Entrevista no Programa Sem Censura
Entrevista do Dr. Leonardo Palmeira à jornalista Leda Nagle no Programa Sem Censura da TV Brasil, em 03/07/09, falando sobre a esquizofrenia e o papel da família.
Programa do Jô.
Ser entrevistado pelo Jô foi, além de uma honra, uma grande celebração do nosso trabalho. Quando recebi o convite, foi difícil acreditar que aquele projeto que surgiu em 2000 em uma pequena sala do Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro (CPRJ), com apenas cinco famílias, se tornasse tão frutífero e bem sucedido. O livro já era em si uma grande realização, com a possibilidade de ampliar nosso trabalho, que atendeu dezenas de famílias durante sete anos no CPRJ, para um maior número de pessoas em todo país. O Portal Entendendo a Esquizofrenia, inspirado no livro e no programa de psicoeducação, também foi um projeto ousado, já que não existia um site sobre a doença com esse nível de informação na internet. No segundo mês o portal teve mais de mil acessos e, no terceiro, bateu 5 mil visitantes! É muito gratificante saber que a informação está chegando a um número crescente de pessoas, ajudando as famílias e os portadores de esquizofrenia a conviver melhor.
Mas a entrevista no Programa do Jô teve um sabor especial. Pelo seu prestígio, seriedade e alcance público foi para mim a consagração do nosso trabalho. Um grande presente e reconhecimento pelos anos de trabalho e dedicação. Não posso deixar de agradecer a todos os familiares com quem tivemos a sorte de dividir histórias e experiências e que muito nos ensinaram. Sem eles nada disso seria possível. Sou muito grato ao Dr. Alexandre Keusen, diretor do CPRJ até 2008, grande incentivador e orientador de nosso programa, que me presenteou com o trabalho mais gratificante em meus dez anos de psiquiatria. Agradeço também à Dra. Marcia Rozenthal, com quem muito aprendi sobre a esquizofrenia nos sete anos de pesquisa no programa de Esquizofrenia e Cognição do Instituto de Psiquiatria da UFRJ.
Tenho a cada dia a convicção de estarmos prestando um serviço de grande interesse público e social. Meu foco sempre foi o bem estar do paciente e de sua família e, além do que posso fazer como médico, minha missão também é levar o conhecimento e aconselhar as pessoas que hoje se sentem perdidas, sem saber como lidar com a doença. Como diz uma irmã de um paciente, “a família precisa de um pouco de luz para não lidar às cegas com a doença”.
Abuso de drogas e substâncias psicoativas na Esquizofrenia.
Um artigo da psiquiatra Nora Volkow, diretora do Instituto Nacional para Abuso de Drogas dos EUA, publicado na edição de maio de 2009 da revista Schizophrenia Bulletin, chama a atenção para a crescente comorbidade (i.é. associação de duas doenças) entre Dependência Química e Esquizofrenia. Um levantamento nacional a respeito do uso de drogas nos EUA em 2007 revelou o aumento da prevalência de abuso de substâncias, como álcool, nicotina, maconha e cocaína, entre esquizofrênicos em até 100 vezes superior à população geral.
Quase metade dos esquizofrênicos apresenta em algum momento de sua vida história de uso ou abuso de substâncias, índice bem superior à população geral, o que sugere que esquizofrênicos estejam expostos a outros fatores de risco além daqueles presentes na população. Os mecanismos por trás dessa comorbidade ainda não são bem conhecidos, mas acredita-se que envolvam distúrbios químicos cerebrais, como os relacionados à dopamina, glutamato, aos receptores nicotínicos e canabinóides (da maconha).
Uma das explicações para o abuso de substâncias em esquizofrênicos é a busca de alívio para efeitos colaterais dos antipsicóticos, como a falta de prazer, em função do bloqueio de dopamina em regiões cerebrais envolvidas com mecanismos de recompensa ou para compensar déficits cognitivos. O problema é que o uso crônico da droga exacerba os sintomas negativos e cognitivos, prejudicando ainda mais a recuperação da pessoa no sentido de uma vida produtiva e plena.
A nicotina é a droga mais prevalente entre esquizofrênicos, em parte por ser legal e pela facilidade de acesso, mas também porque o efeito da nicotina no cérebro pode aliviar alguns déficits cognitivos. Há estudos que sugerem que esquizofrênicos têm receptores nicotínicos menos funcionais e em menor número do que pessoas saudáveis e isso explicaria a melhora da cognição provocada pela nicotina (o que não ocorre com os demais fumantes).
O uso da maconha também é freqüente e ela possui o pior efeito dentre todas as demais. Estudos com ressonância magnética mostraram que com o uso de maconha a perda de substância cinzenta cerebral é até duas vezes maior do que o habitual num período avaliado de 5 anos. Uma das explicações para o uso da maconha é melhorar o controle emocional em situações de estresse, devido ao seu efeito nos receptores canabinóides cerebrais.
Os fatores genéticos e ambientais que contribuem para a esquizofrenia também estão envolvidos na dependência de substâncias. Genes que regulam a neuroplasticidade e o desenvolvimento cerebral, como o gene Neuroregulina 1, podem estar implicados nas duas patologias. Fatores psicossociais como educação e desemprego podem aumentar a comorbidade e ambas as doenças estão relacionadas a uma maior exposição e menor tolerância ao estresse, o que agrava as duas condições.
Algumas pesquisas sugerem que antipsicóticos de segunda geração podem ser mais eficazes no tratamento da dependência química associada à esquizofrenia, assim como terapias comportamentais que aliem abordagens às duas doenças. Mas existe uma grande carência de profissionais e serviços especializados no tratamento das duas condições em conjunto.
Notícias sobre Esquizofrenia - Maio/09
22/05/2009 – Promessa de um novo antipsicótico para 2010
Um medicamento antipsicótico ainda em fase experimental chamado lurasidona mostrou-se eficaz em estudos de fase III (para aprovação é necessário passar da fase IV) em pacientes com esquizofrenia aguda. A medicação teve perfil de tolerabilidade favorável, com pouco impacto no ganho de peso e aumento de lipídios do sangue. A lurasidona parece se diferenciar dos demais antipsicóticos por ter uma afinidade maior sobre receptores de serotonina e, por isso, maior eficácia nos sintomas negativos, cognitivos e de humor. Existe a expectativa da substância ser aprovada para uso comercial já em 2010 (MedPageToday)...
