Mais da metade dos bipolares não recebe tratamento.
Estudo publicado no periódico Archives of General Psychiatry mostra aquilo que todos nós já constatamos em nossas clínicas. A dificuldade em identificar os quadros bipolares e tratá-los de acordo é hoje um dos principais desafios da psiquiatria. Convencer pacientes aparentemente deprimidos de que precisam tomar estabilizadores de humor e não antidepressivos é o desafio seguinte. É uma pena constatar isso, pois o transtorno bipolar, se tratado precocemente e de maneira adequada, pode ter um curso benigno, enquanto não tratá-lo pode condenar a pessoa a passar o resto de sua vida com depressões e péssima qualidade de vida. Espero que matérias como esta sirvam de alerta para médicos e pacientes.
Mapeamento mundial sobre transtorno bipolar mostra que menos da metade dos doentes recebe tratamento.
A pesquisa avaliou mais de 60 mil pessoas em 11 países como Brasil, EUA e China, das quais 2,4% apresentavam o transtorno. O resultado foi publicado no "Archives of General Psychiatry".
Os pesquisadores escolheram amostras aleatórias em suas regiões e fizeram entrevistas com base em critérios da Organização Mundial da Saúde para o diagnóstico.
O transtorno bipolar é caracterizado por oscilações de humor entre euforia (ou mania) e depressão. Pode causar irritabilidade, agressividade e ideias suicidas.
BRASIL
Apesar da gravidade dos sintomas, só 42,7% das pessoas diagnosticadas no mapeamento estavam sendo tratadas por um especialista. No grupo de países que incluía o Brasil, esse índice era ainda menor: 33,9%.
"A pessoa não tem acesso ao sistema de saúde, ou acha que os sintomas são resultado do uso de drogas", diz a psiquiatra Laura Helena de Andrade, coordenadora de epidemiologia do Instituto de Psiquiatria da USP e responsável pela coleta de dados na Grande São Paulo.
Segundo ela, é comum um bipolar receber diagnóstico de depressão, porque a manifestação de euforia pode ser mais leve. "E é muito mais comum a pessoa só ir buscar tratar a depressão, porque ela incomoda mais. Mas, se o médico ministrar antidepressivos, pode desencadear episódios de mania, com aumento da irritabilidade", diz.
Segundo o estudo, esse transtorno é mais incapacitante do que cada um dos tipos de câncer, e mais até que Alzheimer. Bipolares sofrem por mais anos com os prejuízos do transtorno, em comparação aos outros doentes.
O dado foi extraído de um relatório da OMS segundo o qual a bipolaridade representa 0,9% das doenças incapacitantes, logo à frente do Alzheimer, com 0,8%.
"A pessoa já começa a ter problemas na adolescência ou no começo da vida adulta e, ao longo do tempo, vai perdendo habilidades como capacidade de raciocínio, memória e concentração", diz o psiquiatra Ricardo Moreno, que coordena o programa de transtornos afetivos do Instituto de Psiquiatria.
O psiquiatra Eduardo Tischer, da Unifesp, acrescenta: "A doença é crônica, e leva meses para que o paciente consiga se restabelecer. Enquanto isso, ele sofre prejuízos no trabalho e suas relações familiares pioram".
O não tratamento só piora os sintomas. "A pessoa tem mais chances de recorrer a drogas, álcool e de cometer suicídio", afirma Tischer.
Portador pode ter problemas com drogas e álcool
Além de destacar a taxa de prevalência da doença, o levantamento encontrou outros problemas mentais associados à bipolaridade.
Três quartos das pessoas que tinham o distúrbio apresentavam também outra condição psiquiátrica, como ansiedade e abuso de álcool e drogas.
Para Ricardo Moreno, o consumo dessas substâncias se explica pela alta impulsividade, especialmente durante a manía.
Além disso, 16% dos bipolares já tentaram suicídio alguma vez na vida.
"O risco é maior porque a depressão bipolar costuma ser mais grave e, geralmente, associada a comportamentos impulsivos", diz Andrade.
→ Fonte: Correio do Estado
O que é? - Obsessão.
A proposta da coluna "O que é?" é trazer, numa linguagem objetiva e rápida, informações sobre os principais transtornos mentais, para que o leitor possa ter em poucas palavras o que de fato é importante saber.
Obsessões ou pensamentos obsessivos são idéias recorrentes/repetitivas, intrusivas/invasivas, geralmente de conteúdo aversivo/repugnante/negativo, que invadem a consciência da pessoa e produzem ansiedade, angústia, sentimento de culpa, medo e desespero.
A pessoa fica muito incomodada com os pensamentos, pois não consegue se desligar deles naturalmente, eles interferem nas suas atividades cotidianas, na capacidade de concentração e de planejamento. A pessoa fica remoendo aquelas idéias sem parar, podendo levar ao esgotamento ou estafa mental, causar insônia, tristeza, sensação de enlouquecimento e até ideação suicida.
Os tipos mais comuns de pensamentos obsessivos são:
- idéias de algo de ruim ou catastrófico poderá ocorrer a alguém da família ou a pessoa próxima (acidente, assalto, sequestro, morte, etc) - essas idéias podem ter explicações baseadas na realidade em que se vive, como morar em local violento ou perigoso, mas a preocupação é nitidamente exagerada e domina a consciência e o comportamento da pessoa num dado momento.
- idéias de ciúmes e de posse (achar que está sendo traído, que o companheiro ou companheira pode ter outra pessoa) - esses pensamentos podem levar a comportamentos compulsivos, como ligar repetidamente para a pessoa, seguí-la, controlá-la à distância, monitorá-la excessivamente, etc.
- idéias de contaminação e sujeira, podendo gerar rituais compulsivos de limpeza.
- idéias de dúvida, gerando a necessidade de verificação ou confirmação (será que fechei a porta? Será que deliguei o gás? Será que a pessoa me deu a informação correta? Será que li certo?)
- idéias sexuais aversivas (incesto, pedofilia, pornografia), que geram muito sentimento de culpa e a necessidade de pedir perdão, se purificar, rezar.
- vários outros tipos: a classificação como idéia obsessiva está mais na forma do que no conteúdo, portanto, o que existe em comum é o fato de serem idéias repetitivas, invasivas, que incomodam a pessoa, mas que ela não consegue parar de pensar. Existem alguns tipos em que a pessoa fantasia uma história, como se viajasse por um mundo próprio, geralmente mágico, com riquezas, posses, poderes, passa horas pensando nisso, mas não perde a conexão com a realidade, se indagada sabe não se tratar de um fato verídico.
Aliás, muitas vezes os pacientes não comentam sobre essas idéias. É diferente do delírio, em que a pessoa realmente acredita naquilo.
As idéias obsessivas podem também vir ainda na forma de ruminações sobre acontecimentos do presente, em que a pessoa fica pensando naquilo repetidamente, sem conseguir desviar-se, a ponto de lhe causar estresse ou angústia, interferir em outras atividades cotidianas.
Uma característica importante é que as obsessões tendem a piorar muito com o estado de ansiedade, ou seja, se a pessoa estiver sob estresse, ela pode ter mais pensamentos obsessivos do que em períodos mais amenos. Como a própria obsessão gera estresse, isto provoca uma reação em casacata que culmina num ciclo vicioso em que obsessões são capazes de gerar mais obsessões.
O pensamento obsessivo é erroneamente confundido com TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo, transtorno em que pensamentos obsessivos são uma característica central.
Na verdade, pensamentos obsessivos ocorrem em vários outros transtornos mentais, podendo se afirmar que a maioria dos pacientes com pensamentos obsessivos não tem TOC, mas um outro transtorno, cuja obsessão faz parte. Portanto, somente a avaliação médica adequada poderá chegar ao diagnóstico.
Listamos as doenças que mais comumente apresentam pensamentos obsessivos como um dos sintomas importantes:
- Transtornos de humor, principalmente do espectro bipolar (TBH, ciclotimia), mas também depressão.
- Psicoses, como Esquizofrenia, Transtorno Esquizoafetivo, dentre outros (atenção, pois pensamentos obsessivos são comuns no início dos quadros, antes mesmo do primeiro surto).
- Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)
- Alcoolismo - principalmente após muitos anos de doença, sendo mais comuns as obsessões de ciúme e posse.
- Fobia Social - pensamentos obsessivos de dúvida, sobre o que os outros estão pensando dele, em função da ansiedade social.
- Transtorno do Pânico - pensamentos obsessivos acerca de passar mal e ter uma nova crise, de que algo ruim irá acontecer.
