Eu me sentia responsável por estar levando todos os alunos a um caminho sem futuro."

No meio de uma aula, o professor começou a suar e sentir o corpo ficar mole. Saiu e desmaiou na escada. Na semana seguinte, enquanto caminhava para o trabalho, desmaiou de novo. Está afastado desde então.

"Sinto uma insatisfação por ver que o meu trabalho não vale a pena" - desabafa.

A vigia Lucimeire Stanco, 34, também passou um tempo licenciada por causa de "burn out". Em 2006, ela fazia a ronda noturna em um colégio da zona leste. Passava a noite só e por duas vezes teve que se esconder quando tentaram invadir o lugar.

"Sentia desânimo porque não me tiravam daquela situação. Me sentia rejeitada, vítima." Ela se tratou e se readaptou. Hoje, só trabalha de dia, e acompanhada de outros vigias.

Casos como esses são tratados com psicoterapia e antidepressivos mas, segundo Marilda Lipp, a medicação só combate os sintomas.

"A pessoa precisa reavaliar o papel do trabalho em sua vida, aprender a dizer não quando não tem condições de executar algo e reconhecer o próprio valor, mesmo que outros não o façam."

FACA NA GARGANTA

"Eu era infeliz e não sabia", afirma a empresária Amália Sina, 45. Hoje ela é a dona do negócio, mas há quatro anos, era a vice-presidente, na América Latina, de uma multinacional e responsável pelas atividades da empresa em 22 países.

"Dava aquela impressão de que o mundo girava em torno do trabalho, sempre com a faca na garganta", diz.

Para a empresária, o apoio que teve da família e a prática de exercícios a ajudaram a suportar as pressões. Até ela deixar a função executiva.

A empresária adotou a estratégia correta para prevenir um "burn out", segundo o psiquiatra Duílio de Camargo. "A pessoa chega a esse estado sem saber o que tem. Se não tiver acolhimento da família, o desconforto aumenta."

Na visão de Eugenio Mussak, fisiologista e professor de gestão de pessoas, as providências para prevenir essa patologia do trabalho devem partir tanto do sujeito quanto da empresa.

Segundo Mussak, todo mundo que trabalha bastante deve se permitir algumas atividades diárias cuja única finalidade seja o prazer, para compensar o clima estressante. E se o ambiente de trabalho puder criar um "estado de férias", melhor ainda.

"Chefes compreensivos, que valorizam o esforço e respeitam os limites de seus subordinados criam um ambiente menos favorável ao "burn out'", diz o professor.

Ele continua: "É preciso respeitar o limite entre o que é profissional e o que é pessoal, e a empresa deve estimular o trabalhador a respeitar esses limites também."

Fonte: Folha


Short-cuts: Estudo da Unifesp aponta dano cerebral para usuários leves de maconha.

Dois cigarros por dia podem afetar funções executivas, que processam e organizam dados novos.

Uma pesquisa realizada no Laboratório de Neurociências Clínicas (LiNC) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que danos ao cérebro podem ser expressivos também para usuários "leves" de maconha (até dois cigarros por dia), segundo comunicado divulgado nesta segunda-feira, 8, pela instituição.

O estudo, feito pela neuropsicóloga Maria Alice Fontes com participantes de 18 a 55 anos e orientado pelo professor Acioly de Lacerda, do Departamento de Psiquiatria, alerta para os prejuízos causados pela substância nas chamadas "funções executivas" cerebrais.

"Elas nos permitem processar e organizar todas as informações novas que nos são passadas diariamente e necessitam de planejamento, iniciação, memória operacional, atenção sustentada, inibição de impulsos, fluência verbal e pensamento abstrato", escreveu Maria.
Lacerda explica que esse levantamento usou a maior amostragem do mundo de usuários crônicos avaliados por testes neuropsicológicos. Também é o primeiro a mostrar que os déficits cognitivos pelo uso leve, porém crônico, da droga parecem ser expressivos para desencadear disfunções no cérebro.