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11/05/09 – A genética desafia o pensamento psiquiátrico tradicional
“O pensamento do século XIX sobre a esquizofrenia e o transtorno bipolar (TBH) precisa ser abandonado se a psiquiatria quiser progredir.” A afirmação é do psiquiatra e professor da Universidade de Cardiff, Inglaterra, Dr. Nick Craddock, em encontro da Sociedade de Bioquímica. “Durante mais de 100 anos o entendimento geral era de que esquizofrenia e transtorno bipolar eram doenças completamente separadas. Evidências recentes, particularmente da genética molecular, mostram que esta situação não é tão simples e que existem genes comuns às duas doenças”, complementa. As duas doenças têm forte associação genética e os genes até agora encontrados não são específicos a uma ou outra categoria diagnóstica. Um exemplo é a variação genética ZNF804A, que está associada a um risco aumentado tanto para o TBH como para a esquizofrenia, e outras variações mais raras que estariam associadas ao risco de autismo, epilepsia e esquizofrenia. Isso explicaria, em parte, a confusão diagnóstica em alguns pacientes, que recebem os dois diagnósticos (TBH e esquizofrenia) em momentos distintos de suas doenças ou então diagnósticos intermediários como o Transtorno Esquizoafetivo, por exemplo. “É necessário pensar além dos critérios diagnósticos e considerar como variações da biologia e das funções cerebrais levam a uma enorme diversidade clínica em pacientes com doenças psiquiátricas.”, conclui o professor Craddock. Os estudos genéticos ainda estão em fase inicial. Além de se descobrir as variações genéticas associadas aos diferentes diagnósticos, é fundamental compreender em que processos esses genes interferem e que conseqüências existem para o funcionamento cerebral (MedialNewsToday)...
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07/05/09 - FDA aprova nova substância para o tratamento da esquizofrenia
O FDA (Food and Drug Administration), órgão regulador de medicamentos nos EUA, aprovou a substância Iloperidona (Fanapt) para uso na esquizofrenia. O medicamento é considerado um antipsicótico de segunda geração, com ação em receptores de dopamina e serotonina, com boa tolerabilidade, baixos índices de efeitos extrapiramidais (impregnação) e de ganho de peso (Forbes)...
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06/05/09 - Caminhada pela Esperança na Esquizofrenia -
Uma caminhada pela esperança na esquizofrenia está sendo organizada pela Sociedade de Esquizofrenia de Ontário, Canadá, para o próximo dia 24 de maio. Trata-se de um dia para a comunidade celebrar a esperança e receber informações sobre a esquizofrenia. Estão sendo aguardadas mais de 200 pessoas para a caminhada que, ao final, terá churrasco, gincanas e distribuição de prêmios. “Junte-se a nós nesta caminhada para ajudar no combate ao estigma e para educar nossa comunidade sobre a esquizofrenia. Através de um gesto simples você fará uma enorme diferença na vida de outras pessoas!”, diz a convocação (ChatamDailyNews.ca)...
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04/05/09 – Bullying pode desencadear problemas mentais na adolescência -
Um estudo da Universidade de Warwick, Inglaterra, revela que crianças vítimas de bullying aos 8 ou 10 anos estão duas vezes mais propensas a desenvolver sintomas psicóticos na adolescência. O risco é maior nos casos de bullying crônico ou grave. O estudo publicado neste mês na revista Archives of General Psychiatry acompanhou mais de 6400 crianças, dos 7 aos 13 anos de idade. Bullying, termo que não tem tradução em português, caracteriza-se por atitudes negativas praticadas por estudantes a uma criança, como humilhações, hostilidades, ofensas à imagem e à honra, praticadas geralmente no ambiente escolar, mas podendo acontecer em outros espaços e na internet. Os resultados mostraram que 46% das crianças sofreram bullying entre 8 e 10 anos de idade, destes 5,6% tinham um ou mais sintomas psicóticos aos 13 anos. Os pesquisadores alertam para o fato de que bullying crônico ou grave alteram a forma como o cérebro processa e responde ao estresse, podendo desencadear transtornos mentais, entre eles a esquizofrenia, em crianças geneticamente predispostas (WebMD)...
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Notícias sobre Esquizofrenia - Abril/2009
Do Portal Entendendo a Esquizofrenia
24/04/09 – Estudo americano surpreende pelos baixos índices de compreensão do que é esquizofrenia pela população geral
- Segundo pesquisa da National Alliance on Mental Ilness, quase 80% dos americanos sabem que a esquizofrenia é uma doença e que com o tratamento a maioria das pessoas pode ter uma vida independente e produtiva. Contudo, apenas 24% admitiram de fato conhecer o transtorno e 64% confundem esquizofrenia com múltiplas personalidades e 60% com violência. Entre os esquizofrênicos consultados, 95% consideraram que os serviços de psiquiatria e as medicações ajudam, mas apenas 1/3 faz algum tipo de tratamento (Ozarksfirst.com)...Leia Mais.
23/04/09 – Estudo acaba de vez com o estigma da violência entre portadores de esquizofrenia.
- A esquizofrenia é erroneamente relacionada à violência. Um estudo conduzido pela Universidade de Oxford na Inglaterra e publicado este mês na revista especializada Clinical Psychiatry acaba de vez com esta relação. Analisando 13800 pacientes esquizofrênicos através de dados disponíveis no registro nacional sueco, o grupo do Dr. Seena Fazel, coordenador da pesquisa, verificou que pacientes com história familiar de crimes violentos eram de 65 a 83% mais propensos a atos de violência do que pacientes sem histórico familiar de violência. Este resultado se manteve independentemente de fatores como renda familiar, nível de escolaridade e abuso de drogas e álcool. “Os achados da pesquisa deslocam da esquizofrenia para a história familiar da pessoa a razão para suas atitudes violentas, que podem estar relacionadas mais a uma predisposição genética para o comportamento violento ou à influência da criação por um pai ou uma mãe violenta do que à própria doença”, afirma Dr. Fazel (Reuters)...Leia Mais
14/04/09 - Jamie Foxx fala sobre seu novo filme "The Soloist", uma história real sobre um músico esquizofrênico que vivia nas ruas de Los Angeles.
- Jamie Foxx estrela seu novo filme “The Soloist”, uma história real sobre a vida de Nathaniel Ayers, músico prodígio portador de esquizofrenia que vivia nas ruas de Los Angeles, previsto para estrear próximo mês nos EUA. Foxx revelou, em entrevista, como foi difícil encarnar esse papel no cinema, pois percebeu como a mente humana é frágil e que durante as filmagens teve medo de surtar, procurando um psiquiatra e uma terapia, pelo medo de também desenvolver a doença e para que as suas dificuldades pessoais não interferissem na sua performance. O vencedor do Oscar de Melhor ator pelo papel em “Ray” contou que aos 18 anos passou 11 meses com sua mente muito perturbada, depois que alguém colocou drogas em sua bebida. Chegou a ficar hospitalizado, só conseguia dormir com alguém por perto conversando com ele e tinha pensamentos aterrorizantes que invadiam sua consciência. “Eu ficava tocando piano sem parar por horas para manter minha mente longe daqueles pensamentos”, lembra-se. Durante as filmagens do novo filme, Foxx revelou que teve flashbacks daqueles momentos de sua adolescência e que chegou a ter ataques de pânico e surtos de paranóia. “Eu cheguei a pensar em desistir do filme, tinha medo e vontade de sair correndo do set, mas aceitei o desafio”, afirma (ContactMusic.com)... Leia Mais.
Assista ao trailer do filme aqui.
13/04/09 - Estudo comprova efeito de treinamento cognitivo computadorizado em pacientes com esquizofrenia.