- Ciúme patológico
- Transtornos de Tiques e Sindrome de Gilles de la Tourette, comumente estão associados a obsessões e compulsões.
- Transtornos de Personalidade
- Transtornos Alimentares, como anorexia e bulimia, principalmente na forma de pensamentos repetitivos acerca da imagem corporal.
- Dependência química
- Várias outras
É importante compreender, portanto, que as obsessões são sintomas que podem ocorrer em quase todos os transtornos mentais e que a maneira de tratar depende de cada transtorno de base. Em geral, melhorando do transtorno de base, as obsessões também melhoram. A psicoterapia mais indicada para o tratamento dos sintomas obsessivos é a Cognitivo-comportamental.
Tal pai, tal filho?
Duas reportagens recentes abordaram o efeito que quadros psiquiátricos nos pais podem ter sobre os filhos, trazendo consequências negativas para a saúde mental dos pequenos, seja já na infância ou, posteriormente, na adolescência e vida adulta. Vale a leitura e a reflexão.
Pais depressivos batem mais em crianças de até um ano
Depressão pós-parto da mãe e desemprego do pai são as causas do comportamento violento
Pais depressivos tendem a bater muito mais em seus filhos pequenos do que os pais que não sofrem do problema. Uma pesquisa divulgada nesta semana apontou que ao menos 40% dos pais que sofrem da doença batem nos filhos de até um ano, contra 13% dos pais que não apresentam a depressão. O estudo foi divulgado no jornal Pediatrics.
Uma das causas apontadas, segundo o autor do estudo, Neal Davis, da Universidade de Michigan, indica problemas de depressão pós-parto e a depressão pela falta de emprego.
- A depressão entre pais está fortemente vinculada às taxas de desemprego, que são muito maiores agora do que uma década atrás.
E a depressão pós-parto, mais comum em mulheres, tem potencial de atingir até 25% delas após o parto, segundo estimativas. Nos casos mais graves, levam a comportamentos extremos, que fazem as mães matarem os próprios filhos.
O resultado partiu de uma análise de dados de 1.746 pais extraídos de um exame realizado em 16 grandes cidades dos EUA, entre os anos de 1999-2000. Os homens foram questionados sobre sintomas de depressão, hábito de bater nos filhos e suas interações com crianças de até 1 ano.
Globalmente, 7% deles já tinham expressado sintomas recentes de depressão.
A Academia Americana de Pediatria e especialistas em desenvolvimento infantil advertem contra bater em crianças de qualquer idade. Outros estudos têm mostrado que as crianças que são espancadas correm risco de serem abusadas fisicamente e se tornarem agressivas.
Os pesquisadores disseram que palmada é especialmente preocupante em crianças, porque a medida corretiva tem muito mais chance de machucar a criança, sem ajudar, de fato, em sua educação. “[as crianças] não conseguem entender a conexão entre seu comportamento e a subsequente punição", diz Davis. Fonte: R7.com
Depressão pós-parto da mãe e desemprego do pai são as causas do comportamento violento
Depressão de pais pode prejudicar os filhos
Pais deprimidos podem ser negativos em relação aos seus filhos, fazendo com que eles se estressem mais facilmente.
A descoberta foi feita em um estudo que tinha como objetivo analisar a relação entre o temperamento nos primeiros anos de vida da criança e os riscos de desenvolvimento de depressão. Como a depressão infantil é uma doença rara nos anos iniciais, as crianças começaram a participar do estudo quando tinham três anos, para que os cientistas pudessem acompanhar o desenvolvimento da doença caso ela surgisse.
Como no período inicial do estudo nenhuma das crianças apresentava sinais de depressão, os cientistas fizeram experimentos para medir como situações estressantes as afetavam. Intercalando os experimentos com jogos e atividades divertidas, os pesquisadores analisaram o comportamento dos participantes enquanto eles lidavam com o estresse ou a frustração. Em um teste, a criança era deixada sozinha em uma sala onde entrava um homem estranho que tentava conversar com ela. Em outro, ela recebia uma caixa transparente com um brinquedo trancado dentro e um molho de chaves que não tinha a chave que podia abrir a fechadura. Após os experimentos os pesquisadores mediram os níveis de cortisol – o hormônio do estresse – em amostras de saliva das crianças.
As mães foram mais presentes no estudo. Poucos pais participaram do estudo, e por isso não foi possível analisar bem como eles lidavam com seus filhos. As mulheres foram avaliadas enquanto interagiam com a criança em atividades e tarefas. Atenção especial foi dada a qualquer hostilidade que a mãe dirigisse à criança, como comentários negativos ou sinais de raiva e frustração.
Os resultados dos testes mostraram que as crianças que tinham os níveis mais altos de estresse eram filhas de mães que tiveram depressão nos primeiros três anos de vida do filho. As crianças de mães que tinham comportamentos hostis durante as atividades compartilhadas apresentaram o mesmo resultado.
O estudo sugere uma abordagem das formas como a depressão dos pais pode afetar a criança e até mesmo levá-la a desenvolver a doença. A co-autora da pesquisa Lea Dougherty, da Universidade de Maryland, acha que a descoberta é “bem esperançosa, porque se nós nos concentramos nos cuidados dos pais, nós podemos realmente intervir cedo e ajudar pais com depressão crônica quando eles têm filhos”. Fonte: UOL
O que é? - Sindrome do Pânico.
A proposta da coluna "O que é?" é trazer, numa linguagem objetiva e rápida, informações sobre os principais transtornos mentais, para que o leitor possa ter em poucas palavras o que de fato é importante saber.
O primeiro diagnóstico escolhido é a Síndrome do Pânico.
Caracterizada na maioria das vezes por ataques súbitos de falta de ar, taquicardia, sudorese, tremores, sensação de morte ou doença (p.ex. achar que está tendo um infarto), geralmente auto-limitados e que não duram mais do que 20 minutos. Melhora com tranquilizantes ou com o simples atendimento médico, seja no hospital ou consultório, mas tende a ser recorrente, com crises repetidas ao longo da semana ou num mesmo dia, isto se não for tratada logo. Outra complicação que vemos é o medo que a pessoa desenvolve de sair sozinha por receio de passar mal, de frequentar lugares fechados ou com muita gente, acreditando que naquele ambiente será difícil obter socorro. A preocupação de quem sofre da Sindrome do Pânico é sempre de não ter a crise e ela pode passar a monitorar seus batimentos cardíacos e respiração, disparando um alerta no primeiro sinal de anormalidade. Sendo assim, podem ocorrer ataques de pânico desencadeados por exercícios físicos, relação sexual ou estresse.
Uma outra apresentação, bem menos comum (cerca de 10% dos pacientes), é na forma gastrointestinal, através de ataques de diarréia e/ou vômitos, geralmente precedidos por cólicas ou enjôos que fazem a pessoa buscar um banheiro rapidamente. Esses pacientes geralmente procuram gastroenterologistas e alguns são diagnosticados com Síndrome do cólon irritável. O diagnóstico é mais difícil do que na forma respiratória, porém este tipo também gera o comportamento evitativo, como deixar de sair ou ter medo de sair com receio de ter uma crise e não conseguir achar um banheiro a tempo e também pode ser desencadeada pelo estresse (p.ex. uma reunião de negócios ou uma prova). As crises também são de curta duração, geralmente o paciente se sente aliviado depois que vai ao banheiro, mas permanece o medo de uma nova crise.
O tratamento envolve medicação (ansiolíticos e antidepressivos) e psicoterapia e o prognóstico é muito variável, a maioria tem boa resposta, mas alguns podem precisar de um tempo mais prolongado de tratamento, principalmente se ocorrer agorafobia (medo como de sair à rua ou de frequentar locais públicos).
Um aspecto importante e muitas vezes negligenciado é que a Síndrome do Pânico pode preceder outros transtornos mentais por meses ou até anos, principalmente os Transtornos de humor (depressão, ciclotimia ou transtorno bipolar). Mais raramente pode preceder a esquizofrenia e o transtorno esquizoafetivo, por isso a necessidade do paciente manter seu acompanhamento médico, mesmo depois de suspensa a medicação. O psiquiatra pode decidir tratar o transtorno de base (se este já for aparente no momento dos ataques de pânico), o que melhora muito os sintomas.