"Quanto mais precoce e maior a exposição à maconha, pior será a memória do usuário, mesmo depois de um período de abstinência", afirma o professor.

Fonte: Estadão


Estado Misto: depressão que não melhora com antidepressivos.

Já abordei aqui no blog a respeito dos estados mistos e de sua relação com a bipolaridade, mas decidi dar maior ênfase, pois tenho recebido muitos pacientes em uso de antidepressivos, com diagnóstico prévio de depressão ou ansiedade, mas sem benefício claro do uso prolongado desses medicamentos.

E quem são esses pacientes? Escolhi dois exemplos que marcam bem como esses pacientes chegam para uma primeira consulta:

Exemplo 1 – paciente que já fez uso de diversos antidepressivos diferentes (mudou muitas vezes), teve uma melhora inicial, mas depois voltou a ter sintomas. Os sintomas, em geral, são de muito cansaço, vontade de permanecer na cama ou sono durante o dia, desânimo, falta de prazer, enfim, sintomas depressivos, mas também muita ansiedade, na forma de somatização (taquicardia, sudorese, aflição no peito, pânico) ou psicológica (inquietação, agitação, impaciência), pensamentos repetitivos, acelerados ou com muitas idéias ao mesmo tempo, percebidos como uma dificuldade de relaxar ou de desligar a mente, o que também vem acompanhado de insônia à noite, déficit de atenção e memória. Não raro observa-se aumento de apetite e/ou ganho de peso.

Exemplo 2 – paciente que começou um tratamento com antidepressivo, teve melhora inicial, permaneceu com o medicamento, mas depois voltou a sentir sintomas desagradáveis, muitos dos quais não ocorriam antes (sensação de que o “quadro mudou”). Tornou-se mais irritadiço, ansioso, com dificuldade de relacionamento em casa ou no trabalho. A percepção muitas vezes é de que a “depressão” melhorou, mas deu lugar a um estado crônico de mau humor. Os sintomas mencionados no exemplo 1 também são comuns neste caso. A diferença é que esses pacientes “responderam” ao tratamento antidepressivo, mas não conseguem mais viver sem ele, pois mesmo com ele não se sentem 100% (“imagine sem ele”).

Em ambos os casos percebe-se que o tratamento com antidepressivos não foi eficaz, pois não resolveu todos os sintomas, ou pode ser inclusive maléfico, mudando o perfil sintomático do quadro, gerando maior irritabilidade, intolerância ou comportamento explosivo/agressivo.

A dificuldade em identificar esta mudança está no fato de que elas ocorrem lentamente, depois de uma impressão inicial de que a resposta ao antidepressivo foi positiva. Há a tendência de o paciente achar que os sintomas mais ansiosos e irritadiços se devem aos fatores externos e é rara a percepção de que eles estão relacionados ao tratamento ou ao humor.

A grande preocupação é que este quadro pode se cronificar e a pessoa se tornar diferente, com características de temperamento e personalidade que antes não tinha. Sabemos que uma doença psiquiátrica crônica por si só já pode fazer isso, mas uma doença tratada de maneira errada pode tornar este processo ainda mais rápido. Os desgastes sociais e familiares são enormes!

É importante que o psiquiatra saiba identificar os quadros mistos, pois a mudança na forma de tratar pode não só recuperar o paciente de todos os sintomas que sente, como evitar que, a longo prazo, seu problema se torne crônico.

Manuais diagnósticos não dão importância devida

A maior dificuldade hoje é que os manuais diagnósticos atuais (CID-X e DSM-IV) não dão a ênfase necessária a esse problema. A CID-X, por exemplo, só fala em estado misto como um subtipo do transtorno bipolar, mas oferece um diagnóstico de transtorno misto de ansiedade e depressão (F41.2) junto aos demais diagnósticos de ansiedade, cuja a descrição em muito se assemelha aos estados mistos. O transtorno misto de ansiedade e depressão é uma das principais causas de afastamento pelo INSS por motivos psiquiátricos, mas a própria CID-X recomenda que este diagnóstico seja dado aos casos mais leves ou não persistentes, pois os casos mais graves e crônicos deveriam ser classificados como transtorno de humor.