- Um estudo conduzido em São Francisco pelo Veterans Affairs Medical Center avaliou 55 voluntários com esquizofrenia num programa de treinamento das habilidades mentais conhecido por Brain Fittness. Através de programas de computador para melhorar o desempenho cognitivo, os voluntários eram submetidos a tarefas que envolviam da capacidade de discernir vários tons musicais à compreensão de uma narrativa, por um período de 50 horas divididas em 10 semanas de treinamento. Depois foram aplicados testes neuropsicológicos que avaliam funções como atenção, aprendizado e memória. O grupo que fez o treinamento teve um desempenho duas vezes superior ao grupo que, ao invés do treinamento, passou o tempo jogando vídeo-game. “Este não é o primeiro estudo que usa programas de computador para melhorar a performance cognitiva na esquizofrenia, mas é o pioneiro em iniciar com tarefas que melhorem a capacidade de processamento de informações sensoriais para depois treinar habilidades que requerem um processamento cognitivo mais elaborado”, diz Susan McGurk, pesquisadora do Dartmouth Medical School, de Hanover. O estudo traz mais esperança para o tratamento dos sintomas cognitivos da esquizofrenia e para a recuperação das capacidades de trabalho e vida social, considerados os maiores desafios do tratamento da esquizofrenia na atualidade (AktuelPsikoloji.com)... Leia Mais.
10/04/09 - Estudo liga gene NOS1AP à esquizofrenia. Pacientes teriam uma variação nesse gene com frequência maior do que a população geral.
- Um estudo analisou genes de 24 famílias canadenses com histórico de vários casos de esquizofrenia e encontrou uma alteração funcional num gene chamado de NOS1AP que aumenta a expressão genética. O achado publicado em abril na revista American Journal of Psychiatry confirma um estudo anterior que demonstrou o aumento da expressão do gene NOS1AP no cérebro de pessoas com esquizofrenia. Este é um passo importante para conhecer mais sobre a doença, mas são necessárias mais pesquisas. “Isto não significa que se você tem esse gene alterado, você terá a esquizofrenia. Mais de 40% das pessoas tem essa variação genética, mas somente 1% adoece e nem todos que adoecem têm essa variação”, diz Dra Linda Brzustowicz, geneticista da Rutgers University, em Nova Jersey. Ela frisa que a esquizofrenia não é uma doença de um gene só e que fatores ambientais são igualmente importantes. “A freqüência do gene NOS1AP alterado é maior entre as pessoas com esquizofrenia do que na população geral. Neste estudo, por exemplo, 55% dos pacientes com esquizofrenia tinham essa variação genética”, conclui (Forbes.com)... Leia Mais.
07/04/09 - "Ilusão da máscara oca" pode ser uma chave para a descoberta da causa da esquizofrenia, segundo estudo.
- Dizer qual a frente e qual as costas de uma máscara pode ser mais difícil do que parece, graças a um efeito chamado “ilusão da máscara oca” (hollow-mask illusion). Nosso cérebro tem dificuldade de decidir se a imagem é convexa ou côncava. Nova pesquisa publicada na Revista Neuroimage mostrou que na esquizofrenia esta ilusão pode não ocorrer. No estudo, voluntários foram submetidos a exames de ressonância magnética funcional enquanto olhavam fotos, algumas delas fotos de faces normais e outras de faces invertidas (como na ilusão da máscara oca). Todos os participantes com esquizofrenia conseguiram distinguir entre as duas fotos, enquanto os voluntários saudáveis foram enganados em 99% do tempo. O resultado sugere que o processo de coletar as informações visuais que chegam e o processo de interpretação dessas informações são diferentes na esquizofrenia. Isso pode remeter à questão fundamental da doença, que seria a dissociação ou desconexão entre diferentes áreas cerebrais (NewScientist)... Leia Mais.
Veja a mesma ilusão provocada por esse vídeo com a máscara de Chaplin.
04/04/09 - Cientistas ingleses descobrem 49 genes que funcionam de maneira diferente em pessoas com esquizofrenia.
- No maior estudo deste tipo, publicado na Revista Molecular Psychiatry, cientistas do Imperial College de Londres identificaram 49 genes que funcionam de forma diferente no cérebro de pessoas portadoras de esquizofrenia. Muitos desses genes estão envolvidos na sinalização entre neurônios, o que fortalece a idéia de que na esquizofrenia ocorra algum problema de comunicação entre as células nervosas. Um dos pesquisadores, o Professor Jackie de Belleroche, disse que esse é o primeiro passo para se chegar a tratamentos mais efetivos. “Precisamos entender o que de fato está acontecendo no cérebro, descobrir os genes envolvidos e o que eles estão fazendo para desenvolvermos tratamentos mais específicos. Nosso estudo estreitou os caminhos para possíveis alvos de tratamento”, afirma. Eles analisaram o tecido cerebral de 28 esquizofrênicos que doaram seus cérebros para estudo (News Medical Net)... Leia Mais.
Lançamento do Livro Entendendo a Esquizofrenia.
O livro "Entendendo a Esquizofrenia - Como a família pode ajudar no tratamento?" foi lançado pela Editora Interciência, na Livraria Saraiva do Shopping Rio Sul, no Rio de Janeiro, na noite do dia 28/04/09. O lançamento contou com a presença de amigos, familiares, pacientes e famílias que participaram do Programa de Psicoeducação de Família do Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro (CPRJ), entre 2001 e 2007, além de psiquiatras do Rio de Janeiro. Foi uma noite muito agradável e gratificante, com a certeza de termos cumprido nossa missão, a de levar o conhecimento às famílias brasileiras que têm algum parente com esquizofrenia, ajudando-as a superar as dificuldades e a vencer os obstáculos, um passo determinante para a recuperação de seus entes queridos. Abaixo algumas fotos do evento. A todos que compareceram, o nosso muito obrigado!
Os autores do livro "Entendendo a Esquizofrenia", o psiquiatra Leonardo Figueiredo Palmeira (ao centro), a psicóloga Maria Thereza de Moraes Geraldes (à esquerda) e a psicopedagoga Ana Beatriz da Costa Bezerra (à direita), na noite de lançamento.
Os autores do livro Entendendo a Esquizofrenia com Rodrigo Nascimento, da Editora Interciência.
Dr Alexandre Lins Keusen, psiquiatra e ex-diretor do Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro (CPRJ), que nos ajudou a implementar o programa de psicoeducação e que nos honrou com o prefácio do livro, ao lado do psiquiatra Leonardo Figueiredo Palmeira.
Os autores autografam o livro para familiares que participaram do programa de psicoeducação de família do Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro (CPRJ).
Familiares que participaram dos grupos de família e cujas histórias nos inspiraram a escrever o livro.
Entrevista sobre o livro "Entendendo a esquizofrenia - Como a família pode ajudar no tratamento?"