Reportagem no Fantástico sobre a alta programada do INSS
Você adoece, não consegue mais trabalhar, precisa se tratar para conseguir recuperar sua capacidade laborativa. Seu médico decide lhe afastar e o encaminha para a perícia do INSS. O que parece ser simples e um direito do trabalhador pode se transformar num calvário e num pesadelo. O perito não concorda com seu afastamento, julga que você tem condições de trabalho e te dá alta. A empresa, por sua vez, não reconhece que você tem condições de trabalho, exige um laudo do seu médico liberando-o, afinal, não quer assumir a responsabilidade caso algo de ruim lhe aconteça. De fato, você ainda não está em condições. Você fica sem salário, não tem como custear seu tratamento e passa necessidades. Seu quadro piora pelo estresse e você não tem apoio do Governo, apesar de pagar seus impostos e previdência em dia!
Infelizmente isso tem acontecido com uma frequência cada vez maior. Todo o médico que possui pacientes afastados (e a psiquiatria é, junto à ortopedia, a especialidade que mais afasta do trabalho) conhece bem esta realidade. Pacientes se queixam de serem maltratados e algumas vezes humilhados na perícia, sentindo-se como se estivessem fraudando a previdência ou simulando alguma doença grave. Não raro pioram muito de seu estado psíquico antes e depois da perícia médica, necessitando de aumento das dosagens dos medicamentos para passarem pelo trauma que se tornou a perícia do INSS.
Não é possível que as autoridades da previdência ainda não fizeram um diagnóstico desta situação, que é tão clara para nós médicos e pacientes. Parabéns ao Fantástico da Rede Globo por ter abordado este tema! Espero que a situação mude também com a nova lei que suspende a alta programada. Desejamos que as perícias sejam mais criteriosas e humanas, como é o atendimento médico que essas pessoas muitas vezes recebem.
Governo quer proibir medicamentos para emagrecer.
O Brasil é um dos países com a maior receita de anfetaminas e emagrecedores do mundo, o Governo nunca controlou bem a comercialização deste tipo de medicamento no país, agora parece ter acordado para o problema.
A sibutramina já foi proibida na Europa, o laboratório que a desenvolveu já suspendeu a produção no mundo todo, restando apenas genéricos e similares. Com certeza estas medidas não foram à toa.
Anfetaminas aceleram o metabolismo, emagrecem, mas deixam as pessoas dependentes delas. Algumas surtam e tem problemas psiquiátricos graves, que depois requerem um tratamento independente e por longo período. O problema que não se tem como prever quem vai reagir mal à medicação. É um risco! Isto sem falar que a maioria dos pacientes que usaram anfetaminas ganharam tudo o que perderam e um pouco mais depois que pararam o remédio.
O que emagrece é mudança de hábitos, atividades físicas, tratamento da compulsão, se houver (com psicoterapia e medicação anti-compulsiva). Nem a sibutramina e nem a anfetamina são capazes de tratar a compulsão, pelo contrário, já vi pacientes piorarem da compulsão com esses medicamentos por se tornarem mais impulsivos.
Proposta de proibir os emagrecedores que atuam no sistema nervoso central, como a sibutramina e os derivados de anfetamina, foi anunciada a entidades médicas da área; para especialistas, decisão é radical e deixará pacientes sem alternativa de tratamento.
O reinado dos remédios emagrecedores está por um fio. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quer banir de vez a comercialização de todas as drogas usadas para emagrecer que atuam no sistema nervoso central: a sibutramina e os derivados de anfetamina (femproporex, dietilpropiona e mazindol).
A única droga para o tratamento da obesidade que continuará liberada será o orlistate (Xenical), que atua diretamente no intestino, reduzindo em cerca de 30% a absorção de gordura.
Diante de estudos que apontam que o consumo de sibutramina aumenta o risco de problemas cardíacos, desde o ano passado a Anvisa impôs novas regras e endureceu os critérios de venda dessa droga - considerada de primeira classe no tratamento da obesidade. Ela deixou de ser vendida como medicamento comum e passou a integrar a categoria dos anorexígenos, drogas que exigem receita especial.
A proposta de proibir os emagrecedores foi anunciada a especialistas e entidades médicas da área na semana passada e será publicada hoje no site da agência, junto com um parecer explicando os motivos.
Radical. Para médicos endocrinologistas que atuam no combate à obesidade, a medida é radical demais e vai deixar os pacientes sem opção de tratamento, já que o controle da fome e da saciedade ocorre no cérebro.
"Quase metade da população brasileira tem sobrepeso. Muitos pacientes não conseguem perder peso com o tratamento clínico convencional, que inclui dieta e exercícios físicos. Como vamos controlar a obesidade desses pacientes sem mexer no cérebro?", diz o endocrinologista Márcio Mancini, chefe do departamento de obesidade do Hospital das Clínicas (HC).
Segundo Mancini, o estudo no qual a Anvisa se baseia para tentar banir a sibutramina foi feito em pacientes com mais de 55 anos, com doença coronariana. "Nós já não indicávamos sibutramina para pacientes cardíacos. O que vamos fazer com o resto da população obesa?"
A presidente da Associação Brasileira para Estudos da Obesidade (Abeso), Rosana Radominski, afirma que a Anvisa não considerou as atuais diretrizes sobre tratamento da obesidade. "Os técnicos não levaram isso em consideração. Como eles defendem mudanças de hábitos e exercícios físicos, ficará a ideia de que só é gordo quem quer. Colocaram no mesmo saco o profissional sério e os que promovem o uso indiscriminado dessas drogas. O correto seria intensificar a fiscalização."
A endocrinologista Cláudia Cozer, diretora da Abeso, concorda. "A grande maioria dos pacientes toma esses remédios com critério e com acompanhamento. Retirar do mercado é uma medida drástica."
Fonte: O Estado de São Paulo (15/02/11)
Estudo sobre o crack no Brasil (UNIFESP)
Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) acompanharam por 12 anos 107 dependentes de crack. Após esse período, 40% haviam parado de consumir a droga, 25% estavam mortos, 12% presos e 20% continuavam dependentes. Entre os que ainda faziam uso frequente, mais da metade estava empregada. Do total, 29% estavam abstinentes havia pelo menos cinco anos.
Os 107 pesquisados passaram por cerca de três semanas de internação no Hospital Geral de Taipas entre 1992 e 1994. Depois da alta, foram submetidos a três avaliações: após dois, cinco e 12 anos. Ao longo desse tempo, verificou-se uma diminuição no ritmo de mortalidade, o que, segundo a principal autora do estudo, a psicóloga Andrea Costa Dias, revela que os usuários se adaptaram ao contexto de violência do crack e desenvolveram estratégias para minimizar o risco associado ao consumo da droga. "As mortes por crack são principalmente causadas pela violência. Nossa hipótese é que os usuários foram aprendendo a lidar com a polícia, com os traficantes e desenvolveram estratégias para evitar a overdose e conseguir manter um uso controlado", afirma.
Os dados da pesquisa, continua Andrea, mostram que há diversos padrões de consumo da substância e contrariam a ideia de que o crack é uma droga avassaladora, que mata em pouco tempo e deixa pouca margem para recuperação. "Existe uma aura de terror em torno da droga que acaba estigmatizando os usuários. Isso faz, por exemplo, que os profissionais de saúde se sintam menos motivados em ajudá-los."
Segundo a autora, não foi possível identificar os fatores determinantes para a recuperação dos dependentes. Mas verificou-se que a interrupção no uso estava associada à busca por outros tratamentos após a internação no Hospital Geral de Taipas, ao aumento na empregabilidade e a atividades religiosas.
Para o cientista social Luiz Flavio Sapori, autor do livro "Crack: um desafio social", o dado mais relevante é o alto índice de mortalidade no grupo. "Mais de 30% dos usuários ou morreram assassinados ou foram presos. É um índice muito maior que o de qualquer outra droga e absolutamente preocupante", diz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Globo.com
Reportagem do Jornal O Globo sobre a Psicocirurgia no TOC
A lobotomia e o eletrochoque, práticas que no século passado eram usadas para tratar doenças mentais, estão sendo atualizadas e ganham novas aplicações, como, por exemplo, o controle do transtorno obsessivo compulsivo, o TOC. A volta dessas técnicas, que já foram usadas até em tortura, causa polêmica e põe de um lado aqueles que argumentam ser a última chance para pessoas que sofrem de distúrbios graves sem solução com métodos de rotina, e críticos, que afirmam se tratar de opções experimentais que levam pacientes a correrem riscos. Para eles, não há provas da validade dos novos métodos.
Pela primeira vez desde que a lobotomia (retirada parcial ou total de um lobo do cérebro) caiu em descrédito na década de 50, cirurgias para tratar transtornos de comportamento ganham adeptos, mas geram polêmica. Nos EUA, ela gira em torno da operação para tratar o TOC.