A confusão diagnóstica não pára por aí. Como os estados mistos estão inseridos nos manuais diagnósticos como parte do transtorno bipolar, exige-se para o seu diagnóstico que o paciente tenha, além do episódio depressivo, ao menos um episódio de mania ou hipomania (euforia). Este é justamente o maior dos problemas, já que a grande maioria dos pacientes com estado misto nunca teve e nem terá um episódio de mania ou hipomania. O episódio misto já é, por definição, um estado do humor que mistura os extremos, de um lado a depressão (baixa do humor) e de outro a inquietação ou agitação (elevação do humor).

A ciclotimia, outro diagnóstico que deveria pertencer ao grupo da bipolaridade, foi considerada pelos atuais manuais diagnósticos como um transtorno persistente do humor, enquanto que a maior parte dos ciclotímicos experimenta estados mistos, pois como ciclam ou variam muito rapidamente de humor, os dois estados acabam se sobrepondo.

Os manuais diagnósticos acabam influenciando mais o cotidiano dos psiquiatras e de seus pacientes do que imaginamos. Como existe a dificuldade diagnóstica, protela-se muito o tratamento com os estabilizadores de humor e, por outro lado, pacientes resistem muito à idéia de tomar um estabilizador por rejeitarem a hipótese de possuírem uma forma de transtorno bipolar ou porque não compreendem como um estado predominantemente depressivo deve ser tratado sem antidepressivos ou com a combinação de outros medicamentos.

Isto sem falar da maioria dos pacientes, que estão se tratando com clínicos gerais e outros especialistas que não possuem esta compreensão dos transtornos de humor e não conseguem, portanto, diferenciar um estado misto de um estado depressivo.
As novas versões dos manuais de diagnóstico psiquiátrico precisarão dar conta desta demanda, que hoje pode ultrapassar 60% dos pacientes tratados com antidepressivos, segundo pesquisas recentes.

Pensando no futuro

O tratamento com estabilizadores de humor não só melhora os sintomas desses pacientes, como equilibra o humor ao longo do tempo, permitindo que eles tenham relacionamentos mais positivos em casa e no trabalho, sejam mais eficientes em suas atividades e tenham, portanto, melhor qualidade de vida.

Os sintomas cognitivos são muito comuns nos estados mistos, percebidos como uma falta persistente de concentração, esquecimentos, dificuldade de leitura, lentidão de raciocínio, levando à falta de persistência nas atividades. Estes sintomas podem cronificar da mesma forma que os sintomas do humor e se transformarem num problema maior à medida que a idade avança e o cérebro envelhece.

O estabilizador de humor carbonato de lítio, conhecido como lítio, considerado um dos tratamentos mais eficazes na bipolaridade, tem comprovada ação neuroprotetora, retardando o aparecimento de demências (doenças neurodegenerativas) na terceira idade em pacientes bipolares.

O que parece contribuir muito para o declínio cognitivo é a persistência de sintomas depressivos e ansiosos ao longo da vida, o que infelizmente é mais regra do que exceção nos estados mistos. Por isso a necessidade do tratamento adequado, pois além da melhoria de curto e médio prazo, é fundamental pensarmos preventivamente e zelarmos pela saúde mental dessas pessoas quando estiverem com mais de 60 anos de idade.
Da mesma forma que praticar exercícios e ter uma boa alimentação na idade adulta ajuda prevenir as doenças degenerativas, cuidar da saúde mental e do seu ambiente familiar e de trabalho também é de crucial importância para envelhecer com lucidez!

Os estabilizadores de humor são uma opção segura e eficaz

O tratamento indicado no estado misto é o estabilizador de humor. Esta classe compreende medicamentos com mecanismos de ação diferentes, com indicações também em outras áreas da medicina. Um exemplo comum é dos anti-convulsivantes, medicamentos indicados na epilepsia. Alguns deles, como a lamotrigina, o divalproato de sódio, a oxacarbazepina e a carbamazepina possuem eficácia comprovada na regulação do humor, sendo medicamentos classicamente utilizados no transtorno bipolar.