Do Portal Entendendo a esquizofrenia
“Entendendo a Esquizofrenia – Como a família pode ajudar no tratamento?” (foto), livro de autoria do Dr. Leonardo Palmeira com a psicóloga Maria Thereza Geraldes e a psicopedagoga Ana Beatriz Bezerra, será lançado em 28 de abril pela editora Interciência, na Livraria Saraiva do Shopping Rio Sul, às 19h.
Nesta entrevista, o Dr. Leonardo explica como surgiu a idéia de escrever um livro para familiares de portadores de esquizofrenia, qual o objetivo com o livro e como a família e a sociedade podem ajudar na recuperação do paciente e no combate ao estigma e ao preconceito.
Portal: Como surgiu a idéia de escrever um livro sobre esquizofrenia para familiares?
Dr. Leonardo: Nós desenvolvemos de 2000 a 2007 um programa de psicoeducação, que vem a ser um curso educativo sobre a esquizofrenia seguido de grupos terapêuticos com as famílias, no Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro (CPRJ). Esse programa era permanente e tinha um curso semestral sobre esquizofrenia, que era oferecido aos familiares. Esse foi um dos trabalhos mais gratificantes que fiz nos meus dez anos de psiquiatria. Aprendi muito com os familiares, era uma troca intensa de informações e experiências e eles sempre insistiram muito para que houvesse um material didático, que pudessem levar para casa e deixar na cabeceira da cama. Tanto que a maioria repetia o curso no semestre seguinte, tamanha a demanda por informação. O que eu escutava deles, e que também podia observar nitidamente em alguns casos, é que o conhecimento sobre a esquizofrenia mudava muito a maneira de encararem a doença e de resolverem os conflitos em casa. Nós fazíamos entrevistas antes e depois e era notória a mudança que o programa produzia. Havia famílias que participaram do primeiro ao último curso.
Portal: Vocês pretendem retomar o programa?
Dr. Leonardo: Temos a expectativa de implantá-lo em outra instituição, dentro de um projeto maior e que envolva outros centros multiplicadores. Precisamos falar mais dessa doença nos CAPS, nos centros comunitários, nos espaços da sociedade. Na Suíça, no estado de Vaud, eles organizaram um dia anual para lembrar a esquizofrenia, o Schizophrenia Day, quando ocorrem atividades culturais e são divulgadas informações sobre a doença. Um familiar foi entrevistado e justificou que era preciso falar da esquizofrenia, caso contrário ela voltaria a ser uma doença esquecida pela sociedade e é esta a sensação que tenho.
Portal: Qual a importância do livro e como ele pode ajudar a família e o paciente?
Dr. Leonardo: A idéia do livro é ser um veículo de comunicação em massa. Alguém pode não falar da esquizofrenia em algum canto do país, mas se a pessoa quiser se informar pode ir a uma livraria ou biblioteca, pode acessar a internet e ler a respeito. Diversos estudos em vários centros pelo mundo já comprovaram cientificamente que a informação para a família é a principal aliada do tratamento médico na recuperação do paciente. O número de recaídas e internações é significativamente menor entre pacientes que possuem uma família mais esclarecida e acolhedora. Isso que está acontecendo na mídia, pela primeira vez uma novela em horário nobre ter a coragem de abordar a esquizofrenia, é fantástico. Conheço muitos familiares que são gratos a autora Glória Perez por sua brilhante iniciativa. Os familiares me pediam isso, que a sociedade precisava ouvir mais e saber que doenças como a esquizofrenia existem e podem ser tratadas.
Portal: Que papel você acredita que a sociedade tem diante da doença mental, em especial da esquizofrenia?
Dr. Leonardo: A sociedade precisa perder o preconceito. Uma pessoa que adoece da esquizofrenia não perde suas qualidades, sua identidade, seu caráter, seus princípios. Ela adoece como em qualquer outra doença. Seu sofrimento cresce quando ela encontra obstáculos que são puro preconceito, como a dificuldade de conseguir um trabalho, por exemplo. Se a pessoa está em tratamento, está em boas condições de saúde, tem aptidão para aquela função, demonstra competência, porque não conseguir o emprego? Tenho um paciente que prestou um concurso público, foi quinto colocado geral e hoje trabalha normalmente e é muito capaz naquilo que faz. O próprio filme Mente Brilhante mostra isso. John Nash recuperou-se e voltou a lecionar. O filme Shine conta a história real de um músico que, após adoecer e passar anos de sua vida internado em um hospital, casou-se e fez sucesso se apresentando em concertos de piano. É preciso acreditar no potencial da pessoa e não ofuscá-la pela própria doença. Mas é preciso enfatizar: nenhum desses casos avançou sem o apoio e compreensão da família. Portanto, abrir espaço na sociedade para temas deste tipo é também uma forma de fazer chegar às inúmeras famílias, que talvez nem saibam que têm um caso de esquizofrenia entre elas, a informação e a chance de construirem algo diferente para o futuro.
Portal: O que o leitor do portal vai ganhar a mais com o livro?
Dr. Leonardo: O livro tem maior aprofundamento nos temas relacionados à doença, traz casos clínicos, depoimentos de familiares e tem, ao final de cada capítulo, uma seção de perguntas com as respostas para as principais dúvidas dos familiares nestes anos do programa. Ele possui dois capítulos dedicados especialmente à família, que abordam as emoções e sentimentos despertados pela doença, com exemplos das principais dificuldades enfrentadas no dia-a-dia, e como a família deve agir para ajudar na recuperação do paciente a fim de evitar recaídas. O livro é uma ferramenta útil para compreender os sintomas e o comportamento da pessoa portadora de esquizofrenia, serve de guia prático na solução de variados conflitos, além do que, visa produzir reflexões nos familiares e cuidadores, objetivando mudanças de posturas e comportamentos. O nosso foco é a família, que convive a maior parte do tempo e, por isso, absorve a maior carga de tensões geradas pela esquizofrenia.
Como agem as medicações psiquiátricas?
A figura abaixo ilustra esquematicamente como antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos atuam no cérebro.
Inicialmente é importante compreender como o estresse, um quadro depressivo ou ansioso, um quadro de mania ou hipomania (bipolaridade), ou mesmo um surto psicótico afetam o cérebro e os neurônios. Esses achados valem também para dores crônicas, uso de corticóides ou para doenças que cursam com níveis aumentados de glutamato (principal neurotransmissor excitotóxico do cérebro), como as doenças degenerativas cerebrais (p.ex. Mal de Alzheimer), esclerose múltipla, AVC, ateroesclerose, dentre outras.
Essas condições diminuem a capacidade dos neurônios produzirem uma substância essencial para a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro responder saudavelmente ao ambiente, moldando-se e aperfeiçoando as funções mais necessárias ao equilíbrio mental e à qualidade de vida. Esta substância é conhecida pela sigla em inglês BDNF (Brain Derivative Neurotrophic Factor) ou fator neurotrófico derivado do cérebro.
O BDNF aumenta a arborização dos dendritos, fibras que conectam um neurônio a outro, melhorando assim a conectividade cerebral. Quanto maior e mais eficiente a arborização, melhor os neurônios se comunicam. Portanto, a deficiência de BDNF afeta diretamente a conectividade e, consequentemente, as funções cerebrais.