Há dois anos, a agência americana que controla drogas e alimentos (a FDA) aprovou essa operação, mas em artigo na revista "Health Affairs" especialistas dizem que isso foi um erro. Segundo eles, a técnica não foi suficientemente testada, nem a sua eficácia a longo prazo nem os seus efeitos colaterais são bem conhecidos.
- Não somos contra a operação, mas queremos vê-la corretamente testada antes de ser indicada - disse o principal autor do artigo, Joseph Fins, chefe de ética médica do hospital NewYork-Presbyterian. - Com a herança da psicocirurgia, é importante não deturpar as coisas, dizer que é algo é tratamento quando não é.
Na verdade, a técnica para aliviar o TOC, a estimulação cerebral profunda (DBS, na sigla em inglês) é conhecida há décadas, mas só atualmente tem sido mais aplicada. Basicamente é o implante de eletrodos dentro do cérebro para ativar determinadas áreas. Os autores do artigo na "Health Affairs" citam pelo menos um estudo para ficar com o pé atrás com relação à psicocirurgia. Cientistas suecos observaram que pessoas submetidas a outro tipo de cirurgia para TOC (a capsulotomia, que corta circuito cerebral) apresentavam apatia e dificuldade de autocontrole.
Ainda para os críticos, o interesse comercial é que tem impulsionado o uso da DBS. Mas os médicos que usam o método discordam.
- Os pacientes são capazes de tomar decisões com base em nossa experiência - disse Wayne Goodman, da Escola de Medicina Mount Sinai. - Eu não gostaria de privá-los da opção. Sua vidas têm sido tão destruídas pelo TOC que eles poderiam pensar em suicídio se não existisse a opção cirúrgica.
Segundo defensores das técnicas, seus críticos não têm experiência com TOC.
- Acho que a FDA agiu certo - diz Benjamin Greenberg, da Universidade de Brown. - Dados sobre eficácia da DBS não são exatos, e estamos fazendo estudos mais substanciais.
Para o neurocirurgião Alexandre Castro do Amaral, responsável pelo Ambulatório de Neurocirurgia Funcional e Dor do Hospital dos Servidores do Estado do Rio e professor do Instituto de Pós-graduação Carlos Chagas, parte das críticas a técnicas como a DBS se deve ao fato de remeterem à lobotomia, usada muito tempo por regimes autoritários para torturar e punir inimigos.
- Hoje as técnicas em neurocirurgia não têm relação com a lobotomia, que deixava a pessoa abobada. No caso de TOC e Parkinson a estimulação cerebral profunda, quando bem indicada, pode ser a única opção - diz Amaral. - Já existe protocolo para controlar distúrbios alimentares.
Uma medida para casos extremos
Amaral reforça que a cirurgia para TOC só é aprovada em casos extremos, quando nenhum outro tratamento clínico resolve, e ela deve ter pelo menos o aval do psiquiatra do paciente e um outro, neutro. Quanto ao eletrochoque, a eletroconvulsoterapia para depressão grave, Amaral afirma que ela tem indicação.
- Cerca de 20% dos doentes com depressão não respondem a qualquer tratamento, e 30% vão tentar o suicídio. O eletrochoque não vai curar a depressão, mas o paciente ficará livre das crises por algum tempo e poderá responder melhor aos medicamentos - explica.
O neurocirurgião José Oswaldo de Oliveira Júnior, da Central de Dor do Hospital A.C. Camargo , defende a aplicação da neurocirurgia para transtornos mentais apenas em casos bem selecionados e avaliados por uma equipe multidisciplinar.
- Alguns dos tratamentos em psicocirurgia ainda precisam ser validados, outros estão estabelecidos, como no mal de Parkinson. Já esquizofrênicos, por exemplo, poucos melhoram com a DBS. É preciso analisar com muito cuidado cada situação.
Fonte: O Globo - 16/02/11
Pílulas da felicidade, elas existem?
Vale a pena assistir ao Programa Espaço Aberto Saúde, da GloboNews, veiculado no último dia 9. Traz informações esclarecedoras e diferentes pontos de vista para que o espectador possa tirar suas próprias conclusões.
A prescrição de medicações psicotrópicas, como calmantes, antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos, deve ser criteriosa. São medicamentos muito eficazes para o tratamento de transtornos mentais e que podem devolver a paz e a estabilidade para quem sofre desses males. Não se pode negar sua utilidade na medicina, quem faz o tratamento e melhora com eles, sabe do que estou falando.
O maior problema é quando se receitam medicamentos deste tipo passando por cima da clínica, ou seja, sem a justificativa terapêutica que deveria nortear o bom uso desses remédios. Exemplos de como esses medicamentos não deveriam ser prescritos incluem: antidepressivos para tristezas temporárias e reações estressantes que fazem parte da vida (não se espera a resolutividade natural de alguns episódios reativos, como luto, desemprego, traumas); calmantes para dormir (existem remédios mais modernos que possuem efeito hipnótico sem o risco de deixar a pessoa dependente o resto da vida); antidepressivos para emagrecer (acho um verdadeiro absurdo, não são medicamentos para isso!); utilização de drogas para aumentar a performance (exemplos clássicos: Ritalina antes de provas, Rivotril antes de uma entrevista de emprego, etc).
O que as pessoas precisam perceber é que o uso indevido desses medicamentos pode trazer problemas de saúde mais graves do que a finalidade para a qual está se usando o medicamento pela primeira vez. Somente o especialista sabe avaliar se aquela pessoa pode ou não utilizar determinado medicamento, se está indicado ou não, por quanto tempo e quais os riscos que ela corre tratando ou não. Em medicina tudo envolve risco/benefício. É preciso colocar na balança e ver o que será mais interessante para a pessoa naquele momento e deixá-la o mais consciente possível desta escolha.
Agora, chamar esses medicamentos de pílulas da felicidade é forçar a barra. Em mais de 10 anos de profissão nunca vi esses medicamentos trazerem felicidade. Medicamentos tratam doenças e, a partir de uma estabilidade, cabe a cada um correr atrás de sua felicidade. Neste sentido, um tratamento pode viabilizar a busca pela felicidade, mas não a trará de bandeja para ninguém.
EUA avançam em 1º teste de Alzheimer
Exame revela formação de placas no cérebro que indicam o desenvolvimento da doença, antecipando o diagnóstico.
Um comitê consultivo da FDA (Federation Drugs Administration, da sigla em inglês para a agência americana que regula remédios e alimentos) recomendou na semana passada a aprovação do primeiro teste para doença de Alzheimer. Trata-se de um exame de imagem que mostra as placas no cérebro que causam a doença. Até agora, as placas só podem ser vistas em autópsias. A aprovação pondera que os radiologistas devem entrar em consenso sobre o que dizem os exames e os médicos devem ser treinados para lê-los.
A FDA geralmente segue as indicações do comitê, e especialistas em Alzheimer afirmam que o exame seria aprovado. As condições colocadas pelo órgão não devem trazer empecilhos, segundo Daniel Skovronsky, diretor-executivo da empresa Avid Radiopharmaceuticals, que produziu o exame. “Nós não sabemos exatamente o que a FDA vai querer”, disse Skovronsky. “Mas esse tipo de consenso deve levar meses, não anos.”
As placas fazem parte do critério de diagnóstico do Alzheimer – se uma pessoa com problemas de memória não tem essas placas, ela não é portadora da doença. Mas, sem as imagens, o único modo de detectar a presença delas é por meio de autópsia. “Será um grande avanço”, diz Pierre N. Tariot, diretor do centro de distúrbios da memória do Banner Alzheimer’s Institute, em Phoenix, EUA.
Irreversível
O teste consiste no uso de um corante que se fixa à placa no cérebro, tornando-a visível em tomografias. Esses exames teriam muita importância em uma situação comum e problemática – tentar fazer o diagnóstico quando ainda não está claro se os problemas de memória do paciente são decorrentes do Alzheimer ou de outro fator. Mesmo se a pessoa for diagnosticada como portadora da doença de Alzheimer, ainda não há tratamento que retarde ou reverta o seu avanço, embora novas drogas estejam sendo testadas para diminuir essas placas.
Os médicos afirmam que ter um diagnóstico é importante para compreender o que está por vir. Também é importante para que os familiares do paciente saibam da doença, já que o risco de desenvolver o Alzheimer é maior se seus pais ou irmãos são portadores. O parecer do comitê “foi um grande passo”, diz Reisa Sperling, diretora do centro de pesquisa em Alzheimer do Brigham and Women’s Hospital, de Boston, EUA, acrescentando que, com esses exames, os médicos não mais farão suposições sobre os dados clínicos.