Outro estabilizador de humor por excelência é o carbonato de lítio, considerado ainda hoje o padrão-ouro, terminologia utilizada na medicina para indicar que um determinado medicamento é a referência no tratamento de uma doença.

Os estabilizadores de humor podem ser utilizados isoladamente, em associação entre eles (p.ex. dois estabilizadores em conjunto) ou em associação com outros medicamentos, como antidepressivos e ansiolíticos. Isto ocorre porque o perfil de ação dos estabilizadores é diferente, uns agindo melhor em sintomas depressivos e outros mais em sintomas como ansiedade, irritabilidade e inquietação. Porém todos têm como objetivo fundamental regular o humor, gerando estabilidade a longo prazo e evitando recaídas.
A dificuldade de alguns pacientes em aceitar o medicamento deve-se ao receio dos efeitos colaterais, em grande parte por se acreditar equivocadamente que medicamentos para epilepsia são “fortes”, podem provocar convulsões ou causam dependência. Pois é justamente o oposto. Os estabilizadores de humor costumam ser mais bem tolerados no início do tratamento, pois não causam os efeitos gastrointestinais comuns entre os antidepressivos, não causam os sintomas na hora de retirá-los ou dependência (sintomas da falta do medicamento, o que é mais comum com os antidepressivos e os ansiolíticos) e não trazem maiores riscos no longo prazo. O fato de alguns serem indicados para o tratamento da epilepsia, visto por muitos de forma preconceituosa, é análogo a se utilizar um anti-convulsivante para a prevenção da enxaqueca ou um diurético para o controle da pressão arterial. Isto é, independente da indicação principal ou classe a qual o medicamento pertença, ele pode ter outras indicações e ser muito eficaz nelas.

Um conceito importante é que o tempo de tratamento deve ser prolongado para que os efeitos reguladores de humor possam ser sentidos claramente. No caso do carbonato de lítio (mais estudado), existem relatos clínicos de melhora progressiva mesmo após 1 ano de uso.

Um estabilizador de humor dificilmente poderá ser avaliado antes de 3 meses de uso, pois neste período ainda se está fazendo ajustes na dosagem. A lamotrigina, por exemplo, só pode ser aumentada a cada 2 semanas, até se atingir a dose terapêutica, que varia entre 100 e 200mg/dia, o que ocorre geralmente após 4 a 8 semanas.

O tratamento deve ser seguido ao longo de alguns anos, pois é importante que o paciente experimente um tempo prolongado de estabilidade. Muitos procuram o tratamento após muitos anos (décadas às vezes) de instabilidade, portanto, é razoável supor que o período de estabilidade deva ser grande o suficiente para que a pessoa se desacostume ao ritmo de vida que levava no passado e passe a tomar medidas para seu próprio bem estar. É isto que conta muito na evolução a longo prazo e, por isso, indicamos a psicoterapia como um acompanhamento necessário. Sem as mudanças de hábitos e de padrões repetitivos de comportamento será muito difícil que um paciente consiga a estabilidade sem os medicamentos.

Na fase de retirada da medicação é importante que o desmame seja o mais lento possível. Em alguns casos podem ser necessários meses ou até um ano para a retirada da medicação. É importante que o paciente seja observado em cada dose intermediária antes que se interrompa definitivamente o tratamento. Este tempo permite a verificação de possíveis oscilações de humor ou padrões de reatividade que com doses mais altas não aconteciam. São pistas úteis ao psiquiatra para avaliar se o paciente de fato manterá a estabilidade sem a medicação. Este é um problema sério para a maioria dos pacientes, que quer resultados rápidos e alta precoce do tratamento.