Estudos têm demonstrado que em quadros psiquiátricos, como a depressão por exemplo, ocorrem alterações anatômicas no cérebro, como redução do volume (atrofia) dos hipocampos, do lobo frontal, de gânglios da base e em estruturas do sistema límbico. Essas alterações ocorrem já no início do quadro e persistem enquanto os sintomas perdurarem. Há estudos que mostram que a curva de atrofia é proporcional à gravidade e ao tempo de doença não tratada ou tratada inadequadamente. Com o tratamento e a melhoria do quadro, a atrofia desaparece e a atividade neuronal volta a normalidade.
As alterações da conectividade neuronal e da anatomia cerebral provocam déficits cognitivos, como problemas de memória, atenção, funcionamento executivo, capacidade de planejamento e tomada de decisão, aspectos frequentes nos quadros psiquiátricos maiores, como a depressão, o transtorno bipolar (TBH) e a esquizofrenia.
A redução dos níveis de BDNF deixa o cérebro mais vulnerável à ação dos radicais livres, provocando maior toxicidade e levando a um fenômeno conhecido como apoptose (morte de neurônios=>envelhecimento cerebral). Portanto, a afirmação de que a depressão e outras doenças psiquiátricas podem matar neurônios é verdadeira e deve ser levada em conta na hora de tratar as doenças. Deve-se buscar a remissão completa ou a cura para se prevenir problemas maiores no futuro, como as doenças degenerativas do cérebro. Estudos têm demonstrado uma associação maior entre quadros psiquiátricos crônicos e não-tratados (ou com tratamento inadequado) e demências na terceira idade, como por exemplo, o Mal de Alzheimer e as doenças cerebrovasculares (AVC, ateroesclerose).
A medicação psiquiátrica atua, então, aumentando a síntese de BDNF, melhorando a conectividade entre neurônios, protegendo o cérebro contra o excesso de radicais livres e, finalmente, protegendo os neurônios contra a apoptose precoce. Agem, portanto, como neuroprotetores e contra um envelhecimento cerebral acelerado. Devemos compreendê-los como uma ajuda necessária ao equilíbrio dos sistemas de neurotransmissão a fim de se atingir a melhora clínica tão necessária à proteção contra o estresse e as sobrecargas do dia-a-dia.
Notícias sobre Esquizofrenia - Março/09
30/03/09 – Medir ondas cerebrais em resposta a estímulos sonoros parece ser um caminho promissor para se começar a entender a genética da esquizofrenia. Pelo menos é o que afirmam pesquisadores do Hospital McLean, afiliado à Universidade de Harvard. A resposta cerebral a determinados tons foi anormal em pacientes com esquizofrenia internados pela primeira vez quando comparada a de pessoas saudáveis, cujas ondas cerebrais foram registradas normalmente após ouvirem os mesmos tons. “A idéia de medir as ondas cerebrais a partir de sons surgiu do conhecimento do envolvimento do lobo temporal esquerdo, responsável pelo processamento do som e da linguagem, na fisiopatologia da doença”, afirma Dean Salisbury, diretor do Laboratório de Neurociência Cognitiva do Hospital de McLean. Mais de 100 pacientes foram testados ao longo de 10 anos. O fato da resposta cerebral a esses tons estar anormal pode significar que o cérebro não esteja disparando os estímulos apropriadamente no córtex auditivo. “Isso indica que estamos num caminho em que é necessário maior investigação”, conclui. Como os pacientes estavam na primeira crise e não tinham história de uso prévio de medicamentos, não se pode relacionar essas alterações ao uso prolongado dos antipsicóticos (PsychCentral).
30/03/09 – Uma pesquisa encomendada pela Sociedade de Esquizofrenia do Canadá para avaliar o estigma e o preconceito da população em relação à doença revelou resultados surpreendentes: 92% dos canadenses já ouviram falar da esquizofrenia, mas a maioria não entende o que é e nem quais os sintomas. A maioria a confunde com transtorno de personalidade múltipla e 62% acreditam que ela esteja ligada a atos violentos contra terceiros. A pesquisa também avaliou como pacientes são tratados nos serviços de saúde e descobriu que eles aguardam seis semanas a mais para um atendimento psiquiátrico do que a média da população para os serviços de saúde clínicos. “É inaceitável que uma pessoa com esquizofrenia espere em média 18 semanas para receber um tratamento psiquiátrico”, indigna-se Chris Summerville, diretor da sociedade. “Saúde mental deveria ser a prioridade absoluta no sistema de saúde nacional e estatal” (CNW Group).
30/03/09 – Pesquisadores da Universidade da Geórgia e de Barcelona encontraram uma ligação entre esquizofrenia e diabetes tipo 2 em um estudo com 50 pacientes recentemente diagnosticados como esquizofrênicos e sem uso de medicações antipsicóticas. “A relação entre a esquizofrenia e a diabetes é uma suspeita antiga da comunidade científica”, diz Dr. Kirkpatrick, um dos pesquisadores. “Os resultados apontam para a possibilidade das duas doenças terem fatores genéticos e ambientais comuns. Sabemos que alguns antipsicóticos causam problemas, mas quisemos saber se a esquizofrenia também tem relação direta. Estabelecer relações entre essas doenças pode ajudar a esclarecer a genética da esquizofrenia”, conclui (Inscience.org).
29/03/09 – O laboratório Eli Lilly and Co´s anunciou que a nova substância LY2140023, em estudo para o tratamento da esquizofrenia, fracassou no estudo de fase II, por não ter mostrado efeito superior ao placebo. 393 pacientes foram acompanhados por 4 semanas em uso da nova substância. A mesma droga havia mostrado resultados promissores no estudo de fase I, com 200 pacientes, por ter agido de forma rápida e eficaz, sem produzir ganho de peso. Ela demonstrou eficácia nos sintomas positivos, como delírios e alucinações, bem como em sintomas negativos, como apatia e isolamento. A nova substância, também conhecida como mGlu2/3, diferencia-se dos demais antipsicóticos por apresentar ação sobre receptores de glutamato, o que é considerado um avanço em relação aos medicamentos hoje disponíveis, que atuam somente sobre dopamina e serotonina. O laboratório não descarta um novo estudo no próximo ano. O que chama atenção neste estudo atual é a alta taxa de resposta placebo, o que pode acontecer em estudos na área de neurociência (IndyStar.com).
26/03/09 - Um estudo realizado na Universidade de Granada (Espanha) verificou que entre jovens com bom desempenho sócio-acadêmico e que desenvolveram psicose, 66% admitiram que faziam uso de maconha diariamente, enquanto que entre os jovens com marcadores de neurodesenvolvimento anormal, somente 43% admitiram o consumo da droga antes do desenvolvimento da doença. Os pacientes com bom desempenho sócio-acadêmico também não possuíam histórico familiar de esquizofrenia, ao contrário do outro grupo. Os pesquisadores questionam se esse tipo de psicose sofre maior influência do ambiente e se ele teria um prognóstico semelhante ao da esquizofrenia (Science Daily).