Intuição
O problema envolvendo a interpretação dos indicativos surgiu porque, no estudo da Avid, radiologistas não estabeleceram um limite para determinar quando a pessoa tem um volume significativo de placas. Em vez disso, foram feitas análises em níveis. O que é necessário, na prática, é estabelecer um ponto capaz de dizer “sim” ou “não”, e distinguir entre o que seriam quantidades significativas ou não de placas. A empresa deve provar ainda que o critério é preciso e que diferentes radiologistas interpretam o mesmo exame da mesma forma.
Algumas pessoas têm placas, mas não são portadoras de Alzheimer. Então, se o exame acusar a existência delas, os médicos devem usar seu julgamento clínico ao decidir sobre os resultados, levando em conta os sintomas do paciente, segundo P. Murali Doraiswamy, pesquisador do Alzheimer na Universidade Duke e investigador clínico dos testes realizados pela Avid. Mas, se o exame não indicar a formação de placas, a solução é mais simples, afirma Doraiswamy. Significa que os médicos devem procurar outras causas para os sintomas. “Essa técnica vai permitir que médicos de família se sintam mais confiantes ao apontar o Alzheimer”, disse. “Até agora, nós tínhamos que intuir se alguém tinha placas.”
Em 2008, um comitê da FDA afirmou que, para a aprovação do uso do pigmento, a empresa deveria mostrar que os exames estavam detectando as mesmas placas encontradas na autópsia.
A Avid fez esses testes usando pessoas próximas da morte que concordaram tanto em ter as imagens da tomografia colhidas quanto as autópsias em seus cérebros. A empresa também testou jovens que, presumivelmente, não teriam essas mesmas placas no cérebro. Os exames não acusaram a existência delas entre esses jovens.
Marco
A expectativa para a aprovação do novo teste é grande. Até mesmo Norman Foster, professor de neurologia na Universidade de Utah e consultor da GE Heatlhcare, que também está desenvolvendo um exame próprio para detectar as placas, pediu a aprovação do procedimento da Avid. “Médicos ainda têm pouca confiança na própria habilidade de determinar a causa da demência e, como resultado, eles muitas vezes nem arriscam”, diz. Com isso, famílias são deixadas no limbo, sem condições de planejar o futuro ou saber se o problema que têm é Alzheimer ou, se não, acabam demorando para procurar tratamento. “Os custos preventivos são enormes”, afirma Foster. “O preço emocional é incalculável”.
O professor cita os casos de três pacientes que vinha atendendo nas últimas duas semanas e que tinham se beneficiado do exame. Um deles era um homem de 70 anos com problemas de memória e depressão. Ele foi diagnosticado como depressivo, mas só quando passou dois anos piorando ficou claro que provavelmente era portador de Alzheimer. “Eu gostaria de ter tido a capacidade de fazer um exame como esse para um diagnóstico mais precoce”, afirma Foster. “A aprovação seria um avanço histórico na neurologia e no cuidado diário de pacientes com queixas de falta de memória”. Com a recomendação do comitê, Doraiswamy afirma: “É um marco no nosso campo”.
Fonte: Gazeta do Povo - Vida e Cidadania
Carta Aberta da Associação Brasileira de Psiquiatria para o Ministro da Saúde
Caro Sr. Ministro da Saúde Alexandre Padilha, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) recebeu com satisfação a nomeação de Vossa Excelência para o cargo de Ministro de Estado da Saúde.
Não só pelo seu passado médico sanitarista como também pela defesa da Medicina como um todo e com o inicio das recentes mudanças em órgãos fundamentais como a FUNASA e a ANVISA, que contam com nosso integral apoio.
Acreditamos inclusive que esta atitude de mudança deva atingir a Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, a partir da substituição de seu coordenador. Essa medida se concretizada, pode dar início à recuperação do sistema de assistência em saúde mental no Brasil.
Para seu conhecimento, há cerca de 20 anos a estrutura de atendimento em saúde mental vem sendo sistematicamente desmontada no país por grupos de interesses diversos.
Nos últimos dez anos o número de leitos psiquiátricos privados mais que duplicou, e o número de leitos públicos diminuiu de 120 mil para 36 mil; e isso ocorre ao mesmo tempo em que assistimos à escalada do crack, à judicialização da saúde e ao aumento de moradores de rua com transtorno psiquiátrico.
Outro dado assustador é o crescimentos da população carcerária com doença mental, cerca de 12%, sendo em números absolutos próximo de cerca de 60 mil desassistidos no sistema prisional, muitos que são doentes que cometeram pequenos delitos por ser moradores de rua, serem exploradores por traficantes etc. Estamos transformando as prisões em novos manicômios.
Fora isso, temos a crescente necessidade de ferramentas terapêuticas para o tratamento dos portadores de Transtornos alimentares, Transtornos Bipolares, Transtornos de Déficit de atenção e Hiperatividade, transtornos de ansiedade, transtornos depressivos, dependentes químicos e outros que não têm alternativa real de tratamento na rede pública.
Existe hoje um quadro grave de desassistência na área de saúde mental no Brasil. Saímos de um modelo Hospitalocêntrico falido e entramos em um modelo Capscêntrico sem eficiência provada. Este cenário, em grande parte, foi construído a partir do afastamento dos psiquiatras do planejamento das políticas públicas, de planejamento e de atendimento. Não temos nada na área de promoção da saúde, prevenção da doença e assistência escalonada 1ª, 2ª, 3ª implantado de forma resolutiva. Defendemos um modelo em rede que seja efetivo, com comprovada eficácia, eficiência e efetividade. Veja as Diretrizes aprovadas em resolução pelo CFM em Julho de 2010.
A Associação Brasileira de Psiquiatria há tempos tem alertado para a condução equivocada da saúde mental no país e sempre foi ignorada pela Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas. Confiamos na capacidade e na disposição do Ministério da Saúde em reverter esse quadro alarmante.
Desde já nos colocamos à disposição para auxiliar nessa tarefa tão árdua como necessária, desde a análise conjunta da equipe ideal, a indicação daqueles que atenderiam ao interesse público, sem conflitos de interesse, com a participação do CFM/AMB/FENAM.
A ABP e os Psiquiatras Brasileiros estão à disposição de Vossa Excelência para contribuir neste trabalho conjunto, de forma voluntária.
Desde já, com meus sinceros agradecimentos,
Antônio Geraldo da Silva - Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria
Estudo: Divórcio e risco de suicídio nos filhos.
Esta matéria do jornal O Globo nos leva a algumas reflexões: em primeiro lugar como é negativo para uma criança um ambiente hostil e hipercrítico, com brigas, humilhações, cobranças e terror psicológico. Eu acho que é isto que está em jogo, o quanto os pais se maltratam e maltratam os filhos ao longo de um processo de separação.
Depois, a união dos pais é importante para que a criança adquira segurança e maturidade emocional para a vida adulta. Não basta estarem casados, é preciso que os pais estejam em sintonia, a harmonia do lar é fundamental para este processo de amadurecimento. Quem tem filho pode perceber no dia-a-dia o quanto o afeto entre os pais é importante para a criança. Portanto, entre fingir que está tudo bem, mas viver às turras, talvez a separação ainda seja uma saída honrosa e saudável para todos.
Agora, o fundamental é que os pais, mesmo separados, não se esqueçam de suas responsabilidades e do papel afetivo que possuem para com seus filhos.
Este estudo chama muito a atenção pelo tamanho da amostra. São quase 7 mil adultos! É provável que ele aponte um resultado próximo à realidade. Precisamos cuidar melhor de nossos filhos e, sobretudo, da família, seu porto seguro.
Adultos que passaram pelo divórcio dos pais na infância têm mais probabilidade de serem considerados suicidas que seus pares de famílias intactas, sugere um estudo da Universidade de Toronto publicado esta semana no jornal Psychiatry Research.
Os pesquisadores examinaram diferenças específicas em uma amostra de 6.647 adultos, dos quais 695 tinham passado pela experiência do divórcio dos pais antes dos 18 anos. O estudo descobriu que homens de famílias divorciadas tinham mais que três vezes mais probabilidade de ideias suicidas quando comparados com aqueles com pais não divorciados. Já as filhas de pais divorciados tinham 83% mais probabilidade de suicídio que mulheres de lares não divorciados.
A relação entre o divórcio e as ideias suicidas é particularmente forte em infâncias estressantes devido ao abuso físico, pais viciados ou desempregados. Para mulheres que não tiveram essa infância infeliz a associação entre divórcio e suicídio não é significativa. Já homens, mesmo sem a experiência de uma infância de abusos, a ideia de suicídio aparece duas vezes mais do que homens que não têm os pais divorciados.