A psiquiatria possui alguns paradoxos que são difíceis de explicar. Uma pessoa aceita usar uma pílula anticoncepcional por longos anos, que sabidamente traz efeitos colaterais e risco para sua saúde, mas não quer fazer um tratamento por 2 ou 3 anos com um medicamento que pode estabilizar seu lado emocional e melhorar significativamente sua qualidade de vida, sem trazer maiores malefícios ao seu corpo. Ao contrário, este medicamento pode ajudá-la a reduzir os radicais livres e substâncias oxidantes acumuladas pelo estresse e proteger seu cérebro para a terceira idade. Isto por si só já seria um bom argumento!

Mas se a decisão de fazer ou não o tratamento fosse racional, a adesão seria de 100%. A pessoa precisa trabalhar internamente seus preconceitos e medos, se informar e conhecer melhor seu problema e refletir sobre o que será melhor para seu futuro para, então, tomar a decisão de se tratar. E mais: precisa manter este pensamento convicto diante dos primeiros sinais de recuperação, em que a inevitável sensação de cura pode demovê-la do tratamento, adiando sua estabilidade para daqui a dezenas de anos.

Possíveis complicações clínicas ou comorbidades

Algumas complicações, principalmente quando não há tratamento adequado, são bem conhecidas e devem despertar tanto para o diagnóstico como para o tratamento:

- dependência ou abuso de substâncias como álcool, café, cigarro, drogas ilícitas
- impulsos suicidas e impulsos auto-destrutivos (ferir-se, cortar-se, arranhar-se)
- compulsão alimentar
- ataques de pânico
- fobias
- psicose
- compulsão por compras, pelo jogo, por sexo, por computador
- déficit cognitivo e demências

Algumas doenças clínicas estão associadas com maior freqüência:
- Enxaqueca
- TPM
- Hipotireoidismo
- Hipertensão
- Síndrome metabólica (dislipidemia, diabetes)
- Obesidade
- Fibromialgia
- CA de mama

Diferentes apresentações clínicas

O estado misto de humor deve ser suspeitado diante dos seguintes quadros depressivos:

- Depressão ansiosa
- Depressão agitada ou hiperativa
- Depressão irritável
- Depressão psicótica
- Depressão com abuso ou dependência de substâncias
- Depressão com qualquer tipo de compulsão
- Depressão de curta duração (poucos dias) que se alterna com humor irritadiço ou eufórico/excitado: um exemplo comum – a pessoa está deprimida, mas tem dias ou determinadas horas em que se sente muito disposta, sai arrumando a casa toda, ou tem um rendimento superior à média dos dias anteriores. Depois volta a se sentir deprimida.

Portanto, se você se identificou com o artigo, não deixe de conversar com seu médico ou procurar um psiquiatra para ter uma avaliação do seu estado e iniciar um tratamento adequado. Boa sorte e que você alcance sua estabilidade em breve!


Uma lição para todos!

O mundo emocionou-se com o resgate dos mineiros que ficaram presos na mina San José no Chile após 70 longos dias de espera. Foi um exemplo de superação, de fé e esperança e da solidariedade humana, que lamentavelmente anda esquecida nos dias de hoje.
Provavelmente a vida desses mineiros não será mais a mesma após este acidente. Conviverão com a lembrança dos dias de terror que passaram confinados a 620 metros de profundidade, passando por privações que nenhum ser humano imagina passar um dia. E de ter convivido constantemente com a possibilidade de morte, que nos primeiros dias parecia ser muito mais provável do que a sobrevivência.
Mas mesmo com todos os problemas físicos e psicológicos pelos quais ainda possam passar, o maior presente que tiveram foi ter a vida de volta. Isto faz com que tudo tenha um significado relativo. Eles mostraram ao mundo que a fé e a esperança são capazes de prolongar a vida e mudar o futuro. Certamente manterão o mesmo estado de espírito para superar as dificuldades, agora mais corriqueiras.
Acho que todos precisamos refletir mais a respeito. Do valor e do significado da vida, mesmo que passemos por turbulências, problemas e doenças, manter a fé e a esperança num futuro melhor é o ingrediente fundamental para a recuperação. Que a história dos mineiros possa nos ensinar muito a respeito da essência do homem, de seu poder de superação e, sobretudo, de fazer o bem ao próximo. A máxima (que já anda meio piegas) de que onde há vida ainda há esperança faz todo o sentido!
Veja o vídeo do momento mais emocionante do resgate:


Presidenciáveis ignoram a saúde mental

Leiam a carta da Associação Brasileira de Psiquiatria sobre a omissão dos candidatos a presidente em relação aos temas da Saúde Mental. Em agosto o Portal Entendendo a Esquizofrenia enviou carta aos candidatos e somente Plínio Sampaio (PSOL) respondeu às perguntas sobre a assistência psiquiátrica no Brasil. A entrevista dele está aqui no blog e também no Portal!
Provocados pela ABP, os candidatos à presidência mais bem colocados nas pesquisas se omitiram em relação aos seus planos para a saúde mental.
Prestes a eleger um novo Presidente da República, a população brasileira tem o direito de conhecer as propostas de quem se apresenta como seu possível representante durante os próximos quatro anos. Dentro deste raciocínio e para garantir que os seus associados tenham o maior número de informações no que diz respeito às ideias referentes às políticas públicas de saúde mental, a Associação Brasileira de Psiquiatria entrou em contato com os três candidatos que atualmente lideram as pesquisas de intenção de votos: Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva.
Ciente dos compromissos que envolvem os candidatos em uma campanha presidencial foi elaborada uma entrevista com perguntas diretas para, ao mesmo tempo, abordar os principais temas de interesse da Psiquiatria e permitir ao candidato praticidade para atender à solicitação da ABP. O questionário indagou sobre os planos de cada um para melhorar a assistência em saúde mental em geral, suas propostas específicas para o tratamento do crescente número de dependentes em drogas (lícitas e ilícitas), além da avaliação sobre o atual cenário do setor.
Mesmo com a insistência, nenhum candidato se prontificou a abordar o tema. Silenciar-se sobre a omissão destes candidatos, que pretendem liderar o Brasil em seu crescimento em todas as esferas sociais, seria tão, ou mais, preocupante que o silêncio dos presidenciáveis. É obrigação da Associação Brasileira de Psiquiatria representar seus 6 mil associados e fazer valer a sua voz para contribuir para a elaboração e aperfeiçoamento de uma política pública eficaz à prática profissional dos médicos psiquiatras e aos doentes mentais.
Cumprindo com o seu papel, o presidente da ABP, João Alberto Carvalho, se posicionou quanto a insensibilidade dos candidatos com relação ao tema. "A falta de resposta dos candidatos é apenas um sinalizador de como a assistência em saúde mental recebe pouca atenção do Estado. Esta não é a atitude esperada por aqueles que almejam alcançar uma posição de cunho democrático", lamentou.
"Faz parte da nossa consciência que o papel de uma instituição médica não se limita a defender interesses profissionais. É nossa obrigação também atuar para a melhoria da saúde da população. Infelizmente, como é possível perceber, os verdadeiros responsáveis por oferecer cidadania aos brasileiros estão menos preocupados do que os psiquiatras com o bem-estar da sociedade", diz João Alberto Carvalho.
Contudo, o presidente da ABP garante que a instituição não pode se afastar do debate político e insistir em sua permanente luta para aperfeiçoar as políticas públicas relacionadas à saúde mental.
Ele lembra que nos últimos anos a instituição tem lutado pela construção de uma rede de atendimento integrada, balanceada e hierarquizada, como a preconizada pela Organização Mundial de Saúde. Alerta para a importância da atenção primária, aponta equívocos e soluções no tratamento de dependes químicos e discute meios mais efetivos de financiamento, entre outros pontos. Essa discussão, aliás, foi levada ao Ministério Público diante da indiferença do Governo. "Sobretudo sempre procuramos restabelecer o debate pautado por critérios técnicos", resume o presidente da ABP.
Infelizmente, a omissão dos principais candidatos à presidência sobre o assunto não é um bom sinal.
Fonte: Associação Brasileira de Psiquiatria