25/03/09 – Cientistas descobriram um gene que pode controlar a maneira como pessoas com esquizofrenia e transtorno bipolar respondem à medicação. Os pesquisadores da Universidade de Edinburgh também identificaram sete proteínas importantes para o desenvolvimento das doenças mentais e esperam que essas descobertas ajudem no desenvolvimento de novas medicações. Eles analisaram variações do gene DISC1, um dos genes que causam a esquizofrenia, e viram que ele afeta outros genes, alvos de medicações hoje disponíveis para tratamento da esquizofrenia (Medical Breaktroughs).
24/03/09 - O Skunk, um preparado mais forte da maconha, domina atualmente o consumo da droga na Inglaterra, correspondendo a 80% da droga disponível nas ruas, comparado a 30% em 2002. O uso da maconha por adolescentes pode abrir uma porta biológica para problemas mais sérios de saúde, causando um dano permanente e irreversível no cérebro, ainda em desenvolvimento. A maconha pode levar a ataques de pânico e à paranóia no curto prazo e seu uso a longo prazo tem sido relacionado ao desenvolvimento de psicoses, como a esquizofrenia. Para pessoas com esquizofrenia, ela pode piorar os sintomas e levar a recaídas (Ghana Homepage).
23/03/09 - O Dia da Esquizofrenia é um evento anual organizado pela sociedade civil na província de Vaud, na Suíça. Neste ano, o slogan da campanha é “Ação precoce para um cuidado melhor”. Serviços psiquiátricos comunitários farão visitas aos pacientes em suas casas para tentar identificar e tratar precocemente o transtorno. Painéis informativos serão espalhados nas principais cidades para informar a população e combater o estigma e o preconceito. Um concerto de rock “schizo ô night”, em Lausanne, atrairá o público jovem para a causa. “Nós fomos encorajados pelas famílias. Elas disseram ser importante falar sobre a doença, porque, caso contrário, a esquizofrenia continuará sendo uma doença esquecida”, diz Bonsack, organizador do evento. “As pessoas associam a esquizofrenia à violência, mas é importante compreender que ela afeta pessoas como nós e que nem sabemos que estão doentes. Elas têm o direito de viver da mesma forma que eu e você”, complementa. Vaud é líder na Suíça em evento deste tipo (Turkish Weekly).
23/03/09 – Pesquisas apontam para evidências de ligação entre a idade paterna avançada e o desenvolvimento de doenças como autismo, dislexia e esquizofrenia nos filhos. Em relação à esquizofrenia, pesquisadores estimam que a paternidade tardia possa influenciar em até 10% dos novos casos da doença a cada ano. Porém, alertam, isso não deve ser motivo para pessimismo. A grande maioria dos pais e mães mais velhos tem filhos perfeitamente saudáveis. O fato de tê-los mais tarde aumenta o risco de complicações, mas 50% de um risco raro continua sendo um risco raro. Ademais, as implicações médicas podem ser compensadas por benefícios sociais e emocionais de se criar uma criança num ambiente mais estável (Times On Line).
21/03/09 - Gene tem papel importante na esquizofrenia, dizem pesquisas - Cientistas americanos e escoceses identificaram ligação entre gene mutante e doença mental (Portal G1).
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Campanhas sociais contra o preconceito e o estigma da esquizofrenia.
Pessoas com esquizofrenia são freqüentemente vistas como imprevisíveis, incapazes, perigosas, responsáveis por sua doença e com mau prognóstico. Essa percepção tem sido relacionada com o distanciamento social e a discriminação que elas sofrem na sociedade. Esses estigmas são piores do que a própria doença, pois invadem as esferas da vida da pessoa, como trabalho e vida social, comprometendo sua motivação para lidar com a doença e aderir ao tratamento.
Na esperança de reduzir o estigma, campanhas em vários países vêem reforçando os aspectos biológicos e genéticos da esquizofrenia, promovendo o conceito de que a esquizofrenia é uma “doença como qualquer outra”. Conceitos como “a esquizofrenia é causada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais ao longo do desenvolvimento da pessoa”, “o cérebro das pessoas com esquizofrenia é diferente do cérebro de pessoas sem a doença”, “genes que aumentam o risco de esquizofrenia já foram identificados”, “alterações na estrutura cerebral e em neurotransmissores estão por trás da doença”, “a predisposição é herdada, mas existem fatores como complicação durante a gestação e o parto e exposição pré-natal a vírus que podem servir de gatilho” têm sido empregados por programas como o “Mudando Mentes” (Changing Minds), do Royal College of Psychiatrists (Inglaterra), “Abrindo as Portas” (Open the Doors), do World Psychiatric Association (EUA), e o programa do National Alliance on Mental Illness (EUA).
O conceito de doença biológica tem ajudado a reduzir a culpa da família e o sentimento de fracasso do paciente, uma vez que a doença é atribuída a fatores fora do seu controle. Esta abordagem parece reduzir o estigma e fazer as pessoas encararem a doença de forma mais positiva, sem culpar o indivíduo.
Entretanto, este conceito tem sido questionado pela comunidade científica como a única fórmula anti-estigma, pois pode passar a impressão de que a esquizofrenia é uma doença imutável, que caminha inexoravelmente para um estado mais grave e crônico. Isso pode reforçar alguns preconceitos, como o de que o tratamento em nada adiantará e que a pessoa se tornará totalmente dependente e incapaz, contribuindo para um maior distanciamento social e exacerbação da resistência à doença mental.
Tânia Lincoln, Elisabeth Arens, Cornelia Berger e Winfried Rief, pesquisadores da Universidade de Marburg, Alemanha, publicaram um artigo na revista Schizophrenia Bulletin (Set./2008), em que propõem um programa anti-estigma “multifatorial”, que inclua, além dos aspectos biológicos e genéticos, fatores psicológicos e sociais, como eventos da vida da pessoa, estressores do dia-a-dia, comunicação familiar e traumas, como fatores de risco para o adoecimento e recrudescimento da esquizofrenia. Argumentam que fatores psicossociais podem ajudar a reduzir estigmas que não são atingidos pelo modelo biológico, como as possibilidades de recuperação da pessoa e a importância dos tratamentos médico, psicológico e psicossocial para a melhora do transtorno. Isso estaria de acordo com o atual modelo da causa da esquizofrenia, que reúne fatores biológicos (p.ex. genéticos) e ambientais (p.ex. psicológicos e sociais) em igualdade de importância.
Em seu estudo, eles compararam grupos (estudantes de medicina x estudantes de psicologia), que receberam isoladamente um programa centrado nos fatores biológicos (“condição biológica”) e outro nos fatores psicológicos e sociais (“condição psicossocial”).