- A associação entre divórcio dos pais e pensamentos suicidas em homens foi muito forte, mesmo os que tiveram uma infância normal, mas estas descobertas não significam que crianças do divórcio estejam destinadas a se tornarem suicidas - diz Esme Fuller-Thomson, que liderou o estudo.
As explicações do impacto negativo nos homens varia, mas os pesquisadores acreditam que pode ser devido à falta de contato com o pai depois do divórcio. Estudos anteriores já tinham relacionado a perda da figura paterna ao desenvolvimento de comportamento hostil em meninos.
Angústia x Pânico: como diferenciá-las?
O termo angústia deriva de Angst, que em alemão significa "medo". De fato muitos pacientes definem angústia como um medo indefinido, uma apreensão, como se fosse um pressentimento de que algo ruim pudesse lhes acometer, mas a maioria dos pacientes não consegue identificar exatamente as causas para este sentimento. Isto torna a angústia diferente do pânico, uma crise de ansiedade acompanhada de sintomas físicos, como taquicardia, falta de ar, sudorese e sensação de morte, que gera um medo de passar mal ou morrer. No pânico o paciente identifica a razão do seu medo: se ele tivesse certeza de que as crises de pânico não mais ocorreriam, este medo acabaria.
No caso da angústia é diferente. As razões não são facilmente percebidas (podem até ser no decorrer do tratamento e da terapia). Ela também vem acompanhada de sintomas físicos, geralmente um aperto no peito, bem no meio do peito, atrás do esterno. É como se fosse uma dor constante, um desconforto que durasse por dias e o dia inteiro. Ela pode diminuir de intensidade, mas dificilmente desaparece por completo. É diferente do pânico, que vem em surtos ou crises, dá, fica em torno de 20 minutos, e depois desaparece como se não mais existisse, até a próxima crise. A angústia, não. Ela fica ali, como se estivesse querendo dizer algo que a pessoa não consegue entender.
Tanto o pânico como a angústia podem estar presentes em transtornos mentais como depressão, transtornos de ansiedade, transtornos de humor (como bipolaridade, ciclotimia, distimia, estados mistos), TOC, esquizofrenia, entre outros. O tratamento do transtorno de base em geral melhora este mal estar. A psicoterapia também é um tratamento importante, que permite à pessoa identificar e lidar melhor com os motivos que a levaram a este estado.
Leia abaixo a reportagem de Adriana Toledo, publicada na Revista Saúde é Vital deste mês.
Angústia é doença e tem cura
Ela gera um desconforto físico, psíquico e requer tratamento diferenciado. Saiba mais.
Chego pela manhã ao complexo do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e me dirijo ao primeiro andar do prédio do Instituto de Psiquiatria, onde sou recebida pelo chefe do departamento, o psiquiatra Valentim Gentil. Nosso objetivo é definido: caracterizar, com elementos concretos, o conceito de angústia. A missão é árdua. “Diferentemente do medo ou da ansiedade, que são experimentados pela maioria das pessoas, a angústia acomete menos de 50% da população. E nunca tive essa experiência, o que dificulta a tarefa de descrevê-la com precisão”, confessa. “Em geral, meus pacientes relatam uma agonia mental sem gatilho aparente, atrelada a um sufoco semelhante ao da asma, e uma dor ou compressão no peito”, descreve.
Incentivar o diagnóstico e um tratamento personalizado é a proposta de Gentil, que assina o artigo intitulado Why Anguish? — em português, Por que angústia? —, que acaba de ser divulgado na publicação científica inglesa Journal of Psychopharmacology. Isso porque, nas discussões entre especialistas do mundo todo, o sentido dessa emoção se esvaziou ao longo do tempo. E frequentemente ela é confundida com o distúrbio de ansiedade ou de pânico.
“Mas são comportamentos mentais diferentes, com padrões de ativação cerebral distintos”, defende Gentil. “A ansiedade é uma apreensão exagerada em relação ao futuro, enquanto a angústia é um sofrimento relacionado ao presente.”
Munida dos esclarecimentos sobre as manifestações físicas do sintoma, sigo ao consultório da psicanalista paulistana Maria de Lourdes Félix, que auxilia Gentil nas pesquisas sobre a face psicológica da angústia. “Meus pacientes costumam levar as mãos ao peito e reportar um sentimento de vazio. Sentem conflitos diante das inúmeras possibilidades de escolhas no dia a dia e questionam o sentido de sua existência”, conta. “Em casos extremos, essas pessoas são dominadas pela introversão. Elas perdem a capacidade de análise, de lidar com o cotidiano, de interagir socialmente. Ficam paralisadas.”
À luz do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), a psicóloga Marília Dantas, da Universidade Estácio de Sá, em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, traduz o mal-estar: “O ser humano sente desamparo, incerteza, falta de controle diante da liberdade de decidir. Optar por um caminho significa correr riscos, abrir mão das alternativas. Isso é angustiante”.
Reconhecer um quadro de angústia é uma função que cabe a especialistas. Mas os angustiados de plantão podem contribuir, fornecendo detalhes de como se sentem. É o que constatei nas conversas durante os trajetos de consultório em consultório. A pergunta que fiz a motoristas, recepcionistas, colegas e pedestres com quem cruzei no caminho era sempre a mesma: o que é angústia para você? As respostas variaram. “É pensar como seria minha vida se eu tivesse estudado psicologia.” Ou “É um beco sem saída dentro do peito”. Ou ainda “É uma incerteza sobre as consequências das decisões que tomei”.
Infelizmente, a maioria dos angustiados só procura ajuda especializada quando a sensação ruim beira o insuportável. “Eles chegam ao pronto-socorro com dor e opressão no tórax, peso e desconforto no peito”, confirma o cardiologista César Jardim, supervisor do pronto-socorro do Hospital do Coração, em São Paulo. Os sintomas se assemelham aos de problemas cardiológicos, como infarto. “Mas os problemas cardiovasculares só se confirmam em 30% dos casos”, estima. Ele conta que, depois de realizar exames e apontar que o sujeito está em condições perfeitas de saúde, os pacientes confessam que vêm se sentindo nervosos e… angustiados.
Quando é assim, excluída a presença de doenças físicas, o passo seguinte deveria ser a visita a um psiquiatra. “Há hipóteses de que a angústia seja desencadeada por uma maior ativação de uma região chamada ínsula, no córtex cerebral, relacionada à percepção de funções viscerais, como as do coração, do diafragma e dos pulmões”, explica Valentim Gentil. “Por isso, acreditamos que suas vítimas possam responder bem a calmantes chamados benzodiazepínicos, a alguns antipsicóticos e a uma classe de antidepressivos conhecida como tricíclicos”, continua. “A imipramina é um dos principais medicamentos desse grupo e se mostra eficaz, apesar de promover eventuais efeitos colaterais, como tonturas e alterações cardíacas”, completa seu colega Jair Mari, da Universidade Federal de São Paulo. Essa droga modula neurotransmissores como a noradrenalina, substâncias que agem no cérebro e controlam as emoções.
O ideal é complementar esse tratamento com o de um psicólogo ou psicanalista. “Trabalhamos o desenvolvimento emocional, fazendo com que o paciente reflita e traduza seus pensamentos, criando condições para contornar sentimentos que julga insuportáveis”, explica Maria de Lourdes. A angústia é, portanto, um problema de saúde e necessita de acompanhamento. Se ela anda sufocando-o, chega de sofrer em silêncio: busque auxílio e afrouxe, de vez, esse nó dentro do peito.
→ Fonte: http://saude.abril.com.br/edicoes/0324/bem_estar/conteudo_563179.shtml
Curso e Grupo de Ajuda para Familiares de Pacientes com Transtorno Mental Grave.
Gostaria de começar o ano com uma boa notícia e com a divulgação de um serviço de utilidade pública.
Estamos iniciando um programa de apoio às famílias de pacientes portadores de transtornos mentais graves, como esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo e transtorno bipolar, no Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB).
O programa é um aperfeiçoamento do que já ocorria no Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro e que deu origem ao livro "Entendendo a Esquizofrenia: como a família pode ajudar no tratamento?". Mas desta vez decidimos abranger todos os transtornos psiquiátricos graves, por entendermos que os conflitos vivenciados pelas famílias (e consequentemente por seus pacientes) são semelhantes, seja qual for o diagnóstico, e a necessidade de apoio, bem como de informação sobre os transtornos, podem repercutir positivamente na clínica do paciente e na qualidade de vida de seus familiares.