Em ambos os grupos, a condição biológica ajudou a reduzir o estigma de que indivíduos são culpados pela doença ou são perigosos e imprevisíveis, bem como afastou crenças de que a esquizofrenia é determinação de Deus, problema espiritual ou transtorno auto-induzido. Todavia, no grupo de estudantes de psicologia, a condição biológica provocou a crença de que a esquizofrenia teria um curso grave e deteriorante, com poucas possibilidades de recuperação. Ao contrário, a condição psicossocial foi capaz de desfazer este estigma.
Isto reflete o melhor entendimento dos fatores psicossociais por parte dos psicólogos, que encaram esses fatores como mais mutáveis do que os biológicos. Isto serve de alerta, pois estratégias mais biológicas de combate ao estigma podem ser menos eficazes na parcela da população que compreende melhor os fatores psicossociais e tende a ver os biológicos como mais graves ou imutáveis.
Os autores concluem que educar a sociedade sobre a esquizofrenia através de um viés científico é uma abordagem útil e eficaz no combate ao estigma. Ao invés de excluir fatores científicos relevantes, como o papel de estressores sociais e psicológicos, eles propõem uma abordagem multidimensional e equilibrada. Os aspectos biológicos continuariam exercendo efeito positivo sobre estigmas, como o da responsabilidade pela doença, enquanto aspectos psicossociais melhorariam estigmas sobre a evolução e resposta ao tratamento, compensando possíveis efeitos negativos do modelo biológico.
Eles finalizam afirmando que, para as pessoas que se recuperam da esquizofrenia, não existe nada mais devastador e incapacitante do que o estigma e a discriminação e que o conhecimento científico deve ser mais difundido para melhorar esta realidade.
Referência: Lincoln TM, Arens E, Berger C, Rief W: Can Antistigma Campaigns Be Improved? A Test of the Impact of Biogenetic Vs Psychosocial Causal Explanations on Implicit and Explicit Attitudes to Schizophrenia. Schiz Bulletin 2008; 34(5): 984-994
Short-cuts: estresse no trabalho e risco de AVC.
Qual a associação entre o estresse do trabalho e isquemias cerebrais ou AVC?
Um estudo publicado por pesquisadores japoneses na revista Archives of Internal Medicine, em janeiro de 2009, avaliou, durante 11 anos, 6553 trabalhadores japoneses de ambos os sexos quanto ao risco de isquemia cerebral na presença de fatores como estresse, alta demanda e baixo controle no trabalho.
No período de 11 anos, ocorreram 147 casos de isquemia cerebral ou AVC. Análises estatísticas identificaram um risco de AVC duas vezes maior entre homens com alta demanda e baixo controle de trabalho (gerador de maior estresse) do que entre homens com baixa demanda e alto controle do trabalho (menor estresse). Outras variáveis como idade, escolaridade, tabagismo, consumo de álcool e atividade física foram corrigidas para evitar confusão nos resultados. Entre as mulheres, não foi encontrada significância estatística entre o estresse do trabalho e o risco de isquemias.
Os autores concluem que o alto nível de estresse no trabalho está associado à maior ocorrência de isquemias cerebrais entre homens. O estresse aumenta a resposta inflamatória do organismo através da ativação das glândulas hipófise-adrenal e aumenta a produção de um hormônio conhecido como cortisol. O tipo de isquemia mais encontrado foi o de pequenos vasos sanguíneos(p.ex., glioses e infartos lacunares), localizados na substância branca subcortical do cérebro, decorrente de microangiopatia (doença de pequenos vasos).
Este trabalho é mais um em meio a outras evidências científicas de que o estresse é capaz de gerar problemas físicos que podem interferir na qualidade de vida e saúde a longo prazo.
Fonte: Prospective Study on Occupational Stress and Risk of Stroke - Author(s): Tsutsumi A, Kayaba K, Kario K, Ishikawa S. Arch Intern Med 2009;169:56-61.
Depoimentos
Este é um espaço do antigo Blog em que as pessoas deixavam seus depoimentos, críticas e sugestões. Obrigado mais uma vez pela participação de todos e peço, como no Blog, a compreensão de vocês por não poder responder a perguntas particulares sobre medicação, diagnósticos e tratamentos. Isto cabe ao médico-assistente, que examina e conhece bem a história do seu paciente.
Portanto, um conselho que lhes dou: aproveitem ao máximo a consulta médica e lembrem-se que a recuperação de um transtorno mental não depende só dos medicamentos, mas principalmente da relação médico-paciente que vocês serão capazes de construir e manter. Quanto mais azeitada esta relação, maiores as chances de sucesso, ainda mais numa especialidade como a psiquiatria.
Boa sorte a todos!
A memória depois dos 50.
O que é a memória e quais são suas principais funções?
A memória é uma das funções mentais mais complexas e está presente a todo o momento em nossas vidas. Hábitos, como dirigir, andar de bicicleta, escovar os dentes, sentar à mesa de um restaurante dependem da nossa memória sem que percebamos. Da mesma forma, a capacidade de apreciar um bom vinho e uma boa comida. A consciência de quem somos, qual nosso papel e desafios pessoais, nosso passado, as pessoas amigas e familiares, as saudades, as lembranças dos lugares que já visitamos, enfim, o sentido da nossa existência depende da memória. Os símbolos, os números e as letras não fariam o menor sentido, se não os tivéssemos aprendido e incorporado para sempre em nossa memória. Com essa diversidade, nossa memória precisa de todo o cérebro funcionando em harmonia, para que ela se dê plenamente e sem falhas. Mas é a memória cotidiana, àquela a quem recorremos para lembrar os eventos que se passaram e os compromissos que temos por vir, que é a mais sentida por nós. E é ela que muitas vezes nos deixa no vazio, ou melhor, no esquecimento.
Depois dos 50 anos, quais as principais doenças que acometem a memória?
São várias as doenças que podem acometer nossa memória. A depressão é a causa mais comum após os 50 anos e, me arriscaria a afirmar, que também antes dos cinqüenta. Ela tira a capacidade de concentração, tão necessária para que possamos aprender e guardar novas informações. Isso também pode ocorrer nos quadros de estresse e sobrecarga emocional. Carências vitamínicas, desnutrição e doenças metabólicas, como hipotireoidismo, também podem afetar a memória.
Doenças neurológicas, como a Doença de Alzheimer, doenças cérebro-vasculares (como o AVC e a ateroesclerose), Doença de Parkinson e outras formas de demência aceleram o envelhecimento do cérebro e produzem esquecimento, dentre outros sintomas neurológicos e psiquiátricos. A Doença de Alzheimer é a maior causa de demência após os 60 anos de idade, seguida de perto pelas doenças cérebro-vasculares. Identificá-las precocemente é crucial para prevenir seu avanço, bem como para retardar o esquecimento e a deterioração das demais funções psíquicas.
Existe alguma maneira de prevenir essas doenças e, assim, preservar a memória?
Sim. Hábitos saudáveis de vida são fundamentais. Estudos têm demonstrado que atividades físicas rotineiras podem retardar o envelhecimento cerebral. A alimentação também influi, evitando-se gorduras, carboidratos e açúcares, e comendo mais verduras e hortaliças. Alimentos que contenham beta-caroteno (abóbora, batata-doce, agrião, bertalha, espinafre, couve-flor), vitamina C (acerola, abacaxi, laranja, limão, goiaba, brócolis, repolho) e vitamina E (cereais integrais, hortaliças, óleos de sementes) são muito bons, pois possuem ação antioxidante e ajudam o cérebro a se livrar dos radicais livres, tão danosos. Isso pra não falar em parar de fumar e consumir bebidas alcoólicas moderadamente. Tanto o cigarro como o álcool são fatores de risco para doenças cérebro-vasculares. Aqueles que possuem doenças crônicas, como diabetes e hipertensão arterial, devem manter o tratamento e o controle rigoroso, evitando que essas doenças agridam o cérebro. Evitar o estresse e ter bom hábito de sono também ajudam.
Por que a perda de memória é mais comum na terceira idade?
Porque à medida que o cérebro envelhece e sofre as agressões do ambiente, a memória dá sinais de enfraquecimento. Mas é importante frisar que envelhecer não é sinônimo de ficar esquecido. O desempenho cognitivo, assim como a memória, diminui um pouco com a idade, é verdade. Os movimentos e os reflexos, antes rápidos, tornam-se mais lentos, a atenção, um pouco mais dispersa, o raciocínio pode ficar mais vagaroso, algumas falhas de memória podem acontecer. Porém, o esquecimento, se patológico, deve sempre ser investigado. Como após os 60 anos há um aumento na incidência das doenças degenerativas, devemos estar sempre atentos para um esquecimento que pode revelar uma doença e não ser natural da idade.
Como prevenir o envelhecimento do cérebro?
É importante manter o cérebro em funcionamento. Estamos falando de uma época em que muitos se aposentam, passam mais tempo em casa, muitas vezes se deixando absorver pela rotina do lar e da família. Muitas pessoas que antes tinham uma atividade cognitiva intensa vêem a demanda cognitiva reduzir drasticamente. É fundamental cultivar hábitos de leitura, fazer palavras cruzadas, manter vida social ativa e sentir-se produtivo.
Terapias alternativas como, artesanato, aulas de dança, jardinagem, são indicadas para preservar a memória?
Todas as atividades que aumentem a interação social, estimulem o interesse e mantenham a pessoa mais produtiva são bem vindas. Porém, para a memória, em especial, é importante que a atividade envolva algum grau de dificuldade cognitiva, ou seja, que estimule o raciocínio, a atenção e a memória. A leitura diária é um bom exemplo. Um exercício simples, como ler e depois tentar se lembrar do que leu e um jogo da memória estimulam muito essa função. Escrever também é bom, p.ex. fazer um diário, com o que fez ao longo do dia, mantém a pessoa antenada, a par do dia e dos eventos que aconteceram.
De que maneira o estilo de vida influencia na memória?
Influencia de duas maneiras. Têm atividades que podemos fazer para diminuir as agressões aos neurônios: são medidas de proteção. Cuidar da saúde física, de doenças crônicas, da dieta, reduzir o consumo de alimentos e substâncias nocivas diminuem os insultos ao cérebro, evitando a formação de radicais livres e substâncias tóxicas, que agridem e matam mais neurônios. A outra maneira é realizando atividades de estímulo, que irão reforçar circuitos cerebrais importantes, como o da memória. Por isso a leitura, exercícios cognitivos, atividades que estimulem a interação social e o bem estar. Nosso cérebro é dotado de plasticidade, ou seja, ele pode se reconfigurar a partir de estímulos do ambiente, fazendo novas conexões entre os neurônios e reforçando determinada função que está sofrendo. Esta plasticidade pode ocorrer para o bem ou para o mal, depende apenas do que oferecemos ao nosso cérebro. Mesmo na terceira idade, o cérebro não perde sua plasticidade e isso nos dá esperança de mudar sempre.
Existe alguma estatística da ocorrência de doenças degenerativas cerebrais?
Sim. No caso da doença de Alzheimer, causa mais comum de demência, as taxas de incidência e prevalência variam de acordo com a faixa-etária. Ela é rara antes dos 60 anos, porém aos 60 já é cerca de 10% da população daquela idade. Esta taxa dobra a cada 5 anos, chegando a 50% entre as pessoas que têm 95 anos. O aumento geométrico na incidência da doença deve-se ao fato do envelhecimento cerebral ser o maior fator de risco para a doença. Aos 85 anos, p.ex., a chance de a pessoa ter a doença de Alzheimer é nove vezes maior do que quando ela tinha 69 anos.
Análise do afetivograma a longo prazo ajuda a perceber a melhora do humor com o tratamento.
O afetivograma é uma ferramenta útil para você e seu médico constatarem a real mudança de seu humor com o tratamento. Para preenchê-lo no dia-a-dia é preciso de uma boa dose de disciplina, mas o esforço é recompensado por uma clara percepção do quanto o tratamento que você vem seguindo ajudou a transformar seu humor para melhor.
Para que você tenha esta percepção, é necessário fazer o afetivograma por alguns meses, pois, como no caso que exemplifico, é necessário mais de 6 meses para você de fato ter a noção da melhora que o medicamento pode lhe trazer.
Neste caso da figura acima, a paciente iniciou o Lítio, um estabilizador de humor, quando seu humor atingiu o ápice da depressão, com sintomas de gravidade que fizeram sua pontuação passar de 60. Note como a linha vermelha, da pontuação geral do afetivograma, e a linha verde, da depressão grave, estão elevadas. Neste momento, a paciente tinha mais dias de depressão do que de eutimia, considerada normalidade ou estabilidade do humor, representada pela linha na cor rosa. Da mesma forma estavam elevadas as linhas da hipomania (amarela) e da depressão leve (azul), indicando que a paciente também passava muitos dias com esses sintomas.
No mês seguinte à introdução do litio, houve uma redução significativa e rápida dos sintomas, havendo mais dias de bom humor do que dias de mal estar. Veja como a linha vermelha (pontuação geral) cai bruscamente e a linha rosa ultrapassa as demais, da depressão à hipomania.
Porém, o mais interessante pode ser percebido nos meses subsequêntes: não só há a sustentação desta melhora, como os sintomas de humor vão decrescendo progressivamente, de forma mais módica, mas revelando uma ação prolongada do litio sobre o humor e sua estabilidade. Nunca mais os dias de estabilidade e bem estar foram superados pelos dias de tristeza, irritabilidade ou euforia.
Isto traduz na prática o que a literatura demonstra ser verdade no caso dos estabilizadores de humor. Ocorre uma melhora a curto ou médio prazo, porém a melhora a longo prazo é perceptível e fundamental para a estabilidade do humor ao longo do tempo. Isso reforça a necessidade do tratamento e do acompanhamento a longo prazo, bem como a necessidade de monitoramento contínuo do humor.
Espero que com esse exemplo esteja motivando você a fazer o afetivograma e a não desanimar do tratamento!
Faça seu afetivograma e traga-o para sua consulta, assim poderemos conversar melhor sobre você e sobre o tratamento.