O programa consiste de três etapas:
Etapa 1 - entrevista com os familiares e pacientes para avaliar as demandas iniciais de cada família.
Etapa 2 - curso sobre transtornos mentais graves com seminários que informam, numa linguagem acessível, sobre os principais transtornos mentais, o quadro clínico, os tratamentos e o papel da família.
Etapa 3 - grupos de ajuda com os familiares (terapia de grupo) para debater os principais conflitos e formas de solucionar os problemas do dia-a-dia.
Este programa faz parte de um projeto de pesquisa que quer conhecer melhor e estudar os conflitos de famílias com experiência com formas graves de transtornos mentais.
As inscrições estão abertas e devem ser feitas pelo telefone (21) 2439-4269 – falar com Sra. Marismar.
Os encontros serão aos sábados, de 10 às 12h, no Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB), Av. Venceslau Brás, 71 - Fundos, Botafogo.
Início do curso previsto para maio de 2011.
Feliz Natal e um Próspero 2011!!!
A todos os leitores deste blog, a meus pacientes e a seus familiares,
Desejo um Natal de muita paz e alegria em um 2011 de muita saúde, prosperidade e conquistas.
Desejo um mundo de mais igualdade e de oportunidades para todos, menos violência, menos egoísmo, mais amor e fraternidade.
Olhemos para o outro como queremos ser olhados!
Um grande abraço,
Dr Leonardo Palmeira.
Mensagem de fim de ano do Portal Entendendo a Esquizofrenia.
Neste final de ano queremos transmitir uma mensagem de otimismo e esperança para 2011, acreditando num mundo com menos preconceito e mais respeito e oportunidades para aqueles que sofrem de um transtorno mental.
Sabemos que para alcançarmos esta meta precisamos unir a sociedade em torno de um sentimento positivo de que é possível sim derrubar os muros do preconceito e do estigma. Cada um pode fazer a sua parte, dedicando alguns poucos minutos de seu dia à divulgação da idéia de que podemos mudar a forma como encaramos a doença mental, seja através de e-mail ou conversas com amigos na escola, no trabalho, no seu condomínio ou comunidade, em clubes e igrejas.
Foi com esta iniciativa que o Reino Unido criou um movimento social contra a discriminação dos portadores de transtorno mental chamado “Time to Change” (Tempo de mudar), que conta com a mobilização de órgãos governamentais, empresas e um exército de voluntários dispostos a acabar com o preconceito. É o maior programa anti-estigma do país e vale à pena visitar o site da campanha http://www.time-to-change.org.uk/
O Portal Entendendo a Esquizofrenia apresenta a seguir alguns vídeos legendados da campanha inglesa e que transmitem esta mensagem de otimismo. Você pode ajudar divulgando esta idéia aos seus amigos e contatos e quem sabe conseguimos mobilizar as instituições em nosso país para uma campanha nacional contra o estigma da doença mental!
Schizo, o filme
Não me leve a mal
Como as pessoas podem ajudar amigos ou familiares com doença mental?
O site da campanha também colocou no ar dicas para um Natal alegre e saudável:
1) Sua presença é o maior presente! Só estando lá para ouvir e falar, e também visitar as pessoas que podem estar sozinhas durante o período festivo, pode fazer uma grande diferença para alguém neste Natal. Você não precisa ser um especialista em saúde mental para apoiar um amigo ou um membro da sua família que esteja mais vulnerável.
2) Se você sente que precisa de apoio, reserve um tempo para conversar com amigos ou familiares sobre suas preocupações ou dúvidas. Falar pode ajudar a buscar o foco e colocar as coisas em perspectiva.
3) Tire um tempo para si mesmo se você estiver estressado ou chateado. Dê uma caminhada, ouça uma boa música ou pegue um livro para uma leitura rápida.
4) Coma bem, beba com moderação e encontre formas divertidas de ficar ativo. Cuidar da sua saúde física durante o Natal pode ser um bom caminho para proteger a sua saúde mental também.
5) Tenha uma boa noite de sono. A emoção e o estresse do Natal mais ir até tarde da noite para estar reunido com seus entes queridos pode afetar padrões de sono. O importante é estar bem descansado para que você possa se sentir bem.
6) Lembre-se de relaxar. Compense as responsabilidades e o trabalho com as atividades de recreação e lazer, e se dê um tempo livre quando sentir que precisa. Os exercícios de respiração, meditação ou yoga são perfeitos para ajudar a relaxar.
7) Tente não fazer tudo sozinho. Pedir aos outros que compartilhem as tarefas com você, como cozinhar, limpar, decorar ou embrulhar os presentes, é importante para garantir que você não se sinta estressado ou sob pressão.
8) Lembre-se da arte de dar. Natal não é só receber presentes, é sobre o espírito de dar também. Por que não alegrar o dia de alguém oferecendo seus serviços para uma instituição de caridade que fornece refeições de Natal ou visitar um vizinho idoso ou parente que pode estar vulnerável neste momento. Fazer algo generoso pelos outros pode fazer você se sentir bem consigo mesmo.
9) Não coloque pressão sobre si mesmo para que tenha um grande momento. A expectativa de que todos devem ser felizes e se divertir no Natal pode deixar você pra baixo e esvaziado, portanto, se tranquilize de que não se sentir alegre é completamente normal e muitas pessoas se sentem da mesma maneira.
10) O Natal não tem que ser perfeito. Alguns dos melhores momentos da vida são quando as coisas dão errado e você se vê no desafio de fazer as coisas acontecerem à medida que o tempo avança.
Tenha um Natal alegre e divertido e um 2011 de muita saúde, conquistas e avanços pessoais.
São os sinceros votos da nossa equipe!
Portal Entendendo a Esquizofrenia
Homens que dormem menos de seis horas por dia têm quatro vezes mais chances de morrer, diz pesquisa.
Manter um ritmo regular de sono e fazer atividades físicas ajudam a dormir melhor.
Um estudo publicado na edição de setembro da revista científica Sleep revelou que os homens que dormem por poucas horas diariamente podem morrer mais cedo. Os cientistas descobriram que aqueles que sofrem de insônia crônica e descansam menos de seis horas por dia têm um risco quatro vezes maior de morrer do que aqueles que não enfrentam esses problemas.
Foi a primeira que uma pesquisa demonstrou a relação entre o sono e a mortalidade. Antes, os cientistas já sabiam que a insônia crônica associada a noites mal dormidas poderia provocar problemas neurológicos, além de aumentar o risco de diabetes tipo 2 e de pressão alta. Nesses pacientes, o risco de mortalidade é ainda maior.
O alerta dos pesquisadores, no entanto, não se restringe apenas a quem sofre de insônia crônica - doença que se caracteriza por dormir menos de seis horas durante longo período de tempo. Segundo a médica Dalva Poyares, do Instituto do Sono e professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), quem enfrenta problemas constantes para dormir também precisa ficar atento.
- [Segundo a pesquisa], a maior mortalidade afeta quem tem insônia e, além disso, tem uma diminuição do sono de maneira objetiva. Mas quem dorme pouco durante muito tempo também está sujeito.
De acordo com a psiquiatra Ana Paula Megale Hecksher, especialista em sono, dormir é importante porque ele mantém o organismo regulado e ajuda no sistema de defesa do corpo.
- O cérebro funciona muito durante o sono, quando são liberadas substancias responsáveis por manter sistema imunológico (proteção) ativo. Pela noite, o sistema de defesa é reorganizado. O indivíduo que não dorme bem tem esse sistema mais fragilizado, ficando mais sujeito a doenças.
Ana Paula afirma ainda que uma noite mal dormida faz a pressão cardíaca ficar desregulada. Além disso, hormônios como adrenalina e cortisol ficam em níveis mais altos. Essas substâncias estão envolvidas com o estresse e influenciam na pressão arterial do organismo.
Segundo a psiquiatra, a privação de sono afeta também a memória e a atenção do indivíduo, deixando a pessoa mais suscetível a acidentes no trabalho, no trânsito, em casa, dentre outros.
- É um problema de saúde pública. Mas agora estamos tendo mais espaço para discutir.
Diagnóstico precoce e tratamento adequado
Segundo Dalva, as pessoas que precisam ficar mais atentas, porque são as mais sujeitas a sofrer com insônia, são aquelas que vivem preocupadas, que têm uma atividade mental intensa, que trabalham muito e as que não têm um ritmo regular de sono.
De acordo com um dos autores do estudo americano, Alexandro N. Vgontzas, professor de psiquiatria do Centro Médico de Medicina de Hershey, nos EUA, os resultado deve servir como alerta a população e a classe médica para os perigos do sono.
- Esses resultados vão aumentar a consciência de médicos e cientistas para que a insônia seja diagnosticada precocemente e tratada adequadamente.
O estudo acompanhou por dez anos mil mulheres com idade média de 47 anos, e, por um período de 14 anos, um total de 741 homens com idade média de 50 anos.
Diferente dos homens, os cientistas não encontraram a mesma relação entre mortalidade e insônia crônica nas mulheres. Eles não souberam explicar o porquê, mas imaginam que o menor de acompanhamento pode ter influenciado no resultado.
Fonte: R7.com
Internet e Saúde: "Nós vamos ficar cada vez mais distraídos!"
Muito boa a entrevista de Nicholas Carr ao Jornal O Globo de hoje. É preciso que estejamos atentos aos malefícios da internet, mesmo diante dos seus indiscutíveis benefícios, particularmente para crianças e adolescentes, que ainda passam por amadurecimento de suas funções psíquicas.
Concordo plenamente quando ele alerta para os riscos que a apresentação do conteúdo na internet traz para a atenção e nossa capacidade de manter o foco. Nem todos conseguem filtrar o conteúdo e manter o foco nele apesar dos estímulos visuais cada vez mais chamativos. Quando este ambiente passa a tirar o tempo dos livros e de outros meios que requerem maior treinamento atentivo e, portanto, cognitivo, é para nos preocuparmos. Este pode ser um grande tiro pela culatra dos que pensam que a internet é a grande ferramenta para a educação de nossos jovens. Acho que convivemos ainda há pouco tempo com ela para termos esta certeza.
Escritor, ex-editor-executivo da revista "Harvard Business Review" e professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Nicholas Carr adora colecionar polêmicas. Em dois livros - "The Big Switch: Rewiring the World, from Edison to Google" e "IT doesn't Matter" - ele chama a atenção para a inutilidade das equipes de Tecnologia da Informação (TI) nas empresas e defende a tese da computação em nuvem, na qual as empresas não mais serão donas de softwares e bancos de dados - administrados por equipes de TI - e tudo ficará hospedado no ciberespaço.
Em um artigo publicado em 2008 na revista "The Atlantic", ele perguntava se o Google estava nos tornando estúpidos. Recebeu uma saraivada de críticas em seu blog, "Rough Type". Afinal, ele insinuava que as distrações multimídias da internet serviam a tudo, menos ao conhecimento, porque limitavam seriamente nossa capacidade de atenção e foco (e, consquentemente, de aprendizado).
Semana passada, Carr esteve no Brasil para o Info Summit 2010. Em pauta, o seu novo livro - "The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains" (algo como "Os superficiais, o que a internet tem feito com nossos cérebros"), em que desenvolve o artigo da "Atlantic" e defende a tese de que a internet pode, sim, emburrecer e dificultar o aprendizado, logo ela que chegou a ser considerada a revolução na área educacional. Após o evento, escritor falou com exclusividade ao GLOBO.
No livro "Where good ideas come from" ("De onde vêm as boas ideias"), o escritor Steven Johnson afirma que o ambiente caótico da internet e suas conexões são fundamentais para a inovação e ainda ajudam as pessoas a serem mais criativas. Em seu novo livro, "The Shallows" ("Os superficiais"), o senhor afirma que a internet e o excesso de informações sem profundidade que ela despeja nas pessoas estão encolhendo nossa capacidade de pensar. Quem está correto, afinal?
NICHOLAS CARR: É totalmente verdade que a internet permite ter a acesso a informações tão ampla e rapidamente que o compartilhamento, a pesquisa e a colaboração ficam mais fáceis. Mas o que pessoas como Steven Johnson podem estar desconsiderando é que estas tecnologias nos fazem pensar de maneira diferente, nem sempre positiva. Ou seja: o que vemos com a internet e as tecnologias digitais em geral é que toda a ênfase está no ritmo rápido de troca de informação e na capacidade de achar toneladas de conteúdo. Os aspectos básicos da tecnologia são esses: links, mecanismos de buscas, alertas, interrupções, multitarefas, multifuncionamento. Este sistema não nos encoraja nem nos dá oportunidade para fazer coisas que necessitam de atenção mais profunda. Por exemplo...
CARR: As coisas que, no passado, sempre foram consideradas essenciais para uma vida intelectual rica, como contemplação, reflexão e introspecção. Se você é constantemente interrompido, você nunca consegue exercitar estas formas de pensamento mais atentas e focadas. Uma das coisas que sabemos sobre a mente é que a habilidade para prestar atenção, pensar profundamente sobre algo, focar e concentrar-se de fato ativam muitos dos nossos processos cognitivos, como pensamento crítico, memória, lógica, pensamento conceitual e algumas formas de criatividade. Meu medo é que estamos perdendo nossa capacidade e habilidade para esse tipo de pensamento. Seres humanos adoram obter novas informações, e há uma espécie de obsessão de estar no topo do conhecimento de tudo, mas isso nos empurra a uma forma de pensamento mais primitiva na qual estamos constantemente mudando o nosso foco.
A ideia é que a maioria das pessoas, obcecadas em obter informações, acaba ouvindo falar um pouco de tudo, mas nada profundamente. E a maioria, fora de contexto, é isso?
CARR: Exato. E é por isso que os chamo de superficiais: você circula com muita rapidez, obtém informações rapidamente, mas nunca vai fundo em nada.
Quais são as evidências de que a forma como obtemos informação pelas mídias digitais impede a compreensão e o aprendizado?
CARR: Há muitos estudos sobre vários aspectos da rede, como os que comparam hipertexto a texto. Há 30 anos, quando os textos na internet começaram a usar os hipertextos, acreditava-se que estes pedaços de informação de acesso rápido complementariam o entendimento do que estava sendo dito e ajudariam a ampliar a compreensão geral. Mas o que os estudos começaram a mostrar é que a compreensão e interpretação do texto estavam mais fracas com os hipertextos comparadas com o texto linear tradicional. E parece estar relacionado com a qualidade dispersiva do link. Mais que isso. Só na percepção, durante a leitura, de que há ali um link, o seu cérebro começa a se perguntar se vale a pena ir até o hipertexto e se aquela informação fará ou não falta na leitura. Aquilo quebra o ritmo de leitura e acaba afetando a compreensão do texto. E isso só reforça a tese de que, quanto mais você está focado, maior a compreensão e o aprendizado.
Mas os educadores acham que uma das ferramentas mais preciosas para o aprendizado são os recursos multimídia...
CARR: Os estudos não mostram isso. Multimídia requer que a pessoa mude o tempo todo o seu foco. E o fato é que, se você está o tempo todo mudando o seu foco, a sua habilidade de aprender se reduz. O que não significa que multimídia seja sempre ruim, se ela for preparada com fins específicos. Mas o problema com a internet é que ela não é desenhada por experts em educação, e você tem constantes mudanças de foco. Se você olha para o modelo básico de webdesign de mídias sociais, como Facebook, percebe que ele não é feito com a ideia de otimizar a compreensão e o entendimento. É feito com a ideia de manter a visão grudada na tela em focos de conteúdos constantemente variados e atualizados.
Ou seja, é uma tecnologia que encoraja a dispersão. E o que deixaria a rede ser menos dispersiva?
CARR: A internet é uma ferramenta multimídia tão poderosa que ela encoraja as pessoas, seja produtores ou consumidores de conteúdo, a ter e fazer mais e mais sem o necessário questionamento sobre qualidade, interesse e utilidade do que está ali. Você pode imaginar a internet desenvolvida de uma forma diferente, onde são filtrados todos os componentes dispersivos da maneira que um bom livro. Certas plataformas caminham para isso. O iPad, por exemplo, é um tipo mais comum de apresentação de informações até porque suas habilidades multimídias não são tão fortes. Há alguns indicativos de que talvez as pessoas queiram mais foco. Mas a tendência geral continua em direção a mais e mais dispersão.
E a tendência não teria volta...
CARR: Exato. O que a gente sabe de empresas que produzem novos aparelhos eletrônicos é que elas competem entre si adicionando novas funções. Mesmo o Kindle, que começou como um leitor de livros, já permite algum tipo serviço de rede. O iPad já evolui para um sistema de multitarefa. Meu medo é que mesmo estes produtos que incentivam a atenção continuem a se desenvolver na direção de ter mais funções. E a realidade crua é: nós vamos adicionar distração e dispersão mais e mais.
Fonte: O Globo